O Que Você Faria? escrita por O Marido


Capítulo 2
Primeira opção


Notas iniciais do capítulo

Bom, estou rindo bastante graças a todo o carinho de vocês, que estão acompanhando a história e deixando esses comentários lendários para mim. Obrigado!
E aos corajosos e destemidos, os que se importam mais com as pessoas que amam a seus próprios destinos, aqui está o capítulo esperado.
Será que agiram certo ao irem checar qual a situação da mãe de vocês?



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Devo checar se minha mãe está bem.

Prossiga pensando:

Por cinco segundos, a sua mente parece congelar no tempo. Você não pensa em mais nada, nada além das hipóteses que lhe veem em mente sobre o que possa estar a acontecer com a pessoa mais importante de sua vida: a sua mãe. O medo — que antes lhe seguia insistentemente — é atropelado pela preocupação avassaladora que faz com que seu coração passe a bater descompassado.

Tomado por uma grande onda de coragem — zelando pelo bem-estar da mulher —, você se move impulsivamente e acaba pisando com o pé esquerdo sobre um caco de vidro. Você urra — pela dor, deve ter sido fundo o corte —, mas ignora. Fecha a porta da geladeira sem sequer olhar para trás — pois seus olhos estão fitados na escuridão que lhe aguarda de novo na sala —, e começa a andar em passos rápidos.

Os trovejos retornam a sua mente e os clarões recriam as sombras dos objetos de forma sinistra pelas paredes. Já a chuva, ela parecia ter diminuído drasticamente para algo mais sereno.

Sua voz lhe falta quando tenta gritar pelo nome da mãe, na tentativa de informá-la sua posição. A única alternativa que tem é realmente ir checar o mais depressa possível.

Você entra na sala. Sua preocupação — mesmo que seja vista pior que seu medo — te faz suar e lhe dá um ponto a mais. Porque? Por estar tão focado na segurança de sua parente, você nem percebe a criatura que permanece parada por trás da porta da geladeira, lhe observando. Uma mulher magra, alta e com a pele bastante pálida — visto que mesmo no escuro era notável.

Enquanto caminha pela sala, seu olhar se limita ao teto — e piso do andar superior — e você se distrai temporariamente quando tenta escutar por passos dados por sua mãe, o que acaba levando-o a mais pontos positivos: deixa de ver que seu reflexo na televisão para de andar — mesmo depois que você prossegue — e fita-o seriamente, como também ignora sem querer o rosto demoníaco que se forma na vidraça da janela logo ao seu lado, quando um clarão ilumina parcialmente a área.

A escada. Sim, a marca que prova meio caminho percorrido é atingida. Você engole em seco e inicia-se nos degraus. A cada segundo que se passa sem notícias de sua ente, a sua coragem perde forças na luta contra o seu temor.

Pelos 3° e 4° degraus, um gemido agonizante se cria no ambiente em que está, vindo de algo logo atrás de si. É no banheiro — o exato local que mais lhe apavorava a partir do momento em que o sol se punha. Sua porta se abria vagarosamente e deixava toda a escuridão trancafiada nele sair para fora.

É só o vento! Sua mente tenta mantê-lo esperançoso. Você concorda, contudo, passa a sentir um estranho e desconfortável calafrio na espinha. Mas vamos, continue, você precisa saber como anda a sua mãe!

Ao retomar o passo, você pega — por relance — as garras negras que se formam na parede do fim da escadaria enquanto um súbito raio azulado clareia o céu. Não, com certeza não eram garras — mesmo que pontas afiadíssimas moravam ao fim de cada membro longo e estreito que compunha aquela palma —, devia ser apenas a sombra do braço de sua mãe! Sim, ela provavelmente estaria o aguardando próxima da escada! Pronto, é isso! Não existe sobrenatural! Não existem monstros! Esqueça-os!

E com essa disposição, seu corpo emerge no piso do segundo andar mais tranquilo. Seu olhar investigativo quase se desfaz no instante que vê aquela silhueta parada no corredor dos quartos — isso, é claro, com a gratificante ajuda de um relâmpago — e seu corpo se trava tamanha surpresa.

Você sorri, ora, conseguiu mais uma vez! Aquela mulher: alta, magra e com esvoaçantes cabelos negros; Quem mais seria fora a sua mãe? Ninguém, correto?!

Sua voz, enfim, parece retornar quando risadas falhas saem de sua boca. Enquanto dá seguimento com os passos — agora mais soltos e pesados —, com uma das mãos você limpa aquele suor gélido que ainda escorria e impregnava a sua testa.

Dessa vez, a sorte realmente anda ao seu lado, pois nem nos ombros do sofá você colide. Como também, desvia automaticamente os pés do rumo da quina da estante branca. Você merece terminar com um final feliz, não? Provou isso com a coragem que teve ao decidir voltar por sua mãe!

Falando nisso, esta se vira com o corpo inclinado — o ombro esquerdo em superioridade ao direito — em sua direção. Ela escutou seus passos. Você ainda vê apenas aquele vulto, mas já consegue imaginar cada detalhe do corpo daquela pessoa tão amada. E ao passo que se recorda das antigas broncas que levava, você sorri brevemente ao ver que passaria por uma daquelas novamente depois de tanto tempo.

Conhecendo sua mãe, sabe que ela está morta de preocupação com você. E ao vê-lo, esta mesma preocupação virá a se tornar raiva — mas não ódio, e sim aquele sentimento que apenas quem se preocupa com alguém consegue ter. Claro, ela vai gritar seu nome, fazer trinta perguntas sobre onde, como, quando e por quê você não estava na cama e, para finalizar, irá mencionar que você quase a matou de preocupação e pedirá para que não faça isso outra vez. Ah, relaxa, coisas típicas de uma mãe super-protetora!

— Mãe...

Finalmente alguma palavra inteira sai de sua goela. De modo irônico, você até estranha a sua voz por já não ouvi-la há algum tempo. E, repentinamente, sua mente lhe dá um brutal tapa na cara quando as recordações da noite anterior voltam:

Como acompanhou em pé, logo atrás do sofá da copa, você acabava de saber da jornalista local que faltaria luz por aquela noite. Certo? Confirma. Então, logo em seguida, você desliga a televisão e boceja, tentado por um cansaço exorbitante. Se aproxima da escada para subi-la e ir se deitar em sua cama, e quando prestes a tocar o primeiro degrau, tem a sua atenção chamada pela mulher que surge logo ao fim da mesma escada.

Com o seu característico jaleco branco e sua bolsa de trabalho na mão direita, a médica — quem você chama de mãe — começa a descer em sua direção com um olhar desanimado para contigo.

— Filho, infelizmente fui encarregada de ficar de plantão lá no hospital. Você consegue passar a noite sozinho, ou quer que eu chame a vizinha para lhe fazer companhia?

Você nega com a cabeça e cria um sorriso falso. Seria uma grande vergonha um adolescente da sua idade precisar de companhia para dormir, não? E se seus amigos descobrissem — Nossa! —, sua reputação de corajoso seria esfolada e, certamente, te zoariam pelo resto do ano!

— Vá! Não se preocupe!

Foram as suas únicas palavras — e últimas antes de se deitar. Então, você retorna ao ponto em que chegou: está em uma casa sem energia, sua única companhia não se encontra, mas alguém jaz parado logo a sua frente.

E antes de qualquer reação que pôde pensar em tomar, um clarão acontece...

Aquele clarão é importante: lhe mostra com detalhes como é cada traço do ser que lhe aguardava — isso, momentos antes dele se encaminhar contra ti —, e também por ser a última luz que você vê com vida.

Bem, agora, tente pensar melhor antes de escolher agir por impulso quando estiver em uma situação ruim. Sim, sua família é importante, no entanto, não se esqueça que o sistema sensorial do seu corpo pode te passar a perna em diversas ocasiões — muitas vezes, nossos ouvidos e mentes se juntam para criar situações ilusórias que não devem, em hipótese alguma, terem nossa atenção.

Mas... Eu, particularmente, acho que você aprendeu com o erro, não foi? Aí, esticado no chão e e dando os últimos suspiros, você observa seu corpo sendo arrastado para o final do corredor... Diretamente para o quarto de sua mãe. Bom, olhe pelo lado positivo: pelo menos, agora terá o resto da eternidade para pensar melhor, para pensar muito antes de resolver agir!


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Notas finais do capítulo

Então... Eu espero que tenham gostado (e se assustado!). E fiquem à-vontade se quiserem saber como será o fim daqueles que optaram por usar a lógica, a razão, a sabedoria, pois a outra reação já foi postada! :)
No mais, um grande abraço para todos que leram! ~.~



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