À Espada Pelo Sangue escrita por LahChase


Capítulo 23
Capítulo 20 – A Dor e o Consolo.


Notas iniciais do capítulo

Oie pessoas! Finalmente sábado chegou e temos um capítulo novinho em folha!
Eu sei que disse nas notas finais do último capítulo que o nome seria "De Volta À Razão", mas acabei mudando para este, que me pareceu mais apropriado.
Agradecimentos pelos comentários de Minoran, Leta Le Fay e Alhene Malfoy ^^
A nossa protagonista está em um momento bem triste, e eu sinto muito pelas lágrimas, apesar de me satisfazer com o fato de conseguir passar os sentimentos da nossa querida Mayara.
Bom, sem mais delongas...



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Pandora nos levou ao Acampamento em um voo rápido, pousando na fronteira.

Eu desmontei.

— Obrigada, garota. – falei suavemente – Estou te devendo um torrão de açúcar.

Ela virou a cabeça em um protesto. Eu ri.

— Dois, então.

Ela relinchou em concordância, e depois cheirou meu rosto, preocupada com os hematomas. Seus olhos pareciam extremamente tristes.

— Não se preocupe. – disse – Logo estarei curada.

Pandora sacudiu a crina, insatisfeita, mas trotou para longe.

Segurando na mão do meu irmão e com Laura ao meu lado, fui mancando até a Casa Grande, com Link tomando a dianteira.

Felizmente não havia sinal de nenhum jogo de Pinochile ou do Senhor D. Quíron devia estar dando aulas. Não tive coragem para procurá-lo. Estava esgotada. Meu rosto latejava, eu não conseguia abrir um dos olhos, quando respirava minhas costelas gritavam de dor, havia sangue escorrendo pela minha blusa, meu braço esquerdo estava inchado, minha coxa direita tinha uma mancha roxa enorme, e eu tinha certeza de que havia quebrado o nariz. O esforço de montar, tendo que segurar Laura e Luther para que não caíssem, havia acabado com a energia que eu tinha.

Eu sentei numa cadeira de balanço da varanda, respirando fundo e finalmente relaxando meus sentidos, que estiveram em alerta por todo o caminho. “Estamos seguros agora...” o pensamento cruzou minha mente amortecida. Percebi que ainda estava empunhando Prostátida, apertando o cabo com tanta força que minha mão estava rígida. Notei que o brilho da lâmina estava um pouco mais intenso, como costumava acontecer depois de uma luta difícil, mas não tive vontade de comemorar. Fiz minha espada voltar a ser uma pulseira e recostei a cabeça no encosto, fechando o olho bom. Luther começou um choro baixinho, de sono, e minha irmã o pegou no colo, sentando em outra cadeira e cantarolando suave. Dei graças aos deuses por ela.

Eu estava lentamente me entregando à inconsciência quando o pio de Link seguido do som de passos me assustaram. Abri o olho, sobressaltada, e a expressão preocupada de Michael entrou em foco.

— Você é realmente incapaz de ficar fora de confusão, não é? – ele reclamou.

Tentei sorrir, mas todo o meu rosto gritou de dor.

— Desculpe. – falei – É que sou uma celebridade entre os monstros.

Ele riu, balançando a cabeça.

— Vamos, preciso te levar para o quarto.

Ele passou o braço por baixo do meu, dando-me suporte para andar, e começou a me guiar para dentro da casa, em direção ao quarto. Link foi saltando no chão a nossa frente, recusando-se a sair de perto de mim.

— Espere. – eu disse – Meus irmãos.

Eu olhei para trás, procurando-os.

— Não se preocupe. – Michael disse – Quíron os trouxe para dentro e os levou para dormir. Eles estão bem.

 

O néctar em minha garganta refrescou meus pensamentos amortecidos. Com Michael ainda enfaixando minha perna, as lágrimas voltaram a rolar, silenciosas. Fiz esforço para parar, com vergonha de que ele percebesse, mas era inútil. A dor em meu coração não passaria com Ambrósia ou com Néctar. Eu matara meu próprio pai. Ferira Layla e a abandonara numa calçada, inconsciente.

Uma lágrima molhou a mão de Michael e ele olhou para mim. Ele parou o que estava fazendo e sentou ao meu lado, deitando minha cabeça em seu peito. Apertei seu corpo contra o meu, soluçando apesar das pontadas em minhas costelas.

— Eu o matei, Mike – sussurrei. – Eu o matei.

Ele esperou que meu choro parasse, e então contei o que havia acontecido.

— Ele morreu, bem ali diante de mim... Seu sangue está em minhas mãos. – falei, estendendo-as para ele.

Michael pegou um pano molhado na mesinha ao lado da cama. Delicadamente, começou a limpar o sangue seco entre meus dedos trêmulos.

— Você – ele disse – não tem culpa de nada. A culpa é daqueles monstros. Foi o eidolon que empunhou a espada, e não você. Não havia nada que você pudesse fazer para impedir isso.

— Sim, havia... Se eu tivesse sido mais cuidadosa, ou... Ou se tivesse raciocinado direito, talvez houvesse descoberto que a solução era quebrar a grade...

— Pare com isso. – Michael falou com firmeza – Não se entregue à culpa, May. Você é mais forte do que isso. Não há mais nada que você possa fazer para mudar o que já aconteceu, mas, aqui e agora, seus irmãos precisam de você. Sua família ainda precisa de você. Você ainda tem uma missão.

Eu funguei.

— Não vou mais à Reunião.

Ele revirou os olhos.

— Sim, você vai.

Olhei para ele, franzindo a testa.

— Eu sei o que está pensando. – continuou – Seu pai está já está morto, e você já não tem mais motivos para caçar os eidolons. Pois eu digo que tem sim, e agora mais ainda. Agora você sabe o quão cruéis esses monstros podem ser, não pode permitir que outras pessoas sofram como você está sofrendo agora. Luther, assim como todos os outros meninos da sua família, um dia vai chegar aos 35. Como acha que vai se sentir quando ele também for alvo da Maldição e você souber que poderia ter feito algo, mas não fez? Eles são sua família, May, não pode abandoná-los.

De certa forma, eu sabia que ele diria isso, mas insisti:

— M-mas e quanto aos meus irmãos? – gaguejei, numa tentativa frustrada de me opor àquilo que eu sabia ser o certo. Ele estava com toda a razão, mas eu queria um motivo... Apenas um motivo que me fizesse ficar no Acampamento com ele, Laura e Luther – Não posso deixá-los... Eles precisam de mim...

— Eles estão perfeitamente seguros aqui. E pelo que vi, sua irmã é mais que capaz de cuidar do menorzinho. Eu entendo que queira dar-lhes suporte agora, e que não vai ser a mesma coisa se sua irmã mais velha não estiver aqui, mas não vamos deixá-los desamparados enquanto estiver fora. “Cuide deles”, foi o que seu pai pediu, não foi? Ele insistiu que salvasse sua família.

Suspirei, e lancei mão de um último apelo:

— Achei que quisesse que eu ficasse.

Michael pôs a mão em meu queixo, fazendo-me olhar para ele.

— Isso não tem nada a ver com o que eu quero, e sim com o que é certo.

Ele se inclinou e beijou meus lábios lentamente, derrubando minha resistência. Ele cheirava a morangos, como o vidrinho de Kyle em meu pescoço. Como esperança.

Eu me afastei devagar, com a testa encostada à sua. Então o beijei novamente, apenas para buscar mais um pouco de força antes de murmurar minha pergunta, os olhos fechados enquanto sentia seu toque em meu rosto:

— Mike... “Não se agarre à sua dor. Aprenda com ela e siga em frente”, foi o que me disse naquele dia na fronteira. – sussurrei, uma lágrima escorrendo novamente – Você previu isso? Previu toda essa desgraça?

Eu o senti negar com a cabeça.

— Eu a vi sofrer... – disse baixinho – E diante daquela visão eu soube imediatamente que você ia precisar aprender a seguir em frente enquanto convive com a dor, até que ela suma. Soube que precisaria de consolo, de força para seguir em frente, e soube que para que a tristeza se fosse, você precisaria deixá-la ir em algum momento. Mas... Não tinha ideia do que lhe causaria tanta dor.

Fiquei em silêncio por mais alguns segundos, e então respondi:

— Ainda não entendo. Não sou capaz de entender o que disse. Sei o significado de cada palavra, e sei o que a frase quer dizer, mas... Mas não sou capaz de entender, Mike! Não entendo o que posso aprender com isso, não sei como seguir em frente agora! Eu não sei como deixá-la ir!

Ele afastou o rosto e eu fitei seus olhos, o brilho doce e reconfortante me aquecendo por dentro, magicamente renovando minhas forças.

— É cedo. – disse – Cedo para ser capaz de enxergar sozinha uma saída, para ver qualquer fruto positivo disso tudo, para conseguir sentir qualquer outra coisa além da dor, para encontrar motivos para seguir em frente sozinha. Mas acredite em mim: ainda não acabou. Você é forte, May! E tem muito mais pessoas te apoiando do que imagina. Se está se sentindo fraca, se está se sentindo frágil, nós lhe emprestaremos nossa força. Por isso, aguente firme mais um pouco.

Meu coração doía, bem como todo o meu corpo, havia um nó em minha garganta, e um vazio em minha alma. Mas uma luzinha brilhou lá no fundo, e eu me agarrei a ela com tudo o que tinha.

Sim, minha dor era mais profunda que qualquer coisa que já havia sentido antes, mas eu precisava ser forte. “E serei” decidi “Ainda posso lutar mais um pouco, até que o último desejo do meu pai seja cumprido... E então me permitirei sofrer o necessário”.

Ergui o rosto, forçando uma expressão determinada. Podia não me sentir assim por dentro, mas agiria dessa forma até que fosse verdadeiro.

— Você tem razão, como sempre. Terei tempo para o luto depois. – falei, limpando o rosto – Agora, termine logo de enfaixar essa minha perna.

Ele deu aquele sorrisinho que me derretia, e voltou a tratar dos meus hematomas.

 

Eu adormeci em seu colo, cansada da dor, enquanto sua voz me embalava em uma canção de cura, e dormi por quase uma hora, antes de ele me acordar. Drake, Shayla e Kyle vieram até o quarto, cada um com uma carranca de preocupação e uma enxurrada de “o que aconteceu com você?!”. Fiquei grata de vê-los, mas incomodava ter que relembrar a história toda novamente. Michael percebeu minha hesitação e contou ele mesmo. O silêncio mortal em que os três ficaram após o término da narrativa parecia apropriado, e o conforto que me ofereceram foi ao que eu me agarrei para seguir em frente.

Eu fiquei no acampamento por mais três horas, o suficiente para me curar quase por completo. Meu olho desinchou, assim como meu braço e meu nariz (que no fim das contas não estava quebrado). Eu ainda mancava, e Michael havia previsto que ficaria assim por pelo menos uns dois dias, mesmo com doses frequentes da comida dos deuses. Também havia uma fratura exposta: duas costelas, que demorariam ainda mais para sarar.

Quando meus irmãos acordaram, eu lhes contei da forma mais delicada possível que nosso pai havia morrido, e que sua mãe estava muito ferida, omitindo como tudo aconteceu. Luther, com apenas três anos, perguntou de forma tão sincera quando veria seus pais novamente que precisei de uma força de vontade descomunal para não desabar ali mesmo, mas Laura praticamente me salvou, dizendo, em meio às próprias lágrimas, que nosso pai agora nos esperava no Elísio, junto com todos os heróis da história, e que um dia nós o encontraríamos novamente.

O pequeno chorou ao ver-nos sofrendo, mas as lágrimas não permaneceram em seus olhos por muito tempo, e seu sorriso surgiu um pouco depois. Experimentei um conflito entre sentir-me grata por isso, ou lamentar que ele não se lembraria do pai quando estivesse maior. “Não posso deixá-lo esquecer” decidi “Não vou deixá-lo esquecer”. Minha irmã me abraçou com força, chorando, mas tive a impressão de que aquele abraço servia melhor de conforto a mim do que a ela, e novamente me perguntei se ela sabia o que estava por vir.

Eu almocei sentada à mesa de Atena, com Luther ao meu lado fazendo bagunça. Laura estava muito confortável à mesa de Apolo, comparando com os demais seus sonhos e previsões. Observando-a, balancei a cabeça. Essa garota havia crescido rápido demais.

Ela disse muito vagamente que sabia sobre os deuses, os monstros, os Greno, tudo. Mais que isso, havia herdado muito dos dons de Apolo e Afrodite. Perguntei-me se este seria o motivo de meu pai ter mantido tudo isso em segredo de mim, mas tê-la introduzido a este mundo tão cedo. Ou ainda, se fora realmente ele quem lhe revelara tudo isso. Infelizmente, não havia como saber no momento, e eu não estava disposta a conversar com ela nada relacionado ao meu pai ainda. De certa fora, não conseguia trazê-lo à tona sem que fosse impelida a desviar o olhar do rosto dela.

Aproveitei a ocasião para saber notícias de Annabeth, mas eles não tinham nenhuma. Ela provavelmente ainda estava a caminho. Não havia nenhum resultado nas buscas, e Quíron estava considerando a possibilidade de não enviar mais nenhum grupo: era óbvio que Percy não estava nos arredores e com as coisas perigosas como estavam, não fazia sentido colocar mais campistas em risco.

Pelo visto, realmente não havia nada de bom acontecendo.

Shayla veio me ver novamente enquanto eu estava analisando a mochila que meu pai havia preparado. Estava temerosa de abrir. Aquele era o último presente que receberia dele pelo resto da vida.

Lutei contra mais uma onda de lágrimas.

— Está tudo bem chorar, sabe? – a voz carinhosa de Shayla soou, carregada de seu sotaque indiano.

Eu virei para olhá-la. Como de costume, ela sabia exatamente o que se passava comigo no mesmo momento em que me via. Ela abriu os braços e eu a abracei, feliz por saber que ela me compreendia.

A mãe de Shayla havia sido assassinada quando ela tinha seis anos, e ela fora adotada por um casal americano. Shay costumava me contar como doía às vezes, e como a saudade nunca desaparecia. E eu costumava achar que entendia.

— Eu estava decidida a não perder ninguém, Shay. – sussurrei – Achei que já fosse forte o suficiente para isso. Mas ao contrário, agora não me resta mais nada no mundo mortal, tudo o que tenho está aqui.

— Está tudo bem. – ela respondeu – Eu sei que dói, e que parece que nunca vai acabar. Mas se você tiver alguém ao seu lado, e você tem, vai continuar tendo um motivo para seguir em frente.

Suas palavras deveriam penetrar em meu ser como sempre, mas ainda demoraria um pouco antes que eu fosse capaz de me deixar confortar por esse fato. Tudo o que me mantinha de pé naquele momento era uma convicção de que precisava ser forte. Mas era uma certeza sem motivos. Em mim, não havia uma explicação para que eu seguisse em frente.

Percebi que havia uma grande lacuna entre decidir fazer algo e realmente colocar em prática. Eu oscilava entre a Mayara chorosa e frágil que eu era no momento, e a forte e determinada que precisava ser.

Respirei fundo.

— Já chorei demais. – falei, com a cabeça repousando em seu ombro – Não tenho mais tempo para ficar sofrendo.

Nós nos afastamos.

— Escute. – ela segurou meu ombro – Eu estou aqui por você, ok? Mesmo que esteja indo para longe, se precisar, tudo o que tem que fazer é mandar uma mensagem de Íris. Sei como é sofrer assim, e quando aconteceu comigo, estava sozinha com minha dor, tendo que ser forte pela minha irmã, e não tinha nenhum amigo para me amparar. Mas você não precisa passar por isso sozinha, entendeu?

Assenti, grata.

Ela desviou o olhar para a mochila em cima da minha cama.

— Já abriu? – perguntou.

Balancei a cabeça.

— Estou com medo. – admiti.

Ela caminhou até minha cama e pegou a mochila no colo, fazendo o que eu não tinha coragem.

— Se minha mãe tivesse preparado algo assim pra mim – falou, abrindo o zíper e estendendo para mim – eu não perderia tempo. E sei que você pensa o mesmo.

Sentei ao seu lado e segurei a mochila, observando seu interior.

Havia uma bola de tecido do tamanho da minha mão, uma caixa de madeira do tamanho de um livro pequeno, pacotinhos de Ambrosia, vidrinhos com Néctar, bugigangas de acampamento, uma boneca de pano, um carrinho de brinquedo e um envelopinho branco.

Relutante, abri o envelope e tirei de dentro um papel e algo se parecia um cartão de crédito. Na letra desenhada do meu pai, estava escrito:

Um saco de dormir e coisas essenciais para sua missão. Entregue os brinquedos aos seus irmãos, para que se lembrem de nós. Vai precisar do cartão na Reunião, a senha é a mesma dos outros. A caixa é especialmente para você. Abra quando sentir que precisa.

Eu amo você,

Papai.

Com meus olhos grudados ao papel, eu novamente senti um aperto no coração, ao mesmo tempo em que a pergunta se formava mais uma vez em minha mente: “ele sabia que ia acontecer?”

 

 

Mike segurou meu corpo contra o dele e nos beijamos. Passei a mão por seu cabelo, apertando-o com força. Eu sabia que partir naquele momento significava que teria que encarar aquela dor praticamente sozinha, e que sentiria uma falta imensa dele. Ele enterrou o rosto em meu pescoço e cheirou meu cabelo.

— Quando eu voltar... – comecei e ele me interrompeu.

— Quando você voltar, não vou te perder de vista. – ele olhou para mim, ainda com as mãos em minha cintura. – E nós tornaremos isso oficial.

— Isso o que? – perguntei.

Ele me deu um beijo rápido.

— Isso.

Eu sorri.

— Soa como um plano. – falei, preparando-me para encostar meus lábios nos seus novamente.

 - May! – A voz de Laura nos assustou, e nós rapidamente nos separamos.

Estávamos na fronteira, meio que escondidos atrás do Pinheiro de Thalia. Era a hora de eu partir novamente.

Minha irmã corria em nossa direção com Kyle, Shayla, Sean, Drake e Luther.

Eu sorri ao ver a cena.

— Ia tentar sair sem receber o nosso “até logo e boa sorte”? – Kyle reclamou, cutucando minha barriga com um arco de bronze que carregava. Eu me encolhi com cócegas.

— Ah, pare! – Ri, em pânico. Minhas costelas doeram.

Ele girou o arco nas mãos e este se transformou na muleta que eu o vira carregar por todo o ano escolar. Arregalei os olhos.

— Não vai me dizer que Sekki é mesmo uma arma? – falei.

Ele deu um sorriso torto.

— O que? – respondeu – Achou mesmo que havia lhe dado esse nome por nada? Ela é meu verdadeiro Shinki.

Revirei os olhos.

— Nunca pensei que Sátiros pudessem ser nerds.

— O termo certo é Otaku e...

— Por que está todo assanhado? – Shayla interrompeu, dirigindo-se a Michael.

Ele ficou vermelho e olhou para mim, buscando apoio.

Eu ri, tentando disfarçar.  

— Você sabe que o dragão o adora. – falei, corando, e mudei de assunto, ficando ajoelhada na frente de meus irmãos – E quanto a vocês? Vão ficar bem sem mim, não é?

Laura tinha um sorrisinho malicioso estampado na cara.

— Ah, claro. – ela disse e depois lançou um olhar para Mike – Já ele...

Gaguejei alguma coisa.

Ela riu, e depois balançou a cabeça.

— Você não me engana. Esqueceu que mamãe é filha de Afrodite? – sussurrou para que só eu ouvisse – Mas não se preocupe, não vou contar pra ninguém. Você tem sorte de seus amigos não terem percebido ainda que não tem nenhum dragão aqui.

Olhei para cima. Realmente, o dragão que guardava o Velocino estava fazendo sua patrulha nas fronteiras naquele momento. Eu suspirei.

— Quando foi que você cresceu tanto, criatura?

Ela sorriu.

— Vou cuidar de Luther até voltar. Prometo.

— Eu acredito. – falei, e ela assumiu uma expressão mais séria.

— Quando chegar a hora, vou ligar para você. – disse – Há algo que precisa saber.

Eu não soube como responder a isso, então apenas assenti, em seguida puxando os dois para um abraço.

Luther olhou para mim.

— Mamay, - falou, usando o apelido que ele mesmo inventara – não demora, tá?

Dei um sorriso melancólico.

Peguei a mochila em minhas costas e tirei de lá os brinquedos que meu pai havia separado para eles.

— Papai mandou entregar isso. – falei, estendendo para eles. – Quando sentirem saudades, lembrem que ele está conosco, e que um dia estaremos todos juntos novamente. Isso é uma promessa.

— E sempre devemos manter nossas promessas. – completou Laura, segurando a boneca com força.

— Isso mesmo. – concordei – Eu vou voltar pra vocês.

Eu os abracei novamente, e fiquei de pé, virando-me para meus amigos.

— E pra vocês também.

Kyle sorriu.

— E trate de mandar mensagens de Íris, entendeu? – falou – Ou eu vou atrás de você.

— O mesmo vale pra mim. – Disse Shayla.

— E para mim. – Michael concordou.

— E para nós. – Sean e Drake ajuntaram.

Eu ri.

— Entendido. – falei, levantando os braços em rendição.

— Mayara-senpai! – Sean chamou, dando um passo à frente. Ele parecia nervoso – Ahn... Só queria dizer... Mate alguns monstros por mim, ok? Eu sei que você é mais forte que qualquer um.

Rindo, coloquei a mão em sua cabeça e baguncei seu cabelo escuro.

— E você não vá relaxar no treino, ouviu? Quando eu voltar, vou verificar pessoalmente como está se saindo.

Seus olhos assumiram um brilho desafiador.

— Quando você voltar, vou estar melhor que você! Com certeza serei capaz de vencer uma luta contra você, Mayara-senpai!

— Sonha, garoto! – respondi, divertida, e então me virei para Drake – Certifique-se de que ele não vire um pirralho pretencioso na minha ausência.

Meu irmão riu.

— Pode deixar que vou cuidar de tudo por aqui.

— E, Drake, por favor...

Ele lançou um olhar para Laura e Luther, imediatamente entendendo o significado do meu tom de súplica, e fez um gesto tranquilizador.

— Eu vou estar com eles o tempo todo, pode confiar.

Não me dei por satisfeita.

— Luther tem alergia a amendoim, e gosta de dormir com o rosto coberto, pois acorda facilmente com a luz durante a noite. E Laura tem o péssimo hábito de aparecer e desaparecer silenciosamente, então por favor fique de olho, e...

— May. – ele interrompeu – Não se preocupe. Shayla e Kyle vão estar aqui também, e eu prometo que mando uma Mensagem de Íris se precisar. Afinal, não é como se eles fosse colocar fogo no Acampamento.

Sorri, agradecida.

— Você é mesmo o melhor, Drake.

— Se você repetir isso mais uma vez, poderei morrer em paz.

Rolei os olhos.

Eu me virei e chamei Pandora com um assovio alto. Ela pousou e eu pus o pé no estribo, pronta para montar.

Hesitei por um momento, mas tirei o pé e voltei, caminhando em passos rápidos até Michael, e, puxando-o pela gola da camisa, dei-lhe um último beijo.

Shayla e Kyle gritaram um “WOOOOOOW!” animado, e Laura tapou os olhos do irmão, com o sorriso malicioso de volta no rosto. Sean ficou vermelho de vergonha até a raiz do cabelo, e Drake caiu na gargalhada.

Em meio à comemoração animada dos outros, eu sussurrei para Mike, observando seus olhos dourados:

— Eu sei que provavelmente não consegue viver sem mim, mas se alguma coisa acontecer comigo, viva.

Ele abriu a boca para protestar, mas vendo a determinação em meu rosto, desistiu.

— O mesmo para você. – falou.

Assenti. 

Corri de volta para Pandora e montei.

— Drake, cuide deles por mim, ok? – repeti, enquanto a Pegasus começava seu galope para alçar voo, com Link em nosso encalço.

Então, pela segunda vez naquele dia, disparei para longe do Acampamento.

 

 


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Notas finais do capítulo

Eu de novo!

Então... É uma situação cruel a que a May precisa encarar agora: ir para longe daqueles que ama em um momento como este não é fácil. O que acham? Ela será forte para passar por tudo isso? Quais suas expectativas para o que vem por aí? Acharam algum erro? Preciso melhorar alguma coisa? Deixa aí nos comentários que super ajuda! ˆㅅˆ (essa carinha fofinha que uso para convencer vocês tem como detentora dos direitos autorais a leitora Cassie hehe)

Bom, o que vem por aí é: Capítulo Extra - A História de Mais Alguém: O Que O Vidente Viu.
Vou tentar postar na quarta, mas pode ser que não consiga, então desculpo-me desde já.
Vejo vocês no próximo ^^