Carpe Diem escrita por Maga Clari


Capítulo 18
O ressentimento foi longe demais


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi. Estou sonolenta demais pra falar algo legal nas notas
Não achei uma música boa o bastante, mas vai ser essa:
What jail is like - The Afghan Whigs
Beijos



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As algemas já estavam em minhas mãos quando me recuperei do que havia acabado de acontecer.

Eu simplesmente não parava de chorar e chorar e chorar.

Chorava feito um bebê.

O auror que me prendera tinha uma expressão estranha, como se não acreditasse que estava algemando a filha de um colega seu.

A improvável menina do Weasley.

Mas como dizem noutras línguas, c’est la vie, não é?

— Senhorita Weasley, você deve e tem o direito de permanecer calada sob quaisquer circunstâncias até chegarmos ao escritório do Ministro, fui claro?

Apenas balancei a cabeça fervorosamente, chorando horrores, quase um oceano inteiro.

Eu havia usado uma Maldição Imperdoável.

Imperdoável.

Isso significa tudo.

Mas não havia tempo para que eu pensasse sobre nada. Eu estava sendo levada numa chave de portal até o Ministério da Magia. E no meio de todas as cores e formas se desintegrando, pude ver o rosto desdenhoso de Nott, olhando-me como se fosse a grande vítima.

Ora, mas que covarde.

Algo dentro de mim havia surgido. Um monstro, talvez? Um bicho insano, sedento por justiça; por defender aquele me deu esperanças, que me deu um novo mundo.

Scorpius Malfoy.

Meu marido.

Fiquei um bom tempo pensando nisso enquanto esperava sentada o meu veredicto.

Kingsley Shacklebolt olhou demoradamente em meus olhos, soltando um longo suspiro.

— Filha de Ronald e Hermione Weasley, correto?

— Sim, senhor.

— Antes de tudo, devo lembrar-lhe de que suas memórias serão analisadas mais tarde, bem como a dos envolvidos, para verificarmos a veracidade da situação. A senhorita sabe que se mentir será pior, não sabe?

— Sim, senhor.

— Pois bem...

O Ministro inclinou-se para frente e entrelaçou as mãos.

— O incidente com o senhor Nott foi ataque ou defesa de sua parte?

— Defesa — apressei-me em dizer. Mas então, diante de sua sobrancelha erguida, corrigi-me: — Não! Quero dizer... Foi um ataque resultante de outro ataque dele horas antes.

— Mas a senhorita não corria mais riscos. Vingança?

— Talvez.

Eu estava começando a ficar nervosa. Meus joelhos balançavam de um lado para o outro, meus dedos suavam por dentro das algemas.

— O que o senhor Nott lhe fez para que fosse vítima de vingança?

Engoli em seco.

Eu poderia dizer? Scorpius ficaria puto comigo?

Ah, quem eu queria enganar? Não poderia esconder mais nada naquela situação. Quem esconderia?

— Philipe Nott conjurou a Marca Negra no meu casamento. A aparatação-guardeada de Astória Malfoy, além do susto, obviamente, foi suficiente para matá-la, senhor. Eu estava com raiva. O senhor deve saber quem ela é. A esposa de Draco Malfoy. Ela estava em fase terminal.

Shacklebolt balançou a cabeça para frente e para trás, em sinal de entendimento.

— Sei que não foi o correto, senhor, mas eu estava com muita, muita, raiva.

— Escute, senhorita Weasley. Irei interrogar o senhor Nott e chamarei o senhor Malfoy imediatamente. Enquanto não solucionamos este caso, teremos que detê-la ao menos. Eu sinto muito mesmo.

Meus olhos estavam baixos.

Eu não conseguia encará-lo de jeito nenhum.

Deixei que um de seus homens me levasse para uma espécie de custódia. Uma sala bem afastada, no último andar do Ministério.

Com grades enormes.

E pesadas.

Elas bateram com estrondo, fazendo-me piscar os olhos, de susto.

E as horas passaram. Mas não fui capaz de descobrir quantas delas já haviam me deixado. Eu só pensava em Scorpius. Onde estaria meu marido?

— Rose — escutei após uma eternidade. A voz era abafada e vinha do lado de fora — Rose, levante-se e venha falar comigo. Por favor.

Quando fiquei de pé e encontrei seus olhos cinzentos, uma atmosfera de alívio percorreu meu corpo.

— Onde estava com a cabeça, Rose? — ele me disse, por trás das grades. Seu rosto havia sido ocultado pelas sombras — Todos esses meses... Você não aprendeu nada comigo?

O tom de voz que Scorpius usava era de puro ressentimento. Pude notar um dos guardas um pouco distante, nos observando.

— Eu amo você, Rose. Mas não sei se consigo perdoá-la.

E então, ele se virou para ir embora. Chamei-o por berros:

— SCORPIUS! Scorpius, volte aqui!

Mas o guarda já o havia empurrado corredor afora, ignorando meus apelos chorosos.

A verdade verdadeira é que eu não estava entendendo nada. E aquela sala escura só me deixava enlouquecer sozinha com meus pensamentos e inseguranças.

E a explicação veio apenas na manhã seguinte, quando me levaram de volta à sala do Ministro Shacklebolt.

Ele veio até a mim, antes mesmo que eu descobrisse que meus pais me aguardavam do outro lado da sala.

Shacklebolt apressou-se em me falar:

— Analisamos muitas coisas, senhorita Weasley. Você não é a verdadeira culpada.

Soltei o ar em alívio.

— Mas ainda usou uma Maldição Imperdoável — acrescentou, com um olhar de reprovação — Não pense que isso passará despercebido por mim.

— De modo algum.

— Ótimo. Agora... — ele me chamou para segui-lo até sua mesa, onde havia quatro cadeiras. Duas ocupadas por meus pais — Estamos dispostos a fazer um acordo.

Eu ainda estava algemada.

Papai parecia ter vergonha de mim.

Mamãe era inteiramente decepção.

— Assistimos às memórias de todos — o Ministro tornou a falar, sentando-se em sua própria cadeira — Inclusive a sua que recolhemos ontem à noite, enquanto dormia. Sabemos o quanto o incidente mexeu com você. O envolvimento com Astória Malfoy. Eu compreendo. No entanto...

— Ainda o ataquei — interrompi-o, sem paciência alguma.

— Certamente. O que posso e decidi fazer foi julgá-la como um crime de ordem comum. Um ataque comum. Desse modo, evitaremos o tribunal desnecessário num momento como esses, e lhe daremos a pena agora mesmo, já que o juiz e eu decidimos em conjunto hoje cedo.

— E qual seria esta pena? — insisti, controlando minha vontade de quebrar tudo e gritar até enlouquecer — Diga logo de uma vez, Ministro.

— Você terá trezentos e sessenta e cinco dias de serviço comunitário aqui no Ministério, e durante este período, sua varinha ficará confiscada.

Papai soltou uma risada desdenhosa. O Ministro olhou para ele:

— Algum problema, Weasley?

— Na minha época, parecia tudo muito pior. Só isso.

— Você quer se livrar de nossa filha? — mamãe, que aparentemente estava segurando a mesma vontade que eu tinha de gritar, não aguentou mais — Aposto que Rose tem uma boa explicação para tudo que está havendo com ela. Não desconte seus problemas nos outros, Ronald! Pelas barbas de Merlin!

— Ei, ei, ei! — Kim Shacklebolt levantou a mão, e sua voz grave foi o bastante para todos se calarem — Ótimo. Vamos voltar à sentença de Rose Weasley, sim?

Papai emburrou a cara e cruzou os braços.

Mamãe respirou fundo e assentiu.

— Senhorita Weasley — o Ministro tornou a olhar para mim — Teremos de colocar um rastreador em você, para que tenhamos o controle durante o seu período de serviço. Para que não fuja ou deixe de cumprir os horários. Se você o fizer, nós saberemos.

— E quanto às algemas?

— Tiraremos quando concordar e assinar os termos com a pena de repetição rápida.

Kim Shacklebolt hesitou e sua voz pareceu mais leve:

— Rose. Estou livrando você de Askaban. Poderá ir para casa.

— Onde está Scorpius Malfoy? Nos casamos ontem. Estou morando com ele, Ministro.

Shacklebolt olhou para meus pais e então para mim novamente.

— Seu marido está sendo julgado lá embaixo neste exato momento. As acusações são de abuso de poder e potencial bruxo das trevas.

— Mas é o contrário! Scorpius é a vítima! Ministro!

Eu estava realmente assustada e abismada.

— Rose...

— Vocês estão todos loucos?!

— Por favor, filha... — mamãe colocou a mão em meus joelhos, hesitantemente — Assine o documento.

Olhei para todos com os lábios tremendo.

A raiva. Aquela mesma raiva se apossava de mim novamente.

Mas dessa vez, eu não faria nada a ninguém. Apenas me concentrei o suficiente para me lembrar de um feitiço aprendido no último ano de Hogwarts. Um feitiço não-verbal.

Em poucos segundos, as algemas trincaram e voaram para longe de minhas mãos.

E eu? Bem, eu simplesmente saí correndo da sala em direção ao nível dez, onde Scorpius estaria sendo sentenciado.

Minhas pernas pareciam feitas de aço, e meu coração de ferro.

Ainda ofegante, encontrei-o finalmente deixando o salão escoltado por quatro aurores com uma expressão de poucos amigos.

— Scorpius!

Mas ele ainda me ignorava.

Tentei segurar sua mão, mas ele largou.

Aquilo foi o suficiente para eu voltar a chorar. Mas não para que eu desistisse de segui-los.

O grupo saiu do Ministério e eu agarrei a camisa de Scorpius para aparatar junto com eles.

A costumeira sensação de repuxo revelou-me uma praia cinzenta e feia, onde havia uma série de celas de pedras. Scorpius foi conduzido a uma delas, olhando-me de esguelha, aborrecido.

Àquela altura, eu já o havia largado, e ninguém parecia realmente prestar atenção em mim. Fiquei para trás, observando seus passos solenes até a solidão enlouquecedora.

Não era justo.

Não mesmo.

Era para estarmos em lua de mel. Felizes. Sorrindo. Beijando um ao outro.

Não era para ser assim.

— Senhorita Weasley, a senhorita vem comigo.

Virei-me para ver uma mulher séria empurrar-me sem cerimônia para longe de Scorpius Malfoy.

Ela tinha piercings na orelha e na boca, e um cabelo púrpura.

Eu a conhecia de algum lugar.

— Veja só — ela me disse, em sussurros, levando-nos a um canto afastado — Ninguém precisa saber que fugiu. Eu que a trouxe para cá, okay?

Uma ruga surgiu em minha testa, sem entender de onde viera tanta gentileza.

— Talvez não se lembre de mim. Fui monitora-chefe da Grifinória há cinco anos. Mas o fato é que devo um favor a Scorpius. Somos amigos da Romênia.

Ah, agora tudo fazia sentido!

Esperava realmente que não houvessem sido namorados em algum momento.

— Estava lá como treinadora substituta e ele salvou minha vida. Agora, precisa confiar em mim, está bem?

Fiz que sim, louca para que ela dissesse tudo de uma vez.

— Limparei a sua barra para que durma uma última noite com seu marido aqui. Façam as pazes. Depois, assine os documentos. Uma hora Scorpius será liberado. Confie em mim.

— Ele está muito bravo.

— Scorpius é apaixonado por você. Não me pergunte como eu sei. Eu só sei.

E então, a auror sorriu docemente.

— Confie em mim, Rose. Anda, vou te levar à cela de Scorpius. Tudo bem?

Mas não estava nada bem.

De certo modo, eu fora o gatilho para colocá-lo em Askaban.

Eu, a cabelo-de-fogo. Eu havia incendiado o resto de nossos sonhos em conjunto.

É claro que Scorpius nunca mais me perdoaria.

Quando cheguei ao seu lado, depois da auror ter ido embora, eu apenas disse:

— Precisamos conversar.

Mas ele não olhava diretamente para mim.

Scorpius nem mesmo parecia notar minha presença.

Aquilo foi pior que dezenas de crucios.

E talvez eu merecesse.

É claro que sim.


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