Carla tinha uma reunião com a patricinha, fiquei sozinha e eu queria ocupar amente, fui até a estufa. O professor estava perdido no meio das plantas, eu só o vi pelo topo da cabeça, fiquei esperando ele se levantar, quando o fez Neville se assustou em me ver ali.

— O que houve?

— A Diretora disse que você poderia precisar de ajuda.

— Ela estava certa - ele riu - Preciso agrupar essas plantas ali e aquelas ali e... Eu vou enlouquecer com tantas plantas.

— Não se preocupe.

Falei pegando um vaso e o levando para o canto indicado, Peru ficou em um galho de árvore não muito distante da estufa. Alguns besouros e outros insetos estavam voando por ali e ele estava aproveitando. Peguei outro vaso e quase não aguentei levantá-lo, Neville me ajudou, meus dedos contrairam com medo de ele me tocar, ele percebeu isso e pediu para eu largar o vaso, mas aquele claramente não dava para um pessoa só carregar. Voltei a pegar o vaso e tomei muito cuidado para não tocar o professor, soltamos o vaso no canto, ele me olhou e eu o olhei estavamos esgotados.

— Quer beber alguma coisa? Eu pago - ele falou tirando as  luvas das mãos.

— Eu aceito - falei.

Quando saímos da estufa Peru pousou em meu ombro, ele estava bem feliz por ter caçado insetos frescos. O professor comprou um suco para mim e outro para ele, ele se encostou num muro, eu me joguei ao chão, estava com calor, e aquele líquido gelado invadindo meu sistema digestivo era perfeito.

— Isso está ótimo - falei, ele riu e se jogou ao meu lado - Por ontem... Desculpa pela forma como saí da sala... Aquilo foi vergonhoso.

— Não se preocupe - ele sorriu - Deve ter sido difícil ouvir tudo o que ele falou.

— Você nem faz ideia - estiquei as pernas - Droga! - apertei a cabeça.

— Agnes... - ele ia se aproximar, se conteve, eu o olhei e tentei sorrir - O que está...

— Nyack! Peru, vá atrás dele.

O pássaro levantou voo, eu fiquei ali me encolhendo de dor e ouvindo as vozes invadirem minha mente novamente.

— Não vou te deixar aqui - ele me levantou no braço e eu não pude me conter comecei a me contorcer de dor, o toque dele me queimava.

Os alunos que passavam por ali começaram a nos observar, eu não queria ser vista naquele estado. Tudo doia, meus ossos iam virar pó se ele ficasse mais tempo me segurando. Peru surgiu voando e parecia desesperado. Olhei para ele, mas não conseguia falar. O professor abriu a sala de aula, me colocou em cima de algumas mesas, olhou o pássaro. E o seguiu, eu estava sentindo muita dor e aquilo ia me matar. 

Eu começava a relaxar quando uma nova onda de dor me atingiu, era forte, era mais forte do que qualquer uma anterior. A porta da sala abriu, Carla a segurava aberta, Nyack era carregado por Harry, quando ele entrou uma calor subiu pela minha garganta, Rony vinha logo atrás seguido por Hermione e Neville, Carla fechava a porta dando apenas tempo de Peru entrar voando, quando deitaram Nyack nas mesas e se afastaram eu senti um alivio, eu podia respirar com mais calma. Minha mancha azul pousou ao lado da minha cabeça, me estiquei para poder encostar nele.

— Eles vão ficar bem? - Carla perguntou preocupada.

— Você sabe que eu sempre fico bem - falei tentando me sentar - Como ele está?

— Depois da forma idiota com que ele te tratou você ainda quer saber dele? Você sempre me surpreende.

Hermione me ajudou a sentar, agradeci. Olhei aquelas pessoas a minha frente, nunca pensei que eu ficaria frente dos Grandes Três e ainda estar com aulas com o Neville Longbottom, minha pele ainda queimava, olhei para onde o professor tinha encostado estava marcado, Nyack também deveria estar.

— O que aconteceu com ele? - perguntei.

— Ele estava no chão quando o encontramos - Harry ajeitou os óculos, olhei Carla, ela mordeu o lábio, ela sabia o que tinha acontecido.

— Foi o Leo - ela se encolheu nos ombros - Ele... Ele provocou o Nyack, o xingou e tudo o mais e então... o tocou, eu estava com a patricinha, nós duas vimos tudo, ela até saiu correndo para falar com a Diretora.

— Leo? O nosso Leo? - ela confirmou - Eu vou acabar com aquele idiota! - eu ia descer, mas quase caí, Hermione me segurou.

— Acho melhor ficar aqui - ela falou calma - Você vai se matar antes de dar um soco nele. - eu ri com ela. Hermione olhou os amigos - Você falam com a diretora, eu cuido dos dois.

— Vou ficar com ela - Carla falou olhando os outros.

— Eu cuido delas - Neville falou.

— Acho que vai ser o contrário, sem ofensas Neville - Rony falou rindo e fazendo o amigo rir.

Os dois fecharam a porta com cuidado, eu olhava Nyack.

— Eu já o examinei, está tudo bem - Hermione falou.

— Obrigada - ela sorriu - Você tem ideia do que pode estar acontecendo?

— Nenhuma ideia e isso está me matando - Carla riu e ganhou os nossos olhares.

— Vocês duas são muito parecidas - nós duas nos olhamos, aquilo era como um elogio.

Ficamos conversando durante muito tempo, fechamos uma rodinha de conversa que muitas vezes parava ao ouvir os gemidos de Nyack. Ele demorou para acordar e quando finalmente conseguiu se sentar nos encarou, ele me observou, eu apenas o olhava não expressei nada.

— Seu bichinho me ajudou - ele falou apontando para minha cabeça, todos nós o olhamos - Leonardo o reconheceu - Peru se mexeu orgulhoso me fazendo rir.

— Ele é um pássaro bem inteligente para a espécie dele - Hermione falou sorrindo.

— Ele é o mais inteligente - falei fazendo carinho nele.

— O que realmente aconteceu? - Carla olhou o menino.

Ele também tinha marcas nos braços, ele observou que eu o encarava, mostrei minhas marcas.

— O que elas são? - ele perguntou.

— É o que acontece quando os puro-sangue nos tocam. - ele arqueou uma sobrancelha.

— Sabe - ele ignorou a pergunta de Carla - Na família da minha mãe eles costumam contar a história de seres que sugam as energias dos outros para poderem sobreviver, normalmente encantam seus alvos, os seduzem até que consigam transar e finalmente o alvo morre - ele deu de ombros - Eu imaginei que o que está acontecendo com a gente pudesse ser algo assim.

— Tipo vampiros de energia? - Carla perguntou, ele confirmou.

— Seria possível - Hermione pensou - Vou conversar com a Diretora, não levantamos essa hipótese. Mas por que só os puro-sangue?

— É o que eles falam - Nyack falou - Nós sangue-ruins manchamos o mundo da bruxaria, talvez a energia dos sangue-ruins não seja boa o suficiente para seja lá o que somos.

Ele me olhou, eu estava pensativa.

— Ele mexeu com você, não foi? - ele apertou as mãos.

— Não interessa o que ele fez.

— Claro que interessa - eu me levantei - Vou falar com ele.

— E fazer o quê? Comprar briga com um dos melhores? Não, Agnes, não vou deixar que você faça isso.

— E por que não? - ele segurou meu braço com força, ele me fuzilava, mas não me respondia - Por que não? - repeti.

— Porque me importo com você! - ele falou e relaxou n apegada, ele olhou os outros e fitou o professor - Eu me importo com você, Agnes.

Me soltei dele que gritou algo, apenas ouvi Carla.

— Você tentou apagar o fogo com gasolina.

Eu andei pelos corredores até encontrar Leonardo, ele estava no campo de Quadribol, treinava sozinho no gol. Peguei uma vassoura qualquer que achei jogada, não teria tempo de pegar a minha. Levantei voo, ele me olhou surpreso.

— Como se sente? - ele perguntou sorrindo, eu sorri de volta, peguei a goles e lancei com toda a minha força, ele pegou a bola e me encarou - O que é isso?

— Você é um idiota mesmo, não é? - ele não entendia - Eu falei que não podia nos tocar, falei para ficar longe do Nyack e de mim e você não entendeu, não é? - os olhos dele ficaram arregalados. 

— Ag...

— Você é um bosta, Leo e eu sequer posso te dar um belo soco para demonstrar isso.

Peru voava ao meu lado, peguei uma pedra e taquei no menino. Leonardo estava confuso.

— Por que você se importa tanto com ele? - perguntou descendo para a grama.

— Porque eu sou como ele - ele não entendeu - Eu sou filha de pai trouxa, Leonardo!

— Não é verdade.

— É sim, pode perguntar pra Carla, para a Diretora, para o professor Neville. 

— Não... Não... Eu estava apaixonado por uma sangue-ruim? - eu parei de falar e o encarei, ele o quê?

— Você o quê?

— Ah, cara, que droga! - ele jogou a vassoura no chão - Que nojo!

— Você o quê? - ele me olhou.

— Sua nojentinha, eu não acredito que caí nas suas garras - ele estava bravo, eu deveria estar brava, mas ele era quem estava.  - Eu vou acabar com você, Agnes.

— Do que você está falando? - eu agora estava assustada.

— Ta, chega! - olhamos para quem falou, Hermione entrou no campo - Você volta para o treino de goleiro e você vem comigo mocinha.

— Não escuto uma sangue-ruim - ele falou.

— Uma pena, porque ela é minha melhor amiga - Gina surgiu sei lá de onde, todos a olhamos - Agora volte para lá, e não espere que eu pegue leve com você.

Ela estava brava, Hermione agradeceu a amiga que apenas acenou com a cabeça e levantou voo reiniciando o treino do menino. Hermione me tirou do campo, de fora ela me avaliou e riu da minha cara.

— Isso tudo só porque ele se declarou? - ela perguntou.

— Sim, quero dizer, quem sou eu perto dele?

— De acordo com o Neville a melhor aluna de Herbologia que existe.

— Ele falou de mim? - eu sorri sem percebe ro que a fez rir.

— Falou. -ela me abraçou e me guiou de volta a sala - E te elogiou bastante, falando o quão boa era para sua idade, ele até te comparou a mim - eu a olhei, ela sorriu - Fico feliz de saber que existem outras nerds como eu.

Na sala Nyack estava deitado, Carla conversava com Rony e Harry com Neville, a patricinha estava em uma cadeira desacordada.

— Obra minha-  Nyack falou - Ela não calava  a boca. 

— Como foi? - Carla perguntou.

Contei para eles o que os fez rir.

— Duas declarações em um mesmo dia, isso é ótimo - Carla falou rindo - Agora qual deles você vai escolher?

— Aposto no Nyack - Harry falou, eu o encarei.

Nyack os encarava sem acreditar. Continuaram com as apostas, eu deixei quieto, saí da sala e fui para o quarto, eu precisava descansar.