Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Fala, pessoal.
Mais um capítulo pronto. Espero que gostem.



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Ainda não gostava do Ricardo, mas o aturava melhor. Depois de um mês trabalhando aqui e trocando farpas, você se acostuma. Eu passei a falar apenas o necessário para ele, mas, às vezes, não aguentava suas rabugices e respondia no mesmo tom. Não sei como ele ainda não me despediu. O Moacir que se diverte com isso. Acho que é o único empregado que gosta dele aqui.

Enfim, estou feliz. Recebi meu primeiro pagamento e pude, finalmente, quitar o aluguel que devia na cidade. Fiquei dura, sem um tostão no bolso, mas estou feliz. Apesar de carrancudo, o animal é generoso. Me pagou até mais que o contrato. Também não reclamei, afinal, mereço por aturar ele.

–Sofia, preciso falar com você. Me encontre na sala de leitura. –O animal apareceu, interrompeu minha limpeza da cozinha, e ainda falou com aquele tom autoritário que só ele sabe fazer.

–Ai, Deus! Vamos lá. Espero que eu não esteja despedida...

Cheguei na sala de leitura e o encontrei sentado na poltrona. Ele indicou para que eu me sentasse no sofá. Isso está me dando medo. É agora que serei despedida (ou morta. Ainda acho que ele é algum traficante, produtor de maconha.). Sentei com certo receio. Nunca conversei com ele e não sei o que esperar.

–O que quer, patrão? –Perguntei, tentando parecer segura, mas estou morrendo por dentro.

–Você realmente vai ficar nesse trabalho?

–Quem decide isso não sou eu, é o senhor.

–Eu não pretendo te despedir, mesmo com as suas indisciplinas. Não quero gastar dinheiro à toa, então pergunto novamente: Sua intenção é continuar trabalhando aqui ou pretende pedir demissão? –E essa agora?! Esse cara é louco. Admito que é chato, mas nunca encontrei um trabalho que me pagassem tão bem. Eu que não largo esse osso, ele ainda tem bastante carne pra eu roer.

–Pretendo ficar.

–Tem certeza?

–Absoluta.

–Ótimo! Então você vai se registrar em uma auto escola e aprenderá a dirigir. O Moacir viaja de férias daqui a dois meses e precisarei de alguém da casa para fazer as compras, ir na cidade.

–O quê?! Você enlouqueceu? Como aprenderei a dirigir?

–Estudando e se dedicando.

–Mas a casa me consome todo o tempo. Não conseguirei conciliar os dois.

–Contanto que faça o almoço e a janta, saberei conviver um tempo com a poeira nos móveis.

–Não. Eu não tenho senso de direção. Tropeço até em meus próprios pés. Não saberei dirigir.

–Isso se aprende e acho melhor aprender caso queira manter o seu emprego.

–Você enlouqueceu, só pode!

–Dois meses contando a partir de hoje. O Moacir e o João ficarão encarregados de te ensinar. Boa sorte, Sofia!

Ele se levantou e saiu da sala. Eu continuei ali, sentada, tentando entender o que acabara de acontecer. Não conseguirei aprender a dirigir em tão porco tempo. Nunca peguei no volante e a única placa que conheço é a de parar. Estou ferrada, lascada. Onde fui amarrar meu cavalo? Começo a achar que a demissão não seria tão má.

–Pronta para sua primeira lição? –Moacir apareceu da porta e perguntou.

–Você sabia?

–Ele me falou ontem. Você prefere a teoria ou a prática primeiro?

–Qual a menos pior?

–Acho que a prática. Vamos?

Levantei-me resignada e fui. O Moacir me fez sentar na velha picape enferrujada da fazenda. Ele se sentou ao meu lado e começou a me explicar os comandos. Ainda acho que isso não dará certo. ]

–Alguma dúvida? –Perguntou quando terminou com a explicação.

–Todas, Moacir. Não entendi nada.

–Entendeu sim, não faça drama. Solte freio e pise no acelerador devagar.

Com certo receio fiz isso, mas não esperava o acelerador ser tão sensível. O carro desembestou e eu quase matei o Animal que estava passando perto. Dessa vez ele me coloca na rua! Sai correndo e o ajudei a levantar. Só então vi que esmaguei o pé direito dele embaixo da roda. Gritei para o Moacir e ele deu a ré.

–Me larga! estou bem. –Ele gritou, recusando minha ajuda.

–Precisamos ir ao médico! Você podia ter morrido!

Tentei segura-lo, novamente, mas ele se esquivou.

–Estou bem, tirando uns arranhões Você é tão incompetente que não serve nem pra me matar.

–Mas o carro passou por cima do seu pé. Olhe o estado!

–A única coisa que vou precisar é de um sapato novo, já que me fez o favor de destruir esse.

–Não é possível que não esteja sentindo dor. Essa picape pesa muito, no mínimo quebrou seu pé.

–Estou bem. Dá pra me deixar em paz?! –Gritou.

O Moacir saiu do carro e me deu o braço como apoio. Estava nervosa e tremia muito.

–Moacir, vamos leva-lo ao médico. –Supliquei.

–Ele está bem, apenas o deixe. –Ele falou, com uma calma que me assustou.

O Ricardo parece que ignorou o fato de que havia sido atropelado e saiu mancando para a casa. Ele está com dor desse pé e a culpa é minha. Nesse momento, o João apareceu com um copo de água com açúcar para mim. Não sei em que momento ele viu a confusão, mas agradeci por aquilo. Estava precisando. Eu queria sair correndo dali para ajudar ao Ricardo, mas o Moacir me obrigou a sentar e me acalmar.

–Porra, Moacir, o Ricardo é que foi atropelado. Deixa eu ir ajudar, tentar reparar a merda que eu fiz! –Gritei.

–Ele está bem, não se preocupe. Deixe-o sozinho por um tempo.

–Não posso. Ele deve estar morrendo de dor.

Sem pensar, sai correndo e fui para a casa. O achei sentado no sofá passando merthiolate nos arranhões em seus braços.

–Vamos ao médico. –Falei me aproximando dele e tentando fazê-lo levantar da cadeira.

–Estou bem. Saia daqui se não quer ser despedida. Vá aprender a dirigir e me deixe em paz. –Falou com uma voz calma.

–Como acha que poderei aprender alguma coisas depois desse susto? Quase te matei! Nunca mais ponho as mãos num volante.

–Então acho que terei que arrumar uma outra empregada. –Disse, sem me olhar.

–Porra, será que não viu que eu quase te atropelei? Será que pode deixar de ser você por um minuto e ver o perigo que correu? –Gritei o segurando pelos braços e o fazendo olhar para mim.

Ele olhou para minhas mãos e, delicadamente, as retirou de seus braços e voltou a limpar seus machucados.

–Dois meses e nenhum dia a mais para você aprender a dirigir e a tirar a habilitação. –Disse, calmamente.

Qual o problema desse cara?! Peguei o remédio de suas mãos, me sentei ao seu lado e comecei a fazer curativos nos arranhões do braço dele. Ele me lançou um olhar indecifrável, mas não disse nada, permitiu que eu continuasse o que estava fazendo. Era o mínimo também, depois de quase ter o matado.

–Já está bom! –Ele disse, se levantando e se esquivando de mim.

–Eu que decido quando está bom. Deixa eu ver esse pé. –Disse, com raiva e levantando-me atrás dele.

–Meu pé está ótimo.

–Ótimo?! Já reparou como seu sapato ficou detonado? Imagina o seu pé...

–Não sinto dor nenhuma. Agora vá trabalhar.

–Deixa eu pelo menos ver como está. Ainda acho que deveria procurar um médico.

Ele se virou, furioso, e caminhou em minha direção. Já não mancava, percebi. Me encurralou contra a parede e me falou com uma voz carregada de ódio e próximo demais de mim.

–Se não quer ser despedida agora mesmo, vá com o Moacir se registrar na maldita auto escola e me deixe em paz!

Ele subiu para o quarto e escutei o estrondo que a porta fez ao bater. Ele estava com raiva. Eu tentei ajudar, Ingrato! Sai de lá e fui falar com o Moacir. Talvez ele conseguisse colocar um pouco de juízo na cabeça daquele louco.

–Demorou para ele te expulsar. –O Moacir disse, em tom de riso.

–Ele é um ingrato, isso sim. Moacir, vai lá falar com ele. Tenta convencer aquele animal a ir ao hospital. O carro esmigalhou o pé dele e ele tá agindo como se não fosse nada.

–Deixa ele, Sofia. Ele só quer ficar sozinho. Vamos logo na cidade fazer sua inscrição na auto escola?

–Vocês são loucos, né?! Eu acabei de atropelar o Ricardo e ainda querem que eu tire minha carteira de habilitação.

–Foi um acidente. Você só precisa praticar e isso não vai conseguir se ficar se lamentando aí.

–E como acha que eu conseguirei estando nervosa desse jeito?!

–Você não vai dirigir hoje, é só o cadastro e os exames que iremos marcar.

–Não, hoje não. Não estou com cabeça para isso.

–Ele quer que te ensine a dirigir, você não quer aprender...Ah, Deus, vocês são dois cabeças duras! Daqui a pouco eu que desisto e peço demissão. Façam o que quiserem, só não descontem em mim depois! –Ele falou, alterado, e foi para dentro da casa.

O que acontece com esse pessoal? Será que eu sou a única que notou que um homem quase morreu aqui hoje? Bando de inconsequentes... Maldita hora que eu vim pra cá. Eu devia ter encarado ser atendente, me estressaria menos e não correria o risco de matar ninguém.

Continua.


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