Sweet Devil escrita por Carcata


Capítulo 1
Doce e amargo Matt


Notas iniciais do capítulo

essa fic é meio que um presente pra ~Goddess of Light, que me incentivou a escrever foggyxmatt mesmo quando ninguém aqui shippa eles KKKKKKKK



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 Depois de anos sendo melhores amigos, Foggy Nelson realmente pensou que sabia tudo sobre Matt Murdock. Ele estava errado.

 Claro, ele conhecia muitas partes de Matt. A parte doce, da qual ele sempre tratava Foggy como seu amigo, sua família, tudo o que era de bom no mundo. A parte azeda, sua culpa e tristeza do passado que ainda o perseguiam de vez em quando. Foggy tentava de tudo para animá-lo quando as memórias ruins apareciam.

 Foggy Nelson não sabia da parte amarga de Matt.

 Então foi assim que ele descobriu. Um gosto doce na boca, uma máscara preta, e uma criatura que é mais diabo do que homem.

 — Diga que você é inocente. — Foggy disse depois de algum tempo tentando encontrar a voz. Os olhos de Matt estavam mortos, mas não por causa da cegueira.

 — Sou inocente. — repetiu Matt, a frase soando automática.

 Foggy não conseguia parar de observar os olhos de Matt (mortos, mortos, mortos).

 Olhos do Diabo.

 — Diga que tudo isso é uma mentira, que você não fez nada disso, e que eu não estou ficando louco. — Ele nem conseguia dar um passo. Seu corpo inteiro estava congelado.

 — Você não está ficando louco, Foggy. — Matt respondeu com doçura na voz. Não, doçura, não.

 Ele não era mais o doce Matt.

 — Então é verdade. Você mentiu para mim durante todos esses anos. Você-- — Foggy não conseguiu completar a frase, algo na sua garganta o impedindo de continuar.

 — Desculpa, Foggy — Ele soou genuinamente arrependido, e Nelson se perguntou se era por ter mentido ou por ele ter descoberto as mentiras. — Nunca quis que você ficasse sabendo desse lado meu.

 O lado amargo.

 — Não queria te envolver em nada disso.

 Foggy riu para não chorar.

 — Esse sangue — Ele engoliu em seco, dirigindo-se à máscara que estava nas mãos de Murdock. — É seu?

 Matthew inclinou a cabeça e lambeu os lábios.

 — Sim, eu acho, mas não muito. A maioria não é meu.

 Foggy realmente não sabia qual era pior. O sangue de Matt ou o de outra pessoa. Meu Deus.

 Ele começou a pensar se deveria fugir. Ir para um lugar seguro, trancar todas as portas, chamar a polícia, exclamar “preciso de ajuda, acho que meu melhor amigo é um assassino.” Ou só sair dali. Correr, escapar, ficar longe. Aquele Matt não era o Matt. Era o Diabo.

 Foggy ficou parado como uma estátua.

 — E você... O quê? Só bateu neles, os fizeram sangrar? Fez justiça com suas próprias mãos?

 Matt se aproximou e Nelson prendeu sua respiração quando ele sentiu a mão do moreno tocar na sua.

 — Às vezes a lei não é o suficiente.

 — O que você fez com eles, Matt? — Tudo o que Foggy queria era a verdade, mas Deus, o que ele não faria por uma mentira reconfortante naquele momento. Murdock hesitou.

 — Você sabe o que eu fiz.

 Não.

 — Não, Matt, eu não sei — Ele disfarçadamente retirou sua mão fora do alcance de Matt. Tinha medo até de tocá-lo, agora. — Você tem que me contar a verdade. Chega de mentiras.

 Matt colocou sua mão na bochecha de Foggy, que fez de tudo para não dar um pulo e fugir dali.

 — Okay — Murdock sussurrou com ternura e um doce (amargo, amargo, amargo) sorriso. Foggy estremeceu; O outro estava muito perto. — Chega de mentiras.

 Matt o beijou.

Ele não sabia o que fazer. Foggy estava preso em um labirinto de verdades e mentiras, de sensações e sabores. Não sabia qual caminho fazer, que decisão tomar, em quem confiar. Toda vez que olhava para alguém, ele via uma máscara. Toda vez que olhava para algum lugar, avistava uma sombra. Fria, escura e cheia de sangue.

 Uma sombra chamada Matt.

 Nelson sabia que, àquela altura, estava ficando paranóico. Mas ninguém poderia culpá-lo. Descobrir que seu melhor amigo era um assassino tinha aquele efeito em uma pessoa.

 — Fisk, Nobu, Vladimir, um policial... Não lembro o nome dele — Matt tinha confessado para ele quando ambos estavam em seu apartamento, a máscara com sangue em suas mãos e um pequeno sorriso no rosto. “Sorriso” porque, segundo ele, tinha beijado Foggy, algo que queria ter feito há muito tempo. — Eles mereceram, Foggy. A lei não pôde fazer nada, mas eu podia.

 A voz de Matt estava cheia de culpa, mas também de esperança. Como se ele quisesse falar “Você não está orgulhoso de mim? Eu fiz justiça”.

 Orgulho era a última coisa que Foggy estava sentindo. Desgosto, sim. Medo, com certeza. Orgulho?

 Hah.

 — Matt... — Foggy murmurou perplexo uma vez que Matt botou tudo para fora, colocou todas as cartas na mesa. Confessou tudo. — Deus, eu não-- Eu--Todos esses anos você escondeu isso de mim...?

 Murdock fez um som triste em sua garganta, choramingando. Depois o abraçou, colocando o rosto no pescoço de Foggy. Este resistiu à vontade de quebrar o abraço, afastar o moreno de si, ou protestar, fazer qualquer coisa.

 Mas e o medo? A aflição, a ansiedade de que Matt fizesse alguma coisa com ele. O verdadeiro Matt nunca faria algo para prejudicá-lo, mas o que ele sabia do verdadeiro Matt?

 Pelo amor de Deus, Murdock nem era cego, para começo de conversa.

 — Eu não queria mentir para você. Não assim, não quando eu te amo tanto, Fog... — Matt suspirou, e o ar quente que saiu de sua boca que tocou o pescoço de Nelson o fez arrepiar. — Mas eu tinha medo que se você descobrisse, me abandonaria.

 Bem, você não está errado.

 Matthew apertou o abraço, ficando tenso só por pensar em tal possibilidade.

 — Você não vai me deixar, ou vai, Foggy? — Matt sussurrou docemente em seu ouvido.

 (Foggy não respondeu)

 Nelson agora caminhava nas ruas de Hell’s Kitchen com o seu coração batendo forte e olhando para os lados de um jeito frenético. Paranóico, pois é. Era melhor aceitar, agora.

 Indo para a firma, com um copo de café na mão (ele não estava emocionalmente preparado pelo café da Karen) e um jornal do qual tinha acabado de comprar, Foggy cogitou em pedir ajuda para alguém. Mas quem o acreditaria? Um cego vigilante assassino? Além do mais, era difícil confiar nas pessoas de Hell’s Kitchen esses dias.

 (Talvez Brett acreditaria nele)

 Ele nem sabia como estava indo trabalhar depois do que tinha acontecido no dia anterior, mas decidiu que era melhor agir como se nada tivesse acontecido para não levantar suspeitas. Faria algo em relação a Matt o mais rápido possível, porém por enquanto era melhor ficar discreto.

 Abriu a porta do escritório e deu de cara com Matt sentado na cadeira de Karen, que ficava no centro da sala e bem na frente da porta. Uma expressão apaixonada estava visível em seu rosto.

 Foggy sentiu um mau pressentimento.

 — Onde está Karen?

 Você não a matou também, não é?

 — Bom dia para você também, Foggy — Matt disse, animado. — Karen foi pegar alguns arquivos que eu pedi, ela não vai demorar.

 De alguma maneira ele não acreditava naquela desculpa.

 — Deixa que eu te ajudo. — Murdock levantou e tirou a mochila de Foggy de suas costas e pegou o jornal que estava em sua mão.

 Nelson ficou tenso ao sentir o toque de Matt, e não se mexeu nem um centímetro. Deu uma olhada em Murdock, e este estava com uma expressão tão alegre que era uma surpresa ele não estar sorrindo de orelha a orelha.

 Bom, pelo menos um deles estava de bem com a vida.

 — Então, uh... — Foggy começou. — Eu acho... que nós devíamos conversar sobre a noite passada.

 Ou, mais especificamente, o que você fez noite passada, porque acho que eu preciso de todos os detalhes para saber se você matou mais alguém que eu não saiba.

 Matthew abriu a boca para falar, todavia a fechou rapidamente e inclinou a cabeça, claramente ouvindo algo que Foggy não era capaz de escutar.

 — Agora não. Karen está chegando.

 Oh, Deus. Agora que ele tinha se dado conta: Karen estava todo esse tempo trabalhando com um assassino. E então Foggy se tocou que ele também estava trabalhando com um assassino.

 Ele era o melhor amigo de um assassino que estava apaixonado por ele.

 Nelson sentiu vontade de vomitar.

 — Matt! Peguei os arquivos que você queria — Karen anunciou quando entrou no escritório. Oh, então aquela desculpa não foi uma mentira. — Ah, bom dia, Foggy!

 — Bom dia. — Foggy não conseguiu a olhar nos olhos.

 Nelson pegou sua bolsa e jornal e foi em direção à sua sala, fechando e trancando a porta. Também fechou as janelas por segurança. Só para ter certeza.

 Começou a beber seu café em grandes goladas. Talvez a cafeína o ajudasse a não perder sua insanidade. Ele fez uma careta ao sentir o gosto forte e amargo.

 Amargo.

 Foggy jogou o café no lixo.

 Abriu o jornal e passou os olhos pelas linhas impressas, mas não conseguiu absorver nada. Nada que valesse a pena notar, quer dizer. A primeira matéria falava sobre o clima de hoje, e ele pensava se Matt sabia se iria chover só pelos seus sentidos. A última página anunciava propagandas de todos os tipos, e Foggy se pegava pensando se Murdock já tinha lido aquele jornal só passando os dedos pelo papel e sentindo as letras.

 Um anúncio explicava sobre como fazer uma torta de maçã, e Foggy se lembrava do doce beijo que Matt tinha dado nele no dia anterior.

 Nelson rangeu os dentes e apertou o jornal com mais força.

 Duas batidas na porta o fez pular de susto. Logo em seguida, veio a voz de Matt:

 — Foggy? Você está bem? — Silêncio. Depois, um sussurro. — Seu coração está acelerado.

 Oh, Deus. Como se o vigilantismo e assassinatos não fossem o suficiente.

 Foggy quis falar “me deixe em paz, eu nem sei quem é você, mas sei que não é o meu Matt”. Entretanto seria estúpido falar isso para um psicopata.

 — Tá tudo bem — assegurou. — Foi só... Algo com o jornal. Uma notícia.

 Não era uma mentira, mas não era toda a verdade.

 — Jornal...? — Matt soou confuso e pensativo do outro lado da porta. — Hmm...

 Murdock pareceu estar pensando em algo satisfatório e Foggy realmente não queria saber o quê.

 — Okay — respondeu ele alegremente. — Karen fez café. Apareça se quiser um copo. E não se esqueça de dar uma olhada na página 7A.

 E com isso foi embora. Foggy suspirou, sentindo-se pelo menos um pouco mais seguro, e em seguida voltou a observar o jornal em suas mãos.

 7A?

 Ele deu uma olhada, e notou que a página 7A era dos Obituários. Foggy nunca deu muita atenção a Obituários — o que era meio deprimente, se parasse para pensar —, mas pessoas morriam em Hell’s Kitchen todos os dias. Não era exatamente informação de utilidade.

 Foggy mordeu o lábio e sentiu algo ruim crescer em seu peito quando achou o que procurava. Não entendendo o que Matt queria que ele fizesse, seus olhos passaram pela lista de falecidos.

 22 Nomes.

 22 pessoas mortas ou condenadas à pena de morte. Não demorou muito para que ele fizesse a conexão entre a lista de mortes e o Diabo de Hell’s Kitchen, e em questão de milissegundos Foggy estava correndo da sua sala até o escritório de Matt.

 Murdock estava tomando um gole do café que Karen tinha feito, e seus olhos (não mais mortos agora) iluminaram ao notar a presença de Nelson. Foggy pôs o jornal bruscamente na mesa na frente do outro, raiva e indignação bem aparentes em seu rosto.

 — Quantos?

 Matt tirou a atenção do café e virou sua cabeça para o amigo, sorrindo amargamente.

 Ah, agora ele estava mostrando o seu lado amargo, não é?

 — Você fala do jornal, ou em geral?

  Foggy, Jesus Cristo, Santa Maria e qualquer outra entidade sabiam muito bem que ele ainda não estava preparado para saber quantas pessoas Matthew já tinha assassinado no total.

 — Falo do jornal. — respondeu, ríspido.

 — Nenhum.

 Nelson soltou a respiração que estava segurando, de repente sentindo-se um pouco desnorteado.

 — Então, por que... — Ele fez um gesto, referindo-se ao jornal.

 Por que me mostrar todas as mortes quando acabo de descobrir que você é um serial killer? Tá querendo me matar do coração?

 Murdock levantou-se e andou na direção de Foggy, chegando perto demais para aquilo ser considerado algo platônico.

 — Eu só... Queria te mostrar — Ele pegou sua mão. O outro empalideceu. — Que pessoas morrem em Hell’s Kitchen todos os dias. Assassinatos, sequestros, assaltos... Todas essas vítimas. Eu posso salvá-las, Foggy. O que eu faço não é uma coisa ruim, é algo bom.

 — Esse “algo bom”... Você se refere a matar bandidos? — Foggy murmurou, nervoso.

 — É melhor alguém fora da lei do que uma pessoa inocente — Matt fechou os olhos e roçou os lábios nos seus. — Estou tão feliz por não precisar mais me esconder de você, Foggy...

 Você não precisava se esconder. Eu é que deveria ter me escondido.

 Matt o beijou novamente. Ele tinha gosto de café preto açucarado: doce e amargo ao mesmo tempo.

 Doce e amargo Matt.


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Notas finais do capítulo

quando eu vou postar o próx cap? só deus sabe pq eu coloquei tantas metáforas de sabor? fiquei com vontade de comer algo doce agrcomentários? nenhum? ok ;-;