Go Home, Dominique escrita por Miss Jackson
— Dominique? Poderia responder, por favor?
Ah, não. Eu me desliguei de novo. Abro os olhos e encaro minha professora, senhorita Smith, que me encara com cara de deboche. Não gosto dela.
— Pode repetir a pergunta, por favor? — peço, nervosa.
— Acho que se a senhorita não tem a capacidade de responder minhas perguntas daí, venha aqui armar os últimos três cálculos.
Ouço risadinhas dos meus colegas e meu coração dispara. Sou horrível em matemática.
Ok, Dominique, você está destinada a se ferrar.
Enquanto me dirijo lentamente até o quadro, na frente de todos, minha irmã gêmea aparece para me infernizar. Tracey, como eu, tem os cabelos castanhos claro, olhos verdes, as sardas no rosto.
Mas tem um problema: Ela está morta. E o espírito dedica boa parte do seu tempo para atormentar a irmãzinha que sobreviveu ao nascer.
— Você deveria matar essa vaca — observa, sorrindo diabolicamente enquanto caminhamos sincronizadas.
— Cale a boca — murmuro. Pego o giz e começo a resolver os cálculos. Estou tremendo tanto que meus números ficam ridículos, e as risadinhas viram gargalhadas. Tracey continua ao meu lado, sussurrando coisas horríveis no meu ouvido. Meus colegas já estão gargalhando.
O giz cai. Sei que estou me desligando novamente.
— Ataque eles — sussurra Tracey. Aperto os olhos, implorando pra não cair justo ali.
Não agora, por favor. Não agora.
— Você não tem capacidade nem de segurar um giz, Dominique? — provoca minha professora.
— Mande essa vaca ficar quieta — Tracey continua me incomodando. Aos poucos, meu resto de sanidade se vai. Eu me viro para a senhorita Smith. É Tracey no controle agora.
— Sabe o que você deveria fazer? — pergunto. — ENFIAR ESSA MERDA DE GIZ NO SEU… — Não, Tracey… — Nariz.
As gargalhadas só aumentam. Estou furiosa, e Tracey volta a me controlar.
Me viro para meus colegas. Me aproximo do primeiro que aparece na minha frente e agarro seu caderno, jogando longe. Faço isso com outros. Rasgo cadernos, quebro lápis. Todo mundo está gritando, me chamando de louca, me xingando. Me jogo no chão, me debatendo e agarro meus cabelos.
— NÃO! – berro. — NÃO! EU NÃO QUERO! TRACEY!
Meu corpo todo amolece e eu bato a cabeça com tudo no chão. Antes de fechar os olhos vejo Tracey na minha frente, sorrindo pra mim.
. . .
A música alta no carro é a única coisa que eu ouço. Minha mãe não falou uma palavra desde que me buscou na escola, e estar acordada é aterrorizante.
— Mãe – chamo. Sem resposta. — Me… Desculpa. Não queria te tirar do trabalho outra vez.
— Foi Tracey? — A voz da minha mãe está rouca, e tão baixa que quase não ouço por conta do rádio.
— Foi — respondo. — Sempre é a Tracey, mãe.
Nós ficamos em silêncio. Estamos entrando na parte rural, onde eu moro, e o rádio perde o sinal. Desligo.
— Mentiras — Tracey está no banco de trás do carro. — Dominique, sua mentirosa. Não sou só eu que te atormento.
Fico quieta, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
— Você é louca, sabia disso? E muito frouxa. Deveria ter morrido no meu lugar, sua idiota. Por que não morreu? Vaca egoísta! — Ela cospe cada palavra, e é como se estivesse falando na minha cara. Como se estivesse me batendo. — Eu vou te atormentar pra sempre, Dominique. Até o dia em que você cortar certo seus malditos pulsos e morrer, ou se atirar de cima de um prédio. Idiota. Louca. Egoísta. Burra. Horrorosa.
— Para — imploro num sussurro, mas Tracey só aumenta o tom de voz até estar gritando. Me mantenho em silêncio, não quero assustar minha mãe e deixá-la pior. Meus problemas psicológicos tem piorado muito desde a morte do meu pai, há uns meses atrás, e minha mãe entrou em depressão. Somos só nós duas em casa, e cada qual é pior.
— Dominique — chama Tracey. Estou chorando baixinho, não quero ouvir. — Eu te quero morta.
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