A chuva forte tomava conta da pequena Konoha. A cidade era conhecida pela sua hospitalidade e comodidade, os turistas adoravam, mas naquele inverno quase não havia turistas na cidade. O inverno mais rigoroso da historia de Konoha.

 Fazia 10 anos... 10 anos que ele havia ido embora, 10 anos que aquela estúpida briga havia acabado com o casamento deles. Ele havia ido embora sem olhar para trás, deixou os amigos, a casa, o trabalho, a família. Tudo em busca de uma ambição. Um sonho. Algo que ele achava que devia fazer, mesmo que isso lhe custasse perder aqueles que ele mais amava.

“Esqueça que tem um filho, esqueça que um dia já teve uma família aqui. Para mim você morreu a partir do momento que saiu daquela porta.” – Essa foi a ultima vez que ele falou com ela, a ultima vez que tentou falar com o filho, depois disso se afundou no trabalho, fez tudo para esquecer-se de Konoha, coisa que ele não havia conseguido esquecer.

A rua estava silenciosa, e aquilo era totalmente fora do comum. Por ser uma cidade pequena Konoha sempre estava em movimento e sempre tinha barulho de crianças correndo pelas ruas e pessoas conversando.

O garoto entrou em casa logo seguido pela irmã. Ele tinha cabelos negros repicados caídos nos ombros e olhos incrivelmente ônix. A irmã também tinha cabelos negros que caiam um pouco abaixo dos ombros e grandes olhos verdes brilhantes. A garota subiu as escadas apressada enquanto o irmão seguia para a cozinha como todos os dias. Ele estava tremendo devido ao frio que havia pegado lá fora. A mochila-bolsa balançava fazendo com que os chaveiros ali pendurados fizessem barulho chocando-se uns contra os outros.

Ele tirou o capuz da cabeça e adentrou a cozinha. Ele esperava encontrar a mãe ali sorridente como sempre preparando o almoço, mas tudo que encontrou foi à figura da loira sentada à mesa segurando uma xícara de café nas mãos. Ele sabia que algo havia acontecido, a madrinha não ia a casa deles por nada. Ela tinha a expressão abatida, os olhos castanhos estavam avermelhados e sem vida. Ela olhou para ele e os olhos se marejaram.

- Tsunade, o que aconteceu? – a voz dele saiu tremula e cheia de preocupação, ele sabia que algo ruim havia acontecido com a mãe.

- Hikaru... Chame a Yuuki. – foi tudo que ela conseguiu dizer.

O garoto saiu correndo em direção da escada, subiu alguns degraus e chamou a irmã que sem entender nada desceu sendo puxada pelo pulso pelo mais velho.

- Ai Nii-san, vai devagar, assim eu vou cair – reclamava a garota até que chegou a cozinha e viu a madrinha. – Baa-chan, o que faz aqui? – perguntou correndo para abraçar a loira até perceber o estado dela. – O que foi baa-chan, o que aconteceu?

- Sakura está em coma. – aquelas palavras saiam com dificuldade, a loira estava com o coração partido por ter que falar aquilo para os afilhados.

Yuuki arregalou os olhos e a principio achava que era tudo uma brincadeira, mas depois voltou a olhar a madrinha de novo e viu que ela falava sério. Os olhos dela logo se encheram de água e ela começou a chorar baixinho. Hikaru a abraçou, ele também estava triste, mas não queria chorar na frente da irmã e ele estava fazendo um esforço muito grande para não começar a chorar ali mesmo.

- Sasuke... Está chegando – disse Tsunade com a voz um pouco chorosa – Eu liguei para ele depois de saber o estado de Sakura... Ele vem ficar com vocês até ela acordar.

- Como assim Tsunade? Ele não vai voltar aqui! – disse soltando a irmã e fechando um punho nas mãos. – Eu não o quero aqui! A Oka-san também não ia querer! – disse exaltado.

- Hikaru, se acalme, eu não posso ficar aqui com vocês, eu preciso cuidar do hospital e nesses casos os filhos têm que ficar com os pais. – a loira estava desesperada, sabia que o garoto não era nada fácil.

- Quem é Sasuke? – perguntou a garota confusa.

- O pai de vocês Yuuki. – Tsunade não queria falar aquilo daquele jeito, mas era preciso.

A garota arregalou os olhos que estavam avermelhados devido ao choro. Ela estava incrédula, o pai que nunca conheceu agora está vindo cuidar dela? A cabeça dela estava a mil, havia tudo acontecido de uma vez só. Ela já havia ouvido falar sobre o pai mas sempre era como o irmão contava das poucas lembranças que tinha dele, depois de um tempo ele havia parado de falar e ela sempre ficou curiosa sobre o pai mais não tinha coragem de perguntar a mãe já que sempre que se falava “pai” naquela casa o clima ficava tenso.

Ela olhou para Tsunade que enxugava as lágrimas com a manga do casaco e depois olhou para o irmão que parecia irritado com tudo aquilo. Ela saiu correndo e se trancou no quarto. Abriu uma gaveta do criado mudo e pegou uma caixa de sapatos onde guardava as coisas mais importantes. Dentro da caixa havia as coisas que ela havia guardado e ganhado da mãe e do irmão.

Ela abriu a caixa e tirou algumas coisas de cima revelando uma foto velha que havia pegado de um álbum de fotos da mãe sem que ela desse conta. Era uma foto, antiga. Uma foto de Sasuke segurando Hikaru recém nascido nos braços. Aquela era a única foto que tinha do pai, mas sempre que via aquela foto se botava no lugar do irmão e imaginava estar sendo aninhado por ele. Ela finalmente iria conhecer o pai. Estava ansiosa e um pouco triste por isso ao mesmo tempo, por que ele não havia procurado por ela? Por que não havia vindo visitar?

Tsunade e Hikaru permaneciam em silencio até que a loira levantou e pegou a bolsa.

- Vou pegar ele no aeroporto. – ela olhou para o garoto que permanecia de cabeça baixa. – Só vou te pedir uma coisa Hikaru. – ele levantou a cabeça a encarou ela. – Comporte-se, não dê trabalho para o Sasuke, ele não é sua mãe e não vai ficar passando a mão na sua cabeça.

- Como se eu esperasse isso dele. – o garoto levantou e acompanhou a madrinha até a porta. – Eu só quero que minha mãe acorde logo e isso tudo acabe baa-chan... – confessou abatido.

- Ela vai acordar logo. Ela é forte. – então ela entrou no carro e foi embora.

Hikaru fechou a porta e subiu até o quarto. Pegou uma bolsa que ele sempre usava quando saia. Tirou o casaco e a camisa da escola e colocou uma camisa preta e verde e voltou a colocar o casaco preto.

Bateu no quarto da irmã e esperou até que ela abrisse. O rosto dela estava todo vermelho, ela não parava de chorar.

- A ‘kaa-san vai morrer Oni-chan? – perguntou entre soluços.

- Ie. Ela é forte. – ele abraçou a mais nova tentando acalmá-la. – Ele está vindo... Vou à casa do Aoi. – ele deu um beijo na testa da menor. – Volto mais tarde, preciso esfriar a cabeça... Vou deixar minha chave com você, abre quando eles chegarem... – ele revirou os olhos.

Os dois desceram e ele saiu andando deixando a mais nova sozinha. Ela limpou as lagrimas, fechou a porta e voltou para o quarto. Hikaru não estava nada feliz com a chegada do pai e ela estava curiosa, mas preocupada com o irmão e a mãe.

Dicionário:

Oka-san/’kaa-san – Mãe, mamãe.

Oni-san/Nii-san – Irmão, irmão mais velho.

Ie – Não.

Hai – Sim.

Baa-chan – Avó, vovó.