Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 36
Capítulo 36


Notas iniciais do capítulo

Fala gente!
Mais um capítulo para vocês. Dessa vez, um capítulo fofo. :)
Espero que gostem!



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Passamos bastante tempo ainda na cabana e eu segurando ele enquanto chorava com as suas lembranças. Ele me mostrou todos os seus quadros e, com um pouco de dor, contou sobre sua mulher e seu filho. Sua mulher se chamava Márcia, seu filho Vitor, ele tinha quase oito anos quando aconteceu o acidente. Sua esposa também estava grávida de uma garota, mas eles nunca chegaram a decidir um nome. Ele comprou a fazenda para criar os filhos. Ele queria que eles corressem livres pela natureza. Logo depois começou a comprar os animais. Ele me falou, com pesar, que estava quase comprando um pônei para o seu garoto, mas nunca conseguiu fechar a compra antes do acidente.  Sua mulher também era designer e eles tinham uma boa condição financeira. Era feliz, ele me disse.

Depois do acidente, ele me contou que quase morreu. Simplesmente parou de comer e se entregou. Não queria saber de tratamentos e nem fisioterapias. Foi levado por quase um mês forçado no soro. Somente por insistência da Mariana e do Moacir ele começou a reagir. Ele começou a recuperar, aos poucos, o movimento nos seus membros e a aprender a andar com uma prótese. Levou mais de dois anos para se recuperar quase completamente.

Também perguntei se teve mais relacionamentos depois de perder a esposa. Ele não negou que tentou, mas disse que simplesmente não deu certo. Preferiu não entrar em detalhes e eu também não pressionei. Quando ele se sentir seguro, sei que irá me falar. Só isso que ele falou já foi um grande avanço.  Não quero sobrecarrega-lo mais. Ele já chorou muito por hoje.

Quando estava ficando tarde e escuro, ele sugeriu que fôssemos embora. Eu concordei. Estava um pouco frio e, com uma desculpa esfarrapada, me enrosquei um pouco nele. Ele passou um braço sobre meus ombros, enquanto andávamos. 

Assim que chegamos, encontramos o Moacir e o João na Varanda, nos olhando com um sorriso malicioso.

—Onde os bonitinhos estavam? –Moacir perguntou.

—Onde não te interessa. –O Ricardo resmungou.

—Me deve cinquentinha, Moacir. –O João falou e o Moacir tirou 100 da carteira e entregou para ele.

—Pague o da minha filha de uma vez. –O Moacir resmungou.

—Calma lá, vocês estavam apostando? –Perguntei.

O João olhou, culpado, para o Moacir e, falando algo sobre tratar dos cavalos, correu dali.

—Tá, eu a Mariana e o João apostamos quanto tempo vocês levariam para se declararem. O João apostou que seria antes do ano terminar, eu e a Mariana depois. Acho que perdemos.

—Vocês apostaram sobre minha vida sexual?! –O Ricardo gritou.

—Apostamos. Me diga uma coisa, foi você que tomou a iniciativa, não foi, Sofia?

—Na verdade, fui eu sim. –Falei, segurando o riso ao ver a raiva do Ricardo.

—Sabia. Ele te contou?

—Moacir... –Ele o ameaçou.

—Contou o quê? –Perguntei, curiosa.

—Sabe quanto tempo ele levou para convidar sua primeira namorada para sair? Não, né? 4 anos. 4 anos a cortejando antes de tomar coragem e, se não fosse por ela, mais 4 para se declarar.

—Moacir... –Ele o ameaçou.

—Bendita hora que eu também tomei a iniciativa, não é? –Brinquei.

O Ricardo ficou vermelho de vergonha e o Moacir nem tentou esconder o sorriso.

—Fico feliz pelos dois. Me perguntava quando teria que amarrá-los juntos para que se declarassem. Que bom que não precisei chegar a tanto. –O Moacir falou.

—Será que podemos entrar? –O Ricardo perguntou, tentando mudar de assunto.

Eu concordei e, lá dentro, o Ricardo pareceu um pouco sem jeito e se afastou um pouco de mim.

—Eu vou fazer a janta. –Falei.

—Tá. Eu vou tomar um banho e já desço.

Ele correu para o quarto e eu fui para a cozinha. Ele não é muito de demorar no banho, mas demorou, dessa vez, e desceu só depois da janta pronta. Jantamos em silêncio, mas nem eu e nem ele conseguimos evitar olhar um para o outro. O Moacir jantou rápido e, com a desculpa que não ia ficar segurando vela pro casal, desapareceu da nossa vista. O Ricardo me ajudou com a louça e, depois, nos sentamos no sofá, ainda muito afastados para o meu gosto.

—Sabe, eu não vou te morder se chegar mais perto. –Falei.

—Isso é meio novo para mim. –Ele disse, sem graça, e se aproximou passando um braço sobre o meu ombro.

—Não achei que você fosse tímido. Sempre teve uma pose altiva. –Brinquei.

—Não é bem timidez, mas estou meio enferrujado.

—Eu também estou, mas acho que me lembro de como namorar.

—Você está menos que eu, acredite.

—Faz mais de um ano que não namoro.

—Eu já perdi a conta. Deve fazer 5 ou 6 anos que não me relaciono com ninguém.

Eu fui obrigada a virar e ver ele nos olhos para ter certeza que ele não estava mentindo. Ele não estava.

—Sério?

—As mulheres não são muito fãs de um homem problemático e perneta.

—Melhor para mim, não tenho concorrência. Por que você também não tira o seu sapato? Acho que já não precisa mais se esconder. Deve ser desconfortável ficar com isso no pé o dia inteiro.

—Você não se importaria?

—Nem um pouco, pelo contrário, me sinto mal em te ver vestido com tantas roupas em sua própria casa e nesse calor que tem feito. Uns chinelos e uma camiseta não seriam mal.

—Acho que posso pensar nisso. Eu também sinto falta de usar um chinelo. Os sapatos são bastante chatos de ficar vestindo cada vez que preciso levantar.

Ficamos num silêncio um pouco incômodo e tentei quebrar com a primeira coisa que me veio na mente:

—Mais cedo o Moacir falou que você levou um bom tempo para chamar sua primeira namorada para sair. Você também pretendia demorar assim comigo?

—Eu nem pretendia que você estivesse aqui, agora, no meu lado.

—Você tem pouca fé em si mesmo, Ricardo. Você é uma ótima pessoa.

—A minha esposa também costumava dizer isso. Ela foi a mulher que eu demorei os 4 anos para convidar para um jantar.

—Foi? –Perguntei, com curiosidade.

—Foi. Eu a conheci em uma convenção de design. Acho que eu a amei logo no momento em que a vi. Eu estava meio perdido, procurando meu local na feira, era minha primeira vez, e ela me ajudou. Ficamos amigos, mas ela morava em Minas e eu no Rio. Foi bom os três dias de feira, mas terminou e cada um voltou para o seu lado.

—E o que aconteceu depois?

—Aconteceu que tive que esperar um ano para a feira acontecer de novo e eu a ver novamente. Dessa vez, ela tomou coragem e me pediu o telefone. Não achei que ela fosse realmente me ligar, mas ela ligou. Acabamos nos tornando amigos e, no outro ano, nos encontramos de novo na feira. Foi mais agradável, pena que não tínhamos tempo para desfrutar da nossa companhia, o trabalho lá era muito. No ano seguinte, eu tomei coragem e a convidei para sair. Dois encontros e ela se declarou para mim. Disse que não aguentava mais esperar. Casamos 9 meses depois disso.

—Mas vocês não moravam em estados diferentes?

—Quando começamos a namorar, ela aceitou uma oferta de trabalho aqui, largou o emprego e veio morar no Rio para ficar mais perto de mim.

—Ela devia te amar muito.

—Amava. Ela decidiu se divorciar por minha causa.

—Ela era casada?! –Perguntei, um pouco surpresa.

—Era, mas não se preocupe que não coloquei chifres em ninguém. Quando a conheci o casamento já não ia bem. Ela se separou depois que começamos a nos falar por telefone.

—Ela deve ter casado cedo com o primeiro marido, então.

—Tinha 22 quando casou a primeira vez. Ela era mais velha que eu 7 anos.

Eu parei e o olhei. Será que ele prefere as mais experientes? Eu sou bem mais nova que ele. Ele gosta de história, deve gostar de modelos mais velhos, coisas antigas...

—Ainda nesse planeta, Sofia? –Ele perguntou, com um riso, e me tirou dos meus pensamentos.

—Desculpa.

—O que pensa?

—Eu sou mais nova que você.

—E?

—Você prefere mulheres mais velhas?

—Eu prefiro mulheres que me cativem. É um problema para você que eu seja um velho? Eu quase tenho idade para ser seu pai.

—Você não é velho e nem meu pai, graças a Deus.

—Novo é que não sou. Já passei dos meus anos de juventude.

—Mas também não é velho.

—Mas quando você ainda estiver na flor da idade, eu já estarei entrando na velhice, meus cabelos começarão a cair e minha barriga a crescer, na verdade, já está crescendo. Engordei desde que você chegou aqui. Acho que você merece algo melhor que eu.

—Você tem bastante cabelo, ainda vai demorar pra ficar careca e quem foi que te disse que eu não gosto de umas gordurinhas a mais?

—Você tem uns gostos duvidosos, Sofia.

—Eu gosto do que é bom.

—Quer dizer que sou bom?

—Podia ser melhor se não fosse tão arredio como um animal selvagem. –Brinquei, o beijando, em seguida.

—Qual era o meu apelido?

—Como?

—Não se faça de boba, sei que vocês me chamam de Animal, mas também sei que costumo ter outros apelidos. Já ouvi cavalo estúpido, besta, diabo da tasmânia, burro empacado e alguns outros de mais baixo calão que prefiro não repetir.

—Você é bem amado pelos seus empregados, hein?

—Tenho uma fama de mau para manter. E você está desviando do tema, qual o apelido?

—Eu não vou te falar.

—Qual é? Não pode ser pior do que você achar que eu plantava maconha. Anda, Sofia, desembucha.

—Scar.

—Scar? Cicatriz? *

—Não, Scar do Rei Leão. Aquele leãozinho mau, vilão do desenho.

Ele começou a rir e me olhou com uma cara de que não estava acreditando muito.

—Sério? Por causa da minha cicatriz no olho?

—No começo foi, mas depois você falava como ele: “Minhas terras”. Sem contar seu humor do cão.

Ele, num momento que eu não esperava, me roubou um beijo rápido.

—Esse foi um dos apelidos mais doces que já me deram. Obrigado. Só para constar, eu sempre gostei mais do Scar no desenho. –Ele falou, com um sorriso.

—Combina com você, Scar.

—É doce, mas ainda prefiro o meu nome, se puder.  

—Como preferir.

Eu me aconcheguei mais perto e ele me abraçou, beijando, suavemente o topo da minha cabeça.  Não falamos mais nada, mas é doce essa proximidade. É bom abraça-lo depois do dia estressante que passamos. Ele merece ser feliz.  Acho que ainda terei um pouco de trabalho para fazer esse idiota ver o quanto ele é bonito, por fora e por dentro, mas acho que pode valer a pena o esforço.

Continua.


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Notas finais do capítulo

* Scar: Cicatriz em inglês.
Espero que tenham gostado. Se desejarem, deixem vossa opinião, críticas ou sugestões.
Obrigada por lerem.
Forte abraço e até mais!



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