Paris Doll escrita por Nárriman


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores. Como vcs estão? Sei que demorei um pouco para postar esse capítulo, mas aqui está e espero que gostem.
Boa leitura.



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Pov’s Ally

Por mais que tenha se passado apenas um mês e meio ainda assim Miami tinha me mimado mais do que o esperado.

Em Nova Iorque eu estava sempre ocupada com o trabalho, desfiles de moda e festas, mas o pouco tempo na nova cidade fez com que tudo o que um dia era minha rotina se tornasse algo completamente novo.

—Tenham uma boa noite. -O segurança disse quando saímos da limusine e fomos para o início da fila.

Todos já deveriam estar lá dentro, mas não tínhamos que nos preocupar com isso. O desfile não podia começar até que eu estivesse lá dentro.

Dei um rápido sorriso e a mão de Austin em minha cintura foi um aviso de que devíamos continuar a caminhar.

—Esta nervosa? -ele perguntou ao entrelaçar nossos dedos.

Franzi a testa.

—Não é a primeira vez que faço isso.

—E quando foi a última vez?

—No ano passado em um desfile da Prada.

Quando dei por mim, já estávamos em frente a centenas de pessoas e eu podia sentir o olhar de cada um deles sobre nós. Os flashes também tinham como único foco Austin e eu.

—Pra ser sincero eu odeio esse tipo de evento.

Eu dei-lhe um olhar e perguntei: —Em uma escala de um a dez, quão entediado você estava?

Ele olhou-me bem nos olhos e disse: — Eu li os termos e condições para a nova atualização do iOS no meu telefone. Duas vezes.

Revirei olhos quando as luzes se apagaram.

Dei um sorriso mesmo sabendo que ele não poderia ver.

Os holofotes se acenderam e uma batida começou a tocar.

Quando The Weeknd entrou eu não conseguia ouvir nada além dos gritos e aplausos das pessoas ao meu redor.

Eu conhecia aquela música, eu e Kira tínhamos ido a um show dele no ano passado para comemorar meu aniversário. Nós duas voltamos para a minha casa quando o sol já estava alto no céu.

Mas no meio da multidão a música não tinha o mesmo sentido que hoje. A melodia era triste e a letra da música acompanhava uma melancolia interior.

“Eu sou prisioneiro do meu vicio, estou viciado em uma vida tão vazia e fria. Eu sou um prisioneiro das minhas decisões.” o refrão dizia e logo após esse verso, a primeira modelo apareceu na passarela.

Um conjunto lilás moldava seu corpo. O sutiã tinha bordas douradas e a calcinha tinha em sua lateral direita um rubi. Asas de um roxo quase vinho cobria suas costas o que combinava com seu tom de pele escuro.

Eu tinha feito um ótimo trabalho para o curto prazo que eu tive.

Um novo sorriso brilhante passava por meus lábios a medida que cada uma das modelos aparecia em meu campo de visão. Era muito gratificante ver as pessoas elogiando as peças de roupa, eu realmente não tinha palavras para dizer o quão importante tudo aquilo significava para mim.

Cada uma das peças significava algo para mim, os laços, tecidos, cores... Minha vida estava ali e de alguma forma as pessoas conseguiam ler isso.

E meu sorriso se alargava cada vez mais até que ele morreu com apenas um único movimento.

No momento em que Rihanna começou a cantar unfaithful diante de mim meu coração simplesmente parou.

Não era o fato de que ela estava a apenas alguns passos de mim, mas por que a letra foi como um soco em meu estômago.

Eu estava focada nas modelos, no entanto quando parei para entender o que a letra tentava explicar eu senti nojo de mim mesma.

A letra falava sobre um relacionamento onde existia uma traição e que um deles era obrigada a ver seu grande amor com outro e ia morrendo cada vez mais por dentro pois ela sabia que seu parceiro era feliz com outra, mas ainda assim levaria um tiro por esse alguém.

Quando o refrão da música começou a tocar eu senti uma lágrima fria e afiada descer por meu rosto e não me importei, mas quando dei por mim eu estava olhando para minhas mãos que segundos atrás enxugavam minhas lágrimas e pude ver nelas as cores escuras da minha maquiagem.

—Ei. -a mão de Austin tocou a minha coxa e o encarei.

—O que aconteceu? -ele sussurrou em meu ouvido.

Segurei sua mão e dei um aperto firme nela. Um sorriso triste acompanhou meus lábios.

—Prestes atenção a música. -respirei fundo e me acomodei melhor na cadeira.

De canto de olho pude ver ele tencionar o corpo diante dos versos que se seguiam, mas ele não disse mais nada ou muito menos eu. A música falava por si só.

Antes que ela terminasse, a última Angel surgiu no final da passarela. Adriana lima.

A lingerie feita com os pedaços do vestido de noiva apareceram em meu campo de visão e pude ver todos ao meu redor se levantarem para aplaudir, mas ainda assim eu continuei sentada. Analisando minha própria arte e ouvindo mais e mais versos daquela música que parecia atormentar meus pensamentos.

Era para ser uma das noites mais felizes da minha vida, mas apenas uma música foi o bastante para ela se tornar um peso em meu peito.
                                     ***

04:17 da manhã marcava o relógio em meu pulso.

Depois de algumas horas falando com estilistas, tirando fotos com modelos ou sendo elogiada por meu trabalho enfim eu estava livre de todas aquelas pessoas.

Meus saltos agora estavam em minhas mãos e isso me permitiu sentir o chão frio em que eu pisava. Austin também estava sem o casaco do paletó e dois botões de sua camisa branca agora estavam abertos. E o mais impressionante de tudo, não estávamos bêbados. Não sei como isso aconteceu, mas tinha mais de duas semanas desde a última vez que ingeri qualquer substância alcóolica.

—Gostou da noite? -ele entrelaçou nossos dedos a medida que caminhávamos pelas ruas desertas de Cannes.

—Sim. Foi incrível. -falei, mas minha voz não tinha emoção alguma.

Meus olhos estavam vidrados em algum ponto no horizonte.

—É difícil acreditar que você está dizendo a verdade quando sei que eu mentiria se estivesse em seu lugar. -um tom grave passou por sua voz o que me fez voltar ao presente.

—O que? -perguntei em um misto de confusão e temor.

Ele apenas apontou com o queixo para uma pracinha que tinha ali perto. Seguimos em silêncio até estarmos diante de um enorme gramado, ele fazia cócegas em meus pés e não hesitei por nenhum momento a medida que eu me deitava sobre ele. Rosas e espinhos nos rodeavam.

—Eu acho que você deve pensar que tem que se culpar por isso, mas lembre-se -ele segurou minha mão. —Tomamos essa decisão juntos.

Continuei com meus olhos abaixados.

—Então porque eu sinto como se eu não me encaixasse ao seu lado? – sussurrei, passando os dedos pelas rosas perto de mim. Um espinho me furou e logo pude ver uma gota de sangue em meu dedo.

—Porque você é humana.

Fechei os olhos por um breve instante, o suficiente para ordenar meus pensamentos.

—A traição nunca triunfa. Porque, se triunfasse, ninguém mais ousaria chamá-la de traição, Austin. -falei, levantando a cabeça pude encarar um céu livre de estrelas. Apenas nuvens negras e uma lua cheia me encaravam de volta.

Austin soltou uma respiração profunda ao meu lado e começou a brincar com as rosas ao nosso redor. Franzi a testa quando ele encontrou uma rosa negra ali. Elas eram raras, mas não falei uma única palavra quando ele a colocou atrás da minha orelha.

—Diga o que está preso em sua garganta desde o início da noite, boneca. -ele acariciou minha bochecha e sua pele quente fez todo o meu estremecer.

Aproximei meus lábios dos seus e o beijei intensamente. Eu não sabia o porque de ter feito aquilo, mas Austin não parecia nem um pouco irritado por isso.

Ele apenas continuou com sua mão em meu rosto e segurei seu braço como uma forma de tentar lembrar a mim mesma de que ele era real.

O beijo se prolongou por mais alguns minutos, mas em nenhum momento nenhum de nós fez qualquer indício de aprofundar o beijo por mais que ele não fosse nem um pouco inocente.

—Lembra que chegamos a conclusão de que depois do desfile iriamos decidir sobre o nosso futuro? Em relação a assumirmos oficialmente ou seguirmos cada um para o seu lado? -encostei nossas testas.

Ele apenas assentiu.

—Eu já me decidi. Eu sei o que eu quero. -encarei seus olhos, um brilho escuro pairava sobre eles.

—Diga. Eu irei compreender qualquer que for sua decisão. -seus lábios tocaram minha testa e dei um sorriso de orelha a orelha.

Afastei nossos rostos e voltei a encarar o céu acima de nós.

—Semana passada você me falou sobre Ally Dawson estar morta. -fechei os olhos para aproveitar melhor a brisa fria que passara por meu rosto. —E é verdade. Eu não sei se ela esta no céu ou no inferno. -dei um meio sorriso.

—Acho que a segunda opção é a mais provável, no entanto ainda assim ela te ama. -engoli em seco.

Austin se mexeu um pouco ao meu lado e pude ver seus olhos digitalizando cada detalhe do meu rosto.

—Se ela estivesse aqui provavelmente vocês dois neste exato momento estariam casados, bem sucedidos e ela talvez estivesse grávida do seu primeiro filho. -senti seus dedos se entrelaçarem aos meus, mas mantive meus olhos fixos na lua.

—Mas é como você disse, ela está morta e eu sou apenas uma falsificadora mentindo para as pessoas que estão mentindo para si mesmas.

—Continue. -sua voz baixa fez meu coração acelerar e precisei respirar fundo para não começar a chorar.

—Eu vou voltar para New York e assumir como uma CEO da Gucci, mas eu irei fazer isso sozinha. -minhas palavras não eram nada além de sussurros esquecidos pelo vento, mas eu sabia que ele tinha escutado cada uma das minhas palavras.

O silêncio que se formou era letal e agonizante. Nenhum de nós tinha o que dizer.

—Ainda é sobre Cassisy, não é? -Austin não parecia estar chateado, machucado ou irritado comigo. Na verdade sua voz era tão mansa que uma leve pontada de tensão atravessou o meu corpo.

—Eu disse que eu queria ser uma pessoa melhor e a partir do momento em que eu tenho um caso com o noivo da minha melhor amiga eu vou contra tudo o que eu prego.

—Eu e Cassidy não estamos...

—Eu e você trocamos olhares na festa do seu noivado, eu e você nos beijamos em Paris e eu concordei em ter um caso com você até que chegasse o dia do seu casamento. -outro espinho furou minha mão e eu apenas continuei segurando a rosa com ainda mais força. —Cassidy não é uma santa, mas eu sem sombra de dúvida não sou melhor que ela.

—Você não precisa suportar tudo isso sozinha, eu sou tão culpado quanto você. Eu vou assumir os riscos do que eu fiz. -ele se sentou e me encarou.

Eu não conseguia decifrar o que se passava diante de seus olhos.

—E você se sente bem com isso? Porque em nenhum momento eu vi você lamentar a ruina de seu casamento. -não consegui evitar o tom afiado em minha voz.

—Você traiu Cassidy e isso é apenas um passo para me trair. -pisquei tentando controlar as lágrimas que queimavam meus olhos.

Aquilo parecia como um tapa em sua cara, pois a expressão que ele fez não foi nem um pouco pacifica como a de minutos atrás.

—Você está certa. -ele deu de ombros. —Eu sou um filho da puta. -uma risada escapou de seus lábios.

—Esta tudo bem então. Você vai para New York e eu volto para Chicago. -ele disse mais para si mesma.

Austin estendeu a mão para me ajudar a levantar e depois de hesitar por longos segundos eu decidi aceitar.

Minha cabeça estava baixa enquanto eu tentava tirar folhas de meu vestido, mas senti a presença de Austin logo atrás de mim, no entanto eu não sabia como encarar seus olhos.

—Tem certeza de que você me contou tudo, Ally? -naquele momento tudo ao redor congelou e éramos apenas nós dois em um jardim de rosas abaixo de um céu negro e uma lua cheia.

—Sim. -falei ainda sem me virar para encará-lo.

—Então quando pretendia me contar que você me embebedou, fez eu acreditar que tínhamos feito sexo quando na verdade eu estava com outra mulher e uma câmera filmava tudo?

A respiração escapou de meus pulmões e uma forte dor de cabeça tomou conta de mim. Eu provavelmente estava prendendo a respiração a mais de um minuto.

—Como você soube? -foi tudo o que conseguiu sair dos meus lábios.

—Eu não estava bêbado.

Franzi a testa e virei para encará-lo de frente. Seus lábios estavam em uma linha fina e seus braços cruzados sob o peito.

—Como? Eu lembro que bebemos mais de 3 garrafas de vinho. -eu nem sei porque eu estava tentando prolongar o assunto, eu estava errada, muito errada ao final de tudo.

—Você bebeu mais de 3 garrafas de vinho, eu apenas tomei alguns goles. Eu não queria causar problemas na casa de Max duas horas depois de termos assinado um contrato. -ele disse aquilo como se fosse o óbvio.

—E mesmo assim você transou com ela e deixou que a câmera filmasse. -a cada minuto que se passava eu sentia ainda mais novo de mim mesma.

—Eu queria saber até onde Ally Dawson seria capaz de ir por vingança. -ele deu um passo a frente e estávamos a apenas poucos centímetros um do outro.

—E eu mandei o vídeo para Cassidy e acabei com o noivado de vocês. -revirei os olhos. —Mais alguma coisa para que eu possa me odiar ainda mais? -a ironia que eu não usava há mais de uma semana voltou a pairar em meus lábios.

—Apenas um aviso. De amigo para amigo. -ele se aproximou ainda mais e cerrei os punhos para tentar conter a raiva crescente.

—Guardar rancor é como beber veneno e esperar que outra pessoa morra. -a forma como ele disse aquilo foi a gota d’água.

Quem ele pensa que é? Austin era tão culpado quanto eu.

—Acha que pode me machucar com essas palavras? Eu sei que sou falsa, metida, fria, invejosa, gananciosa e toda aquela merda de 7 pecados capitais que você um dia me falou, mas você não pode me julgar por ao menos uma vez tentar fazer algo justo.

—Não estou tentando te machucar. Pra falar a verdade eu não ligo sobre o fato de você ter mostrado o vídeo a Cassidy, porém o que me preocupa é como você vai seguir de hoje em diante. -ele levantou a mão como se fosse acariciar meu braço, mas eu dei um passo atrás.

—Você acha que a Gucci é o suficiente? Que uma vida sozinha é o que você merece? Sem amigos ou nada do tipo para estar com você? Nós dois sabemos que foi exatamente isso o que aconteceu depois do acidente.

—Então tudo isso é porque você não aceita que eu terminei com você? Nem estávamos namorando. -eu ri sem humo. —Eu não sou capaz acordar todos os dias ao seu lado sabendo que uma garota que um dia eu chamei de irmã hoje está chorando e passando noites em claro por um erro que eu cometi.

—Acedite em mim quando eu digo que quem mais errou em toda essa história fui eu, Ally. -ele desviou os olhos dos meus e eu abracei a mim mesma. Algumas gotas de chuva caíram em minha pele, mas eu não recuei.

—Não. Da primeira vez que nos encontramos você errou, agora eu que errei, mas se dermos sorte talvez nos reencontremos em quatro anos. Só o destino pode saber quem será o próximo a errar. -eu sabia que minha maquiagem estava borrada, que meu cabelo estava uma bagunça e que eu estava sem salto, mas aquilo não parecia fazer muito diferença. Eu estava muito pior por dentro.

Revirei os olhos, dei de ombros e fiz menção de me virar quando suas palavras me quebraram por dentro.

—Quando nos reencontramos pela segunda vez não foi o destino, Ally, e é por isso que eu sou o vilão da história.

Fiz uma pausa brusca e o encarei de cima a baixo.

Passei longos segundos apenas sentindo a chuva ao nosso redor. Eu já não sentia o frio.

Balancei a cabeça e gargalhei alto. Tirei a rosa negra que ele tinha colocado em minha orelha e a segurei com força em minha mão, tanta força que sangue se acumulou por causa dos espinhos.

Cerrei os dentes e xinguei em meus pensamentos.

—Nunca foi um noivado de verdade, não é? -mas eu já sabia a resposta, a expressão em seu rosto foi o bastante.

—Me responde. -Bati em seu peito quando ele não disse nada e isso apenas fez com que eu me cortasse ainda mais com o espinho da rosa entre meus dedos.

—Eu comecei a namorar com Cassidy porque eu sabia que ela era sua amiga. Eu queria achar alguma forma de me reaproximar de você. Eu disse que passei anos te procurando. -e ali meu mundo inteiro desmoronou.

—Você a usou e você me usou. -sussurrei tentando manter a respiração estável.

Ele olhou no fundo dos meus olhos e eu vi que ele estava arrependido. Sua expressão quebrada apenas fez o ódio dentro de mim irradiar ainda mais.

—Você olho nos meus olhos e disse que a amava. -não hesitei por nenhum momento antes de acertar um tapa em seu rosto, mas a amargura dentro de mim me dizia que aquilo tinha queimado mais em meu rosto.

Eu não sei se era por minha raiva ou por causa dos espinhos da rosa em minha mão, no entanto a marca de uma mão sangrenta se tornou parte do rosto de Austin e meus olhos brilharam desfrutando daquela visão.

—Eu pensei que seu maior erro fosse tê-la traido comigo, mas agora percebo que você a traiu no momento em que se aproximou dela por puro interesse. -as palavras tinham um gosto amargo em minha boca.

—Eu não queria iludir Cassidy. Ela foi a única pessoa próxima a você que eu consegui encontrar e eu não sabia como reagir de maneira diferente. -ele limpou o sangue com a manga da sua camisa.

Ele estava falando sério?

—Poderia ter perguntado onde eu estava morando e ter me encontrado em New York, você não precisava ter feito eu trair a minha melhor amiga apenas porque você não conseguia se segurar em suas calças. -levantei a mão para lhe acertar outro tapa, mas ele agarrou meu pulso. Não forte o suficiente para me machucar, mas o necessário para manter minha mão longe de seu rosto.

—Eu não te obriguei a nada. Tudo o que você fez foi por pura e livre espontânea vontade. Eu não te forcei a ir para Miami, eu não te forcei a ser madrinha do meu casamento, eu não te forcei a viajar comigo a Paris e eu não te forcei a furar o olho da sua amiga. Se quiser culpar alguém então observe melhor os dois lados da moeda. -ele disse tão próximo do meu rosto que eu poderia tê-lo beijado ou cuspido em sua cara.

—Isso não muda o fato de que sua intenção desde o início era apenas se aproximar de mim. Você não se importou com o fato de que estava usando outra mulher a seu próprio favor. -encarei seus olhos novamente.

—Nunca esteve em meus planos magoar Cassidy. -sua voz se tornou um sobro frio e cortante.

Sua mão ainda estava em meu pulso, porém mesmo assim consegui fincar minhas unhas em seu braço. Eu sabia que sua pele estava prestes a sangrar, mas ele não deixou transpareceu nada que pudesse indicar que estava doendo.

—Então você fracassou. Nessa história tem mais pessoas magoadas do que você possa contar.

Com calma eu desenrosquei minha mão da sua.

—O que mais me surpreendeu foi o fato de que desde o início seu plano sempre foi ter um caso comigo. Você por nenhum momento pensou na possibilidade de que eu talvez te aceitasse da mesma forma se não estivesse noivo da minha melhor amiga.

As gotas de chuva se misturaram com as minhas lágrimas e uma rajada forte de vento passou entre nós dois, mas ninguém ousou recuar.

—Eu sinto muito. -ele disse exasperado.

—Eu também sinto muito por você. Eu sinto nojo, eu sinto pena. -falei mais alto do que eu pensei que seria capaz.

—O que mais você quer que eu faça? Cassidy pode até ser uma cobra como você mesma diz, mas ela foi doce comigo. Ela me amou e eu me sinto um idiota por ter feito o que fiz com ela, mas não posso voltar atrás.-eu podia ver que ele estava começando a se irritar e eu colocaria a minha mão no fogo para saber até onde ele iria.

Dei uma risada de escárnio e passei a mão por meus cabelos encharcados. Cassidy amaria ouvir aquilo, a doce Cassidy, não a mulher solitária e abatida que tentava esconder. E eu senti pena dela também.

—Diga isso para a mulher que passou meses sem fazer uma única refeição completa apenas porque queria caber na porra de um vestido de noiva.

Austin pela primeira vez em toda a noite parecia chocado demais para falar qualquer coisa. Ele pediu para eu analisar os dois lados da moeda, bem, é o que eu estou fazendo.

—Ela... -o interrompi.

—Tentava ser uma boneca perfeita aos seus olhos enquanto nós dois dividíamos a cama em Paris. -terminei por ele.

Ele contraiu o maxilar e eu sabia o que ele estava pensando naquele exato momento “Eu sou um monstro”. Algo dentro de mim respondeu: “Então somos dois”.

Olhei para minhas mãos e eu não sabia em que eu tinha começado a arrancar as pétalas da rosa negra.

—Eu tenho um último pedido. -pisquei para poder enxergar em meio as gotas d’água que já tinham tomado conta de todo o meu rosto.

Ele não respondeu, tudo o que fez foi colocar as mãos no bolso da calça. Um sinal que significava carta aberta para que eu continuasse.

—Case-se com Cassidy.

Minha voz estava longe de ser um sussurro, forte demais para significar um arquejo e fria o bastante para que ele não percebesse como aquilo me machucava.

Ele negou com a cabeça diversas vezes. Austin não queria aceitar minhas palavras

—Isso é loucura. Eu não posso fazer isso. Eu apenas iria magoar vocês duas ainda mais.

—Se você me amou o bastante para forçar o seu noivado, então você me ama o necessário para se tornar o marido da minha melhor amiga. -arranquei a última pétala e joguei o caule cheio de espinhos, na grama aos meus pés.

Minha mão estava encharcada de sangue, mas eu não sentia absolutamente nada.

Quando voltei a encará-lo, seus olhos estavam sombrios.

—Ally. -ele alternou seu olhar entre o meu e a minha mão ensanguentada.

Suas mãos vieram em direção a minha cintura e não o empurrei quando ele me envolveu em seus braços.

Encostei minha testa em seu ombro e senti lágrimas quentes se misturarem com gotas frias de chuva.

—Faça ela feliz, por favor. -O apertei ainda mais contra meu corpo. —Tente aquecer o coração dela como você aqueceu o meu.

—Eu irei. -mas suas palavras eram relutantes, ele não queria pronuncia-las.

Suas mãos faziam carícias em meus cabelos e aproveitei ao máximo daquilo. Seria a última vez.

—Se eu fosse capaz de amar, eu teria te amado. -sussurrei em seu ouvido.

Ele me apertou ainda mais contra si e eu não precisava encarar seus olhos para saber que ele tinha lágrimas ali.

Austin encostou seu queixo em minha cabeça e ficamos daquele jeito mais do que eu pude contar. A chuva só aumentava ainda mais a medida que nos aproximávamos, se é que isso era possível.

—Eu quero que você seja a madrinha do casamento, por Cassidy. -sua voz soou baixa, mas percebi uma nota embargada ao final da frase.

Assenti calmamente.

—Você acha que ela ainda vai me querer?

Me afastei um pouco dele e revirei os olhos antes de falar:

—Ela te ama. -dei um sorriso triste. —Confie em mim, eu sei o que estou fazendo.

Austin arqueou a sobrancelha como se para dizer que eu não sabia o que estava fazendo, mas mesmo assim ele concordou.
Seus lábios se aproximaram da minha testa onde ele depositou um beijo.

—Você vai voltar ao hotel? Preciso fazer minha mala. -funguei um pouco antes de eu me afastar dele.

—Não, mas se você quiser eu posso te acompanhar até lá. -seus polegares fizeram movimentos circulares em meus quadris.

—Não precisa. -me afastei dele completamente e só então percebi o quanto eu precisava do seu calor perto de mim.

Cruzei meus braços e lhe dei as costas para ir embora.

Caminhei alguns passos até que sua voz se tornou presente em meio a tempestade que nos banhava:

—Eu espero que você encontre alguém que seja digno de toda a bondade que habita seu coração. Você é muito mais do que apenas um caso proibido.

Engoli em seco e mordi o lábio para esconder um sorriso mesmo que ele não pudesse vê-lo.

—Te vejo na igreja. Quando o casamento acabar preciso passar algumas horas confessando meus pecados ao padre- falei com um ar irônico.

Ele gargalhou alto.

Voltei a caminhar e não olhei para trás até que virei a esquina e respirei fundo.

Quero inventar meu próprio pecado. Quero morrer do meu próprio veneno.


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Notas finais do capítulo

O capítulo do casamento está chegando e eu prometo que vcs irão amar. Comentem o que acharam e pfvr não me matem.



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