Caminhantes escrita por Serin Chevraski


Capítulo 61
Coisas que Lucy não sabe




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Wendy POV

Minha mente está pesada, nem sei onde estou. Mas com um leve farfalhar ao meu lado, senti um pouco de frio, parece que algo ou alguém se moveu, levantando um pouco o cobertor. 

Meus olhos semiabertos apenas distinguiram a pouca luz. O teto era feito de pano.

Ah, é uma barraca?

Me lembrei aos poucos dos acontecimentos de ontem. O zíper da tenda fez um pequeno som,  percebi uma pessoa loira sair. Charles estava ao meu lado, dormindo profundamente.

Me sentei com cuidado e esfreguei meus olhos.

— Lucy-san?

Mas ela não me escutou.

Fora da cabana, ouvi dois sussurros:

— Lucy?

— Ah, Minerva! Desculpe, eu te acordei?

— Não, eu estava pensando em algumas coisas e não pude dormir direito.

— Entendi, eu também estava pensando em algumas coisas –a voz de Lucy-san parecia meio engraçada e tímida.

— Quer que eu te faça uma companhia? -sugeriu a maga da Sabertooth.

— Não... Eu estou pensando em ir para o rio. Acho que você não vai gostar.

— Hum... É, eu não estou muito afim disso.

Ficou um pouco silencioso afora.

— Hum... Mi-chan?

— Sim?

— Posso te pedir um favor?

E então escutei apenas sussurros inaudíveis. Mesmo com meus ouvidos bons de dragão, não pude entender.

— Espere um pouco –era a voz de Minerva-san.

Parece que voltou para a própria barraca. E não muito tempo depois, a barraca ao lado se abriu novamente.

— Territory: Prisão da condição! -cantarolou, baixinho- Pronto, está aqui.

— Obrigada! -a outra pareceu feliz. E os passos dela foram se afastando.

— Espera, Lucy!

— O que foi? -seus passos pararam.

— Pode confessar que você se sentiu decepcionada! -a voz dela tinha um tom travesso.

E um momento de silêncio.

— Decepcionada? -Lucy-san pareceu confusa.

— Hum! Hum! -assentiu vigorosa- Que eles não planejaram as barracas pra deixar você e Cheney estarem juntos!

— O que!? -engasgou- O... O... O que você está falando Minerva! -em tom bastante descrente.

Hum? Barraca para Lucy-san e Rogue-san?

Quando pensei meio nebulosa, logo arregalei meus olhos, me despertando completamente. Senti minhas orelhas queimarem por escutar isso.

— Não precisa ficar com vergonha! Todo mundo sabe seus verdadeiros desejos Lucy! -a outra parecia que estava se divertindo bastante em brincar com Lucy-san.

— Mas é claro que você está errada! -o seu tom subiu um pouco, então a sua voz abaixou de novo, com bastante constrangimento- Você está muito, muito errada!

— Sei, sei.

— Estou falando sério!

— Uhum, claro que não queria, nem um pouquinho?

Então ambas ficaram em silêncio de novo.

— B... Bom... Talvez só um pouquinho... -sua voz foi morrendo no final.

Então Minerva-san pôde ser escutada rindo, bastante animada.

— Alias... -a voz da loira murmurou, um pouco pensativa- O que você fez com toda aquela lã?

— Ah, eu peguei tudo e coloquei na minha bolsa espacial Territory. Você as quer de volta?

— N... Não, não, não! -ela pareceu um pouco em pânico. Agora que parei para pensar, realmente, toda aquela lã sumiu do nada, agora descobri para aonde ela foi- Pode ficar para você Minerva.

— Hum... Depois não se arrependa Lucy! -parecia sugestiva.

— Não, eu não vou. Bom... Agora estou indo, obrigada mais uma vez!

— Muito bem. Boa noite Lucy.

— Boa noite, Minerva.

Fiquei constrangida de sair da barraca nesse momento. Escutei um ou dois splashs vindo do rio. Não tenho certeza o que Lucy-san está fazendo. Mas tentei me obrigar a dormir novamente. Um tempo depois de rolar bastante nos lençóis, percebi que não conseguia dormir, não só isso como meu estômago parecia estar começando a roncar. Então me lembrei que estou com muita fome.

Resolvi sair da barraca. Com bastante cuidado.

A fogueira está acesa, me aproximei dos bancos e me sentei. Olhei para os lados, pude escutar o ronco em algumas barracas. E de longe estavam os grilos fazendo um pequeno barulho. O vento soprou levemente, trazendo o cheiro de terra e grama. Olhei para cima e o céu estava cheia de estrelas, com uma lua prateada. Era no meio da noite ou início da madrugada?

— Wendy?

Me virei, para ver Lucy-san se aproximando, parece que ela terminou de fazer o que tinha que fazer no rio. Ela está um pouco molhada, estava tomando um banho?

— Olá... -murmurei.

— O que houve? Não consegue dormir?

— Bem, sim...

— Ah, você está com fome? -ela perguntou se lembrando de algo. Meu rosto corou por ter sido descoberta- Estava planejando fazer um chocolate quente.

Ela riu feliz. Se aproximou da fogueira e pegou uma chaleira para preparar a bebida.

É normal levarmos no nosso corpo uma ou outra coisa para comermos no caminho, mas me surpreendeu que ela tivesse algo como chocolate quente para fazer.

— Algum problema? -ela perguntou, se sentando ao meu lado, enquanto esperava a água ferver.

— Uhmum –balancei a cabeça- Só achei que era surpreendente que tivesse chocolate com você.

Ela me olhou por dois segundos e riu.

— Eu trago comigo uma mistura de pó de leite com pó de chocolate. Não é nenhum secreto gigante. Só ferver água e pronto.

— Oh... -eu a olhei de volta.

— Mas não é nada gostoso se comparar com o da Levy-chan –ela encarou o fogo, como se lembrasse de algo nostálgico.

Olhei para as labaredas, pensando em como é Fairy Tail esses dias. Realmente, as coisas não eram exatamente como quando Lucy-san estava. Mas também ninguém morreu porque ela não estava lá. Todos estão seguindo suas vidas.

Mesmo assim, as circunstâncias que fizeram ela sair da nossa guilda, e eu era uma parte da circunstância, me deixava desconfortável.

— Lucy-san, você sente falta de Levy-san?

— Hum... Ela é minha melhor amiga, tem momentos que acho estranho quando penso "oh, vou atravessar a rua e ver ela" mas isso não pode acontecer mais.

— Então... -minha voz falhou- Todos da Fairy Tail... Você também sente falta deles?

— Eu... -ela deu uma pequena risada- Em um canto está Grey tirando a roupa enquanto briga com Natsu, os dois quebrando uma mesa e uma cadeira. Juvia está escondida atrás de um poste, mas todo mundo sabe que ela está lá, murmurando uma ou outra coisa assustadora. Erza está ao meu lado comendo um bolo de morango, com um sorriso feliz, igual uma pequena criança, bem, esse era o lado adorável dela. Na minha frente está Levy-chan, tentando me contar alguma coisa, mas Gajeel está irritando-a novamente. Todo mundo estava rindo, bebendo, contando piadas, brigando, alguns estavam olhando missões na frente do mural.

Eu continuei encarando a fogueira, fechei os olhos um pouco e sim. Esse era o normal, essa visão era muito fácil de imaginar, era o que acontecia sempre. Era uma visão que fazia parte da minha vida.

— Elfman falando algo sobre ser homem, Lisanna está de alguma forma cuidado de seu irmão. Cana bebendo cerveja com uma mão e a outra segurando cartas. Tem um Laxus solitário com uma cara assustadora, mas o Raijinshu está sempre colado com ele. E em cima de todo mundo o Mestre da Guilda está observando todo o movimento. Essa é minha família Wendy. 

— Sua família? -minhas sobrancelhas franziram um pouco.

— Happy comendo peixe como se fosse o fim do mundo. Charles bufando e revirando os olhos, Lily cruzando os braços lado de Gajeel e... -ela olhou para mim- Wendy que está rindo comigo. É nossa família. E eu sinto saudades dela.

Corei um pouco. Família...

— E as pessoas de Sabertooth? -perguntei, sabendo que ela daria uma resposta que talvez eu não gostasse. Mas não demonstrei meu desconforto.

— Saber... -ela se levantou, com o som da água fervendo. Ela jogou a água fumegante em duas xícaras de madeira. Todos os utensílios ainda estavam aqui, sem serem guardados- Sting sendo teimoso e folgado, sempre querendo comprar briga comigo. Minerva parece arrogante, mas no fundo é muito fofa. Olga sempre tem a risada mais forte, descontraído. Lector provavelmente é o mais sensato, enquanto Frosch é bastante amável. Enquanto Rogue... -ela parou por um momento- Rogue... -seu rosto foi corando mais e mais.

— Lucy-san –imaginei que o que ela iria dizer agora, era exatamente o que eu não gostaria de escutar- Você... Pretende voltar para Fairy Tail algum dia? 

Eu perguntei. Eu consegui perguntar. Não sei como tive coragem para dizer isso. E logo, me senti envergonhada.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, com uma colher jogou um pó amarronzado e misturou na água. Colocou a xícara fervente em minhas mãos. Engoli um pouco do líquido. Não era ruim, na verdade para meu estômago meio faminto, estava muito bom. E ela, fazendo um sorriso largo e despreocupado, me respondeu:

— Algum dia, eu vou voltar para a Fairy Tail -em tom decidido, se sentando mais uma vez ao meu lado, tomando sua própria bebida.

— E... Eh!? -arregalei meus olhos, a encarando, estupefata. Já sabia que ela tinha encontrado a felicidade aqui, suas palavras me surpreenderam- Mesmo que Rogue-san esteja aqui? 

— Sim –ela murmurou, ainda sorridente- Eu ainda vou voltar uma última vez para Fairy Tail. Saí de lá fazendo uma bagunça, acho que preciso concertar as coisas antes de poder seguir em frente de verdade.

Com essas palavras dela, eu entendi. O coração de Lucy-san está se curando pouco a pouco.

Realmente, Wendy, quem é você para pensar que deveria interferir na felicidade de Lucy-san? Ela está tão bem. Eu deveria mesmo era apoiar ela para o que ela quisesse fazer. Por tanto tempo ela fez escolhas apenas pelos outros. Agora não era o momento de deixá-la finalmente fazer escolhas pensando nela mesma?

Fiz uma decisão. Mesmo que ainda esteja um pouco triste. Nessa visão que ela acabou de dar tantos detalhes, provavelmente Lucy Heartphilia não estaria mais nela. 

— Wendy –ela se virou para mim, com um sorriso. Ergueu a mão em um punho, segurando algo. Eu estendi minha palma e ela deixou cair uma pequena caixa quadrada do tamanho de uns cinco centímetros. Enrolado em uma fita que terminava em laço- Pode me fazer um favor?

 

Sting POV

O colchão era duro. Era muito duro. Tão duro que comecei a suar sonhando que dormia em cima de uma mesa de tortura!

— Sting! Chegou o momento de fazer picadinho de você! -era a princesa, sorrindo calmamente com a mão em cima de uma alavanca.

Coisas afiadas estão apontadas para mim.

— Que!? Princesa? PRINCESA, EU JURO QUE NÃO FUI EU QUEM DISSE SOBRE A SUA COMIDA! -choraminguei, puxando meus pulsos amarrados por cordas de couro.

— Não se preocupe Sting, o prato principal nunca poderia ser ruim, já que vai ser você!

E ela riu malignamente.

— WHOAAA!

Então abri os olhos, pisquei em choque, mas ao ver que tudo estava calmo, como deveria ser, meu coração foi se acalmando.

— Calma Sting -sussurrei para mim, como uma hipnose. Suspirei.

Com um bocejo, logo me sentei. Meio confuso de aonde estava, olhei para o lado. Os exceeds estavam meio embaralhados, o cobertor do meu lado é uma bagunça. Mas arrumei para cobrir os gatos, quando vi o traidor, conhecido como Rogue Cheney, dormindo ainda com o seu cobertor e postura impecáveis. Parecia um cadáver, do jeito que deitava, ele se mantinha.

Me esgueirei para fora da cabana e vi a manhã meio nebulosa, o sol ainda não saiu. O ar gelado encheu meus pulmões.

Me senti estranho. Normalmente era o último a acordar. Hoje fui um dos primeiros?

MALDITO SONHO! MALDITA TORTURA DA PRINCESA!

Suspirei ressentido.

Meu corpo está dolorido e adormecido. Nem reparei que havia mais  pessoas acordadas.

Me estiquei, com os braços para cima, dobrei meu pescoço para a esquerda e para a direita. 

Dois estalos altos saiu de mim.

— Hooou... -um som debochador apareceu ao meu lado, quando virei os olhos, o mago do raio cruzou os braços.

E então ele esticou os músculos para frente, com os dedos entrelaçados, escutei três estalos altos.

Dreyar sorriu presunçoso.

Nos encaramos por alguns segundos.

Que demônios?

O que ele está fazendo? Por que eu me sinto tão irritado com a cara cheia de sorrisos dele?

Estreitei meus olhos e enquanto o encarava, coloquei minha mão na cintura direita, então dobrei minha espinha dorsal para o lado, fazendo um estalido alto.

Dreyar colocou a mão na cintura esquerda dele e também estalou as costas, frizei minhas sobrancelhas mais ainda.

Dobrei o joelho e puxei o calcanhar com as mãos para trás, fazendo outro som alto, enquanto Dreyar ergueu o braço, puxando o cotovelo com a outra mão, fazendo mais um estalido forte.

Quando percebi, estávamos estalando o corpo todo, e até mesmo em lugares que eu nem sabia que podiam estalar estava surgindo um som alto.

— Devemos parar eles? -escutei a voz da Blondie, que estava sentada em um dos bancos de madeira, ao lado da Dragon Slayer da Fairy Tail.

— Nah, deixa eles fazerem o que quiserem. Homens, vai entender eles? -escutei a resposta da princesa, enquanto ela balançava os dedos.

As três garotas estão sentadas uma ao lado da outra, bebendo algo... Chocolate?? Da onde eles tiraram chocolate? EU TAMBÉM QUERO!

Comecei a sentir baba escorrer pelo canto da minha boca.

Mas não podia deixar essa competição de estalar corpos de lado, ou eu que vou ser o perdedor!

Então comecei a escalar cada junta nas minhas mãos. O mago do raio pareceu ficar animado também, optando por estalar os dedos dos pés, mas sem encostar nos pés! ELE ESTÁ ESTALANDO SÓ POR DOBRAR OS DEDOS DOS PÉS! COMO ELE ESTÁ FAZENDO ISSO?

— O que vocês estão fazendo? -escutei uma voz atrás de mim.

Quando me virei, Rogue estava saindo da cabana. Parei toda a competição.

SURGIU UMA COISA MAIS IMPORTANTE!

Ergui meus braços, dando um salto.

— ROGUEEEEEEEEEEEEE!!

E ele se esquivou, me olhando de forma assustadora.

— EU ESTOU COM FOMEEEE –reclamei com todo o meu fôlego, de bruços no chão, mas logo me levantei.

— Há? -ele bufou- Por que sempre que você me vê, fala que está com fome? Não me lembro de ter adotado um filho tão grande?

— ROGUEEEEEEEEEEE –chamei da forma mais lamentável que pude. Eu ia dizer mais algumas coisas, mas por trás do moreno, estava a Princesa, então não pude comentar o resto que queria dizer.

EU ESTOU COM FOMEEEE, EU ESTOU TRAUMATIZADO, TA OK? VIVER COM MINERVA FOI COMO VIVER COM PRATOS CHEIOS DE VISÕES DO INFERNO! COM SOPAS QUE SAIU DO PANTANO DE VENENO, COM CARNE QUE ESTAVA TÃO DURO IGUAL OS PÉS DE SATAN! OS COZIDOS QUE TINHAM SABOR DE SARDINHA CRUA CHEIO DE ACÚCAR MASCAVO E PIMENTA! POR ALGUMA RAZÃO O MOLHO ERA FEITO DE BANANA COM ABACATE E UNS OVOS DE AVESTRUZ FLUTUANTES!?

VOCÊ NÃO TEM CORAÇÃO? AONDE FOI PARAR O NOSSO AMOR MUTUO?

Ele me encarou e suspirou.

— Ok, senta e eu te faço algo para comer.

Ele se virou de costas e cumprimentou as garotas que estão ao redor da fogueira. Senti meu coração tremer feliz, como se me viesse a redenção pelos meus tempos cheias de pavor e horror.

STING! VOCÊ FEZ TÃO BEM!

Ergui meus braços para o céu, podia sentir algumas lágrimas no meu rosto sorridente. Pude até mesmo sentir os raios do sol, como se ele estivesse saindo apenas para mim e meu momento festivo. Dizendo:

"Sting... Eu te abençoo pela sua coragem e destreza, agora os seus dias obscuros se foram, e dias de glórias estomacais estarão batendo à sua porta."

— Obrigado, obrigado. -murmurei, fungando o nariz. Imaginando um público batendo palmas.

— Sting-kun, bom dia –escutei a voz sonolenta atrás de mim.

— Ooooh! LECTOR! BOM DIA! VENHA, ROGUE DISSE QUE FARÁ O CAFÉ DA MANHA PARA NÓS!

— OOOOOOH! -o gato laranja arregalou os olhos, então um sorriso se abriu em seu rosto- JÁ NÃO VAMOS PRECISAR COMER CARANGUEJOS ASSADOS COM MAIONESE E ABACAXI?

— NÃO! -assenti, com mais lágrimas nos olhos.

— NEM MESMO PEPINOS FRITOS NA CEBOLA E PÃO EM FARELOS?

— NÃO! -me senti mais emocional, só de lembrar dessas coisas.

— OU COGUMELOS COM RABANETE NO VINAGRE E REVOLTOS EM AÇÚCAR?

— NÃO! -balancei vigorosamente a cabeça.

— STING-KUN!

— LECTOR!

E nos abraçamos dramaticamente.

— Logo de manhã estão bem animados hein? -Conbolt pai riu, também saindo da sua cabana, mas estávamos muito ocupados no nosso próprio mundo.

— OOOOOOOOOOOH! -um exceed e um Dragon Slayer choraram juntos, abraçados.

— O que vocês estão falando da minha comida? -uma voz sombria nós congelou. Era a princesa, com uma terrivel cara assustadora. Seu semblante sombrio me matando e com seus olhos fez a minha espinha tremer.

— N... Nada né, Lector? -me apressei em responder, engolindo seco.

— Sim.. Sim... estamos falando em como nos comovemos com a comida! Né Sting-kun!?

— Claro! -assenti rapidamente, e a Orlando bufou friamente, cruzando os braços.

Bom, ela não parece ter sido convencida, mas parece que não é hoje que vamos morrer!

— Bom dia –o menino Conbolt também apareceu, bocejando- O que está acontecendo?

— Vai saber? -Blondie deu de ombros.

— Bom dia –a voz fina da Dragon Slayer do Vendo saiu timidamente. Os dois jovens coraram um pouco.

Pai e filho se sentaram nos bancos.

— Opa, opa, qual o menu? -uma voz interessada do mago do raio se acomodou também. Basicamente eles se sentaram nos mesmos lugares que ontem.

— EPA! QUEM DISSE QUE ROGUE IA COZINHAR PARA VOCÊS? -já me intrometi. Até aonde sei, eu e ele somos os gêmeos aqui! QUE IDEIA É ESSA DE QUERER ROUBAR A MINHA COMIDA?

— Aaaaah? -Dreyar me fuzilou com os olhos, erguendo uma das sobrancelhas. A sua cicatriz é intimidadora, mas ele não é dois!

— Eu perguntei, qual ideia é essa achando que a gente vai dar comida pras fadinhas agora?

— Por que vocês estão brigando de novo? -Blondie balançou a cabeça.

— Bom dia! -Lector foi voando e se sentando no banco que nos sentamos ontem.

— Bom dia... -um gato verde também saiu da tenda e flutuou para a garota loira, ela abriu os braços quase instantaneamente e o exceed fechou os olhos cochilando.

Arregacei meus dentes, começando a grunhir e arregaçar as mangas. A COMIDA É MINHA, ONTEM ERA DIFERENTE DE HOJE! HOJE EU VOU USAR TODO O MEU PODER PARA CONQUISTAR MEUS DIREITOS LEGÍTIMOS!

NADA VAI ME PARAR!

Escutei Rogue suspirar impotente.

— Não sei como foi que eu virei o chef do grupo... -ele murmurou.

HÁ! QUE PIADA! CLARO QUE ROGUE CHENEY, SENDO MEU IRMÃO JURADO, ELE É MEU CHEF QUE POSSO USAR E ABUSAR! QUANDO FOI QUE AS FADINHAS GANHARAM TAIS PRIVILÉGIOS? ESPERE E VEJA EU ESPANCANDO UM CERTO RAIOZINHO ARROGANTE!

— Não devemos parar eles? -a Dragon Slayer do Vento murmurou timidamente.

— Nah, apenas deixe eles, se Minerva diz para não interferir, então melhor deixar quieto –loira burra pareceu muito despreocupada.

— É hoje que tem lagartixa fantasiada de gatinho pro almoço? -o outro riu, preparando o punho.

— Aaaaaahn? Melhor ser tigre que ter essas asinhas de maricas! -respondi, sorrindo- PODE VIR PRO PAU DREYAR! -berrei.

— ESSA É MINHA FALA!

— ASAS DO DRAGÃO...

— GARRAS DO DRAGÃO...

O ar em nossa volta começou a se erguer, começando a se tornar mais e mais furioso, e tanto eu quando ele estávamos nos energizando para o choque de nossos poderes. VAMOS DECIDIR QUAL O PODER É O MAIS FORTE! HOJE E AGORA!

E então, nesse momento, dois pratos foram erguidos entre os nossos olhares faiscantes, junto com dois braços que só de relance, sabia que eram de homens, mas era completamente enganador se for pensar que por causa desses braços, o seu dono não era bom em coisas como cozinhar. Realmente, eu mesmo fiquei surpreso da primeira vez... Na verdade na primeira vez eu fiquei mais do que surpreso, quando Rogue era apenas um pirralho igual eu, com braços tão finos que pareciam que iam quebrar a qualquer momento e já cozinhava, não era tinha um gosto tão bom como agora, mas ainda era muito impressionante.

PERA, PRATO? COMIDA? ISSO É HORA DE RELEMBRAR DO PASSADO STING?

Quando o pão liso cintilou, com uma pequena fumacinha sendo estendida para cima. Pela temperatura ainda fria da manhã, a névoa branca era mais visível. O cheio delicioso subindo que não percebi antes por causa do meu foco no mago do raio, era salgado, meio picante pela pimenta do reino, há um toque de doce que só a fritura da cebola caramelizada teria. E aquilo que estava no meio do pão, era... Uma carne amarronzada desfiada, que só de olhar, você via o brilho de humidade.

— Parem de brigar e sentem-se para comer. -as orbes vermelhas me encararam com aborrecimento.

Quando olhei para Laxus, eu poderia ver que ele estava engolindo saliva, com olhos cheios de fome e tentação, igual eu. Não que eu estivesse com tanta fome... Apenas que a comida de Rogue era muito bonita.

Quando percebemos, o vento na nossa volta diminuiu até entrar em paz como se não houvesse acontecido nada, me sentei obediente. Igual ontem, aconcheguei no banco em que estaria eu e Rogue com Lector, já que Frosch sentou com Blondie de novo. Na minha direita estão os caras da Fairy Tail e na minha esquerda as garotas do grupo. Então estamos apenas eu e um gato no banco, pois Rogue ainda segurava a colher no fogo.

— Vamos comer e terminar logo a ponte, quero ir para casa ainda hoje –Conbolt mais velho disse, de bom humor, comendo seu sanduiche.

Todos receberam a comida feita pelo Rogue, eu mordi meu pão. Realmente, ele esquentou no fogo, deixando o crocante por fora e mais suculento por dentro... Não só isso, eu sabia! Ele usou a carne seca, desfiou e fritou, não sei como ele fez para deixar tão suculento e reviver uma carne tão dura depois de curtido no sol.

No segundo em que Rogue finalmente se serviu, a Princesa se levantou com Marvel nos braços, a pequena garota azulada deu um grito assustado e sem entender nada, as duas se sentaram ao meu lado. Eu franzi as sobrancelhas.

Hum... Está tão gostoso essa carne...

Todos olharam com uma expressão estranha, mas Orlando fez uma cara de que não fez nada, e continuou a mordiscar seu próprio pão.

Minha nossa, como um pedaço de coisa seca pode ficar tão boa? Isso é um dom né? Isso tem que ser um dom!  

E então Rogue que ficou parado por uns segundos, encarando a Princesa, notei a sutil carranca que nasceu entre suas sobrancelhas. Logo sua expressão foi substituída por algum tipo de iluminação, e então corou um pouco? 

Minhas bochechas estavam cheias de sabores, eu não conseguia parar de comer!

Espera... Então a lógica caiu no topo da minha cabeça. Me virei para Dreyar que também me encarou. Então mudei meus olhos para o vazio ao lado da loira burra com o pequeno exceed verde que estavam focados em comer.

Sorri ligeiramente, rapidamente coloquei o resto do sanduiche na boca e engoli enquanto fui assistindo Rogue se sentar ligeiramente ao lado de Blondie.

Tive uma ideia brilhante!

— Oh, esposa, eu fiz essa comida especialmente para você com todo o amor do meu coração! -falei, enquanto minha mão esquerda pousava em cima do meu peito e a mão direita subi dramaticamente como se oferecesse uma bandeja invisivel.

— Oh, só de saber que quem cozinhou para mim é você, eu já fico tão feliz... -Laxus entendeu imediatamente e me seguiu, engolindo rapidamente seu lanche e dizendo essas coisas cafonas, botando as duas mãos no peito como se tivesse sofrendo de um ataque cardíaco.

— Lucyzinha... -olhei afetuosamente para o loiro do raio.

— Roguezinho... -ele me respondeu.

Me deu um arrepio sinistro na minha espinha quando vi os olhos cheio de rosas e brilhos do outro mago quando disse essas palavras floridas, e senti que ele também sentiu o mesmo nojo, porque vi suas sobrancelhas tremerem.

— GASP! -escutei Heartphilia engasgar. Quando a encarei pelo canto do olho, vi como seu rosto mudava para vermelho escarlate em uma velocidade assustadora.

Minhas pernas rápidas já preparadas para fugir, dei um salto quando o vulto de uma caneca voadora veio em minha direção.

— ABELHA IDIOTA! LAXUS DREYAR! -ela gritou fumegando.

— OPA OPA! ACHO QUE É HORA DE EU IR! -dei um riso alto e sai correndo em direção à floresta.

— Até mais tarde, irmãzinha!

Dreyar não demorou muito para me seguir.

— VOLTEM AQUI! -escutei de bem longe a voz da loira, cheio de embaraço. Todos estavam rindo.

Quando percebi, já estávamos longe do acampamento e fui parando meus passos.

As árvores nos cercaram. Ninguém poderia nos ver ou nos ouvir.

— Eucliffe –escutei a voz séria.

O tom de fala dele estava estranha. Parece que teríamos uma conversa. E talvez ele estevivesse esperando essa oportunidade.

— Dreyar –respondi na mesma seriedade, a brincadeira de antes acabou.

Então um silêncio se seguiu, nos encaramos e então eu quebrei o silêncio:

— Então, você está indo? -perguntei, tendo uma pequena intuição.

— Bem, sim –ele se encostou no tronco da árvore, fechando os olhos em um sorriso.

— A estadia foi curta hein –ri- Você não vai mais cuidar da blondie?

— Admito que estava preocupado no início -ele respondeu- Pensei que talvez teria de trazer ela de volta, nem que fosse a força. Esse era o plano no começo.

— Há! -cruzei os braços e sorri, também me encostando em uma árvore- Está dizendo que não somos confiáveis? -ergui meu nariz de forma arrogante.

Ele me encarou seriamente.

— Ei! -exclamei, me sentindo ofendido, e ele bufou.

— Mas quando eu vi, Lucy estava vivendo bem. Cheney é mais confiável do que imaginei.

Então ele pegou uma lácrima do bolso, era pequena, menor que um punho. Não entendi o que era, até que ele bateu levemente na orbe.

— O que é? -veio uma voz que eu conhecia. Era uma lácrima de comunicação, e essa voz... Gajeel Redfox?- Aconteceu algo?

Não demorou muito para conseguir ver o semblante do Dragon Slayer na pequena orbe.

— Aah... -e bem quando o loiro ia responder, houve uma algazarra do outro lado da comunicação.

— AONDE ESTÁ O LAXUS-SAMAAAAA!!

— LAXUS-SAMAAAAAAA!!!!

Eram choros lamentáveis.

— Essas vozes... -murmurei.

— Raijinshuu... -o loiro beliscou as sobrancelhas, como se sofresse de enxaqueca- Bem, parece que não posso mais ficar por aqui.

— Gehee –o Dragon Slayer parecia estar se divertindo- Estou em casa, mas desde essa manhã esses caras estão gritando e correndo pela cidade, acho que sua fachada já não vai mais bastar, se você não voltar hoje, talvez amanhã eles saiam de Magnólia e façam isso pelas cidades vizinhas?

— Haaa... -escutei um suspiro ao meu lado- Redfox, vou ser breve.

— Ah, antes, não se esqueça de comprar uns caramelos daí. Diz que são diferentes dos que temos por aqui.

— Não sou sua empregadinha, Redfox –sua voz tremeu perigosamente.

— Sei, sei. Gehee. E qual o problema? Acho que escutei uma voz agora pouco.

— Eucliffe está aqui. Ele também está participando desse segredo.

— Eu o quê? -exclamei, franzindo as sobrancelhas.

— Opa, bem vindo ao barco!

— Obrigado, Gajeel-san! Não, pera, do que vocês estão falando? -engasguei um pouco.

— Eucliffe -Dreyar me chamou, pegando algo do bolso e me jogou, quando eu olhei, era uma lácrima igual a que ele estava segurando- Essas três lácrimas estão interligadas. Se algo acontecer, chame.

— Sabe –a voz na lácrima riu- Bunny Girl é bastante tonta e sempre faz seus amigos se preocuparem justamente porque ela não quer que a gente se preocupe com ela. É uma garota bastante, bastante tonta.

Com essas palavras, vi o Dreyar sorrir gentilmente, assentindo. Ergui uma sobrancelha.

— Por isso, enquanto não podemos estar aí, você nos ajuda a cuidar dela, secretamente. Já que ela faz as coisas escondida sem se importar com nada, a gente também vai fazer a mesma coisa –Gajeel-san estava rindo.

Fiquei em silêncio por uns segundos.

— Bem –assenti. Segurei com força a orbe- Contem comigo.

E a aliança secreta se formou oficialmente. Três Dragon Slayers. Um relaxado, um anti-social e eu.

Foi nesse momento em que Laxus riu, cruzou os braços e olhou para uma árvore.

— Que tal você aparecer e participar?

Uma sombra saltou, revelando uma pessoa. Eu arregalei os olhos e descobri que não tinha pressentido a presença misteriosa até agora.

Rogue Cheney, sua comida é fatal e obstruiu meus sentidos... Por isso não pude perceber o homem quem eu tanto admirava estava alí. Alguém que era muito famoso, conhecido como Salamander. Pelo menos, não percebi até aquele momento.

De alguma forma, foi incrível.


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