Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 38
Capítulo 38


Notas iniciais do capítulo

Fala gente! Tudo bem com vocês?
Como prometido, mais um capítulo. Esse é do ponto de vista do Moacir. Espero que gostem. :)



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Eu torci muito para o Ricardo encontrar alguém, se apaixonar novamente, só não esperava de segurar vela depois de velho. Tem mais de uma semana que aqueles dois não se desgrudam. Sinto-me até mal de ficar perto e ver um momento um pouco intimo. Resta-me o João como amigo.

—O patrão não aparece mais não? –O João brincou, enquanto limpava a baia dos cavalos.

—E ele lá desgruda da Sofia, João?

—Demorou, mas aqueles dois estão se entendendo, não é?

—Finalmente.

—Bom, deixa eu ir lá, Moacir, que agora o meu trabalho ficou dobrado.

Ele saiu e eu fui para a varanda fazer uma hora. Eu que não vou entrar na casa com aqueles dois se beijando a cada vez que passam perto um do outro.

—Vai usar o carro hoje, Moacir? –A Sofia perguntou, assim que saiu.

—Não, Sofia.

—Vou pegar ele então, emprestado. Hoje é minha folga e o Ricardo me disse para leva-lo. Vou aproveitar para visitar meus sobrinhos.

—Ele te deixou sair? Agora vocês não se desgrudam mais...

—Não exagera.

—Não estou exagerando, mas é bom ver vocês finalmente assim juntos.

—Até mais tarde e não o torture muito.

Ela saiu e eu fui para a biblioteca. Tenho alguns documentos para arrumar, ao menos achei que faria algum progresso no meu trabalho, mas é impossível com o Ricardo bufando a cada dois minutos.

—Solta logo, desembucha. –Falei.

—O quê?

—O que pergunto eu. O que está te incomodando? Você está aí, fingindo ler, e bufando a cada dois minutos.

Ele fechou o livro, levantou e andou um pouco antes de falar.

—E se eu não for suficiente?

—Não for suficiente para quê?

—Para a Sofia. Eu já estou velho, Moacir.

—Existe Viagra para quê?

—Não estou falando só disso!

—E então?

—A Sofia é uma mulher extraordinária. Eu não mereço ela.

Deus, não sei se bato nele ou sinto pena dele.

—Ricardo, será que dá para deixar de ser idiota e prestar atenção no que está dizendo. Sua namorada te ama. Só não vê que não quer.

—Namorada... É uma palavra tão estranha para alguém na minha idade.

—Do jeito que você fala, parece que tem 80 anos. Se o problema é a palavra, se case com ela e a chame de esposa.

Tá, acho que exagerei. Ele ficou branco como uma folha. Espero que não enfarte.

—Ela nunca iria querer casar comigo. –E voltamos para a alto piedade. –Ela merece alguém melhor, alguém inteiro e mais novo, que a agrade e a ame do jeito que ela merece.

—E por que esse alguém não pode ser você?

—Basta olhar para mim, Moacir.

—Eu estou olhando até demais e não vejo nada errado.

—Nada errado? Eu sou perneta, eu tenho demônios que nunca irão me largar. Seria egoísta de minha parte pedir para a Sofia assumir essa carga.

—Ricardo, eu te conheço desde que você era um bebê. Só não troquei suas fraldas porque sua mãe não me permitiu. Eu nunca, em toda minha vida, conheci alguém mais forte que você. Eu estive contigo nos seus piores momentos. Eu te vi tombar e levantar. Acho que já está na hora de se levantar de novo e deixar a felicidade entrar.

—Mas do que vale me levantar se eu tombar a Sofia com isso?

—Ela não vai tombar, pelo contrário.

—Eu não posso pedir para ela que assuma minhas inseguranças, Moacir. Eu não serei o suficiente para ela. Há muito eu não sou o suficiente para nenhuma mulher.

—Você era para a Márcia.

—Eu era, mas não tinha tantos demônios para me atormentar.

—A Sofia já mostrou algum sinal de que ela não te quer?

—Não, pelo contrário, ela está até carinhosa demais. Isso já está me deixando louco. Eu não estou conseguindo mais me segurar.

—Então qual é o problema, criatura?!

—Eu não quero que isso acabe tão cedo quando ela ver o desastre que eu sou. Eu quero acreditar por mais um tempo que eu sou amado.

Ele olhou para mim com lágrimas nos olhos. Merda!

—Vem cá, meu irmão. –Eu o abracei e deixei ele se acalmar um pouco.

—Desculpa, Moacir. Desculpa por você sempre ter que me consolar e me levantar. Desculpa por estragar sua vida.

—Ei, você é como meu irmão, minha família. Você não estragou nada. Eu estarei sempre aqui quando você precisar.

—Eu irei precisar quando a Sofia se cansar de mim.

—Ela não vai, Ricardo. Aquela mulher gosta de você. Só não vê quem não quer.

—Eu queria fazer as coisas direito com ela. As coisas estão andando em um ritmo tão rápido que eu me assusto. Tenho medo que esse fogo queime rápido demais e a chama se apague.

—Converse com ela então. Ela vai te entender.

—Ela vai entender que eu sou um velho, acho que ela já pensa. Outro dia, brincando, ela me chamou de eremita e é o que sou.

—Prove o contrário, então. A chame para sair, a leve para jantar.

—Eu não tenho mais carteira e não seria muito romântico se a deixasse dirigir.

—Chame um táxi.

—Será que ela aceitaria?

—Tenho certeza que sim. Não a deixe escapar, Ricardo. Essa mulher te adora. Não deixe seu passado arruinar o futuro que você pode ter.

—Eu vou tentar, mas é difícil.

Eu não queria deixa-lo sozinho, mas eu precisava falar com a Sofia. Eu liguei para ela e pedi se ela podia me encontrar, sem o Ricardo saber, para conversamos. Ela concordou e, em poucas horas, ela me buscou na entrada da fazenda e fomos a uma lanchonete.

—O que há de errado, Moacir? –Ela perguntou, assustada.

—Acho que você já deve ter notado que o Ricardo, o Animal, não passa de um filhotinho assustado.

—Já. Ele é um doce por debaixo daquela fachada.

—Deve ter reparado também que ele adora se auto depreciar.

—Já e eu odeio isso nele. Ele é maravilhoso e só ele não vê.

—Sofia, eu vou ser sincero com você, eu já vi ele cair e levantar e não é bonito. Eu não tenho certeza se ele aguentaria mais uma queda. Você está certa que quer assumir esse risco?

—Eu não sei o porquê, Moacir, mas eu gosto dele. Ele me desperta sentimentos que eu nunca senti com ninguém.

—Hoje ele veio falar comigo e está com medo de não ser o suficiente para você.

—Por quê?

—Ele teme ser velho demais e danificado demais.

—Ele é um idiota!

—Concordo.

—Mas um idiota adorável.

—Posso te pedir uma coisa, Sofia?

—Claro que pode.

—Eu vi aquele idiota nascer e crescer, eu segurei ele nos braços e eu estive com ele quando ele perdeu as pessoas que amava. Ele está inseguro, mas eu sei que ele gosta de você. Não o deixe duvidar que você sente o mesmo e não o deixe se afundar.

—Eu tento mostrar isso para ele todos os dias, mas acho que ele ainda duvida.

—Acho que você caiu do céu, mulher.

—Não, eu caí desempregada mesmo.

Ainda continuamos um tempo ali e a mulher, curiosa como sempre, quis saber como eu conheci o Ricardo. Eu contei para ela que eu era aluno do pai dele e, depois, eu comecei a trabalhar para o pai dele com 10 anos. Eu era o encarregado de organizar as papeladas e provas para ele. Eu vi o Ricardo nascer, eu o segurei quando era um bebê. Mesmo depois que eu parei de trabalhar para o seu Manoel, pai do Ricardo, eu ainda mantinha contato com a família. Depois de uns anos, me formei contador e, quando o Ricardo comprou a fazenda, ele me contratou para trabalhar com ele. Estou lá até hoje.

Eu me despedi da Sofia e voltei para a fazenda, de ônibus. O Ricardo passou a tarde  inteira trancado na biblioteca, possivelmente sentindo pena de si mesmo. Eu espero, realmente, que ele não fique depressivo de novo. Aquele idiota, como a Sofia o chama, é a pessoa mais difícil que eu conheço. Ele sabe que precisa de ajuda, mas se recusa a se tratar. Eu bem lembro como foi difícil fazê-lo ver o psicólogo.

Não aguento mais bancar o cúpido. Espero que esses dois se acertem logo, ou melhor, que o Ricardo se acerte logo. A Sofia está bastante certa. Deus, dai-me paciência para passar por essas coisas, já estou velho para aguentar dois idiotas velhos agindo como dois adolescentes apaixonados.

Continua.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Se desejarem, deixem vossa opinião. ;)
Obrigada por lerem.
Forte abraço e até mais!



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