Ela acordou somente quando o calor do ambiente estava grande o suficiente para derreter qualquer coisa. Estava suando muito. Olhou para os lados e não conseguiu ver muita coisa. Só percebeu que tudo parecia estar em chamas. O que estava fazendo ali? Levantou-se e esfregou os olhos. Conseguiu ver mais claramente o que se escondia atrás das chamas. Parecia ser uma porta. O ambiente ao seu redor lembrava muito um quarto. Não havia nenhuma cama, nem nada. Só um colchão e um guarda-roupa.

Se não saísse dali imediatamente, em breve não teria mais ar pra respirar. As chamas a separavam da porta. Teria que sair dali de outra forma. Olhou para trás e viu uma janela. Estava há menos de um metro de distância. Ficou de pé e olhou para fora. Não havia ninguém na rua e parecia ser tarde da noite. Percebeu que a janela ficava há alguns metros de distância do chão. Talvez segundo ou terceiro andar. Não pensou duas vezes. Pulou para fora.

A garota caiu na calçada. Olhou para seu corpo e percebeu que estava nua e cheia de arranhões. Só nesse momento se deu conta de que não sabia onde estava e nem quem era. Aquilo era angustiante. Não fazia a mínima idéia de como havia ido parar naquele quarto em chamas. Só sabia que não podia continuar deitada nua na calçada. Colocou sua franja atrás da orelha e percebeu algo em sua nuca. Parecia ser um vergão ou coisa parecida. Nem deu muita importância para isso. Naquele momento um arranhãozinho era o de menos.

Levantou-se e sentiu frio. Não era para menos. Viu que a porta da recepção do prédio de onde ela havia pulado estava aberta. Entrou. Não havia ninguém na recepção. Olhou para os lados e percebeu que tudo ali parecia muito velho. Como se nunca tivesse ocorrido uma reforma. Era literalmente um prédio em ruínas. Em uma das paredes encontrou um armário de madeira. Tinha várias gavetas, todas trancadas. Não sabia direito o que estava procurando, mas começou a vasculhar o local. Até que encontrou o que precisava: um grampo de cabelo. Pegou-o e como num passe de mágica conseguiu abrir uma das gavetas. Como havia feito aquilo? Não sabia. Olhou dentro desta e encontrou o que mais precisava neste momento: uma jaqueta de couro, uma camiseta e uma calça jeans. Provavelmente eram de algum morador do prédio. Mas, naquele momento, ela precisava mais que qualquer pessoa. Vestiu-se com a roupa e saiu pela porta.

A garota sentiu algo pesado em um dos bolsos da jaqueta. Muito pesado. Colocou a mão e tirou de dentro uma arma. Não sabia direito o que fazer com aquilo, mas guardou onde havia encontrado. Pelo clima estranho em que estava tudo, poderia precisar. No bolso da jaqueta, na parte de fora, havia a inscrição: D. Não sabia o que significava, mas de agora em diante era assim que se chamaria. Pelo menos até descobrir qual seu verdadeiro nome.