4—O Jornal Oficial de Illéa:

—Sabe que estamos atrasados, não é?- Lívia me perguntou da porta do quarto e eu assenti, ainda olhando para o teto pintado de creme do meu quarto.-Sabe que você tem uma reunião importante, certo?- ela tentou me convencer a se levantar.Eu Assenti e não disse nada.Ela suspirou frustada e saiu do quarto.

Acontece que ficar na cama não estava em meus planos.Muito menos não abrir o bico.Mas era divertido e fiz isso por birra.A verdade era que eu não estava afim de me levantar.Eu estava preocupada e com raiva.

Hoje seria finalmente anunciado as 35 garotas que participariam da Seleção.O problema era, eu estou no meio ou não?Havia prós e contras que iriam decidir se eu iria gostar ou não da Seleção.

Contras:

1. Se eu não fosse Selecionada, teria que me casar com Mathew e eu não estou afim;
        2. Se eu não fosse Selecionada, não iria dar tempo de transferir a empresa para Melinda;
         3. Se eu não fosse Selecionada, teria que entregar a empresa aos cretinos que se denominam meus avós.

Prós:

1- NÃO EXISTE PRÓS!

Contras p/2:

1. Se eu for Selecionada, terei que ir para Angeles e provavelmente vou ter que explicar porque recusei os últimos 20 convites que eles, a família Real, me fizeram;
       2. Se eu for Selecionada, terei que me separar de meus bebês e vou perder o aniversário dos gêmeos;
      3. Se eu for Selecionada, terei que me relacionar com o príncipe e eu não estou afim;
       4. Se eu for Selecionada, terei que ficar o máximo que conseguir no castelo, até que tudo seja passado para o nome de Melinda.

Eram problemas demais.Pensamentos demais.Frustrações demais.E no momento, não queria ir em reunião nenhuma.Não estava interessada para conversar com investidores que não se sentiam mais seguros em investir na empresa.É, eu estou de saco cheio e vou passar o dia na cama.

—Pode ir levantando Srta Lork!- Gerald foi entrando no meu quarto sem minha permissão e me pegou da cama, me jogando sobre seus ombros como se eu fosse um saco qualquer.

—Me Solta!- estapeei suas costas e gemi.-Eu não quero ir trabalhar!- murmurei e gemi novamente.

—Sem essa!- Gerald exclamou e me sentou em uma das bancadas que tinha na cozinha.-E outra, você é a única que sabe cozinhar, estamos com fome!- ele reclamou e eu Franzi a testa.

—Tenha vergonha na cara!Tem 18 anos e precisa de babá ?- perguntei indignada e Lívia riu.Gerald corou e eu quis rir, mas me mantive séria.Lívia viu que estava envergonhando até demais o namorado e parou de rir.

—Qual é Lena!Você precisa alimentar Connor!E o gêmeos!- ela usou essa desculpa e eu olhei para as crianças, que estavam entretidas demais na televisão para se quer reclamar que estavam com fome.Gemi novamente e bati a cabeça no balcão três vezes antes de me levantar.

—Preparem as malas deles, vou passar na cafeteria da esquina.- murmurei mal-humorada e sai de dentro da cozinha e fui para meu quarto.Fechei a porta e fui direto em direção ao espelho.Encarei meu reflexo e toquei de leve meu olho ainda roxo.Já fazia três dias que Oliver e os outros policiais haviam conseguido prender os rebeldes e meu olho demoraria mais uns dias para sarar.O corte em meu lábio superior também estava lá e ficaria por um tempo.

Desamasso o terno que uso rapidamente e vou em direção aos saltos que eu tinha.Escolho um verde, que iria combinar perfeitamente com o meu terno.O ponho e faço uma trança lateral rapidamente, já que meu cabelo está péssimo e não vai rolar eu falar na frente de muitas pessoas desse jeito.Agarro minha pasta e minha bolsa e saio do quarto, depois de conferir se a minha janela estava devidamente fechada.

Passo pela sala e arrumo rapidamente a bagunça que estava ali.Como não vi nenhum dos cinco, deduzi que já desceram para o carro.Pego a carteira sobre a mesa de jantar e saio de casa.Sorri para minha vizinha e desci de elevador até a garagem.

Depois de passar na cafeteria, onde Lívia e Gerald fizeram todas as compras, que consistia em café para os três mais velhos, achocolatado para Connor e bolinhos para nós quatro, deixei Gerald na faculdade e fui direto para a empresa.Como a garagem estava interditada, parei em frente à porta mesmo.Que estava estava abarrotada de repórteres.

—Será que se eu atropelar eles eu acabo presa?- perguntei para Lívia enquanto eu tirava o cinto.Ela riu e tirou o dela.Esperamos os seguranças chegarem às portas e eu sai do carro.-Bom dia, Francis.- cumprimentei meu guarda-costas mais fiel.Ele sorriu, enquanto barrava de fotógrafos virem falar comigo.-Como vai sua mulher e seus filhos?Já melhoraram da virose?- perguntei enquanto soltava o cinto de Mel da cadeirinha.A peguei no colo.

—Já sim, dona Lor...Helena.- ele pigarreou e eu sorri satisfeita.-Obrigada por perguntar.- ele sorriu gentilmente.

—Que isso.Qualquer problema me avise, sim?- pedi séria e ele assentiu.Sorri e comecei a andar em direção a empresa.Connor, Lívia e Toby já tinham entrado, faltava apenas eu.

—Srta Lork!Qual sua atitude perante os ataques que sua empresa está sofrendo?

—Srta Lork!É verdade que irá abrir uma nova filial em Roma?

—Srta Lork!Como está sua vida depois da morte de seus pais?

—Srta Lork!Você vai realmente se casar com o Sr Agrestion?

—Srta Lork!É verdade que está perdendo a empresa para os seus avós maternos?

—Srta Lork!Mesmo de casamento marcado você se inscreveu na Seleção?

—Srta Lork!Como pode ser tão vulgar de querer dois homens ricos e nobres como o príncipe e o Sr Agrestion?- Ah, sim, foi essa pergunta que me fez parar e me virar com tudo para a multidão.

—Quem disse isso?- perguntei com tanta raiva, que minha voz saiu tremida.Ninguém se manifestou e todos ficaram em silêncio.-Ninguém?Ótimo.Vou ser bem clara.- comecei a me aproximar do enorme grupo que estava em frente à minha empresa.Eles se afastaram.-O que eu faço, ou deixo de fazer, é da minha exclusiva e completa conta.Você não sabem nem a metade.São como cachorros.Pegam os restos que lhes jogam e devoram.Quando vocês quiserem uma boa história, a investiguem antes, sim?Juntem todos os fatos e todas as verdades antes de vir xingar os outros de vulgares.- falei friamente e dei as costas no exato momento que todos começaram a voltar a fazer perguntas.

Entrei na empresa bufando de raiva, o coração descompassado.Mel percebeu minha irritação e agarrou minha trança calmamente e começou a brincar com ela.Uma hora minha paciência se esvai e eu meto a mão na cara de alguém.Juro.Tia Mel já tinha visto que eu estava nas alturas quando me viu entrar e segurava o elevador para mim.Ela segurava a minha bolsa e a minha pasta enquanto eu levava as bolsas dos gêmeos.Connor levava a dele e Lívia levava a dela.

—Nem ligue para o que eles falam.- A loira foi falando assim que entrei e as portas do elevador se fecharam.Ele começou a subir.

—Hoje é aquele dia, sabe?O dia que eu finalmente vou poder matar alguém sem me importar.- sussurrei e vi que as duas ficaram tensas e trocaram olhares.Mal as portas se abriram em meu andar que eu já estava la fora, a caminho de minha sala.Os empregados já haviam a limpado, então não tinha sangue e nem vestígios de gás anestésico, o gás que me fez desmaiar.Larguei tudo no sofá e coloquei Mel na área de brinquedos.

Sinceramente, não percebi o tempo passar tão rápido assim.Na maior parte do tempo fiquei revisando os projetos de construções e as contas da empresa.Já tinha percebido irregularidades na conta, mas uma tão grande quanto essa, de 100 mil, me surpreendeu.Deixei que a reunião que tive com os investidores, agora ex-investidores, passasse e fui almoçar com as crianças e Melinda na Pizzaria dos Gonzales.

Lívia e eu nos entupimos de Pizza de Mussarela e de Calabresa.Estava tão gostoso.Connor comeu bastante, mas não tanto quanto eu e Lívia.Melinda foi a mais calma.Comeu dois pedaços de cada uma e depois me ajudou a dar de mamar aos gêmeos.Ela me atualizou um pouco sobre como iam as coisas em relação à transferência e depois de perceber que já passava das 14:30, voltamos para a empresa.

Deixei as crianças na sala e fui direto para a sala de reuniões no andar de cima.Teria uma reunião com a Sra Fisher e seu filho mais velho.Eles iriam se mudar e queriam deixar algumas coisas por aqui.Eles já estavam lá quando cheguei e já estavam acompanhados de seus advogados.Nem liguei muito, estava de cabeça quente e não queria me estressar.

—Sra Fisher! Sr Fisher!Como vão?- perguntei sorrindo educadamente, enquanto meus saltos ecoavam no chão de Madeira.Igor Fisher se levantou com uma velocidade surpreendente e beijou minha mão calmamente.Sorri meio forçado para ele.Mesmo casado é um completo cafajeste.Beijei o rosto de sua mãe.Era outra intragável, nunca vi pessoas mais falsas em toda minha vida.Suas doações só serviam para deixá-la com boa reputação.Minha vontade era de reclamar sempre que ela vinha, mas suas doações ajudavam gente demais lá fora.

—Estou muito bem.- respondeu ela enquanto voltava a se sentar.Puxei a cadeira e me sentei.

—Senhores advogados, como vão?- Sorri calmamente e eles sorriram de volta.-Muito bem, vamos começar.- Sorri um pouco e comecei meu trabalho.

Foram três horas e meia revisando itinerários, combinando contratos, fazendo listas do que ficavam e do que iam, para que lugar iria ser distribuído tudo.3h30m de pura enrolação e dor de cabeça da minha parte.Eu admito que finjo emoções muito bem.Mas essa vida de mentira não é pra mim.Então, quando a reunião acabou, catei minhas coisas e sai da sala, dando um simples tchau a todos.Era quase 18:50 quando entrei na minha sala depois de passar por Tia Mel.

—Vamos comer na minha casa hoje.- Tia Mel avisou enquanto entrava na sala.Franzi o cenho e a Olhei, enquanto fechava a pasta do notebook.

—Mas...- apenas com um olhar ela me calou completamente.Lívia já estava pronta com sua mala nas costas.Connor a mesma coisa.Guardei a parte de cima do terno verde que usava e arrumei a bolsa transversal em meu corpo.Agarrei a pasta do Notebook e caminhei até o berço de Toby.Ele dormia calmamente.O peguei com delicadeza e o aninhei em meu peito.Mel gritou do colo de Lívia, protestando ao não estar no meu colo.Ri baixinho e dei um beijo em sua testa.Ela se acalmou mais um pouco mas não deixou de resmungar enquanto todos nós íamos em direção ao elevador.

Tia Melinda foi em seu carro.Iria na frente, já que eu iria pegar Gerald na faculdade.Há semanas que ele janta, dorme e toma café da manhã em casa.As vezes penso que seus pais lhe deram um duplex atoa.Ele nem ao menos o usa.E quando pensei em Gerald, me veio à Seleção na cabeça.

Meus não-pós e contras vieram a minha cabeça e suspirei nervosamente.Infelizmente, ambas as opções, de ser escolhida ou não como Selecionada, me levavam a situações desagradáveis e a decisões infelizes.Mas tentei tirar isso da minha cabeça.

—Sacrifico, dever.- sussurrei baixinho e percebi Lívia me olhar estranho, assim como Gerald.-Cuidem da vida de vocês.- murmurei grossa e Gerald riu baixinho enquanto Lívia voltava a tagarelar.Dirigi calmamente até a casa que Melinda morava e calmamente parei em frente à ela.Dei uma buzinada e tirei o cinto enquanto desligava o carro.Tirei a chave do contato e Gerald pulou para fora do carro.

—Ruivinha!- exclamou uma voz da porta da casa dos Milton e eu Ri baixinho, descendo do carro.Fechei a porta e abri a porta de trás.Connor pulou de lá e correu para dentro da casa.Oliver parou ao meu lado.Sim, aquele Oliver, o capitão da polícia.Ele é filho de Melinda.Ele me abraçou pelos ombros quando voltei de dentro do carro com Mel em meu colo.-E então, como está seu olho?- Me perguntou enquanto Lívia pegava a chave de minha mão.Rapidamente Olhei para trás, enquanto avançava em direção à porta.Gerald estava lá com Toby em seu colo, esperando a loira terminar de pegar a mala dos gêmeos.Fiquei mais tranquila e entrei na casa, ainda abraçada a Oliver.

—Doendo um pouco.- respondi sorrindo fraquinho.Ele sorriu e me levou até a sala.Ao chegar lá, tropecei e cai encima das meninas.Elas riram e nos acomodamos no sofá.A Sala dos Milton era simples e aconchegante.Com as paredes azuis, o sofá meio desgastado cheio de almofadas, e a grande lareira debaixo da televisão me davam a sensação de estar em casa.Eu adorava esse lugar.

Meg foi a primeira a reagir.Me deu um abraço calmo, uma vez que sua enorme barriga atrapalhava.Ela estava grávida de gêmeos a seis meses.E não fazia nem um ano que tinha se casado com Oliver.Ela tinha longos cabelos morenos e um sorriso caloroso que te deixava a vontade.

Lorena foi a segunda, me dando um abraço de esmagar as costelas.Era casada com Ethan, o filho mais velho de Melinda.Tinha cabelos ruivos como o meu, mas que iam até os ombros e eram lisos.

Carina foi a terceira.Primeiro abraçou Mel e a mimou, só depois de mostrar que eu estava indignada que ela riu e veio me abraçar.Ela tinha cabelos encaracolados e era negra.Tinha um coração mais do que bom.Era a melhor pessoa que eu tinha conhecido em todos os meus 17 anos.

—Meninas!Saem de cima da menina Helena!- Carly, a esposa de Melinda, saiu da cozinha enquanto vinha até nós.Assim que vimos a colher de madeira em sua mão, nos separamos na velocidade da luz, a olhando um tanto risonhas e temerosas.Carly Milton é e sempre foi uma mulher meio irritada, sempre protetora, compreensível e conhecida por possuir um enorme coração.Tem cabelos longos e loiros, encaracolados na ponta.Olhos verdes tão analíticos que da até medo.Ah, e ela sente cheiro de uma mentira a quilômetros de distância.-Minha querida!- ela sorriu enquanto vinha me abraçar.Sorri e Passei meus braços ao redor de seu corpo.

—Como vai tia Carly?- perguntei sorrindo um pouco e ela acariciou meus cabelos.

—Eu que te pergunto!Faz meses que não vem me ver!- minha madrinha Sorri em minha direção enquanto se afasta e eu sorrio meio amarelo.É, deixar de lado as amizades era bom, às vezes.

—Sei que não.- murmurei envergonhada e ela me puxou para a cozinha.

—Bem, enquanto conversamos, você me ajuda com o jantar.- ela disse seriamente e eu assenti.Tirei meu terninho e o apoiei na cadeira da cozinha.Lavei as mãos e comecei a ajudá-la.

Duas horas depois de muita conversa séria, o jantar estava pronto.Para os vegetarianos, risoto de arroz.Para os carnívoros, lasanha de frango.Contei tudo a ela, tudo que acontecia na minha vida.Meus sentimentos, meus problemas no trabalho, na vida social.E quando terminei, parecia que o mundo havia saído dos meus ombros.

Sentar e comer foi um trabalho fácil, agora parar de rir de piadas e histórias de quando crianças, não foi.Rir é fraco demais, chorar de tanto rir é o certo.Era tanta história engraçada e divertida que não tinha como não rir.Os meninos sempre foram uns bobalhões, mas não como hoje.Eles se superaram!

Quando o jantar terminou, todos nós nos juntamos em frente à TV e esperamos calmamente o ínicio do Jornal Oficial de Illéa.Já estava mais do que nervosa quando finalmente começou, e a família real apareceu cheia de sorrisos na tela.Suspirei baixinho e Passei a observar o príncipe.

Ele é lindo- é um fato mais do que certeiro.Seus cabelos loiros eram sempre meio rebeldes, muitas vezes nem ao menos ele os escovava, o que eu achava hilário.Ele tinha o dom de te prender o fôlego, com esses enormes e intensos olhos azuis- e junto com o sorriso- era como se você perdesse a respiração por uns minutos.Eu o achava bonito, mesmo, mas não sentia nada.Nada mesmo.E esse era o problema.Não havia um turbilhão de sentimentos dentro de mim quando o via.Não havia.

—Senhorita Helena Lork, 17 anos, Carolina.- ouvi chamarem, mais especificamente Gavril Fadaye.

     Fiquei tão surpresa, que perdi até mesmo o raciocínio quando vi uma foto minha na tela.Era uma péssima até.Meus cabelos ruivos estavam todos desarrumados, meu rosto estava completamente azedo e meu sorriso era mal-humorado.Era a foto que eu tirei no Departamento de Serviços Provinciais mais perto.Eu tinha acordado às seis da manhã para ir entregar a ficha de Inscrição e, mesmo não tendo ninguém lá, estava estressada demais.

—VOCÊ FOI SELECIONADA!- surtou Lívia, Tia Mel e as outras garotas para cima de mim, enquanto eu nem ao menos sabia onde estava meu raciocínio.QUE?NÃOOOOOO!

Meu celular tocou, e não parou mais.