TODAS AS LUZES - Coletânea de Natal escrita por Serena Bin, Gessikk, Cardamomo, Miss Houston, Maya, Amauri Filho, Lady Gumi, Maxx, Sr Devaneio, Lucas Freitas, Analu, Nanathmk


Capítulo 2
Um Menino Qualquer - Gessikk


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura a todos!



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A palavra Natal, no dicionário, se refere onde ocorreu o nascimento de algo ou alguém.

Para algumas pessoas, representa a ceia, as compras, o papai Noel e a reunião da família. Para outras, é a data para comemorar o nascimento de Jesus, que veio ao mundo como homem para salvar a humanidade de seus pecados.

Seja qual for seu significado, o que representa para cada pessoa, cada família e para o dicionário, o menino não conhecia nenhum deles.

O menino se chamava Artur, ou seria Lucas? Não! Era João! Ou seria...bem, não importa.

Não me culpem por não saber o nome do menino, sou apenas o narrador e ninguém sabe o nome dele. Às vezes acho que nem mesmo ele sabe.

O menino não conhecia o Natal, pois nem tinha consciência das datas, muito menos de um calendário. Ele não sabia nenhum dos seus significados, pois nunca o ensinaram a ler.

Não tinha diferença se era uma sexta-feira, ou um domingo, se era dia primeiro de janeiro ou vinte e cinco de dezembro. Todos os dias eram iguais para o menino.

Ele não tinha casa, não tinha uma rua fixa para dormir, mas suspeitava que tinha pais, apesar de não poder afirmar. Afinal, um dia alguém disse perto dele algo sobre todos as pessoas terem vindo de alguém.

Então, algum dia deve ter existido uma pessoa que fez com ele existisse.
"Essa pessoa foi burra, se eu achasse ela, falaria que cometeu um erro".

Era o pensamento do menino, a respeito da misteriosa pessoa que teve o poder de fazer com que ele existisse.

Quem faria um menino sem nome? Quem faria um menino sozinho?
Ele não sabia qual era sua idade, ninguém sabia, mas não tinha nem entrado na puberdade. Suas pernas negras continuavam livres de pelos, a voz permanecia fina e o rosto, infantil, apesar dos olhos extremamente doloridos e conscientes.

Eu, o narrador, costumo falar de pessoas importantes. Gosto principalmente dos grandes nomes da música, mas abro um espaço para outras celebridades. Então, você, leitor, deve estar se perguntando o motivo de estar falando sobre esse menino.

Se for um leitor rigoroso, já deve estar entediado. Se apreciar grandes emoções, já deve ter desistido de ler e nunca chegará a esse parágrafo. Se for curioso, deve estar atento e prestes a se decepcionar.

Só estou falando desse menino, pois, apesar de não ter nome e ninguém nunca ter se importado com ele, virou notícia em todos os jornais da grande capital do Rio de Janeiro.

Na manchete de jornal, bem na capa, estava escrito com letras garrafais: "Menino morre na noite de Natal".

Nem mesmo o jornal se preocupou em saber o nome do menino, mas se ele não tinha documentos, não tinha motivo para alguém se importar.

A morte chama atenção. Ela proporciona ao defunto alguns minutos de choque, alguns minutos em que vivos, se surpreendem, se compadecem por sua vítima.

Se esse menino não tivesse morrido na noite de Natal, eu nunca estaria falando sobre ele e você nunca estaria lendo algo sobre alguém sem nome. Ele deve ter ficado agradecido a morte, mesmo que tenha o levado de forma violenta.

Assassino brutal, disse o jornal. Ainda não sabemos quem foi, disse a polícia.

Sinceramente, vocês acham que alguém quer descobrir o assassino?

Quantos moleques já morreram e ninguém fez nada?
"Menos um bandido." Foi a conclusão de uma senhora, quando ligou a televisão com seus netos ao seu lado.
Ele nunca roubou ninguém, mas isso ninguém se interessa em saber.

Afinal, era só um "moleque negro", como o pai branco falou aos seus filhos que abriam os presentes de natal.

Você mesmo, leitor, se não fosse por mim, jamais se importaria. No máximo, ficaria impactado ao saber que um menino, por volta dos dez anos, morreu a facadas.
"Quem mata na noite de Natal?", uma adolescente, surpresa, sussurrou na mesa repleta de comida.

Se essa jovem fizesse essa pergunta a mim, que tenho experiências com histórias, eu diria que esse assassino, um dia, foi um moleque como o que morreu. Ou ainda pior, é alguém que nunca conheceu a realidade das ruas que o menino, tão novo, presenciava.
"Por que você está falando sobre isso? Natal é um dia feliz!"

Se você se identificou com essa pergunta, seguida da afirmação, fico feliz e triste ao mesmo tempo.
Entenda, eu narro histórias, então não sou feliz e nem triste por mim mesmo. Eu sinto o que os outros sentem, reajo da forma que as pessoas reagem, gosto do mesmo que os leitores e sou cruel ou arrogante, se o autor for. Eu apenas sigo os sentimentos, os conhecimentos de acordo com o público-alvo, de acordo com quem está transmitindo a mensagem.

Hoje, o menino é o centro das minhas palavras, era para ser o protagonista, mas ele não tem voz.
Então, saindo do meu lugar de origem, como um mero observador, nesse conto eu sou a voz do garoto morto e estou transmitindo meus próprios sentimentos.
Vamos recapitular o que leram até agora, mas primeiro, deixem eu explicar o porquê fico feliz e triste se você está incomodado com o rumo desse conto.

Fico feliz, porque se você acha que contos de natal são felizes, é porque o seu natal é feliz e fico triste, porque isso mostra que você é incapaz de ver através dos olhos de outra pessoa, de sair da sua perspectiva.
Voltando ao que eu já narrei, alguém achou estranho quando eu disse que não me importava com o nome do menino? Alguém se indignou quando eu falei que preferia celebridades e que nunca narraria sobre um menino qualquer?

Se você, leitor, não teve nenhuma reação de choque ou raiva, eu é que estou surpreendido, pois a minha intenção foi incomodar, causar revolta.
Eu poderia ter focado minha história em um senhor solitário, em uma mulher bem sucedida, em uma criança que acredita em papel Noel, mas em vez disso, escolhi falar sobre o que ninguém fala.
Esse menino, esse moleque, era apenas um morador de rua, que nem sequer conhecia o Natal e seus significados. Ele foi rejeitado por todos, esquecido e nunca teve a oportunidade de se unir a sua família, ou de comer uma ceia e ganhar presentes.

Novamente, caro leitor, você pode estar se perguntando qual o motivo de tudo isso e a resposta é simples, eu desejo dizer qual o significado do Natal para mim.

As crenças, são importantes para cada um no seu individual, a ceia e a reunião de família, são importantes para cada pessoa que pratica esses atos, os presentes são uma maneira superficial de trazer alegria, pois isso nesse conto, não abordei nenhum desses temas.

Pois, para mim, que não sou nem uma pessoa física, mas um contador de histórias, o natal pode se tornar a oportunidade das pessoas praticarem a humanidade que deveriam fazer todos os dias.

Já que é a época que todos falam sobre o amor e a paz, cada um podia falar menos, abrir mão de um pouco de seu conforto e evitar que outros meninos, como o que morreu no natal, tenham o mesmo destino.

Esse menino qualquer, representa todas pessoas sem voz, presas a situações, sem comida ou sem liberdade, vítima da família ou do preconceito, sem dinheiro ou sem carinho. Se você, leitor, olhar para o lado, verá que existe milhares de outros meninos gritando por socorro e ninguém os ajuda.

O menino que você pode mudar a vida, talvez seja a mulher que apanha, a criança abandonada, o idoso esquecido, o morador de rua, a viúva, aquela pessoa que perdeu a casa ou aquela que perdeu a esperança e a alegria de viver.

O sentido do natal para mim, é deixar renascer dentro de nós a compaixão, para que assim, nem que seja com um abraço, possamos salvar a vida de alguém que há muito tempo morreu sem que ninguém percebesse.

Quem é o menino qualquer ao seu lado?

Ele pode estar prestar a morrer na noite de natal.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!
Feliz Natal :)
Seja um pequeno papai Noel: Nesse Natal, dê presente ao autor, o seu comentário. Ele ficará muitissimo feliz!



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