Após fechar o porta-malas lotado, Ryan sentou-se no lugar de passageiro do carro de sua irmã. Passou a mão pela porta metálica recém tingida de violeta. Não pode evitar de revirar os olhos. Por que tudo de Raquelle tinha que ser roxo? (Não ligava para essas diferenças de violeta ou roxo, magenta ou rosa, renda ou pérola.) A ponto de ter que gastar dinheiro pintando o Audi RS5 Cabriolet dessa cor…? E pintura de carro não é barata, principalmente em Malibu.

Se bem que nada é barato em Malibu…

E por mais que o carro fosse bonito, não era lá espaçoso para toda a bagagem de sua irmã.

“Ahn… Raquelle? Não é você que sempre faz questão de dirigir esse besouro? Por que está demorando tanto?”

“NÃO CHAMA O JONNY DE BESOURO!” Sua voz aguda respondeu. Ela estava de pé, mexendo no celular. Jonny. Que nome estúpido para um carro. Se ao menos ela tivesse trago o capô… Não engoliriam poeira a viagem inteira. Principalmente porque iam para o Texas… “Só espere um minuto, e… AH! Olha ela ali!”

‘Ela…?’ Pensou Ryan, confuso. Quando viu a irmã correr aos pinotes para cumprimentar - aos abraços, o que é mais estranho - uma figura feminina que se aproximava do carro, teve que se virar e conferir o que estava acontecendo.

Era Midge. A amiga ruivinha da Barbie, de sardinhas e que tinha uma risada de porquinho. Quando Raquelle ria demais, acabava grunhindo também. Só que mais como um javali.

E ela estava com uma mala. E parecia ainda mais surpresa com o abraço do que Ryan.

‘Ela vai viajar com a gente…? Que ideia é essa…?’ Ryan tentava desvendar.

“Raquelle! Olá! Obrigada pelo convite, ainda que eu não o entenda muito bem até agora…”

A morena enfiou Midge no banco de trás com a mesma rapidez que jogou a mala da garota no colo de Ryan. No segundo seguinte, já estava dando partida no carro.

“Mas o quê…?!” O protesto de Ryan não foi ouvido, o motor do carro fora mais alto.

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Já estavam quase chegando na fazenda do avô, e Raquelle sentia o olhar furioso de seu irmão em sua direção. Podia ser tanto porquê ela não avisara que Midge ia junto, tanto porquê estavam todos imundos. Se fosse a velha Raquelle olhando para o próprio cabelo desajeitado, com a pele e roupa completamente cobertas por uma espessa camada de terra, começaria a dar chiliques.

Mas por algum motivo, estava se sentindo nostálgica por estar suja. “Você não se lembra, Ryan?”

Ele revirou os olhos. “Do quê? De como minério de ferro tem gosto bom?”

Midge soltou um risinho. “No Texas não tem minério de ferro, bobinho.”

Ryan até devolveria o sorriso se estivesse com um humor melhor. Raquelle também riu, continuando: “Quando éramos crianças, a gente ficava brincando na terra o dia inteiro no território da fazenda dos Jones.” Ela agravou a voz nas últimas palavras, imitando o tom no qual seu avô normalmente falaria. “A gente voltava pro casarão mais ou menos no estado que estamos agora, nos davam bronca e enfiavam a gente no chuveiro.”

O irmão deixou escapar uma risada. Raquelle se animou. “Olha só, ele sabe rir!”

E então se instaurou um silêncio agradável. Mas Raquelle continuava sentindo a dúvida de Ryan em sua direção. ‘Por que exatamente Midge está aqui?’

O motivo era óbvio. Para ela, pelo menos. De todas as amigas de Barbie, a única com a qual nunca teve intriga era a Midge. Queria tentar se aproximar das pessoas do seu ciclo de convivência; nunca o fizera antes por que as meninas eram amigas da Barbie - fazendo com que ela implicasse com elas automaticamente.

Mas Midge tinha uma personalidade mais calma. Achou que teria mais sorte em tentar ser sua amiga.

E óbvio, porque sabia que ela gostava do Ryan. E shippava os dois loucamente.

Lá no fundo, Ryan entendeu isso - e acabou redobrando seu olhar reprovador. Raquelle respondeu o olhar como se quisesse dizer: ‘Ora, não quer inspiração para escrever? Amor inspira mais do que tudo.’

“Sabe, Ryan, você pode escrever uma música sobre essas memórias. E chamá-la de Dirt.”

“Deixa que o meu trabalho eu faço, irmãzinha.”

Todos voltaram os olhos para a estrada, admirando a vista. O céu estava impecavelmente azul.

“Olá, Raquelle!”

A voz vinda do carro do lado foi tão inesperada que os três soltaram o mesmo berro agudo juntos - e a morena quase derrapou para fora da pista.

“Barbie?!” Os três devolveram, com o mesmo tom de surpresa. Barbie riu. Estava dirigindo seu trailer rosa, que parecia levar a Dream House dentro.

Ao lado de Barbie, viu Ken. Ele não sorriu, e Raquelle muito menos.

Chelsea esmagou seu rosto contra o vidro, dando suas saudações. Atrás dela podia ver Stacie - e Skipper não estava em lugar algum. Não parecia estar no ânimo de viajar, mesmo.

Mas no fundo do trailer, Raquelle conseguiu avistar pela janela - concentrado em seu livro enquanto ouvia música: Ben.

Quase derrapou para fora da pista de novo. ‘Mas o que ele está fazendo aqui?!’

“Raquelle, isso é mais uma coisa que você não me contou?” Ryan perguntou, não ousando tirar os olhos da Barbie. A morena sentiu seus ombros murcharem de desânimo, e os de Midge também. Com Barbie ali, Ryan não prestaria atenção em mais ninguém.

“Que incrível coincidência a gente ter resolvido viajar pro Texas, ao mesmo tempo!” Barbie parecia animada. “Estamos planejando acampar! Midge! Você também veio, que ótimo!”

Raquelle respirou fundo. Há alguns meses, ser simpática seria impensável. Gentil, menos ainda. Mas agora que sentira a vontade, não podia impedir. “Nós vamos ficar alguns dias na fazenda do meu avô. Vocês são super bem-vindos, já que vão ficar aqui também!”

‘Viu?’ Convenceu a si mesma. ‘Não foi tão difícil.’

O trailer ficou silencioso, surpreso com o convite. Barbie piscou algumas vezes. “Eu gosto da ideia!”

As irmãzinhas concordaram logo em seguida, já bolando mil planos. Ken permaneceu em silêncio, e Raquelle não teve coragem de conferir a expressão de Ben.