À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 39
Capítulo 31 – Ataque Surpresa.


Notas iniciais do capítulo

Oie genteee ^^
Eis o capítulo prometido ^^
Agradecimentos a Leta Le Fay, Minoran e Ary pelos comentários super fofos que sempre me incentivam ♥
Bom, vejo vocês no final :3



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Eu tive um sonho nostálgico. Eu estava com sete, talvez oito anos de idade, de costas para duas crianças loiras, um garoto e uma garota, com os braços abertos como que os protegendo com meu corpo. À minha frente, alguns meninos de aparência pouco amigável me encaravam. De alguma forma, nós os derrubamos. Eu e as outras duas crianças demos as mãos e corremos pelos corredores de uma escola...

Acordei pela manhã com a impressão de que nem havia dormido, e a tentação de continuar na cama era tão forte que precisei juntar uma boa dose de força de vontade para erguer o corpo e ficar de pé. Izumi estava na varanda, de joelhos à frente de sua Katana no chão, e de olhos fechados como se meditasse. Não havia sinal de Charlotte.

Sem querer interromper a concentração da líder, segui para o banheiro e me preparei para o banho. Encarei a água quente cair, e lentamente entrei debaixo do chuveiro, sentindo o meu cabelo encharcar e o calor em minha pele fria. O dia havia amanhecido com um tempo meio incerto, e o vapor que subia agora ao meu redor me fazia ter vontade de ficar ali para sempre.

— Hmm... Isso é bom. – murmurei para mim mesma.

Lembrei do sonho. Sete anos, não é? Foi na época em que frequentei a escola de música, o que significava que aquelas outras duas crianças eram... Abri um sorriso quase melancólico, perguntando-me se estava assim por causa dos últimos acontecimentos.

— Ah... Eu realmente sinto falta deles...

Abri os olhos e encarei meus pés, em meio à água no chão, consciente do que estava fazendo. Pensando no tempo, resistindo a levantar da cama, mantendo em mente o calor da água, tentando continuar pensando no sonho... Eu sabia que estava na verdade tentando evitar pensar no que enfrentaria mais tarde.

Eu com certeza soara confiante ao dizer à equipe o meu plano.

— Como sempre aqui estou eu... – resmunguei – Com minha confiança falsa.

Jayden Kellin Greno, conhecido como Jay Kill, imbatível nos campeonatos promovidos pela Família, temido pelos demais, combatente da linha de frente desde os seis anos de idade. Contra ele, Mayara. A novata.

“Sim, de fato soa como se eu devesse estar confiante” pensei, sarcástica.

Estendi os braços para massagear meu cabelo, e minha pulseira chamou a atenção dos meus olhos. Toquei a corujinha, o símbolo de minha mãe, a representação da sabedoria. Lembrei de Link e do dia em que ele me escolheu. Ele viu algo em mim, assim como Drake, assim como meu pai...

— Eu... Tenho potencial, não tenho? – perguntei.

Sim. Era isso.

Eu podia ser uma novata. Podia não ter experiência, e ainda não ser tão forte. Mas isso não era algo para eu ficar reclamando. Pelo contrário, eu era agora o que eu precisava ser: uma novata, alguém que não foi criada entre os Greno. Todas as pessoas ao meu redor eram fortes e incríveis, mas isso não era motivo para que eu me intimidasse. Porque o fato de eu ainda ser fraca só significava que eu só tinha uma opção: ficar mais forte.

Fechei o chuveiro.

“Então eu vou ficar mais forte”.

Minhas discussões comigo mesma estavam ficando cada vez mais fáceis de vencer.

 

Nós todos tomamos o desjejum juntos no restaurante da pousada. Eu me perguntei como era possível que sete semideuses ficassem juntos por tanto tempo em um mesmo lugar sem serem atacados, mas acabei descobrindo que não era possível.

— Eu quero um sanduíche de sardinha e um café com leite e canela, sem açúcar. – falei para o garçom e então olhei para Ian, sentado ao meu lado, cochilando com a cabeça apoiada na mesa. “Pede alguma coisa para mim quando o garçom vier” ele dissera. Revirei os olhos – Traz um pra ele também. E um café com creme.

O rapaz assentiu e saiu.

Pouco depois, os gêmeos apareceram. Apesar de estarem vestidos de forma diferente, ambos tinham na cintura cintos idênticos, cada um com duas bainhas: uma mais longa, com uma espada, e uma mais curta, do tamanho de uma adaga. Era a primeira vez que eu os via armados, mas eles faziam a cena parecer natural.

— May, bom dia. – disse Matthew, sentando ao meu lado. Ele pegou o cardápio – Pronta para ganhar hoje?

Eu sorri.

— Eu não tenho nada a perder. – respondi – Vitória é minha única opção.

Kess sentou na cadeira à minha frente.

 - Essa é a nossa May! – falou, entusiasmado – Se você vencer mesmo, vou querer um autógrafo.

Eu ri.

Por baixo da mesa, cutuquei a perna de Matthew com a mão. O rosto dele ficou vermelho no mesmo instante, e ele me lançou um olhar urgente.

— O que foi? – perguntou.

Fiz cara de inocente.

— O que foi o que? – retruquei.

Ele respirou fundo, e segurou minha mão para afastá-la dele.

— Se está tentando me provocar, está conseguindo. – avisou.

Eu sorri.

— Eu disse que ia te ajudar, não foi? Para isso, você vai precisar se acostumar com coisas como essa. – desvencilhei minha mão e fiz cócegas em sua barriga.

Ele soltou uma risada de pânico, ficando com o rosto ainda mais vermelho.

— Hm? Então você também já descobriu o ponto fraco do Matty? – Kess perguntou.

Assenti.

— E ele quase me mandou voando pelos ares quando eu ri dele.

O garoto ergueu uma sobrancelha.

— Isso explica por que senti nossa habilidade se ativando lá na sua casa.

Fiz cara de quem não entendeu.

— Hiro-kun! – ouvi a voz de Charlotte em tom de reclamação.

— Ah, Tori. Ohayou*. – o garoto respondeu. Ele estava sentado na ponta da mesa, com suas pistolas desmontadas diante de si.

Charlotte falou um monte de coisas em japonês, ao que Hiro ignorou. Ela então começou a cutucar o rosto dele, tentando perturbar sua concentração. Apesar disso, o garoto apenas olhou para o relógio, marcou o cronômetro, e começou a remontar suas pistolas em uma rapidez incrível.

— Ele faz isso todo dia. – Matt disse, já recuperado – Tenho sempre a impressão de que ele está mais rápido do que ontem.

Kess deu um sorrisinho.

— Hoje ele vai ter uma surpresa.

Matt encarou o irmão.

— O que você aprontou?

O outro fez 3 com os dedos.

— Em três, dois, um...

Olhei para Hiro. Quando Kess disse “um”, um vapor parecido com gelo seco espirrou na cara de Hiro, como um hidrante sendo acionado. Charlotte soltou um gritinho e pulou para longe, e Ian acordou de repente, batendo a cabeça na parede atrás de nós. Quando o jato de vapor parou, as sobrancelhas de Hiro estavam congeladas, bem como as pontas de seu cabelo.

Arregalei os olhos e segurei o riso. Kess, por outro lado, não tentou esconder sua diversão.

— Droga. – ouvi Matt murmurar.

— Ian. – a voz de Hiro soou um pouco sombria de mais. Minha vontade de rir se foi.

— Hai. – Ian suspirou, e o gelo no rosto de Hiro derreteu.

A expressão dele não era nada agradável.

— Kess... – seu cabelo começou a ficar branco – Quem lhe deu permissão para tocar nas minhas pistolas?

— Idiota! – Matthew sussurrou para o irmão – Eu te falei para não encostar nas armas dele!

Kess exibiu um sorriso nervoso, enquanto Hiro ficava de pé e vinha caminhando até ele, já com eletricidade em seus dedos. Ele estendeu a mão para a cabeça de Kess, pronto para eletrocutar o garoto... Até que Izumi apareceu do nada em sua frente e ele freou a ação.

— Hiro, o que está fazendo? – ela perguntou, como uma mãe que pega a criança prestes a comer o que não devia.

— Nee-san. – ele disse, emburrado – Ele mexeu nas minhas pistolas. E congelou a minha cara.

A líder lançou a Kess um olhar ladeado.

— Mexeu nas pistolas dele?

O outro não negou. Ela soltou um suspiro.

— Certo, Hiro não te eletrocuta, e você treina combate com ele quando tivermos um tempo livre. Está bem assim?

Hiro cruzou os braços.

— Vou ter que pegar leve com ele?

— Não, mas não pode usar eletricidade.

Ele suspirou, e seu cabelo voltou à cor escura. Izumi apoiou a mão na cintura.

— Olha aqui, não fique ameaçando seus colegas de equipe com seus raios elétricos, entendeu? – falou, e puxou uma cadeira para si ao lado de Charlotte – Nem todo mundo pode aguentar como você, e não precisamos que ninguém se machuque.

— Gomen*, Nee-san. – ele respondeu com um tom de tédio e voltou para sua cadeira, novamente pegando suas armas.

— Ah, com licença. – o garçom disse, colocando na mesa dois pratos – Sanduíches de sardinha.

— São nossos. – falei, e coloquei um dos pratos na frente de Ian.

Ele me lançou um olhar de ultraje.

— Pediu sardinha pra mim?

Alternei o olhar entre ele e o prato.

— ... Não deveria? – perguntei.

— É peixe!

— Eu sei.

— Está querendo que eu coma peixe?!

— Nossa, não fale como se fosse um absurdo. Se não gosta é só pedir outra coisa.

Senti Matt me cutucar.

— May... – ele murmurou – Ele é neto de Poseidon, filho de uma ninfa das águas. Não é que ele não goste de peixes...

Eu de repente me dei conta.

— Ah...

Foi neste ponto em que a resposta para a minha pergunta foi dada. De fato, sete semideuses em juntos em um mesmo lugar não passariam desapercebidos. E a resposta veio em formato de faca voadora.

Quando me dei conta, estava encarando uma faca de carne cravada na parede de madeira atrás de mim, mais perto da minha cabeça do que eu gostaria.

Todos na mesa se levantaram, sacando suas armas. Charlotte, apressada, se agachou no chão e tirou da mochila dois objetos enrolados em um tecido fino. Quando os descobriu, revelou as lâminas curvas de sua foice. Ela pegou o cabo em suas costas e começou a montar a arma. Ian desembainhou sua espada, assim como Izumi e os gêmeos, que empunhavam uma espada com uma mão e uma adaga com a outra, e eu puxei Prostátida. Não preciso dizer que Hiro foi o primeiro a ficar com as pistolas em prontidão.

— Quem...? – comecei.

O ar ficou mais gelado, e um arrepio percorreu minha espinha, penetrando minha pele, apertando meu coração. Detestei aquela sensação com toda a minha força.

— Estão aqui... – Matthew murmurou.

As outras pessoas no restaurante começaram a se levantar, e viraram-se para nós. Cada uma delas tinha olhos dourados.

— Droga. – Ian reclamou – Izumi Nee-san, são quatorze. Podemos lidar com tantos?

A líder apertou o cabo de sua Katana, e interceptou outra faca voadora. O talher cravou-se no teto. Olhei para os rostos dos meus companheiros de equipe. As expressões despreocupadas que Hiro e Ian tinham quando enfrentamos os Ciclopes não se faziam presentes, e foi assim que eu me dei conta: não era qualquer monstro que estávamos enfrentando ali. Eram os inimigos milenares da família Greno, aqueles que nos perseguiam há eras, os que desejavam nossa morte mais do que qualquer coisa. E também eram os responsáveis pela morte do meu pai.

— Prestem atenção ao meu sinal. Se eu perceber que não podemos derrota-los, vamos bater em retirada. Não fiquem sozinhos. Se nos separarmos, nós nos vemos em Boston. Entenderam?

Concordamos.

— Oh, lâmina abençoada – Izumi começou a recitar em grego – empreste-me novamente a força dos demônios que erradicou, e dilacere aqueles que ousam profanar esta terra.

A Prata Olimpiana de sua Katana brilhou com mais força, ameaçadora. Ao meu lado, Ian e Matt começaram a recitar as mesmas palavras, e suas armas também pareceram ficar mais fortes. Os outros fizeram o mesmo.

Os demônios começaram a avançar primeiro.

Eram mulheres, homens e crianças mortais, o que me fez hesitar em ataca-los. Mas um metal do Olimpo não feria pessoas normais. Tudo o que eu precisava fazer era atingir o demônio dentro delas.

Hiro derrubou um casal de idosos com seus tiros, enquanto murmurava o que eu imaginei ser as palavras do feitiço para absorver os eidolons, já que aura branca estava saindo dos corpos para as pistolas dele. O garoto então avançou em sua velocidade assustadora contra um homem enorme que vinha em sua direção, passando rolando por baixo de suas pernas, e apontando sua arma para as cotas dele. Mas o grandalhão desviou e partiu para cima novamente.

Uma garota atirou um prato em Izumi, que o dividiu em dois com um único movimento de sua Katana. Ela avançou tranquilamente até seu alvo, desviando dos objetos que lhe eram jogados, mas a garota avançou em um momento inesperado, enquanto Izumi se abaixava para evitar alguns talheres, e chutou seu rosto. A líder foi capaz de posicionar o braço no último instante, e devolveu com um chute alto o suficiente para atingir a cabeça da garota, que caiu no chão. Mas o demônio não era tão fácil de lidar quanto qualquer outro monstro. Ele levantou, e, com a ajuda de um homem adulto que chegou como reforço, partiu para o ataque novamente.

— Lotty! – ouvi Ian gritar ao meu lado, enquanto defendia mais algumas facas voadoras. Quem estava jogando aquilo?

— Onii-sama! – Charlotte gritou – Quase lá!

Desviei meu olhar pasmo para ela, que se protegia atrás de uma mesa virada, terminando de montar sua arma. Ela pegou a segunda lâmina e a encaixou em uma das pontas, amassou os tecidos que antes a envolvia e jogou de volta na mochila, colocando-a nas costas novamente. Quando ela ficou de pé, sua foice de lâminas duplas cresceu até ficar tão grande quando ela.

— Pronto! – falou.

Eu a vi girar a arma em suas mãos com destreza, e então ela partiu para a luta, enfrentando logo de cara duas mulheres e um garoto. Lutar em três frentes seria complicado para qualquer pessoa, mas ela era capaz de se defender e atacar com uma precisão impressionante.

— May! – a voz de Matthew me arrebatou de minha observação.

Ele e Kess estavam enfrentando quatro pessoas ao mesmo tempo. Eles se posicionaram de costas um para o outro, e trocavam de oponentes entre si com uma sincronia incrível. Ambos empunhavam uma adaga em uma mão e uma espada na outra, mas, enquanto Kess segurava a espada com a lâmina para dentro (com o polegar no guarda-mão) e a adaga com a lâmina para fora, Matt fazia o contrário.

— May! – ele chamou de novo em meio a golpes – Formação 3! Ajude Ian! Derrubem o líder!

Ele fez um arco horizontal com sua adaga em direção a um dos oponentes, mas o golpe passou longe. Nesse mesmo instante, Kess rolou por baixo de seu braço, e enterrou sua espada no corpo do homem, e começou a murmurar o feitiço de absorção, enquanto o próprio Matt se virava para enfrentar os que Kess enfrentava antes. De alguma forma, a luta deles parecia ser tão fluida quanto uma brisa suave. Era quase como se eles não tocassem seus pés no chão, pulando e movendo-se livremente.

“Formação 3” pensei, apressada “Ataque surpresa? Quem vamos atacar?”

Eu olhei em volta, à procura de um líder, mas os demônios não pareciam estar organizados ou algo do tipo. Três já haviam sido tirados de combate, e todos os outros estavam ocupados, a não ser por...

Corri para perto de Ian, segurando firme o cabo de Prostátida, sem conseguir evitar ficar nervosa. As facas continuavam vindo, mas ele conseguia sempre desviar sua trajetória de forma que não atingisse os outros. Uma passou viando perto do meu rosto. “Acho que falei cedo de mais”.

— Ian! – chamei – Temos que descobrir quem está lançando essas facas!

Ele desviou o olhar para mim por um segundo.

— Elas estão vindo de direções diferentes. – falou, e então se virou para interceptar mais uma – Estão mirando em mim agora, mas não sei por quanto tempo. Vai ser um problema que mandarem para o resto da equipe.

Mais três vieram em um intervalo curto. Foquei na sua direção, padrão e velocidade. De fato, a posição de que vieram não era a mesma, mas imaginei que alguém com uma velocidade como a de Hiro poderia muito bem estar atirando sozinho, mudando de posição para evitar ser encontrado.

— Está alternando entre o balcão e aquelas mesas reviradas. – concluí, apontando – Eu acho que só há uma pessoa. Se pudermos nos aproximar...

Ele assentiu.

— Fique perto de mim. – falou.

Nós começamos a cruzar o salão, passando pelos outros que lutavam. As pistolas de Hiro agora tinham curtas lâminas saindo da ponta, na parte de baixo, e ele as usava para atingir o corpo do grandalhão com uma sequência veloz. Apesar de nenhum corte aparecer em seu corpo, o demônio devia estar enfraquecendo, pois estava ficando mais lento. Izumi havia derrubado o homem adulto, mas a garota continuava a lhe resistir. Eu duvidava que ela havia tido tempo de fazer o feitiço no demônio já derrotado. Charlotte tinha pequenas raízes de plantas crescendo no chão ao seu redor, caminhando lentamente em direção aos pés de seus adversários, enquanto ela usava o bastão de sua foice para impulsionar saltos e girar suas lâminas. Calculei que não demoraria muito para que ela os prendesse ao chão e colocasse um fim à luta. 

Chegamos ao balcão, e Ian deu a volta interceptando quem estava por trás, mas seu movimento foi descuidado, e a pessoa conseguiu feri-lo no braço com uma faca.

— Ian! – gritei, seguindo-o e dando de cara com o garçom que havia nos servido mais cedo.

Ian girou a espada na mão, indiferente ao ferimento, e voltou a atacar o rapaz, que ficou de pé, e desviou facilmente da investida do garoto. Com um giro, ele direcionou um chute para as costas de Ian, mas Ian segurou sua perna. O garçom tirou do avental mais duas facas e fez um corte em sua mão, obrigando-o a soltá-lo.

Apressei-me, avançando com uma estocada direta, mas o demônio desviou como se não fosse nada, e chutou meu lado, derrubando-me. Ian voltou a atacar, fazendo-o recuar com golpes de sua espada. Ele defendeu com as facas em suas mãos, manipulando-as com destreza enquanto andava para trás. Fiquei de pé e ataquei suas costas com Prostátida, mas, mesmo sem olhar, ele defendeu com a faca. Eu e Ian atacávamos ao mesmo tempo, mas a capacidade de reação dele era incrível.

“Isso não pode ficar assim...” pensei, tentando chegar a alguma solução. Se aquele demônio podia encarar a força e habilidade de Ian com tanta facilidade, precisávamos de uma maneira de acabar com ele antes que não pudéssemos mais lutar. Minha lâmina não estava servindo de muita coisa no momento, eu precisava achar uma forma de ser mais útil. E isso seria usando minha agilidade e artes marciais.

Recuei apenas pelo tempo de tornar Prostátida em uma pulseira novamente e observar o inimigo por alguns segundos, tentando perceber sua velocidade, seus padrões de luta e suas falhas. “Se ao menos eu pudesse usar o Chess Game agora...” lamentei. O demônio usava tanto a mão esquerda quanto a direita com facilidade, e parecia estar mirando nos braços de Ian, tentando enfraquecer sua espada.

No momento em que foi obrigado a cruzar as facas acima da cabeça para aparar um golpe vertical de Ian, eu corri e soquei suas costelas com força. Ele continuou a aguentar o peso que Ian colocava em sua espada, mas se contorceu um pouco com os golpes. Mirei na parte de trás dos seus joelhos, enfraquecendo suas pernas e fazendo-o desequilibrar. Rapidamente, ele soltou as facas e rolou para o lado antes que a espada de Ian o cortasse ao meio. Ian deu alguns passos desajeitados para frente com a súbita falta de resistência, e quando ele se recuperou, eu já havia avançado novamente para o rapaz, segurando-o no chão.

Ele armou um golpe de Judô e girou, invertendo nossas posições. Subi a cabeça com força e bati em sua testa, desnorteando-o o suficiente me desvencilhar de seu aperto. Com as pernas encaixadas em sua barriga, eu o mandei para longe. Ian mais uma vez avançou com sua espada, mas ele foi capaz de desviar sua trajetória enquanto esquivava para o lado e atingia a mão do garoto. Fiquei de pé e nós trocamos de lugar, sem que nenhum dos dois precisasse dizer nada, e ataquei o peito do demônio, que segurou o meu chute. Com um impulso, eu chutei com a outra perna, atingindo seu rosto. Caí no chão, mas a essa altura Ian já atravessava o corpo do garçom com sua espada.

Esperei vê-lo murmurar o feitiço, mas ele não o fez, sendo mandado para longe por um empurrão antes de avançar mais uma vez.

“Não deve ter atingido o lugar certo” concluí , lembrando que Ian havia procurado o lugar certo para enfiar a lâmina em Layla “Mais um pouco...”

Levantei e corri novamente, vendo Ian ser jogado contra a parede com força pela pegada do demônio. Eu me posicionei a sua frente, respirando fundo. “Preciso colocar um fim nisso”. Nós avançamos um contra o outro. Ele jogou uma finta contra o meu rosto com a mão direita, mas não me deixei enganar e ergui o braço para defender um golpe com a faca da mão esquerda. Agarrei sua mão e o puxei, dando uma cotovelada em seu rosto. Mas o movimento repentino apenas lhe deu mais impulso para dar uma joelhada em minhas costelas.

Suportei a dor, novamente cabeceando a testa dele, e chutando o espaço entre suas pernas. “Desculpa, cara...” pensei, imaginando a dor que o pobre garçom sentiria quando acordasse. Ele se contorceu e recuou. Ergui a perna, direcionando meu calcanhar ao seu rosto, planejando derrubá-lo com aquele golpe, mas ele conseguiu erguer o braço para defender-se e rebateu com um chute lateral. Andei para trás, à medida que ele vinha para mais perto com seus chutes rápidos, até que minhas costas tocaram o balcão atrás de mim.

Segurei a borda e ergui o meu corpo em um movimento da ginástica, subindo na estrutura de madeira.

Ian levantou, segurando o braço esquerdo. Ele apertou o cabo de sua espada e caminhou novamente para o demônio, que estava de costas para ele. Ele ergueu a espada e fez um X com dois movimentos no corpo do garçom, que soltou um grito.

Apoiei-me em minhas mãos e atingi o rosto dele com ambos os pés, fazendo-o cair para trás.

— Agora, Ian! – gritei.

Ele se preparou para colocar a espada no ponto certo para o feitiço, mas o demônio alcançou uma faca no chão e a enfiou na mão de Ian, que gritou e recuou com dor.

— Ian! – gritei, pulando do balcão.

Arranquei Prostátida de meu pulso, e saltei para cima do demônio, que já se levantava. Ele aparou meus golpes de espada com a faca, enquanto segurava no rosto uma expressão dolorida. Ele não devia ter muita força reservada, e o corpo de seu hospedeiro já estava começando a soltar fumaça. Se demorássemos mais, seria mais difícil pegá-lo em forma de espírito.

Trinquei os dentes. “Mais rápido!” pensei “Mais rápido!”

Minha velocidade aumentou, Prostátida começou a brilhar com mais força, e o demônio ficou mais lento. Atingi seus braços e suas pernas, mas não foi o suficiente para derrubá-lo de vez. Ele defendeu um golpe horizontal e mirou a lâmina em minha mão, provavelmente tentando fazer o mesmo que fizera com Ian. Mas ele estava lento, e eu consegui me esquivar. O que não vi foi seu pé em meu caminho.

Caí no chão, e ele já estava em cima de mim no segundo seguinte, com o joelho prendendo meu pulso, impedindo-me de erguer a espada. Ele começou a descer a faca para o meu pescoço...

Um jato de água o jogou para longe de repente, fazendo a faca cair inofensiva ao lado do meu rosto. Ergui meu corpo e vi o demônio lutando com uma forma humana, mas completamente feita de água, empunhando a espada de Ian. As torneiras da cozinha, que ficava ao lado, explodiram e mais água foi jogada contra o monstro, que caiu no chão.

Olhei ao redor, à procura de Ian, mas não havia sinal dele.

“Será que...” eu arregalei os olhos, percebendo o que estava acontecendo.

Quando me virei novamente para a luta, gelo prendia os pés e as mãos do demônio ao chão, impedindo-o de se mover. A forma humana recuou para mais perto de mim, e então o corpo de Ian se materializou no lugar da água. Na verdade, era mais como uma transformação: líquido transformando-se em pele, cabelo e roupas.

Ele cambaleou.

— Ah, cara... – ele limpou a testa com as costas da mão, ofegante – Essa sensação é mesmo... Terrível.

Com isso, ele caiu para frente, de joelhos com as mãos no chão. Eu me agachei ao seu lado.

— Ahn, tudo bem? – perguntei.

— A minha habilidade... É exaustivo... Mudar as moléculas do meu corpo... Sempre fico... Um pouco acabado... Mas vou ficar bem. – ele tentou se levantar, mas suas pernas tremeram e ele se apoiou em meu braço – Logo. Você está bem?

Assenti. Fora algumas pancadas, eu não fora ferida. Ele também não sangrava mais, apesar do evidente cansaço, e os cortes que ainda restavam já estavam se curando.

Ian segurou a espada.

— Precisamos terminar o serviço e ir logo ajudar os outros.

Eu lembrei de como ele ficara cansado quando absorveu o eidolon do corpo de Layla. De acordo com o que meu pai escrevera, era preciso desprender bastante energia para acionar a magia.

— Mas você já está exausto. – falei.

Ele balançou a cabeça.

— Se demorarmos e ele fugir vai ser pior. – falou, ficando de pé – E você ainda não pode fazer o feitiço.

Ele cambaleou até o garçom, que tentava se desfazer do gelo que o prendia. Com a mão, apalpou suas costelas, e, enfiando a espada lentamente, começou a recitar o feitiço em grego antigo:

— “Maldito aquele que com sua sede de sangue e vingança profanou a terra que os deuses governam, malditos os que ousaram se levantar contra os filhos da Grécia. Que agora a justiça seja feita: serás escravo desta lâmina até o fim de seus dias, e ela se alimentará da sua força e a usará para tornar forte os teus inimigos.” – os braços dele tremeram, cansados, enquanto ele se esforçava para se concentrar. A aura branca envolveu o corpo e começou a ser sugada pela espada. Ele repetiu as palavras até que o eidolon fosse completamente preso, e então retirou a lâmina do corpo inerte do rapaz.

Com um último esforço, Ian fez o gelo derreter, e então caiu exausto no chão. Corri para apoiá-lo, e nós direcionamos o olhar para onde os outros estiveram travando suas lutas, mas todos já haviam acabado. Quando observei Izumi arrancar sua Katana do garoto que Charlotte enfrentara, meu coração deu uma batida forte, quase como se estivesse prestes a parar, e eu me contorci de dor, agarrando a blusa.

— O que foi? – Ian perguntou ao meu lado, ofegante. 

O preço já foi pago, sua dívida não existe mais”  uma voz ecoou em minha cabeça. Eu a reconheci imediatamente.

Obriguei minha respiração a se acalmar, e olhei para Ian.

— O preço... – murmurei – Acho que Daímonas acabou de cobrá-lo. Este ataque...

Ian olhou para o salão ao redor.

— O ataque foi o preço.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Vocabulário
Ohayou: (japonês) Bom dia. No formal, Ohayou gozaimasu.
Gomen: (japonês) "Desculpe". No formal, Gomen nasai.

Eu de novo! ^^
Então, o que acharam? Palpites sobre o sonho da May? O que acharam da luta? Opiniões, críticas, erros, pedidos, expectativas ou teorias? Deixa um comment aí me contando tudo ^^
Gente, desculpa a demora para responder os comentários maravilhosos que vocês deixam. Eu realmente estou com pouco acesso ao computador, então tento aproveitar o máximo para escrever os capítulos. Mas eu fico muito feliz com cada um deles, e prometo que vou responder apropriadamente ^^
Bom, o que vem por aí é: Capítulo 32 - Medindo Forças. (Agora sim heheh) Posto próximo sábado.
Até mais ♥