Ainda Vou Domar Esse Animal escrita por Costa


Capítulo 32
Capítulo 32


Notas iniciais do capítulo

Fala gente! Tudo bem com vocês?
Mais um capítulo. Esse, adianto, será decisivo para o prosseguir da história.
Sem mais, espero que gostem. :)



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Duas semanas, duas malditas semanas que mal vejo o Ricardo na casa. Desde o meu aniversário, ele tem se enfiado na mata todo santo dia. Só da as caras para comer, tomar banho e dormir. Se eu soubesse que uma pintura iria levar todo esse tempo não teria pedido. Aliás, nem sei se é para mim, já que quando eu pergunto ele desconversa.  Porra! Estou de saco cheio já. Estou sentindo falta de nossas conversas noturnas. Eu já quase terminei de ler o livro do Don Quixote e não tenho ninguém para conversar sobre ele.

—Vai continuar emburrada assim, mulher? –O Moacir perguntou, em tom de brincadeira.

—Vou.

—Sabe que é provavelmente a sua pintura que ele está fazendo, não é?

—Não tenho certeza disso.

—Eu tenho, ao menos 90% de certeza.

—Se fosse para ele se afastar, não precisava fazer isso.

—E quando foi que você ficou tão dependente da companhia dele?

—Eu...

Eu parei e pensei, mas não sei como responder. Eu nem sei o porquê sinto tanto falta daquele idiota. Sim, ele é meu patrão, mas está agindo como um idiota. Tudo bem ele pintar ou seja lá o que ele faz, mas custa tirar um tempinho para conversar comigo? Precisa chegar toda noite quase uma da manhã só para sair antes das 7 e eu não vê-lo? Idiota!

—Não sabe responder, não é, Sofia?

—Não, não sei o porquê sinto saudade daquele Animal.

—Você está ficando atraída por ele.

—QUÊ?! –Gritei.

—Você gosta dele e não sabe o motivo. Isso me soa como amor, ao menos está caminhando para isso.

—Ô Moacir, não tem nada para fazer não? Ele é o meu patrão e, mesmo sendo um idiota, me preocupo com ele. Ele é o melhor empregador que já tive.

—Sei que isso se resume só ao profissionalismo...

—Somos amigos. Se fosse esse o caso, você também estaria atraído por ele. Ainda não te vi na cama dele e nem o contrário.

—Eu gosto dele, não nego que o amo como um irmão, mas ele não faz meu tipo. –Falou, rindo.

—E nem ele faz o meu.

—E qual o seu tipo?

—Moacir, poupe-me! Não vou discutir minhas preferências amorosas com você.

—Acho que o seu tipo é um fazendeiro rabugento e mal humorado.

—Moacir!

—Que, Sofia?

—Será que você não tem mais nada para fazer?

—Na verdade, tenho. Vou ao banco depositar um dinheiro para a minha filhota e pagar as contas da casa.

—Então vá e me deixa em paz.

—De tanto andar com o Ricardo, você está ficando mal humorada igual.

Eu alcancei a primeira almofada do sofá e taquei em direção ao Moacir, mas ele foi mais rápido e conseguiu fechar a porta antes de acerta-lo.

—Praga! –Gritei.

Ainda fiquei um tempo na sala, limpando, antes de sair para o quintal com a Titília para que ela pudesse ir ao banheiro. Lá, encontrei com o João.

—Quer que encilhe o Bolívar, Sofia?

—Não, João, obrigada, mas não estou com paciência para montar hoje.

—Há dias o patrão também não monta. Aconteceu algo entre vocês?

—Não. Há dias que eu mal vejo a cara dele.

—Ele tem andado muito na mata. Eu até estou estranhando. Ele tinha diminuído com isso e agora está lá, de novo.

—Deve estar pintando algum de seus quadros.

—Pode ser ou plantando maconha, como você dizia.

—Espero que seja o primeiro caso.

—Eu também. Esse trabalho é bom demais para ser despedido por ter o patrão preso.

Eu olhei para o João e esbocei um leve sorriso. Ele é um bom amigo, sempre evitou fazer piadas desse tipo, mas as faz só para me tirar um sorriso.

—Obrigada, João, por ser um bom amigo. Sei como não gosta desse tipo de piadas.

—Eu gosto menos de te ver triste. O que está acontecendo realmente, Sofia?

—Eu não sei, simplesmente não sei.

—O patrão te fez algo?

—Não realmente, mas tem me ignorado um pouco. Ele está apenas dizendo os habituais “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” e quase mais nada.

—E você está irritada por isso?

—Sim, eu estou. Ele é meio bipolar. Num momento conversa comigo como se fôssemos amigos e no outro se fecha em seu casulo e começa a me ignorar.

—Sofia, eu não quero assumir um lado nisso. Eu gosto de você e também gosto do patrão, mas dá um desconto para ele. Eu não sei realmente o que aconteceu com ele, mas sei que não foi bonito. Teve um dia, ano passado, antes de você começar a trabalhar aqui, que ele saiu atordoado. Eu nunca achei que fosse ver um homem feito como o Ricardo chorar e o encontrei afogado em lágrimas enquanto abraçava o Cuzco. Corri e fui chamar o Moacir e ele me disse que ela para o deixar sozinho e apenas o vigiar de longe. Ele me disse que a data era muito triste para o patrão e que eu não devia falar com ele.

—E você não perguntou o que aconteceu para o Moacir?

—Perguntei, mas o Moacir só me falou que o patrão é um homem que já tomou muitas pancadas nessa vida. Isso pode não justificar o comportamento dele, mas talvez explique um pouco.

Eu parei um pouco para pensar. Realmente não conheço toda a história do Ricardo, mas sei que ele perdeu os pais em um acidente de carro e é viúvo, mas não sei como a sua esposa morreu. Também tenho a desconfiança, pelas coisas que ele deixou escapar, que seus “amigos” se afastaram dele depois de tudo. Ele é alguém que já sofreu muito, mais que o aconselhável. Vou tentar ser mais compreensiva com ele e deixar minhas rabugices de lado. Afinal, ele não está mais me tratando mal, pelo contrário, ele tem me tratado muito bem nesse último mês, especialmente quando eu torci o tornozelo. Ele nem mesmo descontou os dias que eu fiquei parada do meu pagamento e, quando falei com ele, ele disse que eu estava de licença médica e não tiraria algo que era do meu direito, mesmo eu tendo ficado na casa com comida e roupa lavada. Devia ao menos descontar pela minha hospedagem, mas não fez.

—Explica muito. –Falei, depois de uns momentos.

—Por falar nele. –O João disse, apontando para onde o Animal estava vindo. –Acho melhor eu voltar ao trabalho. Ele pode ser um bom patrão, mas não quero testar minha sorte.

O João se afastou e eu entrei na casa com a Titília. Não demorou muito e o Ricardo apareceu na cozinha.

—Chegou mais cedo? –Perguntei.

—Precisava tirar uma dúvida. –Falou, me olhando intensamente.

—Dúvida?

—É. Algo para um projeto. –Falou, indiferente.

—Que projeto?

—Ainda não é da sua conta. Coisa minha.

Essa doeu. Eu aqui preocupada com ele e ele vem com essas ironias, de novo?

—Ricardo, será que pode ser um pouco mais gentil?

—Posso, mas não quero e já conferi o que vim ver. Não me espere para o café. Só devo voltar à noite. –Ele falou, com uma risada e saiu.

Maldito! Juro que não o entendo. E o que ele veio ver se só entrou na cozinha e não ficou nem dois minutos antes de sumir? Cara estranho. Essas personalidades dele me dá nos nervos!

***

Já era tarde, passava de meia noite, estava no meu quarto, mas não conseguia dormir. O péssimo encontro com o Animal de tarde ainda estava me corroendo com raiva. Droga!

Ainda fiquei rolando uns minutos na cama quando escutei algo bater na minha porta. Não pode ser a Titília, ela está roncando nos pés da minha cama. Levantei e abri a porta para ver. Me surpreendi quando algo, que parecia ser um quadro embrulhado em papel pardo, caiu sobre minhas pernas. O responsável por isso não foi rápido para entrar no seu quarto antes de o ver.

—O que é isso, Ricardo?

Ele parou e voltou para perto de mim, parecia um pouco envergonhado e até tímido.

—Seu quadro. Seu presente, atrasado, de aniversário. –Respondeu, com um tom de voz meio incerto. Ele está com medo?

—Isso é o que vem fazendo todos esses dias?

—Sim. Tentei acabar o mais rápido que consegui. Levou alguns bons pares de horas.

—Por isso você não tem vindo para casa cedo, tem gasto todo o seu tempo por minha causa?

—Foi um bom tempo gasto.

—Eu agradeço, imensamente, mas teria esperado pacientemente o dobro do tempo se isso significasse que nossas conversas sobre os livros continuariam. Estou quase acabando o Don Quixote e não tenho ninguém para conversar.

—Me desculpe por isso. Agora terei mais tempo livre.

Eu peguei o quadro e iria rasgar o papel para ver o que ele me pintou, mas lembrei da raiva que estava e parei.

—Por que me tratou mal de tarde? –Perguntei.

Ele disfarçou, olhou para baixo, coçou a cabeça e desviou o olhar algumas vezes antes de finalmente responder:

—Eu precisava te ver com raiva.

—Me ver com raiva? Por quê?

—Para lembrar da tonalidade dos seus olhos. Seus olhos assumem um brilho e uma coloração linda quando está com raiva. –Falou, olhando para baixo.

—Nossa! –Foi tudo o que consegui dizer antes de rasgar o papel pardo fora e olhar para a pintura.

Era algo lindo. Ele me pintou sentada na escada da varanda com a Titília ao meu lado. Se alguma vez duvidei do talento dele, isso terminou aqui.

—Eu usei a foto que a Mariana bateu da gente naquele dia, mas seu olhar estava feliz e precisava captar o brilho que assume quando está com raiva.

—Isso é lindo!

Não sei o que deu em mim, mas deixei o quadro de lado e pulei sobre ele, o abraçando e, quase inconscientemente, dei um beijo em seus lábios, não foi bem um beijo, foi mais uma bitoquinha. Quando percebi a merda que fiz, me afastei o mais rápido que pude dele. Ele ficou parado, de boca aberta e me olhando assustado. Fiz merda.

—Ricardo? –O chamei ao ver seu olhar meio morto, como quem pensa na morte na bezerra.

Ele voltou para o mundo real, mas fez algo que eu não esperava. Me empurrou contra a parede e roubou um beijo meu de me tirar o fôlego. Demorei alguns segundos para perceber o que estava acontecendo e o abraçar e retribuir o beijo com o mesmo fervor. Não sei exatamente por quanto tempo ficamos assim, mas tão surpreendente como começou, acabou. Ele se afastou de mim, com os olhos esbugalhados e sussurrando desculpas.

—Ricardo?

—Desculpa, desculpa, desculpa...

Ele continuou a falar “desculpa” e correu para o seu quarto. Eu fiquei parada olhando a porta fechada e tentando entender o que aconteceu enquanto lutava contra o meu sorriso bobo e a sensação dos beijos dele ainda presente sobre mim. Porra!

Continua.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Eu pensei em colocar o próximo capítulo do ponto de vista do Ricardo, tenho um manuscrito esboçado que acredito que se encaixe bem para o próximo, mas gostaria de saber se vocês aprovam essa ideia.
Se desejarem, deixem vossa opinião.
Obrigada por lerem.
Um forte abraço e até mais!



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