POV ANNABETH

Abri meus olhos, meu coração estava um pouco acelerado devido ao pesadelo que estava tendo minutos antes de acordar. Ao olhar no relógio vi que já eram quase seis da tarde, considerando que eu havia dormido assim que cheguei da escola fiquei bastante tempo na cama, esfreguei as mãos contra os olhos na tentativa de espantar o sono.

Ouvi batidas na porta e me sentei na beirada da cama, tentei ajeitar um pouco meus cabelos.

— Annabeth. – Minha mãe me chamou – Está acordada, querida?

— Sim, mãe. Pode entrar.

A porta se abriu e minha mãe me analisou por alguns segundos, ela estava usando sua calça de moletom roxa, que é conjunto de seu casaco, e uma blusa branca. Fechou a porta atrás de si e caminhou para se sentar ao meu lado.

— Fiquei preocupada com você hoje, - Ela disse enquanto colocava meu cabelo atrás da orelha – achei que a situação fosse grave. Já estava quase saindo do trabalho para te levar ao hospital quando a coordenadora ligou.

— Desculpe, eu não quis te assustar. Te garanto que o problema não foi saúde.

— E o que foi então?

— Ah, - Eu disse me sentindo desconfortável ao expor esse assunto, mas é minha mãe... Se eu não posso confiar nela, em quem mais eu confiaria? – Eu fiquei muita assustada, aí eu desmaiei.

— E o que te assustou tanto? – Ela me observou preocupada

— Luke. – Eu disse de uma vez, depois encarei o chão

— Seu ex? Ele está aqui? – Ela cobriu a boca com as mãos

— Sim! – Estremeci – Vi ele na escola, mas foi só. Parece que ele quer falar comigo.

— E o que você vai fazer?

— Vou ignora-lo, claro.

— Annabeth, minha filha, acho que essa não é a decisão mais sábia no momento. Se você ignorar ele vai continuar persistindo e correndo atrás de você, só vai prolongar a situação! Melhor acabar com isso de uma vez.

— Mas eu morro de medo de falar com ele, não sei nem se é medo dele ou medo de reviver aquilo tudo. A única coisa que tenho certeza é que quero ele anos luz de distância! O que será que ele quer me dizer?

Ela balançou a cabeça.

— Não faço ideia. Só sei que o cara tem que ser muito sem vergonha para aparecer depois de tudo que fez com você! Se você quiser, eu posso contratar alguns conhecidos para dar uma surra nesse garoto.

Dei um leve sorriso.

— Não é pra tanto mãe.

— E o que o Percy disse?

— Como assim?

— Sobre isso, claro! Sobre ter seu ex-namorado atrás de você.

— Ah... Bem, ele não sabe.

— E você vai contar?

Refleti um pouco, tem isso de ele ser meu namorado e que supostamente eu devo compartilhar tudo com ele. Mas eu não queria que ele se metesse, não queria que ele fosse atrás do Luke ou sentisse ciúmes dele. A única coisa que eu queria era que tudo isso acabasse.

— Melhor não.

— Porque? – Ela indagou

Expliquei detalhadamente meu ponto de vista.

— Bobagem! – Ela afirmou – Se eu fosse você, contava. Dizem que se conselho fosse bom, não seria de graça, mas preste atenção nisso que vou te dizer porque, creio eu, que pelo menos conselho de mãe valha alguma coisa. Sou casada há 20 anos e tenho um casamento muito feliz. A verdade tem que ser a base do relacionamento, não oculte nada do seu namorado, porque a confiança, uma vez traída, nunca mais volta a ser a mesma. A desonestidade é temporária. Ele vai descobrir, você é quem escolhe se vai ser pela sua boca.

— Mas... – Eu disse com um nó na garganta – O que ele vai pensar de mim? E se ele achar que fui eu quem quis ver o Luke?

— Annabeth! Pelo amor de Deus! Não precisa ser um gênio para descobrir que você tem pavor desse cara! Olha o que aconteceu hoje, você não acha que seu desmaio é prova suficiente?

Permaneci calada.

— Minha filha, você é tão inteligente... Não deixe que seu altíssimo QI se limite à escola. Tome a decisão mais sábia, não a mais fácil.

Analisei minha mãe, ela era tão sábia... Não era atoa que se chamava Atena.

— Preciso ir, prometi assistir o último episódio de Prison Break com seu pai.

Ri ao pensar que tinha sido eu quem apresentei a série para eles, mas eles acabariam antes de mim.

— Se você me der algum spoiler, eu juro que nunca mais falo com você.

— Pode deixar! – Ela afirmou rindo

Me deu um beijo na cabeça e assim que chegou na porta se virou e disse:

— Não acredito que você dormiu de calça jeans! Na próxima vez tome um banho antes de se deitar.

Olhei para minha calça, eu nem havia lembrado de trocar de roupa. Estava com a mesma o dia inteiro. Decidi tomar um banho, porém nem isso conseguiria lavar os sentimentos horríveis que impregnavam no meu coração.

POV PIPER

Assim que Quíron apresentou Luke como seu ajudante, eu surtei. Queria ir lá na frente e expor a pessoa horrível que ele era, mas obviamente não fiz nada disso, permaneci calada e impassível. Olhei de relance para Hazel, diferente de mim ela não sabia esconder o que estava sentindo, primeiro ela ficou verde, depois vermelha e por último pensei que fosse vomitar, mas ela apenas engoliu em seco.

Enquanto Quíron falava observei o Percy. Seus olhos verde-mar encaravam o rosto de Luke, como se ele tentasse resolver alguma equação, ele não sabia de nada. Pensei no que poderia estar acontecendo caso ele soubesse, conclui que era melhor não me envolver. Da minha boca não sairia nada. Meus olhos foram um pouquinho mais para o lado até que eu o vi, Grover. Meu coração não disparou, nem fiquei nervosa como geralmente acontecia quando eu via o Jason. Mas um sorriso discreto se formou nos meus lábios, eu finalmente teria a chance de estar com alguém que me valorizasse.

O Grover não era nem de longe tão lindo quanto o Jason, mas tinha algo nele que me chamava atenção. Ele era mais gentil, mais atencioso e, principalmente, gostava de mim. E quem sabe se eu não abrisse meu coração para o Grover, esqueceria completamente o Jason... Algumas lembranças começaram a invadir minha cabeça.

Cheguei na casa da Bianca uma hora depois da festa ter começado, estava decidindo se viria ou não. “É só uma festa, relaxe e curta um pouco” minha mãe me disse, mas como eu poderia curtir sem minhas amigas? Era a festa das líderes de torcida e elas odiavam a Annie, ela não era bem-vinda de jeito nenhum. E Hazel nunca concordaria em vir comigo, ela detestava como os populares se achavam tão melhores que o resto de nós, meros mortais.

Abri a porta com certa hesitação, a música estava muito alta e vi várias pessoas dançando na sala, onde ela havia tirado os sofás e improvisado uma pista de dança, ficou bem legal. Algumas pessoas estavam conversando perto da piscina e outras espalhadas pela casa. Não chegava a ser uma mansão, mas era grande. Fiquei perplexa a ver um menino vomitar na minha frente, ponderei que ter vindo aqui havia sido uma má ideia.

Caminhei até encontrar algumas meninas do time, elas sorriram para mim enquanto eu me aproximava.

— Oi Piper! – Camilla disse bastante animada, ela era a menina que eu considerava a mais legal do time, sempre sorria para mim e tentava me enturmar com as outras. Os cabelos longos e escuros dela chamavam atenção, que combinavam com sua pele parda e seus olhos castanhos. – Que bom que você veio, fiquei até na dúvida se precisaria ir te buscar na sua casa.

— Ei! Eu te disse que viria! – Eu falei rindo – Promessa dada é promessa cumprida.

Cumprimentei as outras meninas e começamos a conversar.

— Gente, olha lá. – Alice disse apontando discretamente para o Michael – Ele não está lindo?

As meninas concordaram e observei Alice indo em sua direção, depois de um tempo algumas meninas começaram a ir para a pista de dança e outras foram se encontrar com seus “amigos”, até só sobrar Camilla e eu.

— Piper... – Ela disse depois de um tempo – Você não se importa se eu for ver o...

— De jeito nenhum! Pode ir, eu me viro.

Ela me deu um rápido abraço e disse:

— Obrigada! E me desculpe, eu não quero deixar você sozinha, mas é que...

— Eu já te disse Camilla, não tem nenhum problema. Vai lá!

Ela sorriu, fez menção de dizer alguma coisa e depois saiu.

Eu estava sozinha e decidi sentar em um sofá, fiquei apenas observando as pessoas. Eu me sentia muito constrangida por estar sem ninguém, as pessoas deveriam me achar uma tonta. Se passaram alguns minutos e pelo canto dos olhos vi Jason se aproximar, meu coração deu um pulo e comecei a ficar muito nervosa, eu queria sair dali correndo, mas também queria ficar perto dele. Meu estômago começou a revirar e eu não sabia o que fazer, por isso permaneci sentada e tentei disfarçar meu nervosismo.

— Oi Piper. – Ele disse ao se aproximar

— Ah, oi Jason. – Eu fingi que não tinha visto ele chegando

— Posso me sentar com você? – Ele perguntou, assenti e dei um espaço para ele no sofá – Está gostando da festa?

— É legal, eu nunca tinha vindo em nenhuma assim.

Ele me olhou como se eu fosse algum E.T.

— Nunca tinha vindo em uma festa? – Ele perguntou assustado, olhei para o chão me sentindo muito constrangida. Agora ele devia achar que eu era uma antissocial nerd sem experiência nenhuma na vida.

— Não. – Respondi sinceramente

Ficamos calados alguns segundos, até ficar insuportável o silêncio, embora a música estivesse alta.

— Você quer dar um passeio lá fora? – Ele questionou apontando para a área da piscina, assenti.

O clima estava agradável e o lado de fora era mais silencioso, o jardim atrás da casa era muito bonito e me lembrei de quando Bianca comentou que sua mãe gostava de floricultura. Enquanto caminhávamos lado a lado eu sentia meu coração bater cada vez mais forte, tão forte que chegava quase a doer. Eu era incapaz de encara-lo, não sabia o que ele queria comigo, não sabia o que eu tinha que fazer, só tinha certeza que gostava de ficar perto dele.

— O que está achando do time? – Ele me olhou com o canto dos olhos enquanto fazia a pergunta

— Estou gostando. – Devolvi o olhar – Sempre gostei de esportes, e treinar com as líderes de torcida é algo novo para mim. Eu gosto de tudo, menos quando a treinadora começa a gritar dizendo que está horrível. Será que ela não percebe que está ótimo? Ou aqueles óculos impedem que ela enxergue direito?

Ele sorriu.

— Eu não pratico esportes, mas acho que todo treinador é assim.

— Porque jogar o Will na lixeira realmente não conta como um esporte.

— Imagino que não, mas é engraçado.

“Só se for pra você!” pensei.

— Mas perdeu um pouco a graça depois que o Percy parou.

— Talvez você devesse pensar no porquê.

Ele sorriu ironicamente.

— Sei muito bem o motivo, e acho que ele está exagerando.

— O amor muda as pessoas.

— Ainda é muito cedo para amar. Curtir? Sim. Amar? Isso pode ser deixado para mais tarde.

— Eu não acho que exista um tempo certo para o amor. Só... acontece.

— Você é bem romântica, não é? – Ele deu um sorriso discreto

— Pode se dizer que sim, eu acredito fielmente nos felizes para sempre.

— Você tem muita sorte então.

— Sorte? Por que? – Perguntei realmente sem entender

— É, sorte. Sorte por ter tanta esperança, nem todos tem isso.

— Infelizmente, é muito triste ver as pessoas se contentando com a média, sabe? Estando em relacionamentos que ficam na média, exercendo suas profissões de forma medíocre... quero que minha vida, em tudo, seja muito acima da média. O problema é que as pessoas não têm esperança em uma vida fora do comum, elas acham que não vale a pena ter.

— Verdade... mas e se ela se decepcionar?

— E se não? E se ela perder uma vida maravilhosa por medo de assumir um risco?

Ele ficou calado por alguns segundos, refletindo sobre minhas palavras.

— Sabe Piper, com você me dizendo essas coisas tão bonitas e estando tão linda fica difícil não querer assumir o risco de te beijar. – Ele sorriu ao dizer isso, não o sorriso que eu estava acostumada a ver, mas um sorriso sincero e até um pouco tímido. Ele analisava cada detalhe do meu rosto e eu engasguei com as palavras, não sabia o que responder.

Eu estava vivendo o momento que havia sonhado tantas vezes, Jason Grace na minha frente pedindo por um beijo meu.

Sorri, eu gostaria muito de beija-lo, talvez não tivesse mais nenhuma outra oportunidade. Delicadamente coloquei meus dedos sobre sua bochecha, ele passou a mão pelos meus cabelos até parar na nuca e se aproximou até meus lábios encontrarem os dele.

Me dispersando, voltei a prestar atenção nas palavras de Quíron. Eu não sabia que sentimento ter em relação aquele beijo, talvez arrependimento? Mas... se eu voltasse atrás, provavelmente faria tudo de novo, havia sido tão perfeito. Pensei no que houve depois do beijo, nada. Não houve nada, aquele momento tão lindo pareceu mais parte de um sonho porque ele nem mesmo me olhou após a festa. Muito pelo contrário, passou a trocar saliva com a Drew.

Com esse pensamento meus punhos automaticamente se fecharam, eu estava com raiva. Raiva dele, por não ter correspondido as minhas expectativas. Raiva de mim, por ter criado expectativas.

Voltei meu olhar para o Grover e conclui, eu nunca mais perderia meu tempo com Jason Grace.