"O que você acha deste?" Meiling perguntou segurando um vestido amarelo na frente do corpo. A garota de tranças tinha se desenvolvido bastante, possuía um corpo invejável. Com curvas um tanto discretas, mas perfeitas para o seu tipo. Ela era alta, seios médios, cintura fina e quadris não tão largos.

Tomoyo sacudiu a cabeça. "Essa cor realmente não combinou com você. Será que eles têm em azul?"

Meiling devolveu o vestido para a prateleira e continuou procurando por outro, empurrando as peças indesejáveis para o lado com uma mão enquanto examinava os preços com a outra. Ninguém poderia comprar como Meiling. "Aqui está um azul, mas não é o meu tamanho. Que tal esse? Ela apontou para um vestido rosa.

"Você sabe, Meiling-chan, eu ficaria feliz em fazer um vestido para você.” Talvez um pouco de trabalho manual fosse só o que ela precisasse para “tampar” a falta que Sakura lhe fazia. Ela ainda tinha muitos esboços de vestidos, mas nunca chegou a realmente criar a metade. Já que não tinha mais a quem vestir.

Meiling olhou o preço de um vestido vermelho e fez uma careta. "Eu não poderia pedir-lhe para fazer isso. Além disso, você deve fazer um para si mesma."

"Mas não sou eu quem está indo para uma boate.”

Meiling parou de olhar para as roupas e se virou para a amiga. "Você deveria. Você tem estado tão abatida. Você poderia se divertir um pouco".

Sim, eu estou abatida. Eu nem mesmo sei por quê. Mas a última coisa que quero fazer é me divertir. "Eu não achei que você fosse", disse Tomoyo, obviamente, mudando de assunto. "Você rejeitou todos os garotos que te convidaram."

Meiling deu aquele sorriso dissimulado. "Eu estive esperando por Tanaka-kun, eu queria que ele me convidasse. Nós finalmente vamos sair então eu pegá-lo de jeito."

Pobre rapaz. Tomoyo quase sentiu pena da recente paixão de Meiling. Ele não teria chances quando ela o atacasse. Ela era realmente grudenta com os namorados. E segunda a mesma, bastante foguenta.

"Na verdade", continuou Meiling, verificando o relógio, "Eu preciso chegar em casa e começar a me arrumar. Ele me pegará às sete horas. Nós estamos indo ver esse filme novo. Você sabe, aquele com um cara que faz uma coisa depois algumas outras coisas acontecem. E só depois nós vamos para uma boate. "

"Você não tem idéia de que filme vocês vão ver, não é?" Tomoyo riu.

"Não, mas quem se importa? Você já viu Tanaka-kun?" Meiling sorriu, satisfeita por ver que Tomoyo tinha se animado.

"Você quer minha ajuda? Eu poderia fazer seu cabelo."

"Na verdade..." Meiling parecia um pouco desconfortável. "Combinamos um encontro duplo... com Syaoran e Sakura-chan, por isso ela está vindo mais cedo..." As palavras dela iam sumindo conforme o sorriso de Tomoyo diminuia. "Sinto muito, Tomoyo-chan", disse ela baixinho.

Tomoyo colou um sorriso brilhante no rosto. "Não se preocupe comigo. Eu ainda tenho de fazer lição de casa, de qualquer maneira. É melhor você ir. Você vai querer estar absolutamente deslumbrante para Tanaka-kun."

Meiling colocou as mãos nos quadris e amuou. "Você quer dizer que eu já não sou linda?" Tomoyo sorria genuinamente. Meiling pegou sua mão e lhe deu um aperto amigável. "Eu ligo para você, ok?"

Tomoyo concordou. "Se divirta." Ela disse enquanto se despedia da outra garota. “Vá logo, não vai querer se atrasar...”

Tomoyo suspirou. Vendo a amiga ir embora.Sozinha novamente, ela saiu da loja e desceu a rua, parando ocasionalmente para olhar as exposições das vitrines. Todos nós costumávamos ser tão próximo, nós quatro. Sempre saíamos juntos. Então, no ano passado, Sakura e Syaoran começaram a namorar sério, e as coisas nunca mais foram as mesmas depois disso.

Foi assim que Tomoyo e Meiling acabaram ficando mais próximas. Quando Sakura e Syaoran começaram a namorar. Foi como se tivéssemos perdido nossos melhores amigos. Pelo menos ela mora com Li-kun, por isso ela ainda o vê. Eu nunca mais vi Sakura-chan, pelo menos não do mesmo jeito. E agora eles vão para um encontro duplo, o que certamente não pode me incluir.

Ela realmente sentia falta de ir para a casa de Sakura depois da escola. Era um lugar tão quente, feliz, tão diferente da sua casa, grande e vazia. O pai de Sakura sempre foi muito gentil e acolhedor, fato que amenizava a dor de eu  não saber nada sobre o meu pai. E o que falar da maneira "provocativa" que  Sakura e Touya sempre se tratavam, sempre parecendo que iam lutar um com o outro. Tanta coisa mudou. Ele não mora mais lá. Por que as coisas têm que mudar?

Ela pensou que todas suas lágrimas já tinham secado. Mas se enganou, e de repente se viu impossibilitada de detê-las. Eu estou muito emotiva hoje. Acho que sei o que isso significa. Talvez eu deva ir para casa e me enroscar nos lençóis da minha cama por algum tempo. Talvez se eu dissesse que fiquei doente, até pudesse faltar aula.

Seria uma boa desculpa. Sua mãe acreditaria, tendo em vista que a Tomoyo “certinha” nunca mentia. Ela manteve a cabeça baixa, tentando não chorar, e nem percebeu quando saiu do meio-fio.

"Cuidado!"

Os segundos seguintes foram um borrão. Tomoyo sentiu um par de braços fortes envolverem sua cintura e arrancá-la para fora da rua, assim como escutou um carro buzinar e frear bruscamente. Ela caiu para trás e pousou em algo duro.

O vento estava acelerado, e ela tentou recuperar o fôlego, colocando as mãos sobre o coração que batia forte. Até que conseguiu voltar a respirar um pouco mais tranqüilamente.

 “Você está bem?"

Foi então que ela percebeu que estava sentado em cima de seu salvador. Ela virou a cabeça e viu-se olhando para os olhos escuros de Touya Kinomoto. "Tou-Sensei", ela respirava.

 “Você está bem?" Touya perguntou novamente.

Ela assentiu. Ele tem os olhos mais bonitos que eu já vi, pensou ela, era uma mistura de cores, um café com manchas de ouro. Ela olhou para ele, perguntando-se o porquê de ela nunca tê-lo notado antes, e se perguntando por que ela estava percebendo agora.

"Isso é bom." Ele se inclinou um pouco e esfregou a parte de trás da cabeça. "Acha que já você pode levantar?"

Porque você ainda está sentado sobre ele. Estúpida, estúpida, estúpida, ela repreendeu a si mesma. Estava trêmula. Mas ela não tinha certeza se era por causa da queda ou por algum outro motivo (n/a: eu desconfio de que motivo seja esse e vocês?). Ela alisou a saia com as palmas das mãos suadas. "Eu sinto muito." Ela notou que ele fez uma careta quando ela se levantou. "E você? Você está machucado?"

"Eu não creio. Além disso, não é todo dia que eu salvo a vida de uma menina bonita." Seus olhos se arregalaram com suas próprias palavras. Agora, o que me fez dizer isso? Ele tentou dar-lhe um sorriso tranqüilizador, mas do jeito que ela estava olhando para ele, parecia uma missão bem complicada. Talvez ela esteja apenas em choque com o que aconteceu. "Olhe para você. Você está tremendo." Ele fechou a mão em torno de seu braço e levou-a a um banco. "Sente-se aqui. Eu vou pegar  um pouco de água."

Ele logo voltou com duas garrafas e entregou-lhe uma e em seguida se sentou no banco ao lado dela. "Obrigado, sensei", Tomoyo disse educadamente. Ela sentiu-se enrubescer. Ele está sendo gentil comigo por causa do acidente, ela disse a si mesma. Isso não significa nada.

"De nada, Daidouji", Touya respondeu, erguendo a garrafa em um brinde. "Por que tão formal? Somos velhos amigos, né?" Bem, não realmente, ele pensou.

"Claro, eu acho." Não é verdade.

Ela ainda parecia abalada. Talvez se eu me sentasse com ela por um minuto, ela relaxasse. "Então, velha amiga", disse ele, brincando, tentando fazê-la se sentir melhor, "se eu te perguntar uma coisa, você poderia me dar uma resposta honesta?"

"Claro."

Por isso mesmo que você é um gênio, Touya. Agora você tem que falar alguma coisa que a descontraia. "O que você acha da minha aula?”

Ela não estava esperando isso. "Você realmente não quer saber, não é?" ela perguntou, sorrindo um pouco.

Ele riu, e o som fazia sentir-se aquecido. "É tão ruim, hein? Sakura diz que eu sou muito duro, mas ela está apenas chateada porque eu não vou ajudá-la."

"Ao ajudá-la, você quer dizer dar-lhe as respostas?"

"Exatamente. Então, o que você acha? É muito difícil? Por alguma razão, ele realmente queria saber o que ela pensava.

" Bem", Tomoyo começou,” é suposto ser difícil, não é?"

Ele apontou o dedo para ela. "Você disse que iria responder honestamente. Pare de fugir à pergunta," ele brincou.

Ela esperava não demonstrar demais seus sentimentos. Seria muito constrangedor. "É difícil, mas interessante. Eu acho que você está indo muito bem." Ele vai saber, pensou. Ele perguntou a única pessoa que não era imparcial

"Serio?" Ele pareceu aliviado. "É difícil dizer, você sabe? Especialmente quando tudo o que ouço são reclamações de Sakura e daquele mole... -” Ele mordeu a língua. "-Li. Ow".

Que coisa estranha a fazer. Mas a expressão em seu rosto era muito engraçada. Ela não podia evitar, começou a rir um pouco, "O que foi isso?"

Touya revirou os olhos. "Eu não posso mais chamá-lo assim, mas eu ainda vacilo algumas vezes. O que é realmente irritante é que ele é um garoto inteligente, por isso não posso dizer nada de ruim sobre seu trabalho. Eu acho que ele só faz isso para se exibir.”

"Vocês nunca vão se dar bem, né?"

"Não, mas tudo bem.Você não gosta dele, tampouco."

Tomoyo ficou surpresa pela maneira como esta afirmação parecia fazer um clique  dentro dela, como a peça que faltava do quebra-cabeça para que ela se entendesse "É claro que eu gosto dele", disse lentamente. "Li-kun é uma boa pessoa, e ele faz Sakura-chan feliz ". Era tudo verdade, mas as palavras soavam ocas, até mesmo para seus próprios ouvidos.

"Talvez sim, mas você ainda não gosta dele. Posso dizer. Você gosta de mim. Ele vai levá-la para longe de nós." Ele conversava com ela, mas parecia perdido em seus próprios pensamentos. Ele olhava para um ponto fixo, distante de Tomoyo.

Ela pensou sobre isso, e ela percebeu que ele estava certo. Não importa o quanto ela gostava de Syaoran, ela sempre ia se ressentir com ele pelo fato de ele ficar entre ela e Sakura. Não era culpa dele, mas isso não alterou a maneira como se sentia. E no fundo, ela sabia que eles se preocupavam com ela e não tinham a intenção de magoá-la. Isso é exatamente o que acontece quando duas pessoas se apaixonam. Sua vida torna-se a do outro, e todos os demais são deixados de fora.

Touya bebeu o resto da água e jogou a garrafa vazia em uma lixeira. Ele não tinha a intenção de tornar a conversa melancólica. Ele estava tentando fazê-la se sentir melhor. Mas então, eu sempre fui péssimo em fazer as pessoas se sentirem melhor. "De qualquer forma, chega de falar sobre isso. Como você se sente?" perguntou ele, puxando-a para fora de seus pensamentos.

Ela olhou para ele sem expressão. "Sentir" O que ele quer dizer com isso?

"Você se sente melhor?"

Ele quer saber se pode ir embora. "Um pouco", ela disse fracamente. Mentirosa. Você está perfeitamente bem. Ela tinha vergonha do seu comportamento. O que estou fazendo? Por que, após todos estes anos, tenho desenvolvido justamente agora uma paixão boba por ele? E eu já não deveria ter superado, assim como Meiling? Ela tomou outro gole de sua água e olhou para seus pés enquanto balançava as pernas.

Quando ela sorriu anteriormente, ela se parecia com a menina feliz que ele conhecia. Embora não tivesse notado antes o quão belo era o sorriso dela. Mas agora, ela parecia tão triste e perdida. Seu coração disparou por pensar assim. "Você sabe", começou ele, sentindo uma necessidade de confortá-la, "se você precisa de alguém para conversar, você pode sempre vir a mim. Eu sei que sou apenas um “pouco” mais velho que Sakura-chan, mas, se você quiser, eu serei como um irmão pra você.

 Talvez esse fosse o melhor, ela pensou, porque ele nunca vai me ver como algo mais do que isso. Seus olhos encontraram-se,o que foi um grande erro. Ela sentia que seu coração vibrava novamente descompassado. Não, ela decidiu. Eu não quero que ele seja meu onii-chan ( irmão)-. Mas o que eu quero dele?

Ele teria dado todo o dinheiro no bolso para saber o que ela estava pensando. Ela não tinha respondido a sua oferta, e sua expressão não podia ser descrita no momento. Ele podia ver que havia um mundo inteiro passando por trás de seus olhos violeta, mas ela não estava disposta a confiar nele. Bem, o que posso esperar? Éramos praticamente desconhecidos. Mas isso não muda o fato de que algo nele estava atraído por ela. Era quase como se quisesse protegê-la de tudo o que a atormentava.

Touya sacudiu a cabeça. O que diabos eu estou fazendo? Eu não preciso de mais drama na minha vida. O silêncio estava começando a incomodar.

Quanto mais tempo se mantivesse quieto, mais esses pensamentos sobre Tomoyo continuariam a pipocar e confundi-lo. Diga algo, qualquer coisa. Escola. “A Noite dos Pais está chegando...", disse ele de maneira incongruente, a sua voz rompendo o silêncio como um martelo que arrebenta o vidro. "Será que sua mãe virá? Eu não a vejo faz tempo"

"Okaa-sama!" Tomoyo retomou a realidade imediatamente imaginando Sonomi enviando todos os guarda-costas da família para procurar o corpo sem vida de sua filha. Ela levantou-se rapidamente. "Eu tenho que ir. Obrigado" por me salvar? Sentar-se comigo? Falar para mim? " Por Tudo". Ela curvou-se educadamente antes de correr, deixando-o ali sentado, olhando para ela, e ainda olhando para o local que ela esteve sentada.

"Uma garota estranha", disse para si mesmo. "Mas então, ela sempre foi um pouco estranha." Ele deu um suspiro e um riso escapou quando ele percebeu o que estava fazendo. "E eu estou sentado aqui falando sozinho. Então, quem é a estranha mesmo?"