Carpe Diem escrita por Maga Clari


Capítulo 17
Ela já foi


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo foi um parto.
Eu estou me sentindo mal em escrevê-lo e postá-lo, mas a história se escreveu sozinha, vocês sabem...
Música de hoje: Now she's gone - The Strypes por falta de outra melhor



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Quando Scorpius me falou sobre aproveitar o dia, acho que eu não havia entendido a profundidade de suas palavras.

Não seriam cigarros ou carros roubados que fariam de mim uma curtidora da vida.

Não... Longe disso.

A questão é que mesmo os bruxos estão sujeitos às lutas, desavenças, enfermidades e desapontamentos.

No dia que Scorpius e eu nos casamos, meu coração apertou quando Draco Malfoy pegou a esposa nos braços e aparatou com ela, lutando contra o sentimentalismo escondido por lágrimas teimosas.

— Você vem comigo — Scorpius falou de uma vez, apertando minha mão.

Mas antes que aparatássemos também, senti um peso nas costas. Alguém havia se pendurado em mim segundos antes de deixarmos a Mansão Malfoy.

Scorpius chutou-o na barriga, com impulso suficiente para fazê-lo cair na calçada da avenida principal de Westminster.

— Qual é o seu problema?! — meu marido gritou, transtornado.

O homem caído tinha uma expressão familiar, Hogwarts, quem sabe?

Scorpius tornou a falar:

— Você está fora de si, Nott?! No quê estava pensando?

E então, minha mente associou tudo: Phillipe Nott era da Sonserina, neto de um ex-Comensal da Morte.

Se não estivéssemos naquela situação, acharia que Phill não passava de um simples convidado da festa. Mas pela fúria de Scorpius, imagino que ele tenha sido o motivo de tanta confusão.

Na realidade, aconteceu tudo rápido demais para que meu cérebro compreendesse racionalmente.

Num minuto, estávamos nos beijando no altar. Segundos depois, um estopim. Grande estouro no céu, seguido por gritos e fugas.

Agora, Scorpius soltava faíscas nos olhos ao encarar Phillipe Nott caído no chão, aparentemente indefeso.

— Foi preciso — ele respondeu simplesmente.

— Não existe esse tipo de coisa. Não existe isso, Nott. Conjurar a Marca? Voldemort está morto. Esqueça isso de uma vez.

— Trabalho é trabalho.

— Trabalho é o que eu faço — Scorpius estava se controlando para não gritar — Achei foi ótimo te expulsarem da Academia da Romênia.

— Ora, vamos, Malfoy... — Phill deu uma risadinha, divertindo-se um pouco em deitar-se no chão — Um aborto? Isso sim deveria ser motivo para expulsão. Não se faça de santo. Sei que uma hora escolheria nosso lado. Por isso tive que facilitar as coisas.

— Facilitou porra nenhuma!

Scorpius pisou na barriga dele e inclinou-se para olhá-lo mais de perto. Sua varinha estava a centímetros da jugular de Phill.

Eu, por outro lado, assistia a tudo um pouco distante, esperando o que iria acontecer, onde eu entraria.

— Você tem muita sorte de somente eu saber quem você é realmente. Ninguém desconfiou de ninguém.

— Pois então, você escolhesse melhor os convidados, Malfoy.

— Eu não chamei-o! Está fumando drogas?!

Phill gargalhou.

— Chamou minha acompanhante — Phill esclareceu, deixando meu marido louco de raiva — Ah! A pobre e doce Julie Johnson, não é? Por sorte, ela escapou da família de coelhos. Imagina a decepção de um coelho aborto, não é? Seria no mínimo AAAH!

Não faço a mínima ideia do feitiço que Scorpius usou.

Só sei que parecia um choque elétrico.

Phill urrava de dor.

— Direi uma única vez, Nott. Não me meti com vocês por identificação. Foi trabalho. E não quero que interfira nunca mais na minha vida, ouviu bem?

Mas antes que Phill respondesse qualquer coisa, ouvi um som estranho vindo da direção deles. Scorpius tateou o bolso com a mão livre, e quando estava distraído o suficiente, Phill arrancou a varinha de Scorpius e inverteu o jogo.

Scorpius, entretanto, havia ficado vidrado no que quer que ele estivesse lendo no telefone-móvel. Pois é. Mais outra mentira. Scorpius não só sabia usar telefonia trouxa como também tinha seu próprio telefone-móvel.

Mas não tive tempo para me aborrecer com isso.

Meu marido precisava de mim.

Ele mal percebera quando Phill jogou-o para o meio da avenida com um feitiço estuporante.

Nessa hora, vi que já havia chegado o momento para que eu agisse também. Então, agarrei o telefone e guardei no bolso para tentar acordá-lo de seu próprio transe.

— Scorp. Scorpius, ei! — chamei-o, louca para sair daquele lugar.

— Olha só — a voz de Phill surgiu do outro lado, e havia desdém em sua língua — A coelhinha resolveu se meter onde não deve.

E foi o bastante para Scorpius voltar a si e olhá-lo com ódio.

— Chega! — ele gritou, para ninguém em especial — Pra mim chega!

Scorpius simplesmente desistiu do duelo, e até mesmo de recuperar a própria varinha.

Ele saiu andando, deixando-me sozinha com um moderno Comensal da Morte, como se realmente não desse a mínima.

Eu sabia que algo estava errado.

Era muito óbvio.

Scorpius estava me escondendo muitas coisas. Primeiro, esse aparente envolvimento com Arte das Trevas. Segundo, uma Academia de Aurores que treinou um Comensal da Morte.

Por fim, havia algo naquele telefone. Algo que fora o gatilho para Scorpius simplesmente desistir.

Apressei-me, então, em descobrir quem o havia enviado mensagem e o quê continha nela.

Mas não antes de correr atrás dele, torcendo para que Phill não nos seguisse, e de fato não o fizera.

— Ei, Scorpius. Scorpius, ei!

Eu chamei, e chamei, e chamei sem sucesso. Scorpius continuava andando a passos largos, como se não me ouvisse de jeito nenhum. Coloquei os olhos na tela do aparelho trouxa e vi a horrorosa mensagem:

*De: Mark

Corpi, venha ao St. Mungus agora. É a mamãe. O susto foi demais para ela. A aparatação também. Vem logo, okay? Não sei mais o que fazer *

Torcendo para minha intuição estar errada, descobri que Scorpius havia escolhido a direção da praia. Ele caminhou em evidente desespero para a marinha e sentou num rochedo.

Eu fui bem atrás.

— Scorpius — chamei-o pela centésima vez — Precisamos ir vê-la.

Mas ele não disse nada.

Tentei de novo.

— Talvez ainda haja chances, você sabe.

Mais nada.

— Depois pensamos no que fazer com o Nott. Vamos logo.

Scorpius continuou encarando o vazio através das nuvens.

— Por que não tenta um cigarro? Eu deixo. Só hoje...

— Rose Weasley, quer fazer o favor de calar a porcaria da sua boca?!

Ao ouvi-lo gritar, ou melhor, berrar, recuei alguns passos de tão assustada que havia ficado.

Scorpius tinha os olhos arregalados e havia raiva, muita raiva neles.

— Eu só estou tentando...

— Não há nada para tentar, Rose. Já foi. Agora, só me deixa em paz.

— Mas Mark disse que...

— Leia a mensagem seguinte.

Com os dedos trêmulos, apertei numa segunda mensagem:

*De: Mark

Tarde demais. Ela já foi*

Então, pela primeira vez desde que cresci, chorei em público pra valer.

Chorei não só por mim.

Mas por ele. Pelo meu marido.

Ao ouvir meus soluços, Scorpius arrancou o telefone de minhas mãos e jogou-o no mar, bem como um maço de cigarros que estava no bolso das vestes.

— Sabe de uma coisa? — disse de repente, sem me importar se ele daria atenção a mim ou não — Não sei o que houve entre você e Nott, mas quem vai resolver isso com ele sou eu.

— Ficou maluca?! Você não vai.

— Vou sim!

Scorpius lançou-me um olhar desafiador.

— Eu também cansei, Scorpius. Cansei de ficar esperando. Você ir embora, resolver suas coisas... E eu aqui, uma primeira-dama. Indefesa.

Meu coração estava pulsando mais sangue do que deveria.

— Sei que isso não a trará de volta, mas é tudo culpa dele. E fui uma ótima aluna de DCAT, sabia disso, Scorpius?

Scorpius continuou me olhando sem dizer nada por alguns longos segundos. Até que finalmente abriu a boca. Ao fazê-lo, sua voz saiu estranhamente calma.

— Ótimo. Vá, então. Eu não irei impedi-la.

E aí ele virou o corpo para o mar outra vez.

A raiva em mim era tão grande que deixei-o lá para tomar o caminho contrário. E apesar de achar a possibilidade quase impossível, surpreendi-me ao encontrar o Comensal sentado no mesmo lugar.

— Estava me esperando? — brinquei, jogando veneno.

— Oh, mas é claro — ele sorriu, cheio de sarcasmo — Na verdade, querida, esperava que Scorpius fosse voltar. Não que seja da sua conta.

— Se o conhecesse bem, saberia que ele nunca volta. Pelo menos, não no mesmo dia.

— Interessante.

— Mas não foi por isso que eu voltei sem ele.

— Claro que não.

Antes que ele falasse mais alguma coisa, no entanto, avancei-me contra ele, que quase tomou minha varinha. Mas eu fui mais rápida e encolhi-me perto do chão.

Apertei os olhos, concentrando-me num feitiço não-verbal. E depois de algumas tentativas, derrubei-o no chão. Mas Nott era bom com protego quando duelava de verdade.

Pelo visto, ele não estava querendo mesmo duelar com Scorpius.

Talvez quisesse apenas conversar.

Só talvez.

Mas voltando à história, depois de uma série de feitiços-escudos, consegui enganá-lo para gritar sem nem um pingo de dó:

— Crucio!

Phillipe Nott contorceu-se no chão abaixo de mim, e me envergonho em dizer que não senti um pingo de ressentimento.

Mas foi a verdade.

Mesmo sabendo que a doença que Astória Malfoy pegou foi acidente de trabalho, e que seu quadro já estava grave, eu precisava achar culpados.

Precisava encontrar uma espécie de saco de pancadas.

Um canal para descarregar a raiva.

Por má sorte de Nott, ele havia surgido no meu caminho.

E eu não sentia culpa alguma.

— Crucio, crucio, crucio — repeti seguidas vezes, até vê-lo pedir por misericórdia.

Mas eu não sentia nada.

Só dor.


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