Depois da pequena piada de Gina, seguiu-se um silêncio incomodo, onde todos ficaram apenas se olhando, um esperando que o outro fizesse algo.

 - É isso? – Neville quebrou o silêncio. – Vamos ficar sentados aqui nos encarando esperando que algo aconteça?

— Oras, o que sugere que façamos? – Astoria o questionou.

— Eu não sei, alguma coisa! – Neville a respondeu.

— Quer saber? – Rony falou levantando-se. – Vou caminhar na praia.

— Como assim? Porquê? – Luna o perguntou confusa.

— Porquê? – Rony repetiu ironizando. – Por que quero dar um tempo dessas esquisitices. Primeiro, pedras com nossas iniciais, depois a pedra voa e traz um pedaço de papel sabe-se lá de onde, um maluco nos dando tarefa, e antes de tudo isso, recebi uma ligação maluca com máquinas fazendo barulhos e ninguém falou nada! O que me deixou muito intrigado, porque somente minha família e o meu trabalho sabem da existência daquele número! – Respondeu grosseiramente.

— Espere, alguém te ligou e você ouviu sons ao fundo? – Hermione o questionou lembrando-se da ligação que recebera um pouco antes de embarcar. E também se lembrou do motivo que a fizera esquece-la. – Ei! Foi você que esbarrou em mim! Seu mal-educado! Nem parou para se desculpar.

— Desculpe? – Rony disse com as orelhas vermelhas. – Porque a pergunta? – Mudou de assunto. - Vai dizer que também te ligaram?

— Sim. Um número desconhecido, eu atendi ninguém falou nada e então desligaram. – Hermione o respondeu.

— Ei! Também me ligaram. – Harry também se lembrou de quando fora interrompido de sua caça ao sapato. – Um número desconhecido, não falaram nada e desligaram. Achei ter sido um trote.

— Também me ligaram. – Fora a vez de Astoria. – Não sei se era um número desconhecido, mas também não falaram nada e desligaram.

— Tudo bem.... Quem aqui recebeu uma ligação em que ninguém falou nada e depois desligaram? – Gina perguntou a todos e em seguida levantou a própria mão.

Todos levantaram as mãos.

— E quem aqui viu uma moça de cabelos azuis no aeroporto? – Draco perguntou e dessa vez apenas ele levantou a mão. – Ninguém? Mesmo? Eu não estou louco. Ela estava lá.

— De cabelos azuis? – Harry questionou duvidando.

— Sim, cara! – Draco reafirmou. – Ela tinha até um...

— Não importa. – Rony o cortou. – Eu estou indo.

— Rony, posso ir com você? – Hermione perguntou hesitante.

— Claro. – Respondeu com um sorriso.

— Ei! Não se atrasem para o jantar, crianças! – Ouviram Gina gritar quando já estavam a alguns passos de distância do grupo.

— Gina tem um humor incrível. – Hermione comentou sorrindo.

— Ela me lembra meus irmãos mais velhos, Fred e Jorge. – Rony acrescentou. – Eles são gêmeos e vivem fazendo brincadeiras, sabe? Soltando piadas...

— Eles parecem legais. – Hermione disse quando viu que Rony não terminaria a frase.

— Até você virar alvo de alguma das pegadinhas deles. – Rony a alertou.

— Então eles pegam pesado?

— Sim..., mas e você? Tem irmãos? – Rony resolveu que queria saber mais sobre a morena. Mesmo que tivessem passado a maior parte do tempo juntos não tiveram muito tempo para conversar de verdade.

— Ah, não. Sempre foi só eu. – O respondeu em um tom tristonho. – Eu sempre quis ter um.

— Eu poço te garantir que irmãos não são tão legais quanto parecem. – Rony disse na tentativa de animá-la novamente.

Funcionou, Hermione sorriu mas voltou a afirmar que mesmo assim gostaria de ter tido um irmão. Vendo que não adiantaria insistir naquele assunto resolveu pensar em um novo, porém ela foi mais rápida e logo se fez ouvir.

 - Sei que você estava querendo esquecer esse assunto, mas... com toda essa história de dono e cumprir desafios, você não acha que sairemos daqui tão sedo, não é? – Ela perguntou hesitante, porém mais afirmando que perguntando.

— Sim, acho que vamos ficar aqui por um longo tempo.

—-------------------

A madrugada chegou e junto com ela Rony e Hermione.

— Caramba! Achei que teríamos que ir atrás de vocês. – Astoria reclamou quando os viu se aproximando.

— Desculpe, nós meio que perdemos a noção do tempo. – Hermione se explicou assim que alcançaram Astoria.

— Ei, estive pensando, e... bem, naquele papel diz que cumprimos o primeiro desafio. Mas qual era o primeiro desafio? – Harry se fez ouvir depois que Rony e Hermione juntaram-se ao grupo na areia.

— Matar o lobo? – Luna sugeriu.

—Juntar as pedras? – Dessa vez fora Neville quem falara.

— Isso não importa mais. – Draco se pronunciou. – O que importa é o que vai acontecer, não o que já aconteceu.

— Draco está certo. Temos que pensar no que vai acontecer. – Hermione mostrou a sua opinião.

— E o que vai acontecer? – Gina os questionou.

— Esse é o problema. Não sabemos. – Rony a respondeu muito sério.

—-----------------

Gina abriu os olhos de repente na poltrona em que escolhera para dormir. Acabara de acordar de um sonho muito estranho. Olhou para sua esquerda e viu no escuro que Hermione e Luna ainda dormiam, olhou para a direita e soube pela pequena janela do avião que ainda era noite. Não conseguiria voltar a dormir mesmo que quisesse. Decidiu se levantar e no processo seu pescoço estalou e desejou ter uma cama, ou até mesmo um saco de dormir já que provavelmente não sairão dessa ilha tão sedo.

Fez seu caminho para fora do avião e sentou-se areia. Não sabia por quanto tempo ficou lá, até que foi tirada de seus pensamentos por alguém a tocando no ombro.

— O que faz já acordada? – Ouviu Harry perguntar à sua esquerda.

— Só não consegui pegar no sono de novo. – O respondeu enquanto ele sentava ao seu lado. – Mas, e você?

— Não consegui dormir direito. Aquela poltrona está matando minhas costas. – Ele puxou conversa.

— Nem me fale. Acho que se eu for dormir ali mais uma noite vou acordar andando curvada. – Brincou em resposta

— Então seremos uma dupla de curvados. – Harry brincou arrancando um sorriso da ruiva, mas durou pouco e logo ela assumiu uma expressão séria. – Qual o problema?

Gina soltou uma risada pelo nariz. – Qual o problema, Harry? Olhe em volta. Esse é o problema. – Respondeu em um tom gentil, para que ele entendesse que ela não estava querendo ser grossa.

— Certo. Pergunta idiota. – Ele disse. – Mas acho que não é isso que te incomoda.

— Não é mesmo. – Ela concordou. – É esse sonho esquisito que tive.

Ele apenas a olhou esperando que ela decidisse se contaria ou não.

— No sonho, eu estava andando nessa floresta quando ouvi alguém gritar em agonia. Achei que era coisa da minha cabeça e continuei andando, mas aí ouvi outra vez, e dessa vez gritaram por mim, era Hermione. Ela estava em apuros e estava chamando por mim. Então comecei a correr na direção dos gritos, mas parecia que estava ficando cada vez mais longe. Daí de repente eu trombei em alguma coisa e antes de atingir o chão eu acordei.

— Bem, foi só um sonho... certo? – Harry falou depois de alguns segundos em silêncio.

— Espero que sim.

—--------------------

O dia mal amanheceu e já estavam todos de pé, ansiosos para conferir se a promessa do papel dos céus seria cumprida. No fundo, todos sabiam que sim, mas preferiam acreditar que aquilo não estava acontecendo.

E depois que o último componente do grupo levantou, - esse seria Draco - todos rumaram para onde supunham que a recompensa estaria, o antigo esconderijo das pedras. Deduzir que as pedras eram as chaves citadas no papel foi um mérito total de Hermione.

Ao chegar, quase sem surpresa, encontraram no esconderijo a recompensa.

Estavam lá, oito barracas de acampamento colocadas lado a lado juntas a oito sacos de dormir, e ao notarem isso, Harry e Gina buscaram o olhar do outro e deram um sorriso cúmplice. Também haviam três malas, uma cheia de bananas outra com garrafas de água e a última com comida enlatada e um abridor de latas, haviam também quatro pás, e preso em uma das barracas, um outro pedaço de papel com aparência de antigo.

— “Olá, Escolhidos! Serei breve. Racionalizem a comida, não virá outro carregamento tão cedo. Na segunda tarefa façam uma limpeza. Quando a segunda tarefa estiver cumprida entrarei em contato novamente, saberão quando virem. O dono.”

— Limpeza? Onde? – Luna perguntou assim que Hermione terminou de ler o papel.

— Na praia, Luna. O dono quer que a gente se livre dos corpos. – Neville a respondeu. – É para isso que servem as pás

— Já estava na hora, não é? Quero dizer... estão começando a feder. – Draco se pronunciou.

— Então, vamos começar? Quem vai cavar? –Gina perguntou e ninguém se voluntariou. – Vamos, gente! Alguém tem que ir.

— Vai você já que está tão animada. – Astoria a respondeu.

— Eu vou! Mas ainda faltam três pás a serem usadas.

— Eu também vou. – Harry se voluntariou.

— Eu juro que iria. Mas tenho apenas um braço disponível. – Hermione disse parecendo realmente mal por não poder cavar.

— Eu vou. - Rony falou indo pegar uma pá. – Ainda sobra uma. Draco? Neville?

— Eu pego essa. – Neville falou recolhendo a pá que Rony estendia.

— Tudo bem, vocês se safaram de cavar. – Gina disse olhando para Astoria, Luna, Draco e Hermione. – Mas vão ter que levar os corpos até as covas.

— Gina, como espera que eu arraste corpos com apenas um braço? – Hermione a questionou.

— Tudo bem! Você se safou da segunda tarefa. – Gina cedeu. – A não ser que tenham uma desculpa tão boa quanto a de Hermione, o resto trabalha.

—-------------------

— Onde estávamos com a cabeça quando começamos a fazer isso? – Astoria reclamou depois de colocar o quarto dentro de uma das covas rasas que estavam cavando. – Nunca vamos terminar. O dia já se passou inteiro e temos apenas doze corpos enterrados. Não chegamos nem na metade da metate... da metade. – Constatou após dar uma olhada na praia.

— Concordo plenamente. – Draco se manifestou. – E para completar eu ainda não comi nada hoje.

— Gente, vamos fazer um intervalo. – Neville disse já soltando a pá.

Todos pararam o que estavam fazendo e foram fazer companhia a Hermione, que estava sentada na sombra do avião apenas os observando.

— Agora eu também queria ter um braço inútil. – Harry brincou ao sentar-se ao lado de Hermione.

— Se eu pudesse eu te dava o meu. – Ela respondeu com um sorriso. – Gente, eu coloquei as garrafas d’água aqui dentro do avião, junto com a comida. – Ela avisou e quase que no mesmo instante todos dirigiram-se para dentro do avião.

— Ei, Rony! – Ela o chamou quando o viu sair de dentro do avião segurando uma garrafa com água em uma das mãos e uma banana na outra.

— Sim? – Ele falou enquanto mastigava um pedaço da banana.

— É uma coisa tem me incomodado desde que você colocou meu ombro no lugar. – Começou a falar. – Você pode achar que estou doida, mas vou dizer mesmo assim... não sinto como se meu ombro estivesse deslocado. Digo, ainda dói. Mas eu acho que devia estar doendo mais... entende?

— Sim... – Ele disse lentamente. – E porque eu te acharia doida por isso?

— Eu ainda não terminei. - Ela o respondeu. - Acho... acho que estou me recuperando mais rápido que o normal. – Disse hesitante, receando que ele achasse que ela bateu a cabeça na queda e estava enlouquecendo agora. Normalmente não se importaria com o que ele pensasse dela. Não sabia porque, mas não queria que ele achasse que ela era doida.

— Está dizendo, que de algum jeito você está recuperando rápido? – Ele perguntou. – Tem certeza? Acha que já consegue mexê-lo ao menos um pouco?

— Sim! Veja. – Ela disse e fez alguns pequenos movimentos com o braço.

— Mas, só faz dois dias... como...? – Rony balbuciou confuso. – Acha que amanhã já dá para começar com a fisioterapia? – Perguntou recuperado da pequena confusão.

— Talvez... – Hermione respondeu, agora ela estava confusa. – Não dizer que estou doida?

— Não. Estou vendo que está melhor, está quase completamente recuperado eu diria. Só não entendo como, mas suponho que você também não, então... – Rony respondeu gentilmente.

— Pessoal, tive uma ideia para acelerar as coisas. No ritmo que estamos indo só vamos terminar em uma semana. Venham aqui fora. – Ouviram a voz de Luna chamar o grupo.

— Pode dizer. – Gina pediu quando todos já estavam por perto.

— Seguinte. Porque no lugar de ficar fazendo várias covas, não fazemos apenas uma enorme? Daí podíamos ficar revezando as pás enquanto os outros descansam. É melhor do que ficarmos todos cansados ao mesmo tempo, tendo que parar de progredir para podermos descansar. – Luna sugeriu argumentando em favor de sua ideia.

— Acho que pode funcionar. – Neville se manifestou.

— É. Vamos fazer isso, então? – Harry perguntou ao grupo. Todos confirmaram. – Nesse caso, mãos a obra. – Completou e fez seu caminho em direção as pás, com Draco, Neville e Rony o seguindo.