Carpe Diem escrita por Maga Clari


Capítulo 4
Aqui o meu número


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Capítulo pequeno, eu sei. Mas é que eu dividi os capítulos em três dessa etapa, pra não deixar a leitura cansativa.
A música de hoje é: Call me maybe - Carly Rae Jepsen!
Beijocas



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Caminhei até um canto escondido da loja, onde Scorpius segurava um cabide, atrás de si. Ele sorriu ante a todo esse suspense, transbordando uma alegria quase palpável.

Naquele momento, eu não havia percebido o quanto aquilo era importante para ele.

Não ainda.

— O que você tem aí? — questionei, com um pequeno sorriso entre os lábios.

— Na verdade, mudei de ideia — respondeu, finalmente, quando estávamos a centímetros um do outro — Vá ao provador e se troque.

— Scorpius!

— Apenas, vá.

Olhei para ele, realmente desconfiada. Que diabos ele estaria planejando?

Sua expressão era dura e firme, como costumava ser durante as aulas, quando debatia com os professores.

Senti os olhos de Scorpius me filmarem a cada passo dado em direção ao provador. E embora fosse desconfortável, não pude negar a mim mesma o inegável: eu estava me divertindo.

Dei uma última olhada antes de fechar a cortina.

— Anda logo, cabelo-de-fogo.

E embora eu estivesse fingindo estar esperando pacientemente por ele, dei um aceno com a varinha e deixei uma superfície transparente o suficiente para ver e não ser vista.

Apressei-me em tirar as vestes pesadas de inverno, permanecendo apenas com a roupa íntima.  Observei Scorpius bancar o costureiro, ora usando a varinha, ora usando alicates, dentre outras ferramentas de seu chaveiro pessoal.

O que me surpreendera é justamente o fato de Scorpius ter um chaveiro.

Isso é perfeitamente normal, não é mesmo?

Para trouxas.

Em todo caso, lembro-me de sorrir ao notar como alguém consegue ser todas as coisas ao mesmo tempo.

Scorpius era firme, rude, inconsequente. E também doce, habilidoso, prestativo, inteligente.

Como algo assim seria possível?

De repente, peueio-me observando o meu reflexo no espelho do provador. Quando eu havia crescido tanto? E quanto ao meu quadril enorme?

Não tardei a encarar meu rosto: uma expressão madura e confiante. Eu sou assim desde que eu me lembro. Nunca havia levado desaforo para casa, e costumava ser ativista, em Hogwarts. Subia nas mesas, levantava bandeira, levava detenção e perdia pontos por mau comportamento.

Em casa, papai era obrigado a lavar minha boca milhares de vezes. Aparentemente, mamãe achava que ele não devia me apoiar. Principalmente quando eu desatava a usar palavrões para enfatizar minhas brigas.

Ela concordava comigo, sim. Mas o problema era o modo como eu fazia o que quer que fosse. Hermione é do tipo que prefere a diplomacia. De acordo com ela, perdemos a razão agindo com violência.

Papai, entretanto, adorava gritar junto comigo e correr pela rua, reclamando nossos direitos. Desde a falta da torta de abóbora na Dedos de Mel, até o problema de fazer magia fora da escola.

Lembro-me de já termos colocado um sonorus na boca e gritado a injustiça da falta dada ao artilheiro do Chudley Cannons.

Mamãe nos colocou de castigo durante dois dias.

Papai dormiu no quarto que divido com Hugo.

No chão.

É... Foi realmente engraçado. Mas divertido também.

Logo, meus pensamentos foram desviados, outra vez, para Scorpius Malfoy. E se ele estivesse querendo tirar proveito de mim? Eu estava nua, afinal.

Volto a olhá-lo pela superfície criada pela cortina, mas Scorpius já havia se levantado para me entregar sua obra-prima.

— Não se preocupe, Weasley, não estou olhando. Pode abrir. E tirar o feitiço inútil também.

Meus olhos se arregalaram.

Como ele podia saber de tudo?

Abri a cortina, realmente impressionada. Ele tinha os olhos fechados, e me estendia um vestido cor de abóbora com algumas listras roxas.

— Quando estiver pronta, me chame. Quero vê-la.

Enquanto Scorpius voltava sua atenção para o resto da loja, eu colocava o vestido, com uma estranha sensação. Apesar das listras, aquela roupa era muito familiar.

Em todo o caso, havia ficado bem em mim.

A barra descia até o meio das coxas com um caimento contínuo, como uma cascata.

Precisei pigarrear para fazer-me ouvida, e em poucos segundos já havia encontrado Scorpius me analisando, dentro da cabine.

Seu olhar era indecifrável. Apenas se concentrava em mim.

Só isso.

Mas então, ele sorriu. Um sorriso reconfortante e atraente.

— Você não se lembra, não é?

— Do quê? — perguntei, um pouco confusa.

— Você foi assim naquele baile de inverno. No ano que tivemos o Torneio Tribruxo.

— Eu estava sem par.

— Eu também.

Aqueles silêncios que sempre apareciam em nossas conversas já estavam me irritando.

Virei-me para ele, tirando alguns fios de cabelo do meu rosto. Dei um passo a frente, sem desviar o olhar.

— Por que está fazendo isso? Quero dizer... Acabamos de sair de um bar... Estamos roubando uma loja... Depois começamos com as conversas pessoais demais... O que está rolando, Malfoy?

Assisti-o esfregar as mãos no rosto e puxar-me para o chão, onde nos sentamos, mais uma vez em silêncio.

— Pensei que nunca mais fôssemos nos encontrar.

— Mas nós sempre estivemos em...

— Londres? Não — ele pigarreou, engrossando a voz — Eu não, pelo menos.

— Mas a Academia de...

— Romênia — diz, simplesmente.

— Oh...

— É a melhor que temos hoje.

Scorpius tirou um isqueiro do bolso e brincou com ele entre os dedos. Não demorou muito até ele pegar um cigarro para acendê-lo.

A luz do fogo tornava tudo bruxuleante.

Nossas sombras tremiam.

— Se eu tivesse um vira-tempo, acho que tentaria ser seu amigo, Rose.

Aquilo, por algum motivo, me fez sorrir.

— Como não tenho, por que não agora? Não foi por acaso que a encontrei naquele bar.

— Estava me caçando? — ergui a sobrancelha, sorrindo de canto.

— Não sou maníaco. Só para deixar claro.

— Só um pouco louco, nada demais.

Rimos, os dois, em meio ao breu do provador.

— Não estava procurando você, Rose. Estou em Londres há dois dias, apenas. Foi muita sorte.

— Iríamos nos ver uma hora ou outra — dei de ombros, absorta em meus pensamentos — Não fico muito tempo em casa, sabe como é.

— Sei exatamente como é.

Dessa vez, quem havia se irritado com o silêncio fora ele. Levantara-se, de súbito, e se dirigira à janela.

— Vamos embora?

De repente, percebi que não queria ir.

Não queria, não queria, não queria.

Meu coração pulsava muito fortemente, meu sorriso murchava.

Eu havia gostado de conversar com Scorpius Malfoy.  E aquela havia sido a segunda conversa interrompida.

Levantei-me, também, e segui-o até lá. Guardei minhas vestes antigas na bolsa de fundo infinito (mamãe me deu no meu último aniversário) e pulei para a rua, logo atrás dele.

O sol já dava seus primeiros sinais, e a manhã aparecia para nós como um aviso maravilhosamente belo. Mas eu não podia retardar o óbvio: era hora de ir-me embora. Para casa.

O engraçado é que nenhum de nós ousou sequer dar um passo a frente. Ficamos os dois ao lado do outro, contemplando o nascer do dia.

Em silêncio, claro.

Como poderia ser diferente?

— Dominique deve estar preocupada.

Não sabia quanto tempo havia se passado, mas resolvi me pronunciar.

— Aqui o meu número — continuei, tirando um papel de dentro da bolsa e anotando com a varinha — Para o caso de querer me ver outra vez.

Scorpius pegou o papel e ficou me observando. Ao vê-lo contrair os lábios, tive a impressão de que ele estava procurando as palavras certas.

— Não sei como usar linha telefônica, desculpe-me. Que tal seu endereço?

Senti um arrepio percorrer minha espinha só em pensar na possibilidade de Scorpius tocar a campainha lá de casa e o meu pai abrir a porta.

— Não irei arrombar o seu quarto, ou algo parecido — a expressão em seu rosto era divertida, seu sorriso pendia em sua boca — Só prefiro escrever para você ao invés de telefonar.

Demorei alguns dois minutos antes de virar o pedaço de papel e anotar o endereço da minha casa.

— Se aparecer sem avisar, lembre-se: moro numa casa de aurores.

— Sei muito bem me defender.

E foi tudo o que disse antes de aparatar para longe de mim.


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