Quarta-feira quatro vezes escrita por Carcata


Capítulo 4
Let's do the time warp again


Notas iniciais do capítulo

Confesso q ainda ñ terminei o último capítulo pq ñ quero q essa fic acabe :( é tão bom escrever esses dois adoráveis abacates~ o bromance deles é tão forte que me comoveu de um jeito inimaginável ;-;



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 Andando pelas ruas de Hell’s Kitchen em direção à sua firma, Nelson tentou tirar — sem sucesso — o rosto sem vida de Matt da sua mente. A sensação de abraçar o seu corpo pesado e frio causava calafrios em todo o seu corpo. E Deus, o sangue. Por todo o lado, o sangue—

 — Foggy! — Karen exclamou ao vê-lo chegar. — Ah, a placa chegou hoje, como você disse!

 Foggy abriu o sorriso mais falso que já fez em sua vida.

 Karen sorriu de volta.

 — Que ótimo! Mal posso esperar para mostrar para o Matt — Ele adentrou a sua sala e colocou sua mochila em cima da mesa, exatamente como fez da última vez.

 É, mas não vou deixá-lo morrer como na última vez.

 — Pois é, quero muito ver a reação dele — Karen concordou.

 — Também quero ver.

 Mesmo depois de ter visto quatro vezes, a expressão de Matt ao sentir as letras da placa era sempre a melhor parte daquele pesadelo.

 — Ver o quê?

 Matt apareceu na sala, fechando a porta cuidadosamente como o bom e delicado vigilante mascarado e falso cego que ele era.

 Foggy percebeu que ficou encarando tempo de mais quando Murdock levantou as sobrancelhas, perplexo, e em seguida Karen engasgou. Matt largou sua bengala e correu na direção de Foggy em questão de milissegundos.

 — Foggy! Foggy, Fog, você tá bem? — Ele perguntou com uma cara preocupada. Nelson ficou confuso, por quê ele ficaria preocupado com—

 — Foggy! — exclamou Karen com uma mão na boca, expressando choque, e foi aí que ele se tocou.

 Foggy estava chorando.

 Oh. Oh.

 Ele esfregou os olhos para secar as lágrimas, todavia mais saíram, e logo depois Foggy estava se despedaçando em uma sinfonia cheia de soluços quebrados. Matt, sem saber direito o que fazer, o envolveu em seus braços.

 Foggy segurou o paletó de Murdock como se sua vida dependesse disso.

 — Foggy, o que aconteceu? — Karen perguntou em um sussurro.

 Nelson só segurou Matt mais forte e soluçou com mais frequência.

 — Shhh, Foggy, respire — Matt ordenou, e depois acariciou suas costas como uma forma de conforto. — Pode chorar, Fog, mas pelo menos respire.

 Foi difícil, mas Foggy conseguiu acalmar sua respiração. Ele se perguntava se Matt era capaz de ouvir o quão quebrado seu coração estava naquele momento.

 — Karen, pode nos dar um minuto, por favor? — Murdock virou sua cabeça para a secretária, que só lançou um olhar preocupado para Foggy e se retirou. — Foggy, como você está se sentindo?

 A voz baixa e reconfortante de Matt o fez quebrar o abraço. Matt não perguntou se estava tudo bem, e sim como ele estava se sentindo.

 — Péssimo. — respondeu honestamente, já que Matt sabia quando ele não estava falando a verdade. Batimentos cardíacos, beleza, Foggy estava começando a se acostumar.

 — Okay — Matt assentiu. — Ficaria um pouco preocupado se você respondesse que estava tudo bem.

 Foggy riu.

 — Você saberia se eu estivesse mentindo, de qualquer jeito.

 Murdock pigarreou, claramente nervoso.

 — Enfim, o que aconteceu, Fog?

 Nelson desviou o olhar. Certo. Agora ele teria que explicar, mas será que ele deveria falar a verdade dessa vez?

 Foda-se, se impediria Matt de morrer hoje à noite, valia a pena.

 — Se eu contar, não vai acreditar.

 — Tente. — Matt cruzou os braços, seu rosto sério. Foggy suspirou.

 — Okay, tudo começou com Bon Jovi.

 Murdock arqueou uma sobrancelha, entretanto não falou nada. Foggy inspirou para falar mais quando o telefone tocou.

 — Ah — Ele ficou melancólico. — Tinha me esquecido dessa parte.

 — Foggy? — Matt começou, todavia parou quando o telefone tocou mais uma vez. Sem Karen por perto, ele atendeu.

 Foggy até se ofereceria para atender, já que estava mais perto do telefone, mas não teve a coragem.

 Senhora Cardenas, mais uma vez. Aquele pesadelo não tinha fim. Nelson não sabia mais quantos retrocessos ele podia aguentar antes de perder sua sanidade.

 Matt rangeu os dentes e apertou sua bengala mais fortemente. Ele tinha aquela expressão de “estou irritado” e “vou fazer algo estúpido”, igual às outras vezes. Não tinha mudado nada. Aquela realidade não mudaria nunca, não se Foggy não fizesse algo a respeito.

 Foggy então decidiu fazer algo a respeito.

 Mas antes, precisava de vodca. Vodca fazia tudo ficar mais fácil.

 Okay, no momento, eles estavam no bar da Josie. Nada diferente até agora. Copo de vodca na mão, Foggy bebeu o líquido, mas tentou não exagerar. Matt morreu da última vez que isso tinha acontecido.

 Matt, como sempre, não bebeu nada. E pior: ficou com uma cara fechada o dia inteiro. Foggy se recusou a confessar o que tinha causado a choradeira no escritório, e provavelmente era esse o motivo de Murdock estar emburrado.

 Agora Matt sabia como é ter um amigo que decide não contar seus segredos.

 Foggy tirou o pensamento da cabeça. Não, não iria guardar mais rancores. Já tinha passado dessa fase.

 Karen tinha ido ao banheiro (que nem das últimas vezes, Foggy já tinha decorado todos os acontecimentos daquela quarta-feira) e Nelson pegou essa chance para ter uma conversa com Matt. Aparentemente, este estava pensando a mesma coisa, e ambos falaram juntos:

 — Matt.

 — Foggy.

 Uma pausa.

 — Você primeiro. — disse Matt, sempre o cavalheiro.

 — Eu sei o que está pensando, Matt — Foggy começou, ansioso. Falar sobre aquele assunto nunca era fácil. — Você só tá esperando uma oportunidade para sair daqui, botar o seu pijama preto e sair pelas ruas batendo na cara de bandidos.

 Matthew ficou tenso, e Foggy rolou os olhos. Aquilo já estava ficando repetitivo demais.

 — Sim, Matt, eu sei. Sei que você... Você é o mascarado. Mas isso não é o que importa agora — Foggy deu uma pausa para beber mais um copo de vodca. Precisava da coragem. — Quer saber porquê eu estava chorando hoje de manhã?

 Foggy nunca tinha visto seu amigo com uma cara tão determinada. Matt assentiu freneticamente, como se estivesse desesperado pela resposta.

 — Porque... Porque... — Deus, como descrever todos aqueles sentimentos através de simples palavras? — Porque você sai por aí todas as noites arriscando a sua vida, não se importando com a gente, como nós nos sentimos. Estou preocupado, Matt, e acho que não sei quantas vezes eu vou conseguir aguentar tudo isso antes de surtar de uma vez por todas.

 Matt hesitou, e quando Foggy foi beber mais um copo, ele segurou sua mão, impedindo que Foggy pegasse a bebida. Nelson tentou não pensar no quão estranho aquela situação tinha ficado em questão de segundos.

 — Foggy, as pessoas-- — Matt mordeu o lábio. — Essa cidade precisa de mim naquela máscara. Desculpe se eu te faço preocupar, mas eu tenho que fazer isso.

 — Não, não tem... — Nelson murmurou tristemente, sentindo-se mais inseguro do que nunca. — Não hoje... Não hoje à noite...

 Os lábios de Matt franziram em uma linha reta, claramente infeliz com aquela resposta. Murdock apertou levemente a mão de Foggy e depois a largou.

 Karen voltou e viu Foggy sozinho olhando melancolicamente para a cadeira vazia onde Matt estava sentado.

 Momentos depois, Nelson se levantou, pediu desculpas a Karen e saiu do bar. Foi em direção ao apartamento de Matt.

 Pois bem, se ele não era capaz de impedi-lo de levar uma surra, Foggy estaria lá para fazer os curativos.

 Deixar Murdock morrer não era uma opção.

 — Hospital, não — O idiota insistiu quando voltou todo estourado, sangrando no chão da cozinha, e notou a presença de Foggy. — C-Claire. Claire.

 Nelson pegou o celular do bolso de Matt bem antes deste terminar a frase.

 — Você me deve tantos donuts quando isso acabar, Murdock... — Ele murmurava emburrado enquanto ligava para a enfermeira. Matthew só gemeu em resposta.

 Claire veio o mais rápido que pôde e encontrou os dois idiotas.

 — Então, você é o Foggy. — Ela anunciou ao terminar de limpar a ferida.

 Foggy passou a agulha para ela.

 — Sim, e infelizmente também sou o melhor amigo desse idiota. — Ele suspirou com ternura em sua voz.

 Claire sorriu. Deus, ela ficava ainda mais bonita quando sorria.

 — Bom, ele vai viver — Ela tirou o suor da testa com a palma da mão. — Mas tenho que ir andando, meu turno no hospital já vai começar.

 — Eu fico com ele.

 Ela colocou sua mão no ombro dele. Foggy não se afastou, e dessa vez ficou grato pelo gesto de simpatia.

 — Dê um tempo a ele, tenho certeza que Matt vai explicar tudo depois. Enquanto isso, vê se coloca um pouco de senso na cabeça dele.

 — Vou tentar, mas sem promessas.

 Claire sorriu outra vez e saiu. Foggy olhou para a geladeira de relance, mas resistiu à tentação de pegar uma cerveja. Tinha que encarar aquela situação o mais sóbrio possível.

 Ele sentou-se na poltrona ao lado de Matt e, sem saber o que fazer, o esperou acordar. Foggy imaginou se aquele lapso do tempo que estava acontecendo com ele se repetiria para sempre. Se for o caso, é óbvio que Foggy ficaria louco em não muito tempo (talvez no 7° ou 8° replay). Contudo, por enquanto, estava satisfeito em só observar a subida e descida do peito de Matt enquanto este respirava e dormia profundamente.

 Vivo. Era assim que aquele idiota teria que ficar a partir de agora.

 — Oh, Deus... — Matt gemeu quando a dor tomou conta de seu corpo, fazendo-o acordar.

 — Hey, Matty. — Nelson estava do seu lado num instante, sua voz baixa o suficiente para não atiçar os sentidos sensíveis do amigo.

 — Foggy?

 — Sim, Matt, sou eu. Claire fez seus curativos, você levou uma surra hoje à noite.

 Matt gemeu em resposta.

 — Posso te ajudar em alguma coisa? Um copo d’água? — Ele assentiu lentamente. Okay, então. — Só pra constar, não precisa entrar em detalhes, já sei de tudo.

 Foggy foi à cozinha (Chão da cozinha, ugh.) pegou um copo e o encheu com água.

 — E você não está... Chateado? — Matt o olhou desconfiado (Como ele fazia aquilo? Ele era cego.)

 — Ah. Eu tive três dias inteirinhos para ficar de cara emburrada com você, acredite — Agora não era a hora para confessar tudo, Nelson, mas tente não mentir. Murdock cerrou as sobrancelhas.

 — Você descobriu três dias atrás? E todo esse tempo eu nem percebi? — Matt soou genuinamente ofendido consigo mesmo por não ter notado antes. Só esse imbecil seria capaz de ficar emburrado com ele mesmo.

 — Não exatamente, é uma longa história, explico depois — Murdock pareceu satisfeito com a resposta e pegou o copo d’ água que o outro ofereceu. — Mas ainda estou um pouco irritado por você ter saído por aí e ter levado uma surra mesmo depois de eu ter feito aquele lindo discurso no bar.

 Matt parou por um momento, pensativo e agora com uma cara depressiva.

 — Foggy...

 O tom lamentável do amigo fez a raiva de Foggy aumentar.

 — Eu sei, Matt, já entendi. Não posso fazer você escolher entre mim e o Diabo de Hell’s Kitchen — Mesmo quando o Diabo era muito mais importante para Matt. — Eu entendi isso agora. Não concordo, mas entendo.

 Silêncio. Foggy tentou quebrar a tensão.

 — Bem, pelo menos a firma vai continuar, não precisa se preocupar. E agora nós temos até aquela placa fantástica para provar.

 Matt ficou com uma expressão confusa.

 — Placa?

 — É, Matt! A que eu te mostr—

 Oh.

 Matt não sabia da placa ainda. Foggy tinha começado a choradeira no escritório antes dele ter uma chance de vê-la (hah, “vê-la”).

 Certo.

 — Ah, esqueci — Foggy passou a mão na nuca, constrangido. — Era para ser uma surpresa, mas acho que já estraguei.

 — Foggy, do quê você está falando?

 Uma ideia veio à sua mente.

 — Matt, se eu te deixar deitado aqui por, uh, 10 minutos, pode me garantir que quando eu chegar você ainda vai estar deitado aqui?

 Matt assentiu, perplexo. Foggy pegou seu casaco e saiu em direção ao escritório. Chegando lá, pegou a placa ainda embrulhada e entrou no apartamento de Matt o mais rápido que pôde.

 Murdock estava inquieto, mexendo nos fios soltos do seu cobertor com uma cara ansiosa. O copo d’água agora estava vazio e posto cuidadosamente no chão.

 Foggy sorriu e entregou a placa para Matt, que desembrulhou o papel com hesitação.

 — Passe os seus dedos nessa belezura. — Nelson exclamou alegremente, e ele mal tinha começado a frase quando Murdock começou a sentir as letras.

 Alguns segundos se passaram, e depois minutos. Foggy observou o outro lendo a frase de novo e de novo. Matt abriu um sorriso cheio de felicidade, e passou os dedos com a mão esquerda quando sua outra mão tinha ficado cansada.

 Foggy esperou sem pressa Matt ter o seu momento com a placa, porém depois de longos minutos ele pigarreou para chamar sua atenção.

 Matt levantou a cabeça na sua direção, como se só agora notasse a presença de Foggy.

 — Então, você gostou?

 — Adorei — Murdock fez uma cara de puro contentamento, e ele estava tão relaxado que Nelson sentiu vontade de abraçá-lo. — Nelson e Murdock, Abacates da lei.

 As gargalhadas de ambos ecoaram pela sala.

 Foi quando Foggy deixou escapar um bocejo que Matt insistiu que ele fosse para sua casa.

 — De jeito nenhum, cara. Não vou te deixar aqui.

 Não dessa vez.

 Depois de uma discussão de meia hora sobre quem dormiria na cama, Matt cedeu e foi para seu quarto, enquanto Foggy ficou com o sofá. Murdock insistiu em colocar um alarme para Foggy caso ele decidisse ir trabalhar amanhã (Foggy fez de tudo para conter seus risos).

 — Fog? — Matt chamou uma última vez antes de ir para a cama. — Eu só queria saber se... Mesmo com tudo isso acontecendo, nós ainda vamos continuar sendo amigos?

 A tamanha insegurança carregada na voz triste de Matt fez seu coração bater mais rápido.

 — Claro, Matt — Foggy nem conseguia acreditar que Matt ainda tinha dúvidas quanto a isso. — Sempre. Vai ter que me aguentar por muito tempo ainda, Murdock.

 Matt sorriu.

 — Que bom.

 E com isso Foggy preparou-se para dormir, esperando Bon Jovi acordá-lo no dia seguinte.

 — Let’s do the time warp again!

 Foggy gemeu, esfregando os olhos.

 — With a bit of a mind flip, you’re into the time slip.

 Ele cerrou as sobrancelhas, se perguntando de onde vinha a música.

 — And nothing could ever be the same!

 Abriu os olhos e a claridade o cegou por um momento. Com uma terrível dor nas costas, decidiu levantar. Jesus, desde quando sua cama era tão desconfortável?

 — Let’s do the time warp again!

 Irritado, procurou um botão para desligar a maldita canção (era de um alarme, não era?). Encontrando o que procurava, Foggy apertou e depois ouviu um clique, seguido com a voz de uma mulher anunciando:

  “Sete da manhã, quinta-feira


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Notas finais do capítulo

O próximo cap é o último o/ vou postar provavelmente numa quarta, obviamente para honrar o título da fic hehe
Comentários significam o mundo pra mim, e (se eu receber algum) prometo responder o mais rápido possível ;u;
(se alguém já conhecia e entendeu o pq deu colocar a musica "timewarp" bate aqui *high five*)