Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Fala, gente. Mais um capítulo. Até o final de semana devo conseguir postar outro.
Forte abraço, pessoal!



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Já se passaram 3 semanas desde o “pequeno” incidente em que quase matei o Ricardo. Desde desse tempo, ele tem me evitado. Eu até tinha vontade de desistir dessa ideia louca de aprender a dirigir, mas, pensando melhor, ele que vai pagar, isso não vai mesmo sair do meu bolso. Posso nunca comprar um carro, mas terei habilitação. Pensando dessa forma, eu fiz os exames médicos e de vista e agora já estou nas aulas práticas. É um pouco complicado, mas já consigo dirigir sem atropelar ninguém. O João que me leva para as aulas, todo dia, e ainda me ajuda com umas dicas.

Parece que o atropelamento não fez nada bem para o Animal, ele está mais azedo que o normal, tanto que despediu um dos empregados daqui. Ainda bem que não foi o João. Agora estamos esperando o anuncio surtir efeito e aparecer algum louco que aceite trabalhar aqui.

–Como foi a aula hoje? –O João me perguntou, quando chegamos à fazenda.

–Um pouco chata, mas tenho que fazer, né?

–Não atropelou ninguém, atropelou? –Perguntou, rindo.

–Não. Sabia que essa piada perdeu a graça na 5ª vez que me perguntou?

–Não pra mim. Eu nunca vou esquecer sua cara de desespero por ter atropelado o patrão.

–Muito engraçadinho... Me diz, tem alguma novidade? Já descobriu os segredos que o Animal esconde.

–Não e nem quero descobrir segredo nenhum. Estou feliz e pretendo continuar assim. A única novidade que tem é que o patrão contratou um cara novo para trabalhar.

–Ele é legal?

–Não sei. Não consegui falar com ele ainda.

–Tomara que seja.

–Também espero. Esses últimos tempos passaram uns por aqui que deram trabalho.

–Você também é antigo aqui, não é?

–Já estou tem quase um ano. Eu aprendi que não pode contrariar o patrão se quisermos manter o emprego. Do jeito que você briga com ele, não sei como ele ainda não te tirou a pontapés.

–Aquele lá precisa de alguém que também fale grosso como ele.

–Mesmo assim, não me atrevo. Mais vale um covarde vivo e com emprego do que um herói morto.

Fomos conversando nesse clima animado até chegarmos à casa grande e vermos o novo empregado, sentado na varanda e sem fazer nada.

–Olá, amigo! –O João o cumprimentou.

–Fala aê! –Ele retribuiu com um aceno.

–Você deve ser o novo empregado. Eu sou o João e essa aqui é a Sofia. Também trabalhamos aqui.

–Sou o Jaime. Teu patrão me deu uma chance e disse que era pra eu falar com um tal de João. Deve ser você.

–Sou eu sim. Venha, vou te mostrar os afazeres.

–Até mais, gata. –O novo empregado me disse e piscou um olho ao passar por mim. Que intimidades são essas? Não gostei disso aí não...

Entrei na casa e fui preparar o jantar. Se desse, depois eu tentaria arrumar um pouco a casa, passar um pano. Esses dias eu tive muito pouco tempo e os móveis já estão bastante empoeirados. Não sei como o Animal ainda não gritou comigo por isso.

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Depois de preparar o jantar, decidi-me por espanar um pouco os livros da biblioteca. Aquele lugar não pode ficar sujo, não quero que os livros estraguem. Não são meus, mas, desde nova, aprendi que livros são algo precioso. Adorava quando estudava. Sempre pegava alguns para ler na biblioteca da escola, mas cresci, fiquei sem grana e agora não leio nem o jornal... Não, eu leio sim, mas aquela apostila chata de normas de trânsito. Ainda preciso estudar mais essa porcaria.

–Não devia estar estudando para suas avaliações? –O Animal entrou na sala, silenciosamente o que é um milagre por ser ele.

–Estou limpando um pouco esses livros antes que a poeira fique encrustada de vez neles.

–Tem menos de um mês para aprender a dirigir e espero que aprenda. Não quero ter investido mal o meu dinheiro. Essa poeira pode esperar.

–Mas é mesmo um mal agradecido. Eu ainda tiro um tempo para cuidar da SUA casa e ainda reclama.

–Mal agradecido?! Eu estou te ajudando, te livrando do trabalho para que possa aprender sem interrupções e ainda te pago o salário normal. Se está tão infeliz, saia. Vá embora daqui. Você não é nenhuma prisioneira. –Ele falou, quase gritando.

–Eu só queria que você fosse menos amargurado.

–E eu que você não questionasse e nem criticasse tanto, mas nem sempre temos o que queremos, quase nunca temos o que queremos. –Ele falou, com a voz cansada. –Vá estudar, Sofia. Eu tenho te visto praticar e ainda não está bem para dirigir. Aproveite esse tempo livre, pegue a picape e vá treinar.

Ele nem sequer olhou mais pra mim, apenas saiu dali e sumiu pelo corredor. O que aconteceu? Ele tem me observado? Como se nunca o vejo? Não entendo esse cara. Às vezes é tão insuportável, indiferente e outras tão observador. Queria entender o que se passa em sua cabeça e descobrir seus segredos. No fim, ele tem razão. Eu não dirijo bem, mesmo com o João e o Moacir me incentivando e dizendo o contrário. Acho que não me faria mal treinar um pouco.

O João, a essa hora, já se recolheu em sua casinha. Não vou incomodá-lo com meus problemas. Afinal, eu terei que me virar sozinha para dirigir, não é? Peguei a picape e seja o que Deus quiser. É difícil, não vou negar, ainda não consigo saber o quão sensível um acelerador pode ser. Ou vou muito rápido ou muito devagar. Pior que isso são as curvas. Estacionar então é o terror.

–Vamos lá, Sofia. Você consegue. Não dê esse gostinho para o Animal, aprenda a dirigir e mostre que é capaz.

Pisei, de leve, no acelerador e comecei a fazer um percurso com curvas que o João deixou montado com cones para mim. Esbarrei algumas vezes nos cones, mas estou melhorando. Ficou um de pé. Acho que consigo controlar isso até o fim do mês.

Depois de treinar umas meia hora, desisti e guardei a picape. Já ia entrar, mas dei de cara com o novo empregado. Não sei o porquê, mas não gosto muito dele.

–O que os pobres cones te fizeram, gata? –Ele perguntou com uma intimidade que não dei.

–Nada. –Falei, seca.

–Calma aí, eu só estou brincando. –Ele falou, com um riso.

–Mas não gosto dessas brincadeiras.

–Desculpa. Não faço mais. Será que não podemos ser amigos? O pessoal daqui é tão chato e o serviço é pior ainda.

–O pessoal daqui não é chato e, não me leva a mal, mas estou cansada e ainda tenho muito o que fazer.

Eu já ia entrar, mas ele me segurou pelo braço.

–Não vai. A noite é uma criança.

–Me larga!

–Algum problema aqui? –O animal apareceu da porta e o Jaime me soltou.

–Nada, patrão. Só estávamos batendo um papo. –Ele disse.

–Pois batam papo em outro local mais afastado da casa. Não gosto de barulho embaixo da minha janela.

–Foi mal, patrão. Tô saindo. –O Jaime disse e se afastou.

–Obrigada. –Agradeci ao animal.

–Agradeceu por quê? Por eu reclamar do barulho?

–Não foi o barulho que te incomodou. Eu estava fazendo mais que isso com o carro e você não disse nada.

–Estava aturando porque você precisa aprender a dirigir. Abra mais nas curvas ou sempre atropelará os cones. –Ele falou e saiu dali rapidamente.

É, parece que o animal está ficando mais manso. Acho que esse aí só tem fama de mau. No fundo deve ser um cordeirinho...

Continua.


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