Maldição Soverosa escrita por P B Souza


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Um começo simples, sem muita informação, só uma amostra do porvir.
Espero que gostem!
Ps. Os capítulos terão bastante da mitologia indígena e portuguesa na época da colonização, assim como referências à lendas urbanas, acho que vão gostar e também alguns contos reinventados além de bastante ação.
Então aproveitem e boa leitura!! ç.ç



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Tudo começou um dia antes do décimo oitavo aniversário de Kaio.

Era uma quinta-feira, 29 de setembro de 2016, mais um dia comum e ele teria escola no dia seguinte. Seu último ano, próximo das provas… nem deveria estar em casa, mas na quarta-feira havia sentido dores pelo corpo e deixou o internato indo para casa, aonde o médico da família viria visitar.

Então na quinta-feira, ao amanhecer, sentiu dores terríveis nas costas, abaixo dos pulmões. Depois foi na barriga, sentia como se algo estivesse ali dentro, algo de considerável tamanho para ser… notado se mexendo na própria pele.

Era horrível. Kaio pensou amargamente na possibilidade de algo ter entrado nele, algum verme ou algo assim. Sua pequena irmã, Laila, disse que parecia que Kaio estava grávido, com um bebe chutando sua barriga.

Como resultado não foi à escola e passou o dia jogando videogame e comendo besteira em seu enorme quarto no casarão da família Soverosa, o que não é incomum para jovens em sua idade ou com sua fortuna.

Mais tarde, porém, enquanto almoçava, Kaio se levantou de sobressalto, a cadeira caiu para trás com uma pancada no piso de madeira enquanto ele corria para o banheiro, esbarrando no lavabo, caiu de joelhos abraçando o vaso como se fosse só mais uma ressaca (costumava ter algumas). Abriu a boca o máximo que pode sentindo subir pela sua garganta e vomitou copiosamente tudo que havia comido. Pedaços de batata voltaram ainda inteiros enquanto ele fechava os olhos e balançava para frente e para trás, descontrolado, sentindo o enjoo.

Então a ânsia de novo, subiu-lhe pelo estômago, esôfago… e parou. Engasgou brutalmente como se algo tivesse entupido o caminho de saída pela boca e perdeu até mesmo o ar por um instante, arfando com dificuldade, suas mãos foram à garganta, as unhas lhe arranhando a pele em um desespero crescente. Então tudo passou e o ar entrou livre para seus pulmões.

— Mãe. — Choramingou olhando à privada, o sangue lavando a porcelana cinza escuro, a preocupação lhe atingiu no âmago como adaga atingi o porco na jugular. — Mãe! — Repetiu enquanto ouvia os passos da mãe vindo até ele.

— Meu bom Senhor. — Foi a primeira coisa que Bethânia, mãe de Kaio, pronunciou.

Pois que foram para o hospital com urgência antes mesmo do médico vir à casa. Lá Kaio foi examinado e sangue foi colhido, perguntas feitas, exames de raios-x, e outros. Nada fora do normal.

— Vocês podem voltar para casa, quando os resultados chegarem amanhã, o hospital entra em contato, mas podem vir lá para as oito horas que já deve estar pronto.

O Dr. Euclides, médico da família, falou mais para a mãe de Kaio, que para ele. Isso o frustrava, em um dia seria maior de idade, vivia quase por conta própria, largado pelo pai e pela mãe, se virava muito bem sozinho, mesmo assim quando precisava de alguma coisa, era como se não fosse nada além de um pirralho. As pessoas sequer olhavam para ele quando falavam dele, preferindo falar com sua mãe.

Então a noite chegou e Kaio, devido o mal-estar, preferiu não comer nada. Também havia o receio de vomitar sangue novamente, tal receio deixava-o tão preocupado que sentia arrepios. Nunca havia vomitado sangue antes, e costumava beber coisas das mais estranhas procedências, então ao ver sangue no vaso sanitário realmente ficou preocupado.

Caso os exames não acusassem nada, ele teria de refazê-los, e fazer outros com tubos e câmeras para ver sua barriga por dentro. Kaio nunca foi o tipo medroso, mas isso lhe deixava… desconfortável por falta de palavra melhor!

Ele não sabia se desejava não ser nada e ter que enfiar tubos pela sua boca, ou se desejava que encontrassem algo… as duas alternativas eram ruins. De todo jeito, estou oficialmente doente. Pensava.

No outro dia logo pela manhã, sexta-feira, não foi à escola ainda com a desculpa do mal-estar (que não era desculpa, era verdade, mas tudo parece desculpa quando se está terminando o Ensino Médio). Falou com os amigos e amigas do colégio sobre irem ao Outback, mas Kaio disse que teria de cancelar, talvez se não morresse antes dos dezoito ele iria! Todos riram (foi feita uma chamada de vídeo compartilhada).

Então no almoço em casa mesmo comeu meio prato de miojo fazendo força para mandar para dentro e mais força ainda para não mandar para fora, careta atrás de careta até desistir.

— Você já está até parecendo mais magro. — Dona Bethânia disse enquanto Kaio empurrava o prato para frente torcendo o nariz. — E faz apenas um dia que está ruim. Os Soverosa não ficam ruins. Trate de comer!

 

O dia correu com um Kaio tristonho e na cama, o Dr. Euclides só ligou durante a tarde dizendo que os exames haviam sido destruídos no caminho em um acidente aonde o motoqueiro perdera a vida, Dona Bethânia disse sentir muito e todas essas coisas que se espera que um adulto diga, no final não foram ao médico deixando para sábado irem refazer o exame de sangue. Aparentemente não precisavam de tanta pressa, afinal, Kaio não tinha vomitado de novo e o médico é não apenas do convênio, mas um amigo da família, então caso fosse necessário o Dr. Euclides poderia vir até mesmo na casa. Vantagens de ser um Soverosa. Kaio pensou. Sabia que o sobrenome de sua família impunha respeito em toda a cidade, eram, praticamente, os fundadores da própria cidade.

Pois que então chegou a noite do aniversário. E Bethânia convidou Mark Viwtman e sua esposa, Maria, assim como o amigo de longa-data da família, Rodolfo Vilasboas. Para Kaio, tanto eram todos tios e tia, crescera junto daquelas pessoas. Além destes estavam apenas a própria mãe de Kaio, o pai, Laila sua pequena irmã, e a avô que há uns meses retornará para a cidade.

Cantaram parabéns enquanto Kaio olhava o bolo, sentia a barriga remoer as refeições não feitas querendo aquele bolo, mas sabia que não conseguiria comer sequer um pedaço.

— E para Kaio nada!

— TUDO! — Gritaram em coro com a empregada logo atrás batendo palmas também.

Então aconteceu.

Se levantou da mesa, novamente de supetão e dessa vez atraindo o dobro de olhares. Aquela sensação… era movimento, movimento dentro dele. Algo voltava a se mexer em seu estômago.

— Kaio? — Sua pequena irmã, Laila, chamou puxando-o pela manga. — tá bem?

Em resposta ele saiu correndo ao banheiro ali na sala de jantar, mas a porta estava trancada, então virou olhando sua mãe e todos, exceto o tio Mark, o encarando com preocupação. Com a mão na boca tentando conter o vômito, correu à cozinha, atravessando-a para o corredor leste da casa, o outro banheiro ficava longe, o quintal, porém, estava ao lado. Escancarou a porta para fora e o quintal estava tomado por uma névoa estranha. O vento gelado da noite lhe envolveu conforme corria.

— Kaio… — Dona Bethânia ia atrás do filho com o típico olhar de preocupação de mãe. Kaio se virou e fez sinal com a mão para que ela ficasse ali na porta mesmo. Ele, porém, continuou avançando alguns passos para o quintal da propriedade Soverosa.

Cambaleou, como um bêbado, pelo quintal, caindo de joelhos no gramado e induzindo o vômito conforme contraia a barriga tentando esmagar o que fosse que estivesse dentro dele. Sentia os intestinos dando nós e algo rebimbando dentro dele como se fosse um jogo doentio de pinball.

Que merda é essa? Sentiu, literalmente, algo andando dentro de si.

Andando não, não estava andando…

Então aquele extremo desconforto, caiu de frente com as mãos de apoio para não bater a cara na grama, abriu a bocarra e vomitou de novo. Pode desta vez sentir o gosto de sangue e do miojo da manhã. Mas não parou aí, mais subiu pela garganta, algo grosso e quente e liso, asqueroso, deslizando…

Teria berrado enquanto as escamas deslizavam pelos seus dentes com um som agoniante, mas a garganta estava fechada pela criatura que saia de seu interior, ele mal podia respirar enquanto entortava a coluna fazendo força com o abdômen para que aquilo saísse logo. Quando terminou, entendeu; o que estava em mim não andava, rastejava.

Uma serpente avermelhada e grossa como um pote de Pringles, com ao menos quarenta centímetros de comprimento, rodeou seu braço enquanto sua visão enegrecia pelas bordas e Kaio começava a tremer com saliva e sangue escorrendo pelos lábios em fios viscosos que esticavam até estourar. Ouviu gritos, provavelmente de sua mãe.

Quando caiu de lado, Dona Bethânia e o Senhor Christopher vinham correndo em sua direção. Todos os outros só encaravam, estupefatos, exceto pela sua avó, Senhora Teodora. Ela quem segurava a irmã de Kaio pelos ombros, e ela (a avó) encarava Kaio com uma força que este nunca tinha visto naquela velha e raquítica idosa, os olhos dela brilhavam em um verde musgo forte com as pupilas em feixes verticais e a boca se abria e fechava como se estivesse falando algo sem emitir som algum, estava falando algo para ele, lá da soleira!

Então, caído sobre o próprio vomito com uma cobra em seus braços, despido de qualquer dignidade, desmaiou.

 


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Notas finais do capítulo

Fim do prólogo povo e pova!!
Sabe a cena da serpente? Então: http://i.imgur.com/aQ0V7ux.jpg < Abre esse link. (é uma imagem realista), se quiser mais realismo, abre o youtube e assistam "Just one Yesterday - Fall Out Boy", é de lá que vem essa imagem (Abençoada seja a banda por ter justamente o que eu precisava).
...
Agradeço a quem leu, tendo gostado ou não. E se gostou muito muito mesmo, comenta!!! :D
Obrigado a todos, e até o próximo!! :D
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Ps. Qualquer dica ou opinião podem falar, quem comentar ganha uma balinha 7belo virtual da amizade.
Obrigado. E vejo vocês em breve ~ou assim espero né. Não me abandonem~ haha.