Odeio o modo como fala comigo!

 Ela vai me matar assim que acordar...— pensou enquanto velava o sono da amiga. – Somente desse jeito é que se torna linda.— Admirou, respirando lento. Tentava fazer o mínimo de movimento possível para não acordar à morena que dormia sobre seu peito.

Kuchiki Rukia era a melhor (se não a única) amiga de Kurosaki Ichigo. Um rapaz de dezessete anos. Capitão do time de futebol da escola de Karakura e encrenqueiro numero um da mesma. Ichigo era forte, com músculos privilegiados. Alto, de cabelos ruivos alaranjados e olhos amendoados. O sonho de toda adolescente, mais nenhuma menina tinha coragem o suficiente para se aproximar dele. Além da fama de encrenqueiro, Ichigo sempre estava com uma carranca de assustar qualquer um. A única que perecia imune à áurea intimidadora do ruivo era a pequena Kuchiki Rukia.

Rukia era uma garota baixinha, de pele branca e cabelos tão negros quanto à noite. Seus olhos eram originalmente azuis, mais algumas vezes a íris da menina tomava uma tonalidade exótica: algo entre azul anil e o violeta. A morena também tinha um gênio forte e não levava desaforo para casa. Talvez fosse por isso que ela e Ichigo eram amigos. Bom, isso ate duas semanas atrás, quando o segundo semestre começou e Inoue Orihime chegou. E tudo porque o ruivo fez um comentário comparativo sobre os enormes peitos da nova aluna e os inexistentes da amiga.

Ichigo sorriu ao lembrar-se da reação da pequena ao escutá-lo.

Rukia remexeu-se, abrindo lentamente os olhos. Ichigo segurou a respiração. A morena piscou algumas vezes tentando focar a imagem do ruivo.

— Ichigo... – Chamou ainda sonolenta.

— Sim. Sou eu. – Respondeu temeroso. Enfim era o momento da verdade. – Dormiu bem, Rukia? – Perguntou.

— O que está fazendo no meu quarto? – Perguntou a morena, puxando às cobertas para cima do corpo.

Ichigo sorriu travesso.

— Rukia, esse é o meu quarto. – respondeu. – Foi você a pular a sacada ontem.

— Ah. Foi?! – falou débil. Aceitando a resposta do amigo por um curto período de tempo. Bem curto, diga-se passagem. Pois logo se lembrou de que estava brigada com ele.

Rukia se levantou da cama depressa, ficando em pé.

— E porque não me mandou embora? – Perguntou irritada.

— Porque você disse que não queria ficar sozinha em casa.  – Ichigo respondeu, lembrando-a do porque tinha ido dormir no quarto do amigo: seu irmão tinha viajado a negócios e como ela ainda estava em aula não pode ir e como não queria ficar sozinha em casa pulou para o quarto do amigo.

— Mentira... Você queria era se aproveitar de mim. – Acusou. Ichigo gargalhou.

— Ficou louca? – perguntou a observando procurar algo. – Eu jamais faria algo assim com você. E o que está procurando?

— É. Ontem eu estava louca. Louca e desesperada, isso explica o porquê de ter pedido pra dormir com você. – falou com desdém. – e onde estão seus chinelos?

— Ali. – o ruivo apontou para o calçado felpudo. Rukia calçou o chinelo e nem se despediu do amigo. Pulou novamente a sacada em direção ao próprio quarto. – Ei, esses chinelos são meus...

— Eu sei. – falou. – já vou devolvê-los. – Rukia jogou o par de chinelos de volta para Ichigo, entretanto, errou a mira e acertou o rosto do rapaz.

O ruivo contou mentalmente ate dez, mesmo assim não teve jeito...

— Sua louca... – gritou da sacada do próprio quarto. – Foi você que pediu pra dormir comigo.

A morena ficou vermelha de raiva e vergonha. Ichigo não precisava gritar para a rua toda ouvir. E se seu irmão escutasse uma coisa daquelas? Mesmo que não tivesse feito nada, estava frita.

— Grrr. Seu... Seu idiota. – devolveu em plenos pulmões. – Olha como fala. Quer que eu fique mal falada na rua toda?

O ruivo sorriu maroto.

— Ho. Não se preocupe, com esses mini peitos você não atrairá a atenção ninguém. – atalhou vingativo.

— Seu... seu... – Rukia estava vermelha de raiva. Queria dizer poucas e boas para o amigo. Porém, tudo o que fez foi fechar a porta da sacada e encostar-se a ela.

O coração da Kuchiki estava dolorido com a insensibilidade do colega e Ichigo suspirou da sacada do próprio quarto. Pelo jeito ainda continuavam brigados.

— Eu odeio o modo como fala comigo! – falaram em seus quartos, protegidos pelas portas das sacadas.

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