Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 33
Capítulo 33


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal? Tudo bem com vocês?
Esse saiu mais rápido porque eu já tinha ele manuscrito e bastou digitar para cá. Como disse, esse será um pouco diferente, será o ponto de vista do Ricardo, nosso querido Animal.
Pode ser que não fique muito claro na leitura, mas a Márcia a que ele se refere é sua falecida esposa.
Espero que gostem. :)



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Há muito eu não tinha o interesse em mais nada, em mais ninguém. Até a Sofia aparecer. De todas as empregadas que já passaram por aqui, ela foi, de longe, a que mais teve minha atenção. Ela era diferente das outras. Nunca abaixou a cabeça quando gritei e reclamei, ao contrário, ela me olhou com ódio e falou no mesmo tom. Mostrou suas garras e isso me encantou. Ela me enfrentou e me desafiou.

Ela é totalmente o oposto da minha adorada Márcia. Minha Márcia era doce, meiga, mas a Sofia é feroz, explosiva e impulsiva. Eu havia perdido a esperança de encontrar alguém que despertasse meu interesse como a Márcia despertava, mas eis que chegou a Sofia. Eu não gostava dela no começo, era petulante e insubordinada, mas sua insistência me fez dobrar e eu comecei a me deixar enredar por ela.

Não sei quando realmente passei a olhar ara ela duas vezes. Acho que foi quando o babaca do Jaime chegou. Eu via o desconforto dela por estar ao lado dele. Eu posso ser rude e até mal educado com as pessoas, mas sou respeitador. Se uma mulher diz não é não. O babaca não sabia respeitar isso. Perdi a conta de quantas vezes o peguei olhando e cantando ela sem sua permissão. Não podia permitir isso. Até pensei em manda-lo embora, mas que desculpa daria? Você está despedido por importunar uma outra empregada que está começando a chamar minha atenção e estou me tornando protetor demais com ela? Não, eu nunca faria isso. Seria dar o braço a torcer para a Sofia caçoar de mim. Ela já fazia isso antes de pegar intimidade. Tive a desculpa perfeita quando ele acertou meu querido Cuzco. Ninguém bate nos meus animais.

Assim que comecei a tomar consciência que eu estava olhando demasiadamente para ela, tentei me afastar, mas o Moacir é uma perdição como professor e a pobre não poderia ajudar se, sempre que tentava fazer uma curva, derrubava todos os cones. Tentei me manter indiferente, mas realmente não pude quando ela me atropelou. Não me machuquei, apenas alguns arranhões, mas me senti obrigado a intervir com algumas dicas.

 Lembro de uma vez, na biblioteca, estávamos eu e ela, resfriados, ela tentou ser gentil, mas eu fui rude. Aquilo me doeu um pouco, mas não poderia simplesmente pedir desculpas para ela por ela querer se intrometer na minha vida, não podia. Ela me deu um gelo por alguns dias e eu me senti mal por isso.

Depois veio o Fabinho. Garoto esperto para idade. É curioso e intrometido como a tia, mas me cativou. Eu sou um pouco molenga para crianças e o garoto é um pouco manipulador. Foi divertido ver o olhar de pavor nos olhos da Sofia quando ela me viu sendo gentil com o Fabinho. Ela acha que eu não sei que a cada dez minutos ela deu uma espiada para ver se estava tudo bem e se eu ainda não tinha estrangulado o moleque. Foi divertido confundir ela. Só é uma pena que ela não trouxe mais o sobrinho aqui. Eu realmente gostei do garoto.

E eis que o Moacir cismou de ensina-la a cavalgar. Mais uma vez, sobrou para mim. Ele não tem pulso firme para fazer tal coisa e a Sofia é um desastre ambulante que não conseguia nem parar no cavalo. Eu fui um pouco hesitante em ajudar, mas não consegui deixar de me intrometer e, admito, depois de um tempo passei a apreciar nossas aulas diárias. Me divertia com o pânico dela quando a deixei sozinha. Nunca me afastei, realmente, apenas tomei uma distância e um caminho para ela não me ver, eu estava sempre por perto para qualquer coisa que ela pudesse precisar. Ela precisava tomar confiança e fiquei orgulhoso quando ela conseguiu.

Eu ainda tinha algumas reservas com relação a Sofia, mas a Titília foi a peça que faltava para quebrar todas a minhas barreiras. A cachorra foi maltratada e chutada por algumas famílias antes de chegar aqui e, como improvável, ela escolheu a Sofia como dona logo no primeiro dia. Cachorros sabem quem são boas pessoas. Eu acredito em um cachorro e, se ela a viu como uma pessoa boa, eu também a vejo.

E então veios nossas conversas. Algo impessoal no início, apenas coisas sobre História do Brasil, um assunto que era de nosso interesse. Não conversava assim com ninguém há anos. O Moacir não gosta desse assunto. Essas conversas eram as melhores partes do meu dia. Era bom poder discutir, debater e ensinar algo que é como uma paixão secreta para mim, um hobbie há muito adormecido e esquecido.

Ela, como a boa curiosa intrometida que é, não parou só na História, tentou sondar sobre mim. Fui relutante em contar meu passado, mas ele acabou saindo sem eu sentir. Eu contei sobre meus pais e ela segurou minha mão. Acho que foi o primeiro contato físico que ela me deu. Foi estranho ter alguém a segurar minha mão depois de tantos anos. Eu nunca fui muito de tocar, mas não foi de todo desagradável. Eu queria apertar de volta, mas tive medo. Acho que estou meio enferrujado para essas intimidades.

E as conversas continuaram, acabei por soltar algumas histórias minhas e ela algumas delas. Coisas de nossas juventudes que não são muito significativas, mas ela é a pessoa viva, além do Moacir e da Mariana, que sabe mais sobre mim do que o restante dos meus conhecidos. Não é difícil falar com ela. Tive que me segurar por vezes para não falar demais e soltar meu passado podre naquela pobre mulher. Não quero ser visto com pena. Não suportaria esse tipo de olhar da Sofia para mim.

Assim que a Mariana chegou ela começou a querer dar uma de cúpido, como o seu pai. Ela começou a mostrar meu lado “doce” para a Sofia. Isso acabou com a minha reputação de mau. Ela se tornou mais abusada e mais confiada comigo. Pior foi o dia da festa em que a Mariana me fez dançar com a Sofia. Aquela proximidade... Para piorar o desastre ambulante ainda ficou bêbada e eu tive que carregar ela para o quarto. Se não fosse a quantidade absurda de álcool em meu sangue que não me permitiu ter impulsos naturais, sei que teria que tomar um banho gelado.

Um dia ela me deu a arrebatada final. Eu acreditei que meu corpo já estava meio morto para o charme feminino, mas ela veio com um maldito vestido preto que se agarrou em suas curvas. Tirando o tênis, ela estava deslumbrante. Precisei de um banho frio para aplacar o calor que sua visão me deu.

Esse foi o momento que decidi, definitivamente, me afastar dela. Eu não poderia ter esses sentimentos em mim. Ela merece algo melhor que eu. Sou um amuleto de má sorte que destrói tudo o que toco. Eu tentaria me afastar, mas a mulher desastre teve que torcer o tornozelo e meu lado protetor gritou comigo. Ela me fez sair de casa depois de anos, só para me assegurar que ela estava bem. Ela também não sabe como sua proximidade fez maldições para mim. Eu a ajudei de bom grado com as escadas, mas a proximidade estava me matando. Achei até que fosse pegar alguma pneumonia de tantos banhos gelados que tive que tomar. Achei que tivesse voltado aos meus 15 anos em que qualquer imagem bonita me excitava. Tive sonhos eróticos! Quando foi a última vez que isso me aconteceu? Eu estava fodido e irremediavelmente atraído pela Sofia e sabia.

O que a anta fez, entretanto? Ao invés de me afastar, me aproximei mais. Ela me atraía cada vez mais e cada vez mais me deixei levar. Em nossas brincadeiras e provocações, fui impertinente e acabei cedendo à vontade de me aproximar do seu ouvido. Minha intenção era beijá-la no pescoço, mas, Graças a Deus, meu bom senso gritou e eu apenas sussurrei.

Esse era o sinal que eu deveria me afastar. Eu já não estava me controlando mais. Minha intenção teria dado certo se ela não cismasse de se enfiar no mato apenas alguns dias depois de melhorar com o seu tornozelo. Ela é louca, completamente. Como se não bastasse se enfiar no meio do mato, ainda cisma de mergulhar. Isso fez maldades para minha imaginação e testou muito meu auto controle para manter meu sangue na cabeça de cima.

E então ela fez aniversário e me pediu o quê? Um quadro. Eu ofereci qualquer coisa que ela quisesse, bolsas, sapatos, roupas, mas não. Ela queria uma pintura minha. Eu não poderia pedir para ela posar para mim. Primeiro porque ela se sentiria muito e segundo porque não sei se poderia manter as coisas impessoais com ela em meu estúdio, meu refugio. Me restou pegar a foto que a Mariana fez questão de deixar comigo. Era uma boa pose. Ela e a Titília na varanda. Acho que rabisquei uns dez quadros até ter um esboço relativamente bom que pudesse pintar. Queria algo próximo da perfeição e ficou, exceto pelos olhos. Queria que a Sofia tivesse aquele brilho que ela tem quando está com raiva e consegui. Minha intenção era deixar o quadro na porta e deixar ela descobrir o presente pela manhã, mas não esperava ela estar acordada e muito menos ela me ouvir. Esperava menos ainda ela me abraçar e me beijar. Foi um beijo casto, talvez até mesmo uma escovação acidental de lábios, mas foi o suficiente para acabar com meus sentidos ou aflorar eles, realmente não sei. Só sei que foi imprudente e delicioso beija-la e sentir suas curvas sobre minhas mãos como há muito vinha sonhando. Mas um momento de paraíso e uma vida de inferno. Isso não poderia ter acontecido e percebi meu erro muito tarde.

Agora faz uma semana do acontecido e o elefante rosa está entre nós. Ela está tentando falar comigo sobre o beijo e eu, como um covarde miserável, estou fugindo. Tenho medo do rumo da conversa. A verdade é que não quero perder a companhia dela. Prefiro ela me olhando com ódio a não a ver mais. Isso não pode terminar bem. Eu sei que ela nunca poderia me desejar, não com meus traumas psicológicos e meu corpo marcado pelas minhas desgraças. Eu não sou bonito para olhar e sei disso. Eu ferrei com tudo e agora perdi a única pessoa que chamei de amiga em muitos anos. Sei que ela vai acabar por se afastar e, talvez, até me processar por assédio sexual. Como sempre, sou um amuleto de má sorte.

Hoje não pude me refugiar em meu estúdio como tenho feito todos os dias. O João não está e a cerca da frente caiu. É torturante a ver chegar à varanda, de 10 em 10 minutos, e olhar para mim. Sei que ela quer se aproximar e conversar, mas ela também sabe que eu vou fugir se ela fizer.

Eu me distrai um pouco com o meu trabalho e não vi quando ela se aproximou. Ela quer me matar, realmente. Por que o desastre ambulante está vestindo um vestido vermelho que ressalta todas suas curvas a essa hora? E ela não aprendeu nada sobre os sapatos. Vestido com tênis deixa sua imagem desarmônica.

—Sofia. –A Chamei.

—Cala a boca. Se você não quis falar comigo todos esses dias eu também não vou falar com você agora.

—Aconteceu algo? –Perguntei, cauteloso.

—Aconteceu que eu estou saindo para encher a cara e preparar minha carta de demissão. Sei que não é minha folga, mas desconte o dia, não me importo.

—Carta de demissão? –Engoli em seco. Sabia que esse dia chegaria, mas não esperava que doeria tanto.

—Não quero estar em um lugar que o patrão não me dá nem ao menos bom dia. Aprenda a ser civilizado e talvez possamos conversar.

Com isso, ela me deu as costas e eu fiquei impotente, sem saber o que fazer. Parabéns, Ricardo, você fode com tudo que cruza o seu caminho.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse. Não mostra exatamente quem o Ricardo é, mas dá para perceber que ele não é indiferente a Sofia e é até um pouco inseguro com o beijo.
Se desejarem, deixem vossa opinião. Seria interessante para mim saber o que acharam do nosso Animal.
Obrigada por lerem.
Forte abraço e até mais!



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