Flor de Inverno escrita por AoNoUsagi


Capítulo 1
O dia que meu ônibus atrasou e tudo mudou


Notas iniciais do capítulo

Gente eu corrigi o erro e sinto-me envergonhada por não ter percebido.
Enfim eu espero que a leitura esteja mais fácil agora.



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O dia que meu ônibus atrasou e tudo mudou

A Hora da Estrela - Clarisse Lispctor

“Tudo no mundo começou com um sim.

Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida.

Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim.

Sempre houve.

Não sei o que, mas sei que o universo jamais começou.”

A manhã foi o fim de uma noite gostosa de chuva, o Sol tímido entre as nuvens clareava o dia e o cheiro gostoso de terra molhada tornava meu café com torradas mais delicioso. O calor do fogão de pedra os detalhes de madeira nas paredes e o bordado da mesa feito pelas mãos de minha mãe tornavam o lugar aconchegante para qualquer um, mas para mim já era rotina, cresci nessas paredes e bem ao canto da pra ver os riscos indicando meu tamanho e quando cresci. Já não marcava mais tenho já 17 anos e parei de crescer como dizia minha mãe “Você já é uma mulher”. É estranho não? Um número que condis se você é criança, idoso, ou mulher o mundo diz que sou uma moça/mulher, mas não instantaneamente me sinto uma, na verdade eu sinto que estou no meio de uma linha do que é real ou imaginário, parece coisa de louco eu sei, mas dizem que de louco somos um pouco em tudo e narrando isso sou uma louca feliz e sempre serei.

O bule assobiou me puxando para terra de novo e bem preguiçosa calcei meu coturno, pois como disse antes choveu e iria suja meus pés ao sair de casa. Moro em um rancho aliás; não aqueles luxosos americanos ranchos de filme de garotas “coutryn”, primeiro por sou brasileira e segundo minha mãe é uma tratadora e treinadora de cavalos, um haras é o melhor lugar para se morar quando o trabalho é esse. Enfim, peguei meu casaco preto de moletom e sai de casa, minha mãe ainda dormia quando sai, pus um pé na frente do outro e caminhei até o ponto de ônibus mais perto passei a mão para tirar a água acumulada no acento descoberto e sentei na espera do transporte.

… Bocejei… pisquei… respirei… e esperei… olhei meu celular… e esperei…

Já fazia 20 minutos e nada de nenhuma alma viva passar e então um carro passou, um bem moderno e luxuoso, ele parou em minha frente e o vidro escuro abaixou de lá saiu um rosto jovem e belo, portador de olhos verdes e cabelos loiros curtos, bochechas rosadas e sorriso inocente, era uma garota linda no qual me passou uma calma e simpatia antes mesmo de falar.

— Com licença eu me mudei recentemente para essa cidade, mas ainda não sei onde fica a escola na qual me matriculei, ela se chama… - ela tirou um papel dento do porta-luvas- “Colégio Santa Maria”.

Dava para perceber que realmente não era da cidade… ou do país, tinha um sotaque francês e espremia os olhos para ler o papel e para pronunciar, como qualquer gringo faz quando não entende bem o idioma brasileiro.

—Ah sim! É um colégio feminino é bem perto de minha escola, por favor me passe o papel para lhe desenhar um mapa.

— Querrrrida sou péssima em ler mapas por isso estou perdidas, se é perto de sua escola, deixa-me dar uma…

— Carona? - completei rindo internamente de sua dificuldade, não como gozação, mas era engraçado.

Da para perceber que ela é realmente uma turista, pois oferecer carona para uma pessoa no meio do mato e aceitar é perigoso, principalmente no Brasil, mas aquela moça me passou segurança, agora o que não passou mesmo foi o ônibus e está realmente fria essa manhã.

Acabei aceitando e um pouco nervosa entrei, fiquei com vergonha de sentar naquele banco de couro ao lado dela, pois minha bunda tava molhada ao sentar no ponto de ônibus. Mesmo assim sentei.

— Je suis Bianca.

— Prazer, me chamo Touko, é um nome meio incomum, mas meu bisavô era japonês.

— Muito bem, agora por favor, me guie.

Comecei a mostrar onde virar, onde parar e onde NÃO virar, ela era tranquila no volante parecia uma adulta então perguntei quantos anos tinha, ela disse 18, mas que dirigia dês dos 16 pois na adolescência morou nos Estados Unidos; acho que isso significava mulher: ser elegante e educada, não era bem o meu tipo, falar baixo andar de saltos e maquiar perfeitamente. Sempre achei isso tão de patricinha superficial, mas parecia que para Bianca isso ficava legal sem parecer metida. Fomos conversando e tirei minha duvida se era mesmo Páris que vinha, mas errei bonito ela era Canadense, entendi o por que não desconfiar de mim, canadenses são extremamente calmos e educados. Ela também fez perguntas para mim, perguntou se morava aqui faz tempo, quantos anos tinha, o que meus pais faziam etc…

— Bem… Moro aqui dês que me lembre por gente, minha mãe disse que nasci em São Paulo e só nos mudamos quando fiz 4 anos, mas eu não me lembro, sabe como é, eu era pequena e agora tenho 17 estou na metade do colegial, sinto-me um pouco perdida com o meu futuro, mas eu não sei por que estou falando disso, acho que isso não te agrada.

— Não se preocupe com isso, eu gosto de vocês brasileiros por se abrirem com facilidade, sem mistérios, sem voltas é direto e pronto!

Eu ri com seu comentário apesar da postura um pouco adulta tinha um olhar infantil, ela tinha cara de quem teve que crescer muito cedo e agora “livre” pode ser criança de novo acho que isso era sua loucura.. mas isso é só uma suposição de alguém meio louca.

— Chegamos é aqui sua escola, eu espero que você tenha aprendido como vir.

—Oui! Obrigada Touko, por favor me de o seu número para podermos conversar depois. Quero te recompensar de alguma maneira.

— Relaxa! Você já me deu essa carona, não me deve nada.

Mesmo assim ela insistiu em pegar meu número e acabei cedendo, ela beijou minhas duas bochechas e ambas saímos do carro, arrumei a mochila no meu ombro e disse tchau, para quem sabe minha futura amiga, olhei para o colégio dela, eram um colégio de freiras, com uma arquitetura extremamente gótica com vitrais coloridos e paredes esculpidas, para entrar tinha que pagar e muito aliás, mas valia a pena o lugar era grande e as aulas eram muito boas. Como eu sei? Bem ganhei bolsa para estudar, mas acabei saindo, não sou católica e descorde de algumas coisas da Bíblia (minha opinião) então simplesmente saí e me mudei para o colégio ao lado, como QUALQUER escola publica essa não era a melhor, um pouco desorganizada, mas que tinha bons professores e era a única escola mista da cidade (bem pequena minha cidade não?) vivia a base de doações além do governo e a parte mais gorda das doações vem de um chefe industrial cujo seu filho estuda nela. Ele não é muito popular, na verdade é taxado como estranho. Também só fica com insetos e pequenos bichos que há no pátio, além de ser quieto e seu nome ser desconhecido, todos os chamam de N, pois na matemática assim como a letra “X” é uma incógnita e ele também é.

Concluindo que ele também é um pouco louco e minha teoria está mais concreta que cimento seco.

— Bom dia, chegou cedo hoje?

Lá estava meu amigo de todos os tempos o tipico nerd que toda escola tem Cheren, sei que é nome estranho muitas vezes fazem Bullyng com ele falando “Cheren cheira” ou “Cheren meu sovaco”, mas normalmente as pessoas que fazem isso só o encontra no intervalo, pois repetiram de ano enquanto quem não zoou está no último ano do ensino médio, pois é “cheren” essa!

— Bom dia, cheguei cedo, pois meu ônibus atrasou.

— Hã? Se atrasou por que chegou antes? - Ele ajeitou novamente os óculos vermelhos em seu rosto, quase como um tique.

Pus as mãos na cintura um pouco brava, não gosto de ser interrompida em meu discurso, então falei mais alto:

  - Você não deixou eu terminar! Enfim uma moça muito linda e rica me deu uma carona ela é canadense e me deu até seu número.

— Poxa Touko não sabia que você jogava nesse time. - falou em tom de brincadeira.

Minhas bochechas ficaram rubras e comecei a gaguejar tentando explicar o desentendimento e acabando falando bem alto chamando a atenção de todos. Tudo bem que amo atenção, mas esse tipo é meio constrangedor de qualquer maneira logo perdi o foco quando dois meninos derrubaram uma lata de lixo fazendo um barulhão.

— Seu idiota, eu pensei nela para você! - dei um soco em seu braço.Pra mim? Quanta gentileza ou será para que eu saia do seu pé?

Acho que não comentei Cheren se confessou pra mim no verão passado e recusei.

Dês de então ele tenta me conquistar, mas eu não sinto aquele calor que os livros falam que são quando amamos, quero namorar alguém que me faça sentir esse calor, essa chama em mim.

Seu semblante se tornou mais sério e ajeitando os óculos ele foi para sala apenas dizendo “não esqueça do nosso projeto, está no armário."

Burra… Idiota… Estupida… Insensível…

Dei um soco no meu armário para dor física me distrair, mas o que acabou me distraindo mesmo foi ouvir o som de uma voz que até agora era desconhecida.

— Uou!

Lá estava a criatura esquisita, de cabelos verdes, recém cortados e bem espetados, olhos cinzas sem brilho e corpo esquio, com um suéter caro, mais parecia que a mamãe fez, calças bejes cáci, sapatos sociais pretos, camisa social branca e sua pulseira de sempre com um quadrado estranho como pingente. De alguma maneira mesmo com essa descrição parecia que tudo combinava e ficava bom nele.

— Você fala?

— É claro que eu falo Touko. - Ele moveu as sobrancelhas com aspecto de duvida - Aliás você fica bem de cabelo solto.

— Espera, eu achei que você não gostasse de mim ou de ninguém.

— Desculpe, mas você fez algo que não gostasse, para não sermos amigos? Esqueceu que brincávamos muito no campo perto do rio? - Eu olhei para ele como se fosse uma prova de matemática - Você tinha cinco eu tinha seis, nós brincamos até você ter sete.

Fiquei um pouco envergonhada, como assim? O menino que eu brincava era bem magrelo (mais que ele) tinha cabelo comprido e faltava vários dentes, tinha roupas bem encardidas e sujas, como ele virou ele? E pior! Como eu não percebi?

— O que? Não! Não pode ser o menino de janelinhas e roupas sujas que vivia descalço. Oh meu Deus, me desculpa por não ter te reconhecido, você também não mostrou seu nome e… Quer saber, por que não começamos do zero? Sou Touko White, tenho 17 anos e estudo com você. - estendi minha mão enquanto falava.

— Ele sorriu pra mim e por um instante vi uma faísca em seus olhos, ele então me abraçou inesperadamente e durou até o sinal tocar avisando o começo das aulas.

— Me chamo N tenho 18 anos e tenho uma amiga linda.

Ele então se retirou para sala me deixando paralisada no corredor, ouvi pessoas comentando infantilmente que somos namorados, mas pra falar a verdade minha cabeça estava pensando o que se passou pela cabeça dele pra passar essa cantada ridícula de me chamar de linda?

A aula começou e durante o intervalo me esquivei um pouco de N, não queria que se por acaso eu desse uma soco nele eu acabasse ganhando um beijo, o Cheren iria surtar, mas o rapaz é persistente e logo se sentou ao nosso lado; obviamente que meu amigo estranhou e olhou para mim como se soubesse que fui eu que chamei, mas fazer o que eu tenho coração mole para esquisitos isolados (ele é a prova).

— Touko você vai estar ocupada depois das aulas? - N me olhava com a tipica alegria infantil, isso parecia uma magia que impedia de eu falar mentiras.

Cheren começou a me olhar como censurasse a atitude dele, como se eu fosse a mãe de N.

— Ela vai pra casa dela, por que, diferente de você, a mãe dela não pode buscá-la. 

— Então permita-me levar para casa - Ele falou olhando para mim, quase que ignorando completamente o semblante de Cheren.

Caramba estou sendo requisitada para ir de carona em carros caros, mas sinto que Cheren não iria gostar disso, se bem que eu não sou a propriedade dele, entretanto não quero magoá-lo.

— Sinto muito N eu tenho que mostrar a cidade para minha nova amiga, ela chegou recentemente para cá e não quero cancelar.

Desculpe Bianca por te usar como desculpa, mas não quero ver faísca entre os dois o N está muito atirado para um rapaz que era para ser tímido. Se bem que ele sempre foi bem calado quando via minha mãe ou algum adulto e era muito mais agitado comigo. Como foi que o conheci?

— Tive uma ideia. Por que não vamos todos juntos?

—O que?!

— Pense, não seria mais legal se todos nós fossemos? Assim eu mostro pra ela os lugares que eu gosto, o Cheren o dele e você os seus, tenho certeza que ela vai gostar de conhecer mais pessoas também.

Ele falou tudo isso como se fosse o gênio que descobriu um motor de fusão a frio e de extrema alegria, acho que ele ficou tão animado com a ideia de me ter como amiga que pulou de cabeça para não perder tempo. O melhor é olhá-lo como se fossemos amigos de tempos atrás e de certo modo fomos, mas eu já não o conheço mais e ele também não me conhece. Quando criança eu era durona, A destemida, o tipo de garota "muléca" que brincava de cavaleira e que sujava com prazer os pés na lama perto do riacho. Sinto saudade de ir lá, sinto saudade de comer bolo quentinho da minha mãe nas tardes de inverno e de cantar entre os galhos de uma goiabeira. Tudo mudou tão rápido, logo veio o celular, a menstruação, as maquiagens, os saltos, namorados, festas e tudo ficou tão distante e esquecido. Acho que o significado de ser adulto é esquecer.




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Notas finais do capítulo

Agradeço já quem me acompanhar e gostar.Por favor, não esqueça de comentar para saber se estou fazendo um bom trabalho ou não .Obrigada e até o próximo capitulo



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