Cem Anos Depois escrita por Adson Kamps


Capítulo 8
VIII – As Irmãs de Oz


Notas iniciais do capítulo

Ola, ola. Eu sou Seynin, e essa é o capítulo oito de Cem Anos Depois xD
Não sei pra vocês, mas com toda certeza eu achei esse capítulo o mais triste de toda a fanfic até agora (ok, talvez não tanto igual ao prólogo, mas ambos estão lado a lado nesse quesito)
Espero que gostem da maior parte desse mundo mágico que estou recriando.
Boa Leitura :)



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  Dorothy se lembra como se fosse ontem o dia em que fora arrancada de seu mundo. Lembra-se da tempestade se aproximando sobre os campos de trigo; toda a plantação tremulando conforme o forte vento trazia para cima de si e da sua casa algo que a garota pensava ser impossível de existir. Na verdade, nem em seus mais perturbadores pesadelos – que não eram poucos – ela viu um Tornado Verde.

  Isso mesmo, verde.

  Seus pais tinham saído de casa para ir à mercearia mais próxima a fim de comprar mais suprimentos para a casa, e como de costume Dorothy havia ficado sozinha a brincar junto com Totó, o cachorrinho da família e sua irmã, Charlie que era cinco anos mais nova.

  O ar tranquilo sem brisa anunciava silenciosamente que algo ruim ia acontecer. Primeiro começaram as rajadas de vento frias com cheiro de granizo e logo após uma grande nuvem de tempestade se aproximou rapidamente pelos céus. A menina sempre ouvira os avisos de sua mãe Pearl – Quando uma tempestade se aproxima, evite ao máximo de ficar no sótão da casa. Vá para o porão e não saia de lá até a tormenta passar.

  Mas as irmãs – atualmente com doze e sete anos – não eram as crianças mais obedientes, porém as mais curiosas, e sempre iam ao topo da casa observar os raios caindo ao longe pela janela.

  Porém naquele dia não havia raios, nem chuva, e quanto menos podia se ouvir um trovão. As nuvens espessas cobriram o céu como o cimento cela uma sepultura. A luz do Sol se extinguiu e naquele momento o dia tornara-se a noite mais escura que as meninas veriam em anos. As nuvens estendiam-se dez quilômetros em volta da planície, e logo após elas era possível ver a luz solar iluminando campos de trigo em uma paz que passaria a ser invejável.

  A escuridão acima do terreno chamado de Pedacinho do Céu começou a girar como quando alguém mexesse um caldeirão aumentando gradativamente a velocidade. Um buraco se abriu no centro da tormenta deixando claro uma lua cheia brilhando em âmbar-dourado.

— Impossível... – Dorothy arregalou os olhos e tomou Charlie em seus braços como se pudesse manter a garota longe daquilo tudo. No momento a última coisa que ela viera a pensar fora no porão da casa, e quando esse pensamento surgiu em sua mente já era tarde demais.

  Um funil de ar verde desceu do céu colorindo as nuvens e iluminando a região em esmeralda. Seria uma visão linda para as crianças se aquilo não estivesse destruindo tudo ao seu redor. Os ventos eram tão fortes que começaram a puxar a parte de cima da casa, o sótão onde Dorothy e Charlie estavam para o centro de si mesmo.

  Nos últimos momentos das garotas em nosso mundo, Charlie tremia de medo ao mesmo tempo em que admirava a lua dourada sobre sua cabeça, e Dorothy só pode pensar em como Pedacinho do Céu havia se transformado no próprio inferno em questão de segundos.

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— Ah! – gritaram as irmãs em uníssono enquanto despencavam em direção aquela terra desconhecida.

  O Verde, como vieram a chamar depois de crescidas, as atirara do mundo real para uma dimensão maluca. Cada ponto cardial tinha suas próprias características, e ambas se chocavam uma com as outras em um cruzamento de tijolos dourados. Ao Sul neve cobrindo pinheiros, ao Leste praias e planícies douradas como o Kansas; ao Norte uma grande cidade esculpida em pedras preciosas se erguia majestosa sobre colinas verdejantes; e ao Oeste enormes montanhas de granito com um castelo no cume mais alto subiam até tocar os céus, onde um redemoinho de nuvens verdes e roxas girava no topo de uma torre.

  Institivamente as duas garotas se afastaram daquele local o máximo que podiam; afinal aquela coisa girando lembrava muito o tornado que as trouxera para aquele lugar.

— Já ouvi falar de pessoas que desmaiam durante um tornado e acordam em um lugar distante, mas isso é ridículo! – comentou Dorothy olhando em volta com Charlie grudada em suas pernas observando ainda o enorme castelo – Este lugar, nunca vi igual. Em que estado estamos? Oklahoma? Texas?

  Dorothy observou o Leste daquele lugar imaginando se tudo não passaria de uma ilusão e aqueles campos de trigo estivessem ali para provar a sua teoria. Não seja tola repreendeu a si mesma Aquela coisa verde foi muito real, tanto é que arrancou o nosso sótão!

  Charlie então puxou a barra do vestido da mais velha – Dory... – chamou apontando para algo que vinha voando da cidade. Um macaco com asas pousou na frente das duas fazendo com que levassem um susto e o olhassem admiradas com os olhos arregalados. Farejou o ar.

— Humanas – disse o primata e olhou para as duas a sua frente – Como meu mestre. Sigam-me, o Magico pressentiu sua chegada.

— O Magico? – perguntaram juntas, curiosas – Quem é o Magico?

— Vocês já vão descobrir meninas – deu uma risadinha – Só não criem expectativas que vão sobreviver depois disso.

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  Dorothy e Charlie entraram no grande Palácio de Esmeraldas seguindo o macaco voador. Admiravam a beleza e arquitetura esculpidas nas pedras brutas verdes e âmbar – assim como a lua -, as cortinas de cetim vermelho-sangue e os braseiros queimando em chamas laranja como o pôr-do-sol combinavam de uma maneira até sobrenatural com o resto da decoração.

  Um tapete azul-cobalto com borda prata estendia-se desde a entrada do castelo até um trono decorado de maneira semelhante, apenas dois tons mais escuros de azul. Sentado sobre o mesmo havia um homem de terno risca-de-giz preto, elegante. Uma cartola também negra sobre a cabeça e um cajado prata decorado uma única pedra magenta decorando o topo do mesmo.

  Ele tem cara de mal observou a pequena, mas logo mudou de ideia ao ver um sorriso estonteante brotar nos lábios do homem.

— Olá minhas pequenas menininhas! – disse animado ficando de pé. Se somos pequenas logicamente somos menininhas pensou Dorothy erguendo uma sobrancelha – Eu sou o Magico, mais conhecido como OZ! Eu previ a visita de vocês muito antes de seus pais nascerem! Vocês têm grandes potenciais, garotas.

— Ajoelhem-se – grunhiu o primata ao lado delas.

— Ora, não é preciso senhor macaco – disse Oz rindo – Quem deve se ajoelhar perante enorme presença sou eu! Afinal, não é todo dia que duas feiticeiras aparecem no nosso reino.

— Espere – disse Dorothy se pondo na frente da irmã – Feiticeiras? Você nos chamou de bruxas?!

— Vejo que tem muito que aprender ainda – disse o homem com uma pequena risada – Bruxas e feiticeiras são diferentes uma das outras, meu bem. Vocês são as primeiras humanas desde eu mesmo a vir parar nesse mundo por conta dos poderes incríveis que possuem!

  Dorothy viu um lampejo de loucura nos olhos do homem e se afastou alguns passos procurando uma das mãos de Charlie que se aproximara do Magico fascinada pelo que ele dizia – Charlie! Volte aqui! – sussurrou.

— Eu tenho poderes? Mesmo? – os olhos brilhavam de excitação.

— Claro que tem garotinha – massageou os cabelos dela. Então olhou para a mais velha quase que com severidade – E você também, Dorothea.

— Dorothy. – corrigiu para o apelido que acostumara a ser chamada e depois se deu conta de algo – Espera, como sabe meu nome? – perguntou recuando mais uns passos.

— Do mesmo modo que sei o nome da menina Charlotte aqui – disse apontando para a pequena que ainda o olhava fascinado – Eu sou o Magico! Deveria ter alguma outra explicação?

— Uma mais lógica, talvez? – disse a garota puxando Charlie para perto de si – Se você é tão poderoso assim, porque não nos manda de volta?

— Tudo ao seu tempo, querida – disse o homem fazendo um aceno de mãos – Você e sua irmã estão aqui por um motivo: aprender magia comigo. Esse será o meu presente de boas vindas, e como boas visitas vocês me retribuirão de uma forma.

— E qual seria essa forma, Cartola? – provocou a mais velha.

  Dorothy jurou que viu um lampejo de dor e raiva passar por um breve momento nos olhos do Magico, mas foi tão breve que não pode ter certeza – Vocês me ajudaram a curar minha irmã Zelena, a Dama do Oeste. – disse apontado para uma porta fechada, que provavelmente levava ao quarto da tal Zelena.

— E depois disso – a menina mais nova que até então ficara calada resolveu se pronunciar – Nos levara para casa?

— Oh, por certo que sim – disse ele arrumando a cartola negra sobre a cabeça – Agora meu fiel mordomo, senhor macaco! – chamou o primata que ficou em posição de sentido – Mostre a essas damas os seus respectivos quartos, sivoplê.

— Agora mesmo, majestade – virou para as garotas. Ainda estava meio rancoroso pelo seu chefe estar dando mais atenção a elas do que a si – Venham comigo.

— E desçam daqui a pouco para jantar! – gritou o Magico enquanto as garotas desapareciam.

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  Semanas se passaram naquele lugar desconhecido, e no decorrer destas a magia as irmãs Primm ia ficando mais e mais poderosa. Certa vez Charlotte, na tentativa de acender uma vela acabou por atear fogo a uma tapeçaria de seda. O Magico fez de tudo para esconder sua irritação, mas teve certeza que, apesar de ter conseguido enganar a mais nova, Dorothea havia captado sua ira.

   Outro dia, Dorothy estava treinando evocação de esferas magicas para iluminação e acabou por transformar todos os candelabros, braseiros e velas em fontes de água que acabou por inundar todo o palácio.

  Depois, na tentativa de concertar o estrago, ela evocou as esferas luminosas nas pequenas nascentes. Estas por sua vez se dissolveram ao entrar em contato com o líquido o que acabou acarretando em várias salas banhadas em tons de neon gritantes.

  A pior de todas foi quando as duas garotas tentaram juntas tentaram reviver um corvo que estava preso dentro de uma gaiola no castelo. O resultado foi muito bom, a ave reviveu, só não esperavam que aquele feitiço também multiplicasse as coisas, o que acabou fazendo com que o quarto de Cartola se tornasse um viveiro para corvos.

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— Muito bem, garotas – disse o Magico após um delicioso jantar no salão com vista para a praia – Hoje iremos ao último teste de vocês, e se tudo correr certo irei manda-las para casa.

  As irmãs se olharam alegres e cheias de expectativas. Tudo bem, elas não foram uma das melhores alunas de magia no começo, mas haviam aprendido muita coisa maravilhosa além de conseguirem controlar os quatro elementos – E esse teste seria ajudar Zelena? – perguntou Dorothea.

— Sim – disse o homem levantando com um sorriso enigmático em sua face – Me acompanhem e lhe explicarei no caminho.

  As meninas se levantaram e puseram a caminhar uma de cada lado do Cartola. Dorothy havia aprendido a respeitar o homem, não gostava dele e ainda era um pouco desconfiada, mas sabia que ele não lhes faria mal algum. Charlie por outro lado estava um pouco enciumada da irmã por ter conseguido quase que completa atenção do Magico para ela durante os treinamentos, mas também não tinha mais do que reclamar.

— Dorothea e Charlotte, me ouçam bem – disse ele parando em frente à porta do possível quarto de Zelena – Minha irmã ficou um pouco instável depois que aquilo que lhes contei aconteceu com ela – disse ele fazendo uma pausa.

  Charlie lembrava-se pouca coisa da história – apenas que a Dama havia sido trocada por uma princesa um dia antes de se casar com o Rei de uma terra distante – e a inveja que sentia de sua irmã não estava ajudando em nada.

— Não sei como ela vai reagir ao ver você – ambas notaram que ele não se referia as duas como se não soubesse quem iria ser o motivo de qualquer reação vinda da mulher – Então evitem contato visual com Zelena. Eu a distrairei enquanto vocês preparam o feitiço.

  Entraram no quarto e as duas irmãs puseram a conjurar o feitiço que haviam treinado por tanto tempo, enquanto isso o Magico foi andando até a mulher encolhida no chão – Irmã? Zelena? – chamou carinhosamente – Estou aqui querida, pode me ouvir?

— Oz? – chamou uma voz fraca – Quem esta aqui com você?

— Não se preocupe maninha – se ajoelhou ao lado dela – Elas estão aqui para curar você, vão te ajudar, eu prometo.

— Elas..? – perguntou como se fizesse manha. Dorothy estava curiosa para saber quem era e sentia o olhar da Dama sobre sua irmã e si, mas recusava-se a olhar – Quem são?

— Charlotte e... – o Magico olhou para apontar para trás para apontar qual era qual quando se assustou com algo – Dorothy!

  A curiosidade da irmã mais velha a havia vencido. Ela olhara para a mulher, e se perdera nos profundos olhos amarelos da mesma – Dorothy... – Zelena rosnou ao ouvir e ver a menina a sua frente – Eu sabia! Sabia que não ia demorar muito para você vir me matar sua feiticeira! Esperou que eu ficasse fraca para me destruir!

— Eu... Eu não entendo – disse recuando alguns passos desfazendo o feitiço quase completo. Procurou as mãos de Charlotte e puxou-a para si – Nós não nos conhecemos, moça!

— Você pode não me conhecer, garota burra! Mas sua alma sim! – ela olhou para Oz que fitava seu rosto com assombro. Quem é essa? Onde esta minha Irmã?! pensava – Saia! – com um aceno de mão uma nuvem roxa se formou em volta do Magico que sumiu logo após a mesma se desfazer.

— Dorothy, o que esta acontecendo? – perguntou Charlie em prantos, morrendo de medo.

  A Dama se levantou exibindo um corpo esbelto, coberto por um vestido que parecia ser feito de petróleo puro. Os cabelos ruivos desgrenhados caiam sobre o ombro como um mar de sangue – Agora quando a você, Dorothy — ela rosnava o nome da irmã mais velha – Sua alma será minha! – estendeu a mão em garra sobre as meninas e as três sumiram em fumaça roxa.

  Estavam agora no lado Oeste daquele país estranho. As duas irmãs continuavam juntas, uma agarrada a outra enquanto Zelena segurava em suas mãos um objeto dourado – A Concha de Orson – riu triunfante – Ela aprisiona tudo o que uma bruxa quer, seja a voz, alma e até o próprio corpo! – gargalhou novamente. Trovões ressoavam sobre o castelo na montanha – Diga adeus para suas lembranças e poderes! – apontou o objeto para Dorothea – Olhe para a concha, meu bem.

  Como se hipnotizada, Dorothy fixou seus olhos na cor dourada enquanto Charlie a encarava assombrada a luz prata que iluminava os orbes da irmã. Duas mãos cintilantes saíram da concha e tocaram os olhos da garota mais velha e logo se juntaram em uma só, ultrapassando a testa da menina.

  O objeto dourado começou a sugar aquela garra brilhante de dentro da mente de Dorothy, que saia agora com uma luz prata pulsante e entrando na concha. Dorothea caiu desmaiada no chão – Dory! – gritou Charlotte se ajoelhando ao lado da irmã enquanto Zelena ria maldosamente.

  Charlie se levantou e encarou a mulher na sua frente – Sua... sua... BRUXA! – preparou uma esfera azul nas mãos para atirar na Dama quando um vento forte a derrubou de costas no chão, fazendo com que sua cabeça batesse em uma pedra.

  Enquanto os olhos se fechavam a garota encarava a Lua Âmbar no céu e o funil verde que descia na direção das irmãs. Casa pensou Finalmente.

  Então tudo escureceu.

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  Charlotte estava a lembrar de tudo o que havia se passado entre ela e a irmã, Dorothea. Quando saíram de Oz por meio do Verde elas foram mandadas para outra terra desconhecida, desta vez, separadas. Charlie dedicou anos de sua vida a procurar sua irmã, e quando a achou viu que realmente Zelena havia cumprindo o que disse: Dorothy não se lembrava de nada a não ser o próprio nome. Suas memórias no Kansas com os pais, a irmã e o cachorro foram substituídas por outras; como se ela sempre tivesse vivido naquela Floresta Encantada.

  E também como se ela nunca tivesse tido uma irmã.

  Charlie chorou por dias, sempre usando a magia para se manter alimentada e aquecida. Sempre fora taxada de bruxa quando alguém a via praticando magia, até que descobriu um novo dom: esculturas em madeira.

  Fugiu para o lado negro da floresta, o Bosque da Noite Eterna e construiu lá uma casa humilde para servir de moradia para si mesma e suas esculturas, sendo procurada por aventureiros que buscassem o sucesso por meio da magia.

  Agora, parada no batente da porta e vendo as duas princesas a se afastar uma lágrima rolou pela bochecha. Teriam elas o mesmo destino que Dorothea e Charlotte? Pois algo ali era bem claro:

  As duas eram Almas Irmãs.

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Notas finais do capítulo

Mais uma vez um capítulo cheio de Easter Eggs, mas não serei mais bonzinho e deixarei para vocês me contarem nos reviews onde estão eles u.u
Por falar em reviews, mereço algum nesse cap? :)



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