Caminhantes escrita por Serin Chevraski


Capítulo 60
Acampamento




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Lucy POV

Depois que me revigorei na fonte termal, meu humor ficou muito melhor.

Junto com as outras meninas nos aproximamos do acampamento, o que parecia muito decente.

Quem diria que os magos eram tão bons montando barracas?

Bem, a razão que temos barracas conosco, é porque se tivéssemos que viajar por aí e não houvesse uma pousada por perto, não podemos simplesmente dormir no chão ou em cima de uma pedra, certo? Então faz parte da rotina sempre levar uma ou duas barracas com a gente. Felizmente como estamos em um mundo de magia, esses itens podem ser comprados em lojas de itens mágicos. As barracas ocupam menos espaço no bolso e ao mesmo tempo podem ser grandes o suficiente para três pessoas dormirem confortavelmente.

Formando um círculo de tendas, bem no meio os meninos fizeram três bancos compridos feitas de madeira que Eucliffe tinha cortado a mais.

E no centro, eles acenderam uma fogueira. Todos estavam cansados, mas ao mesmo tempo cheios de vigor, ansiosos pelo bom aroma de comida que se ergueu.

— Wow –me aproximei- Está cheirando muito bem.

— Está quase pronto? -Minerva perguntou.

Rogue está agachado perto da fogueira... Com uma tabua de cortar e facas de cozinha? Em uma grande concentração, fatiou de forma muito surpreendente alguns... Legumes?

Daonde surgiu todas essas coisas?

— Vai demorar um pouco –ele respondeu. Vocês podem se sentar ou descansar um pouco na barraca de vocês.

Wendy se sentou discretamente no único banco vazio com a gata nos braços. E eu me sentei ao lado dela, Minerva se acomodou no outro lado da menina. Os rapazes se dividiram entre Laxus, Sting e Lector, Macao e Romeo. Rogue com Frosch no centro, ao lado do fogo. Então só sobrou um banco para nós que fomos tomar um banho.

— Aonde vocês conseguiram essas tabuas, facas e legumes? -perguntei para o moreno.

Espera, pensando bem, estou vendo frigideira, um suporte de metal para ficar em cima da fogueira? Não só isso, como uma panela?

— Aah, isso é meu –Laxus respondeu- Pelo menos metade. A frigideira e a panela são meus.

— Seus? -minha sobrancelha franziu.

Hã? Laxus cozinheiro? Parecem ser duas palavras que não existem juntas na mesma frase...

O instiguei com o olhar, sem saber se deveria perguntar quando foi que ele adquiriu dotes culinários, com aquela cara que poderia moer os ossos de alguém. Não, não, não, ele segurando uma faca de cozinha? 

Vi sua feição afiada e intimidadora, então meus olhos desceram imaginando um avental e uma colher de madeira em uma mão e uma faca na outra.

"Sopa de rins ou orelhas fritas?"

O imaginei como um gangster ameaçador.

Por alguma razão eu não pude segurar o riso que estava na minha garganta.

— Pff -rapidamente engoli o som que escapou. Aconteceu nada. ACONTECEU NADA LAXUS!

Mas o mago do raio descobriu meu riso contido, pois observei sua sobrancelha tremular em uma pequena raiva.

— É só jogar tudo na panela, misturar e a comida tá pronta, fácil né? Por isso tenho uma frigideira e uma panela -cruzou os braços.

Sem facas?

Espera, espera. O que há com isso? Ele nem corta e só joga tudo na panela?

— O que você coloca na panela normalmente? -Eucliffe se intrometeu, curioso. Então olhou para Minerva de relance.

Ah, acho que ele está pensando em quem cozinha pior?

— Ah? Uns animais que eu acho no caminho, ou uns peixes. As vezes jogo umas plantas também, tipo cogumelos.

Minha sobrancelha franziu. A cara do mago da luz ficou pálida.

Cogumelos... São plantas para você?

— Como você coloca animais na panela, sem cortar? -também fiquei curiosa.

Ele então me olhou profundamente.

— Não é só usar as mãos?

As mãos?

Ficamos três segundos em silêncio. Espera, as mãos? Você quer dizer que...

— Vo... Você rasga eles com as mãos? -a voz de Eucliffe tremeu se sentindo inacreditável.

Dreyar sorriu, dando de ombros. Senti minha espinha esfriar.

— Rasgar? Claro que não faria algo tão bárbaro –ele respondeu, lentamente. Com uma pequena risada na garganta- Eu diria que eu separo as partes... -e fez uma pausa dramática, todos nós engolimos seco- Com as mãos.

Isso não é a mesma coisa, mas falada de forma mais bonita?

Silencio. 

Nem mesmo os pássaros faziam som. Ou os grilos. Nem ao menos o vento soprou. A faca de Rogue parou no ar, em transe. E então o fogo, nosso salvador, crepitou em um som bem alto nos acordando do estupor.

— HAHAHAHAHA –Macao forçou uma risada- A faca e a tabua são minhas –ele comentou- Eu tinha panelas, mas como o Dreyar ofereceu... Os legumes são meus também.

— Assim que você cozinha, Macao-san? -Wendy perguntou timidamente.

— Bem –ele olhou para o filho que estava ao lado dele, e esfregou o cabelo do menino- Em casa como somos só nós dois, eu tenho que saber o mínimo.

— Para com isso, pai –Romeo afastou a mão do homem, aborrecido. Infelizmente a cabeleira dele já estava totalmente desgrenhada.

— Que tal nós irmos tomar um banho também? -o mago mais velho ergueu a voz- Você está muito fedido moleque! Como vai arranjar uma namorada? Tsk tsk, o futuro da família Conbolt é sombria.

Suas piscadelas que vieram depois desse último comentário, estavam cheiras de sugestões que deixou o pequeno mago de rosto vermelho igual pimentão.

— PAI! -ele se levantou abruptamente.

— O quê!? -Macao riu, balançando os ombros, inocentemente- Você tem alguém em mente?

— Humpf! -Charles bufou- Como se eu fosse deixar!

— P.... PAI! CHARLES! -ele então ficou mais vermelho. Olhando nervosamente para Marvel, quem estava igualmente corando.

Todos nós rimos, alegres. O clima noturno estava agradável.

— Ei. Vocês não acham que o conselho chegou muito rápido? -apontou Sting.

— Você realmente não sabe de nada, hein Sting? -suspirei, dando de ombros- Na sua cabeça só existe socos e comida?

— O QUÊ!? -ele se virou furioso.

— Quieto Sting -Minerva o fuzilou com o olhar. O loiro se encolheu de má vontade.

— Na verdade eu também estou curiosa -Wendy murmurou.

— Isso é por que todos os trens tem um sistema de monitoramento por lácrima -Macao sorriu, cruzando os braços.

Como pensei, não é atoa que dizem a frase: a idade acumula sabedoria.

— Os trens não são usados apenas para passeios -assenti com a cabeça- Mas também para imigrantes e comerciantes. Claro que a vida das pessoas é importante, por isso foi implantado todo um sistema de monitoramento. Mas pensando capitalmente, se algo acontecer com o percurso, pode afetar o comércio do país.

Todos me encararam. Realmente, poderiam prestar mais atenção no que acontece no mundo?

— Vai demorar um tempo para a comida ficar pronta –Cheney disse rapidamente- Antes que fique muito tarde, podem ir na frente.

— Vamos, vamos! -Eucliffe animou, se levantando- Corre aqui Lector, vamos tomar um banho, só entre homens!

— Ok, vamos Sting-kun!

— Deixamos pra você então -Laxus balançou a cabeça, começando a caminhar para longe.

— Vamos, moleque fedido -riu o pai Conbolt.

— Não me puxa! -o menino exaltou.

— Frosch –o moreno chamou, o gato estava meio sonolento ao lado dele- Vá com Sting e tome um banho antes.

— Fro... -ele pareceu um pouco hesitante, olhando para o moreno.

— Frosch é um bom gato, inteligente e obediente –ele acariciou as orelhas do gato verde, com carinho.

— Sim! Fro é muito obediente –o gato sorriu, então invocou Aera e seguiu os outros que já estavam na entrada da floresta.

Comecei a sentir minha mente vagar por causa do cansaço, mas não consegui fechar os olhos por causa do cheiro que vinha da fogueira e ressoava com minha fome. Então comecei a olhar para as orbes vermelhas do Dragon Slayer das Sombras. 

Eles estavam concentrados, agora mexendo com uma colher de madeira na panela, provavelmente está fazendo uma sopa. Percebi sua testa com gotículas de suor, o cabelo escondendo metade de seu rosto brilhava com o fogo. Um preto azeviche. Ele suspirou, parecendo exausto.

— Rogue, você não quer que eu faça isso e você vai tomar um banho junto com os outros?

Ele sorriu para mim.

— Está tudo bem. Já estou terminando.

Minerva nos encarou, parecendo meio desconfortável. Nesse segundo percebi alguém se encostando no meu ombro direito, ao olhar, vi a cabeleira azul e o respirar leve de Wendy adormecida.

Rogue então se afastou da fogueira e sentou bem no meio do outro banco da minha esquerda.

Eu pisquei duas vezes. Por que ele se sentou tão longe? Quando me curvei um pouco para perto, ele se afastou para a ponta do banco, ficando mais distante.

Foi então que eu percebi, Rogue cheirava a suor e peixe. Ao ver o rosto dele corando um pouco, eu não pude deixar de corar também. Se eu tivesse com um cheiro tão forte, ficaria com muita vergonha de ficar perto dele...

Por alguma razão meu coração deu um pequeno pulo.

— AAAAAAAAAAH –a maga espacial gritou, me assustando.

— O... O que aconteceu Minerva? -perguntando, olhei de relance para Marvel e vi que ela nem se moveu, provavelmente está muito cansada. E a gata igualmente adormecida.

— Estou com fome, estou cansada. Mas mais do que isso, o que é esse clima que vocês dois estão fazendo? Eu me sinto a fogueira daqui! -ela nos olhou, com as sobrancelhas cheias de estresse.

Pisquei algumas vezes, sentindo meu rosto queimar um pouco mais.

— B... Bem... Que tal eu chamar Lyra e... -tentei sugerir para quebrar o clima.

— Não -Rogue cortou. Mas também não demonstrou que iria falar mais do que isso. Mas seu olhar reprovador disse tudo.

Estou exausta, mas não vou desmaiar se eu abrir um portalzinho! Nem usei magia direito!

— Bem –Minerva olhou para o Dragon Slayer pouco cooperativo, cruzou os braços e ergueu o queixo- Já que você quer tanto escutar uma música... -ela balançou os dedos no ar, aparecendo uma bola transparente, que pairou perto da fogueira- Então vamos ligar um rádio, que tal?

Wow, que conveniente.

— Me parece uma boa ideia –concordei.

Orlando sorriu e balançou o dedo indicador, logo a bola começou a falar.

"E as notícias de hoje sobre o deslizamento indica o número de vítimas perto de ser..."

 A maga balançou o dedo.

"- Qual é a cor da galinha que atravessou a pista? Amarela! Porque ela achou que era uma vassoura mágica!"

Ela balançou o dedo mais uma vez.

"Mais uma pitada de pimenta do reino, se não tem os das terras do norte, não tem problema e pode usar a que tiver em casa, o frango vai ser gostoso do mesmo jeito."

E o dedo foi balançado mais uma vez.

"Esse sempre foi o meu sonho..."

Quando eu escutei uma voz familiar, exclamei rapidamente, ao ver o nó das sobrancelhas da Orlando ficarem mais graves e impacientes.

— Espera, eu quero escutar esse canal um pouco mais.

E espremi minha memória, tentando lembrar aonde foi que eu escutei essa voz antes.

"Uau! E essa inspiração que fez com que sua primeira música se tornasse tão popular, pode nos contar sobre?" -era a voz de um homem.

"Bem, justo quando eu pensei em desistir, essa pessoa me cantou uma música, essa foi a minha inspiração" -uma voz feminina respondeu.

"Era uma música famosa?" -a pergunta veio cheia de curiosidade.

"Não, não. Eu nunca tinha escutado ela. E penso que se ela fosse lançada, não seria um grande best-seller. Mas para mim, foi a música mais bonita e importante que escutei em minha vida" -a voz feminina puxou uma memória de mim. Mas fiquei paralisada, apenas conseguindo escutar em silêncio.

"Muito bem, acho que já tomamos muito do seu tempo, e vamos deixar os seus fãs escutando a sua música tocando na nossa frequência!"

"Sim, muito obrigado"

"E com vocês, a música do momento, 'Eclipse'!"

No mesmo segundo uma melodia suave começou a tocar.

 

Estamos todos sozinhos,

Olhe para a direita, há a escuridão

Olhe para a esquerda, há o vazio.

As pessoas estão algemadas.

 

A lua que ergue para brilhar a minha noite

Ela me abandonou e cobriu tudo em uma fria sombra. 

 

A faca apontada ao meu coração,

Nunca achei que era algo cruel,

Quem a segurou é o verdadeiro monstro.

 

Eu quis rir, eu desejei chorar

Nessa escuridão perfeita, sem estrelas

Ninguém poderia ver o meu rosto. 

 

A lâmina invisível e dolorosa,

As palavras que as pessoas fingem não escutar,

No fim, estamos todos sozinhos. 

 

Jogada no chão, em uma lembrança

Com os pensamentos que me culpavam,

A noite escura sem lua escondeu todos eles.

Essa feia, tão feia coisa, ela escondeu todos eles. 

 

Foi então, uma borboleta fluorescente deixou uma trilha de luz

Ela pousou em meu peito,

Lambeu minhas lágrimas amargas, como se fosse um lindo doce.

 

Parecia tão frágil,

Era tão bonita,

E ao mesmo tempo, fez minha respiração parar por um segundo. 

Encantada.

 

O voo que ela ergueu, eu olhei para o céu.

E como se estivesse seguindo as suas asas,

As nuvens se dispersaram,

A lua começou a brilhar. 

 

Era apenas um longo, longo eclipse. 

 

A borboleta tão dourada,

Ela não foi guiada para mim pela luz da lua.

E sim, foi quem me trouxe a lua de volta ao meu céu noturno.

Então que percebi que finalmente,

O eclipe passou. 

 

"Muito obrigado por sua participação hoje, Serena!"

E então a música terminou.

Lembrei quem era. Me senti complicada em meu coração. Uma garota frágil de lindos olhos azuis passou por minhas memórias, foi por um momento apenas, mas ela se lembrou de mim...

Ser um mago, salvar pessoas. A retribuição vinha da forma mais inesperada. Dei um sorriso.

— É uma bonita musica –Rogue murmurou. Ele sabia.

— Mesmo? -Minerva ficou surpresa- Não pensei que você tivesse gostos musicais, Cheney.

— Eu também acho que é bonita –concordei.

— Opa, opa, o que estão conversando? -a voz de Eucliffe surgiu. Então todos os rapazes voltaram, com um vapor refrescante saindo de seus corpos por terem saído do banho termal.

Eles foram se sentando nos bancos e Rogue voltou para o lado do fogo.

— Apenas uma música que passou no rádio. Nada de mais –respondi.

— Humm... -ele ponderou- E aí Rogue, está pronto?

— Quase.

— A pequena dormiu, huh? -Laxus se sentou no banco que Rogue estava até agora pouco, olhando para a maga de cabelos azuis ainda encostada em mim.

— Sim, vou levar ela para dentro. Qual é a barraca? -com cuidado, peguei ela nos meus braços com facilidade.

Mesmo sendo mulher, por causa das constantes e obrigatórios exercícios ao fazer missões, eu tenho alguma força em meus braços, sem contar que Wendy é uma garota bem leve.

— Hum –ele olhou para mim, então foi dizendo enquanto ia apontando para as barracas da direita até fechar o círculo das barracas ao redor de nós- O de trás de você é seu, Wendy e Charles. Depois é da Minerva. Cheney, Eucliffe, os gatos deles. Macao e Romeo. E então o meu.

— Bem –assenti.

Me levantei equilibrando com cuidado, pois a gata estava em cima do estômago da garota, seria trágico se ela caísse. Então entrei na barraca atrás de mim. Era grande o suficiente para duas pessoas. Sem contar que um pequeno gato não ocupava espaço. Me senti surpresa quando vi que no interior estava tudo bem arrumado, pronto para dormirmos. Ao mesmo tempo fiquei grata com a atenção deles que montaram para nós.

Coloquei ela que está dormindo profundamente e a protegi bem com um cobertor para o frio.

Fechei o zíper da entrada da forma mais silenciosa possível quando saí.

Nesse momento eu vi Roque retirar os talheres e já estava servindo uma colher de sopa nas tigelas de madeira.

Me sentei ao lado de Minerva. No banco da esquerda estava Macao, Romeo e Laxus. Já na direita estava Sting, Lector e provavelmente Rogue também estaria ali. Frosch cambaleou e veio para mim, erguendo os braços pedindo colo com os olhos semiabertos. Todos estavam claramente com sono, por isso ninguém teve alguma energia de falar algo, muito menos brigar. Está meio frio também.

Paz de vez em quando era bom.

— Frosch –Rogue chamou- Não atrapalhe Lucy, ela vai comer agora.

— Está tudo bem –respondi, pegando o gato no colo, que rapidamente se aninhou e sorriu satisfeito- Quer que eu faça isso Rogue? Você pode ir tomar um banho.

Ele balançou a cabeça e sorriu, me passando uma tigela e uma colher. Logo todos já estavam com suas tigelas quentes. Rogue pegou um grande pão baguete e entregou um pedaço para cada. A sua sopa de peixe tinha vegetais que foram fritos na frigideira, então estavam de certa forma, mais saborosos. Foi quando percebi que o moreno estava escavando o chão perto da fogueira.

Retirando um pedaço de papel embrulhado, mostrou algumas batatas doces que foram cozidas embaixo da terra pelo calor do fogo, como se fosse um forno improvisado.

O vapor saia da pele vermelha da batata, ele cortou em rodelas e entregou um pedaço para cada um. Como estava muito quente, eu encostei minha tigela com sopa, pão e batata ao lado.

Peguei a tigela que estava servido com uma quantidade menor de sopa, já que ele não comia muito, e com uma colher de madeira, assoprei o liquido. Então coloquei na frente da boca do pequeno gato.

— Lucy, eu posso fazer isso –a voz profunda ressoou, enquanto entregava batata aos magos do meu lado. Eu apenas sorri negando com a cabeça- ... Obrigado.

E todos continuaram a comer. Quando terminei de alimentar Frosch, minha comida estava morna e pude comer facilmente sem precisar me preocupar em me queimar. No meio tempo em que estava comendo, o pequeno gato acabou adormecendo no meu colo. Assim que comi minha porção e senti meu estômago estufado, coloquei as tigelas em uma bacia que estava perto da fogueira, aonde todos estavam colocando seus talheres.

Peguei o gato com cuidado e o levei para a cabana dos dragões gêmeos. Quando retornei, todo mundo já estava com os olhos quase fechados. Depois de um bom banho, com uma comida quente na barriga em um tempo frio e um dia completamente exaustivo de trabalho estava pesando para todo mundo.

— Por que não vão dormir? -eu falei- Amanhã precisamos terminar a ponte, só montar ela e tudo pronto para irmos para casa.

— Bom, então boa noite –Minerva bocejou, escondendo os lábios com os dedos compridos e pintados. Logo ela sumiu na própria barraca ao lado da minha.

— Estamos indo também -Macao pegou o filho nos braços que já estava bem adormecido- Boa noite, obrigado pela comida.

— Até amanhã –Laxus murmurou, sumindo dentro da sua cabana também.

— HaumfHofHouf –Sting bocejou enquanto falava algo incompreensível.

— Sim, pode ir –Rogue respondeu ao seu amigo. A relação desses dois de tantos anos é incrível. Já ultrapassou os limites da linguagem e conseguem se entender com grunhidos!

Lector foi levado pelos braços de Eucliffe. Nesse momento, eu vi o mago das trevas se abaixar para pegar a bacia cheia de talheres sujos, eu corri e agarrei antes dele.

— Não, você pode ir se lavar e deixar o resto do trabalho para mim –virei a bacia para longe, já que ele franziu as sobrancelhas e tentou pegar mais uma vez- Você já fez o suficiente por hoje, eu posso assumir isso agora.

Ele suspirou depois de me encarar por três minutos. Pareceu que queria se aproximar, mas pensando mais uma vez, ele resolveu balançar a cabeça e se virou. Depois de dois passos, escutei a sua voz:

— Não se esforce muito.

— Eu não vou -então me virei para o rio- Bobo, é você quem está sempre se esforçando demais.

Dentro da bacia tinha uma esponja e sabão. Fiquei lavando os talheres na fria água, sentindo meus dedos congelarem aos poucos. Realmente, ele já tinha usado tanta magia e ainda foi cozinhar para nós e ainda queria guardar as coisas? Não sabe ser dependente?

Foi nesse momento que pensei na personalidade descontraída de Sting, e como Rogue sempre cuidava dele. Não... acho que aquele loiro estúpido era nada confiável. Espera, isso não significa que o Rogue sempre teve ser babá dele?

Isso não significa que eu também estava sendo sempre cuidada pelo moreno? Oh meu deus! Eu não estou só aumentando a responsabilidade dele?

Não, não.

Eu não sou como o Eucliffe. Com certeza sou muito melhor que ele!

Então me lembrei de quando eu desmaiei de tanto trabalhar assim que eu entrei na Sabertooth. Não só isso, antes mesmo de eu vir para a guilda, eu estive me encontrando com Rogue alguma e outra vez. Ele não estava me consolando nessas vezes também?

E agora mesmo, ele não...

Eu lembrei do corpo do moreno no chão e sangrento. Por mim, ele fez uma coisas dessas. Tinha muito, muito sangue... Eu... Por um momento, achei que estava morto. Estava tão quieto e imóvel que parecia que estava morto.

Minhas mãos tremeram um pouco.

Rogue não ganhou um tratamento muito bom, mesmo na vila o remédio não era exatamente de grande qualidade. Será que ainda não está sofrendo de alguma dor e apenas fingiu que está acontecendo nada?

Minhas sobrancelhas franziram.

E ainda assim, eu fiquei tão presa nos meus sentimentos que tive que fazer o Rogue me consolar de novo e mais uma vez. Ele nem mesmo se importou com os próprios machucados a ponto de ficar com febre. Pensei que ele teria seu cérebro derretido até a morte e nunca mais iria acordar quando vi que dormiu por tanto tempo.

— Precisa de ajuda para lavar a louça? -uma voz veio por trás de mim.

Pensei nele agora pouco e ele apareceu. Comprimi meus lábios pela culpa.

Fiquei tanto tempo imersa em pensamentos e nem percebi que minhas mãos tinham parado de trabalhar.

— Não, eu consigo terminar –e comecei a esfregar com mais rapidez com a esponja.

E quando percebi, com a pouca luz da lua, vi dois braços circularem ao redor dos meus ombros. Uma cabeleira negra ao canto do meu olho, um suspiro pesado bem no meu ouvido. Ele me abraçou pelas costas e sua cabeça estava encaixada ao lado da curva do meu pescoço. Seu corpo cheirou a sabão e o calor do banho ainda estava ali.

— O... Que você está fazendo? -me assustei, parando mais uma vez as minhas mãos, sentindo minha cara queimar.

— Você está gelada Lucy. Me deixe ficar assim um pouco. -uma voz grave e tão baixa como um sussurro.

Com certeza estou com as mãos congelando, minha espinha mesmo parecia estar criando geleiras, mas e agora? Agora sinto como se tivessem me jogado no vulcão e meu corpo esquentou para todos os lados. Minha respiração ficou meio errada e o coração batendo tanto que pensei que ele estava escutando, me deixando com mais vergonha.

Mas não tive a coragem de empurra-lo para longe.

— Bem –uma voz bem fina saiu da minha garganta. E pensando em uma coisa, perguntei- Você está bem Rogue? Se sente doente?

— Sou um Dragon Slayer saudável, já me recuperei. Não precisa se preocupar.

Fiquei me perguntando se essa informação era falsa, mas seu tom de voz não parecia conter mentira. O aperto nos meus ombros ficou um pouco mais firme.

Com minhas mãos trabalhando mais uma vez, nenhum de nós falou.

Então assim que terminei, eu o chamei.

— Rogue?

— Hum? -sua voz estava um pouco embargada. Ele adormeceu? E está sonâmbulo?

— Você está dormindo?

— Hum...

— Olha, um coelho de sabão! É você Bunny Boy! -peguei um pouco de sabão e mostrei para ele, fazendo uma forma toda torta de algo que era um coelho, eu acho?

— Humhm....

Ele não estava pesado, ou seja, ele ainda tinha consciência de manter o peso dele?

Uma ideia veio à minha mente:

— Suas costas doem? -hesitei um pouco.

Se ele está meio dormido, ele deve responder com honestidade, certo? Era minha oportunidade de confirmar se ele estava mentindo.

— Bem, um pouco –ele realmente respondeu lento. E parecia meio confuso, sem saber se estava sonhando ou não. Sua respiração no meu pescoço era quente e rítmica.

Ele parecia estar dormindo.

— Por que você... -eu queria perguntar, provavelmente já sei a resposta, eu e ele já somos algo a mais que amigos, mas ainda assim. Eu tinha que perguntar- Por que você... -minha lembrança era tão fresca dele caído no chão, rasgado, cheio de sangue. Só nessa memória, me senti mais e mais sufocada- Continuou se machucando? Como você pôde fazer isso com você mesmo?

Ele não respondeu, ficando quieto por um momento. Meu coração estava amargo, é claro que não queria ficar presa na lácrima para sempre, estou realmente muito comovida com o que ele fez por mim. Mas eu não posso mentir e dizer que foi algo fácil, só de pensar no que ele fez, não me sentia feliz.

— Isso doeu muito, não foi? -perguntei mais suavemente.

— ...Doeu -ele murmurou, obediente. Meu coração ficou mais pesado- Doeu tanto que pensei que morrer era até melhor.

Eu tremi, franzindo as sobrancelhas.

— Então por quê? -sussurrei, com a voz falhando.

— Porque... Eu amo você -ele me contou.

Eu engoli, fechando a mandíbula fortemente. Mas isso não impediu do meu nariz entorpecer e uma lágrima cair dos meus olhos.

— Vo... Você -engasguei- Você é um grande idiota...

Os braços dele me apertaram um pouco mais. E em seu pulso, pude ver o pequeno cordão de couro que lhe dei em seu aniversário. Ele usava isso fielmente.

— Eu amo você, Lucy –sua voz estava arrastada.


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