Carpe Diem escrita por Maga Clari


Capítulo 3
Quem é mau?


Notas iniciais do capítulo

Graças as palavras de estímulo de minha amiga Bia, escrevi outro capítulo de ontem pra hoje. Se deixasse sairiam umas 3mil palavras, sério. Mas eu me interrompi no meu do raciocínio, porque sei que uma boa leitura é entre 1mil e 2mil palavras. Sei que mais do que isso é cansativo. Só extrapolo o limite quando é realmente necessário.
A música de hoje é Bad - Michael Jackson



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Aquele nome ecoou em meus ouvidos feito um disco arranhado.

Malfoy.

Scorpius Malfoy.

Como podia ser ele? Scorpius estava tão diferente!

— Agora me lembro de você — deixei a constatação escapar de meus lábios — Desculpa, acho que não o olhei tempo o suficiente.

Minha sinceridade extrema o fez rir. E talvez, se não estivesse alta por causa do álcool, eu ficasse envergonhada. Entretanto, tudo o que eu havia conseguido fazer foi imitá-lo.

— Anda, Weasley, junte-se a nós. Lembra-se do Finnigan, do Brown e da Johnson?

— Olá. Boa noite — acenei, discretamente — Scorpius, eu e Julie somos quase parentes. É claro que a conheço. Ela é prima da Roxanne.

— Na realidade — Simon Finnigan Jr me interrompeu, limpando a garganta —, todos nós somos quase parentes. Povoado pequeno, sabe como é.

— Claro...

Eu sabia bem como era. Simon também pertencia à Corvinal. Na mesa do café da manhã, todos nós éramos obrigados a ouvi-lo discursar suas teorias genéticas e o quão idiota fora a grande guerra travada por nossos pais, durante os tempos sombrios. E embora achasse o tema muito interessante, não estava com vontade de ouvir tudo de novo.

Simon era simplesmente insuportável.

Um irritante sabe-tudo.

Em todo o caso, volto a me concentrar em Scorpius, e em sua falta capilar. Pego-me recordando o quanto desejava secretamente alisar aqueles fios macios. Bem, pareciam macios para mim. Não que eu já os tivesse tocado alguma vez.

Não mesmo.

— Ei, Scorpius — chamei-o, de repente, quando ele havia pegado o cigarro de volta — O que houve com seu cabelo?

Scorpius apenas encarou meu rosto, muito profundamente. Inspirou toda a nicotina e soltou fumaça mais uma vez.

— Então você realmente se lembra de mim.

— Não tem como esquecer algo assim. Era sua marca registrada. O que houve com ele?

— Academia de Aurores.

— Oh...

— Pois é.

— Que pena.

— Não achei não. Eu até curti o visual novo. Acho que combina com meu novo “eu”. Não me sinto o mesmo de antes.

A música ficara alta o bastante para cortar nossa conversa de vez.

Scorpius e seus amigos dançavam em seus lugares, ignorando por completo a existência de uma conversa amistosa.

Até hoje não entendo exatamente o motivo, mas algo dentro de mim murchou. Eu havia adorado bater papo com Scorpius. E estava louca de vontade de amaldiçoar a banda que tocava freneticamente.

— Hã... Acho que vou embora...

— Não vá não.

Senti meu sangue bombear quando Scorpius segurou meu pulso. Ele olhava para mim demoradamente, e quase acreditei que meu antigo colega havia entrado em transe.

— Também vou tomar um ar lá fora.

Não sabia exatamente o que esperar.

Eu só estava agindo feito uma menina boboca porque esse era o efeito que aquela aberração fazia em mim desde os catorze anos.

É importante ressaltar que apesar de independente, eu já fui adolescente. E mais importante ainda: já fui capaz de ter “quedas” pelo garoto popular da minha escola.

A única e significativa diferença é que Scorpius nem sempre foi popular. A verdade verdadeira é que Scorpius é inconstante. Já se apresentou de diversas formas. E tenho a impressão de que nem mesmo ele já descobriu sua essência, se é que um dia ainda irá descobrir.

No começo, eu simpatizei pelo garoto quietinho, no fundo da sala, absorto em seu próprio mundo. Lembro-me vagamente de ter me aproximado dele, por algum motivo, e vê-lo correr para longe de mim, como se não fosse digno de minha companhia.

Na época, eu não entendia. Apenas ficava brava e ofendida. Depois, percebi que ele era tímido. Muito tímido. Ele passava as aulas concentrado e comia sozinho durante as refeições. Nunca o havia visto acompanhado. E eu estava zangada demais para dar o braço a torcer e tentar de novo.

Os anos foram passando, e a puberdade atingiu-o em cheio. Lentamente, Scorpius passou de nerd-esquisitão para um-bom-partido-gatão. Pelo menos era o que minhas amigas diziam nos corredores, secretamente.

A voz engrossou, os músculos apareceram.

Scorpius certamente notou os olhares furtivos de seu fã clube sempre que caminhava pelo castelo. E então, meio que de repente, sua postura mudou por completo. Estava mais seguro, mais confiante. Havia também recebido o título de monitor e monitor-chefe, no último ano.

Nunca fomos amigos, apenas nos dirigíamos a palavra durante as aulas, quando necessário. Um bom dia, quem sabe. Nada mais, além disso.

No ápice do sétimo ano, namorei um idiota da minha casa. Lysander Scamander. Depois disso, jurei nunca me envolver com caras mais novos. Enquanto isso, Scorpius colecionava encontros na Sala Precisa.

E eu não ligava mesmo.

É claro que aquilo era insignificante para mim.

Eu estava com raiva.

É sério.

Apesar disso, não pude deixar de lembrar o quanto a cabeleira que ia até a nuca de Scorpius mexia com meu emocional. Ou talvez seu perfume amadeirado. Ele ativava todos os meus sentidos, trazendo uma sensação de calma, embora eu lutasse para dizer o contrário.

E agora ele estava ali na minha frente. Por conta própria. Tomando um ar comigo. Cheirando a cigarro e bebida.

O Scorpius que eu via não era o mesmo da época da escola.

De jeito nenhum.

— E então, Rose — ele quebrara o silêncio entre nós quando nos recostamos no muro da rua — O que anda fazendo? Quero dizer... Está estudando? Trabalhando?

— Como posso começar... — respondi, escolhendo bem as palavras — No início, fiquei de bobeira em casa. Então fui pressionada a decidir o que fazer com minha vida. Estou temporariamente escrevendo para o Pasquim.

— Não creio!

Scorpius deu uma longa gargalhada.

Odiei-o por isso.

— Você escreve para o maluco do Lovegood? Você deve ser igualmente louca.

— E quem não é? Até você. Todos nós somos.

— Talvez.

Encolhi os ombros e guardei as mãos em meu casaco, momentaneamente muda.

— Amanhã é meu aniversário — forcei uma conversa, outra vez.

— É mesmo?

— Ou é hoje. Já passou da meia noite?

— São exatamente... — ele olhou em seu relógio de pulso — Duas da manhã. Então, sim, é seu aniversário hoje.

— Eba. Parabéns para mim.

Notei que Scorpius estava me olhando, de soslaio. Não sabia ao certo o que ele queria, ou pensava. Mas havia gostado da sensação.

— Feliz Aniversário, Rose — ele disse, finalmente.

E então, ficamos, os dois, olhando para o céu estrelado. O frio estava dilacerante, mas não era importante. Era meu aniversário, e eu estava com minha antiga paixão platônica ao meu lado.

O vento balançava nossas roupas, e alguns fios de cabelo estavam em meu rosto. Imaginei o quanto Scorpius devia estar adorando o novo visual, nesses momentos. E parando para analisar agora, depois de tudo, vejo que ele tinha razão. O novo corte militar em seu cabelo revelava mais do que aquele rosto mostrava para todos nós, em Hogwarts.

Não é como se Scorpius fosse bom ou mau. Ele, assim como eu, tinha ambas as personalidades.

Sabia ser bom quando queria (ou precisava).

Mas sabia ser mau também.

Tão mau quanto um auror poderia ser.

Eu não me refiro a atos de perversidade com inocentes. Mas no que diz respeito a suas atitudes firmes e por um bem maior, como o famoso Grindelwald costumava bradar, em seus livros.

Será que Scorpius andou lendo as escrituras de Grindelwald?

Não me lembro de tê-lo perguntado sobre isso...

— Engraçado... — Scorpius quebrara o silêncio novamente, tirando-me de meus devaneios — Sinto-me na obrigação de te dar algum presente, agora que sei que é seu aniversário. Você disse de propósito, não foi?

— Mas é claro que não!

Ele riu e balançou a cabeça.

— Mas é claro que acredito! Anda, vamos. Vou lhe arranjar um bom presente.

— Agora?!

— Sim. Por que não?

Senti seus olhos penetrarem minha alma. O cinza de sua íris brilhava como a tempestade, causando certo choque em minha mente alcoolizada. Pensei em Dominique, e no quão preocupada ela ficaria, caso eu sumisse e deixasse-a lá.

Mas quem liga para Nique?

Quem disse que ela manda em mim?

Sou independente.

Quantas vezes terei que repetir?

Apenas sorri, de modo travesso, e aceitei a proposta. Balancei a cabeça e segui os passos de Scorpius Malfoy.

Ainda havia um pouco de neve nas pedras do chão, e o som de nossas botas ecoou durante todo o percurso. Havia só nós naquelas ruas do Beco Diagonal. Era madrugada. Os bruxos e bruxas comerciantes só apareceriam ali perto das cinco horas, quando o sol estivesse prestes a surgir.

— Scorpius.

— Sim?

— Você sabe que está tudo fechado aqui, não sabe?

— E não é por isso que escolhi continuar por aqui?

Scorpius piscou para mim e segurou minha mão. Tive que me equilibrar para acompanhar seus passos rápidos. Estávamos quase correndo pelos becos desertos.

— Eu ainda não entendi... — insisti em questioná-lo.

— Logo você entenderá.

Então, vi enquanto ele largava minha mão e se esgueirava pelas portas, colocando o rosto próximo as janelas e pesquisando qualquer coisa dentro delas.

A compreensão não tardara a aparecer.

Iríamos roubar.

Era isso mesmo que ele havia sugerido? Roubar um presente para mim?

Lembro-me de que a família Malfoy costumava ser uma das mais ricas de nosso mundo. Completamente aristocrática.

Mas veja só onde eu estava naquele momento: ao lado de um Malfoy com vestes de couro preto, procurando um modo de arrombar lojas de pobres coitados que suavam para conseguir um pouco de comida em casa para seus filhos.

Faríamos mesmo isso?

— Barra limpa, Weasley. Siga-me.

Assisti-o a pegar a varinha e sussurrar:

— Alohomora.

Então, as dobradiças da janela dos fundos relaxaram, deixando-o livre para empurrar a superfície rugosa de carvalho.

— Ué, você não vem? O presente é seu, não se esqueça disso.

Observei-o me chamar lá de dentro, encostado no parapeito. A janela não era muito alta. Ou talvez nós dois não fôssemos baixos demais.

— Por que não simplesmente destrancou a porta?

— Você é burra, Weasley? Como foi parar na Corvinal?

Não quis dizer nada enquanto ele se deliciava com uma risadinha moderada:

— Tem uma superfície mágica de proteção lá na frente. Pensa que não verifiquei? Além disso... — suspirou, observando ao seu redor — Assim é mais divertido. Anda, vem logo!

Então, agarrei o parapeito da janela e me impulsionei para cima. Logo estávamos os dois dentro de uma pequena loja de roupas e souvenires.

— Escolha o que quiser — ele se apressou em dizer, acrescentando uma última frase com um tom quase galanteador — É tudo por minha conta, claro.

Scorpius piscou para mim e riu outra vez.

Enquanto experimentava os diversos itens da loja, voltei a me questionar o porquê de tudo aquilo. Por que ele estava comigo ali, afinal? Por que roubar, se ele era podre de rico? Por que não escolheu aparatar em Hogsmeade ou qualquer lugar aberto àquela hora?

Naquele momento, eu não sabia. Mas este seria o primeiro de muitos crimes entre mim e Scorpius.

E não estou falando apenas de roubo de lojas, de bens ou pessoas.

Mas é claro que não.

— Ei, Weasley, chega aqui. Acho que encontrei o presente perfeito!


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