Um peso, duas medidas escrita por Miaka


Capítulo 5
Deslize


Notas iniciais do capítulo

Pessoal! Nem acredito que consegui postar essa semana! Tive alguns problemas, fiquei doente, fim de ano, vários compromissos, então estava mesmo descrente de que conseguiria postar, mas consegui! ^^ Espero que gostem!



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O pânico tomou conta de si.

Se não estivesse amarrado, decerto já tinha se levantado ali na tentativa de fugir.

Os olhos verdes, arregalados, refletiam a princesa de Kou, cujo belo rosto emoldurava um doce sorriso, o qual tinha Ja’far como alvo.

– Ja’far-san! - ela cobriu os lábios fingindo surpresa. - Então já acordou! Estava tão preocupada! - as safiras chegaram a lacrimejar.

Sinbad, por sua vez, observava de forma analítica as ações de Hakuei, ou melhor, Arba. Sabia muito bem do que aquela mulher era capaz. Estava exagerando demais em suas emoções, não?

– SAIA DAQUI AGORA, SUA VAGABUNDA!

Os pensamentos do rei foram cortados por seu furioso conselheiro. Tomado pela ira, Ja’far cerrou os punhos, trêmulo. Tudo o que queria era avançar naquela infeliz.

A mulher, por sua vez, apenas deu um passo para trás. A alegria de vê-lo se recuperar sendo substituída pela decepção de ser maltratada daquele jeito. Arba estava certa. Se precisava agir contra qualquer coisa que Ja’far pudesse dizer contra ela, era agora. Por isso não perdeu tempo e assim que amanheceu, apareceu ali.

– JA’FAR! - Sinbad repreendeu o albino.

– TIRA ESSA PIRANHA DAQUI AGORA, SIN! DO NOSSO PAÍS! DO NOSSO PALÁCIO! DO NOSSO LAR! EU QUERO ELA FORA DAQUI AGORA, OU NÃO RESPONDO POR MIM!

– Eu… eu peço desculpas! Eu só estava preocupada com o Ja’far-san, Sinbad-sama...

As lágrimas escorriam pelo rosto da princesa que havia sido extremamente ofendida. Ja’far estava simplesmente destruindo seus planos com aquele estardalhaço. Cada vez mais tinha certeza de que ele não estava com seu emocional nos eixos, para cometer tamanha gafe.

– Quem tem que pedir desculpas aqui é o Ja’far, Hakuei-sama. - ele foi categórico.

Ja’far ficara perplexo ao ouvir aquelas palavras.

Sinbad o encarava friamente, estava completamente decepcionado. E ser alvo de olhos tão repressores, olhos daquele que sempre buscou admiração, era duro demais para Ja’far.

– S-Sin… - ele gaguejou. - Não é possível! Eu estou nessa cama por causa dessa…

– CALE-SE, JA’FAR! Já foi o suficiente!

Era impossível conter o riso em meio às lágrimas ao ver o tão fiel cachorrinho de Sinbad ser humilhado por seu dono. Nem mesmo Arba, que era uma grande atriz, conseguia conter a satisfação que sentira. Esforçou-se para manter sua postura enquanto via Ja’far tentar se soltar daquela cama.

– Se não vai tirá-la daqui, eu vou embora! Estou cansado! Você está louco! - ele entrecortava as frases com um soluço, sucumbindo às lágrimas. - Eu disse mil vezes para não trazer essa bruxa para nosso lar!

Aquelas palavras eram como uma pequena centelha que poderia dar início a um incêndio. O moreno arregalou os olhos, vendo todo seu plano indo por água abaixo. Hakuei não podia imaginar que tinha conhecido de que ela era Arba. Não agora...

– JÁ CHEGA! - exclamou Sinbad. - Não quero ouvir mais um pio seu! Mais uma ofensa à digníssima - ele enfatizou aquele elogio, precisava despistar qualquer suspeita daquela mulher. - Hakuei-sama!

O par de esmeraldas estava arregalado enquanto as lágrimas caíam pelo rosto alvo.

Ja’far não tinha a menor reação, como se todas as suas forças tivessem sido sugadas. Não se lembrava de Sinbad defender nem mesmo ele assim. Havia estado entre a vida e a morte por culpa daquela mulher, a qual ele defendia com unhas e dentes.

– S-Sinbad-sama, por favor, não quero que tenham uma discussão por…

– Ja’far não tem o direito de desrespeitá-la! - alterado, o moreno interrompeu a princesa. - Ele está falando besteiras demais! - os olhos dourados fuzilavam o albino.

– Não se preocupe, Sinbad-sama. - ela tentou esboçar um fraco sorriso. - Ja’far-san está confuso… Creio que ele está passando por coisas muito difíceis ultimamente...

Hakuei, então, se aproximou da cama e estendeu a mão para o ainda perplexo Ja’far, que não conseguia esboçar simplesmente nada, completamente estarrecido com o que via e ouvia.

– Eu tenho certeza de que tudo que o Ja’far-san faz é pensando no bem de Sindria e ainda vamos ser ótimos amigos, não é?

A mulher se curvou para frente, respeitosamente, e encarou de frente o albino que a encarou com asco e, sem dó, cuspiu em seu rosto.

– O que significa isso?!

Arba imediatamente se afastou, controlando a vontade que tinha de estrangular Ja’far ali mesmo, mas decidiu continuar fingindo confusão e choro, afinal, havia sido humilhada. Sinbad, por sua vez, assistiu àquilo simplesmente chocado com o comportamento de seu conselheiro para então colocar-se entre ele e a princesa de Kou com a mão levantada, tendo como alvo o rosto de um desafiador Ja’far que o encarou.

– VAMOS! FAÇA O QUE TEM QUE FAZER! - Ja’far o desafiou.

Era como se caísse em si ao ver o que estava prestes a cometer. O que estava fazendo? Ia agredir Ja’far, algo que nunca fez antes, e com ele estando acamado como estava? Devia estar louco como Ja’far mesmo havia lhe dito. O que estava acontecendo?

– M-me perdoe, Ja’far… Não era… não era isso o que eu ia fazer…

Sinbad estava desconcertado, desconhecendo a si mesmo por aquela atitude. Parecia cisma sua, mas desde que aquela mulher havia pisado no palácio, coisas estranhas estavam acontecendo.

Arba, por sua vez, ao ver que Sinbad começava a ceder ao seu conselheiro, decidiu intervir de uma maneira mais suja.

– Me desculpem, fui… extremamente humilhada, vou me retirar.

Dando meia-volta, a princesa de Kou saiu apressada, fazendo Sinbad se preocupar. Será que ela havia descoberto algo? Suspeitado de que sabia a verdade?

Encarou o albino que tinha o olhar perdido enquanto as lágrimas caíam. O que tinha acontecido de verdade? Ele sabia que não tinha como alguém ter atacado Ja’far, a cela estava trancada. Culpar Arba era uma maneira de Ja’far tentar convencê-lo a tirá-la de Sindria, afinal, ele era obcecado com aquele país muito mais do que Sinbad. Aquilo estava fazendo mal a ele, Sinbad sabia e, pior, estava destruindo a relação tão preciosa que possuíam.

– Ja’far...

Sinbad tentou tocar no rosto do albino, mas o mesmo se afastou como pôde. Não conseguia nem ao menos encará-lo e Sinbad, ao ser privado daqueles olhos verdes que tanto amava, sentia seu peito se comprimir. Doía.

– Vou para uma reunião agora… - o moreno sussurrou. - Por favor, descanse.

– Não tenho como fazer outra coisa amarrado aqui… - Ja’far respondeu.

– Me entenda, por favor… Você está colocando Sindria em risco expondo a Arba que sabemos dela, Ja’far… - Sinbad balançou a cabeça desolado.

– Saia daqui…

A voz do conselheiro falhou, se perdendo no choro silencioso. Sindria, Sindria… Era tudo o que importava para ele? Sentia-se patético ali preso como um animal. Novamente havia sido humilhado por aquele a quem sempre ofereceu sua vida. Sentia-se cansado, seus ferimentos doíam e a única coisa que podia fazer era fechar os olhos e esperar o pior.

Sinbad suspirou, sentindo-se péssimo ao ver Ja’far daquele jeito. Ao menos ele havia se acalmado e estava seguro de que ele permaneceria ali.

– Vou pedir para que façam guarda na porta do quarto para que se sinta tranquilo, ok?

Ele tinha certeza do que Ja’far havia feito, mas se jogar o jogo dele fosse melhorar as coisas entre eles, Sinbad o faria. Não suportava aquela distância justo com a pessoa que mais amava.

– Descanse.

Foi tudo o que ele disse antes de deixá-lo em seus aposentos, saindo dali extremamente cabisbaixo. Seria mais um longo dia…


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Já passava de meio-dia quando adentrou à sala de reunião, já sendo aguardado por seus generais que tinham expressões preocupadas. Afinal, do que se tratava aquela reunião? Além de ser tão atípico uma reunião na qual Ja’far não estava, sendo ele quem organizava e conduzia todas elas. Mas parecia que havia algo mais. Sinbad podia sentir no ar uma estranha tensão e alguns olhares de desagrado que eram disfarçados quando os encarava.

– Boa tarde a todos.

Ouvindo a resposta ao seu cumprimento, Sinbad se sentou ao lado da cadeira que estava vazia, o lugar que pertencia ao conselheiro e oficial parlamentar daquele país.

Alvo dos olhares de todos, era nítido o quanto estava abatido e cansado. O clima não era dos melhores e a tendência parecia ser só piorar.

– Como está o Ja’far-san, majestade? - Pisti teve coragem de tomar a palavra.

– Ele está melhor. Está se recuperando... - Sinbad esboçou um fraco sorriso.

– Não é o que soubemos, ainda mais ouvindo os gritos da discussão dessa manhã. - Hinahoho foi categórico, encarando fixamente seu rei.

Sinbad suspirou pesado, enquanto que os outros desviavam o olhar. Não era algo que deviam comentar, mas Hinahoho estava em seu limite quanto àquela situação. Afinal, havia visto ambos crescerem. Não tolerava que estivessem se tratando daquela forma ríspida.

– Aconteceu algo com Ja’far que não sei? - o moreno inqueriu.

O silêncio predominou enquanto uma aflita Yamuraiha apertava as vestes nos joelhos.

– Ma… majestade… - ela começou, receosa. - Eu estive nos seus aposentos para ver o Ja’far-san e… ele estava chorando e não quis falar comigo. - a maga, entristecida, comentou.

Os olhos dourados do rei fitaram suas próprias mãos sobre a mesa, evitando entrar em contato com os dos outros.

– Diga a verdade, Yamu! - Sharrkan rompeu o silêncio. - Majestade, é verdade que o Ja’far-san está amarrado na cama?

Todos estavam chocados com a forma direta que o moreno havia trazido aquilo à tona. Mas afinal, era o que todos queriam fazer e estavam chocados em saber aquilo até agora. O único que continuava firme encarando Sinbad à espera de uma resposta era Sharrkan, que havia tido coragem de questionar seu rei quanto àquilo que todos consideraram um absurdo.

Sinbad, por sua vez, cruzou os dedos e apoiou a fronte neles. Sentia-se exausto. Mas era a hora de revelar tudo.

– Bem, vocês tem o direito de saber e foi para isso que fiz essa reunião… - ele começou. - Fui eu que amarrei o Ja’far ali e, sei que ele está triste, mas é para o próprio bem dele!

– Como assim? - Hinahoho era o que parecia mais indignado com a situação. - Você tem noção do que está fazendo? Acho que Ja’far precisava de carinho depois do que passou e não ser torturado!

– Vocês podem me julgar! - Sinbad se exaltou. - Mas o que estou fazendo é pelo bem do Ja’far!

– Você não se dispôs a ir atrás de quem fez aquilo com ele, nem isso, Sinbad! - o robusto homem elevou o tom de voz.

– Porque NINGUÉM fez aquilo com Ja’far!

O rei se levantou, furioso e frustrado com toda aquela situação. Todos ficaram surpresos, o que Sinbad queria dizer?

– Ja’far feriu a si mesmo! - ele prosseguiu. - Eu o encontrei! A cela dele estava trancada! Quando sai de lá, Ja’far mesmo a trancou e jogou a chave fora! - ele explicava aos gritos. - Quando o encontrei machucado daquele jeito, a chave estava no mesmo lugar que ele a jogou! NINGUÉM ENTROU NA CELA! O JA’FAR FEZ ISSO COM ELE MESMO!

– Não pode ser… - Yamuraiha estava perplexa.

– Sinbad, sabe que o Ja’far é uma pessoa forte! Ele jamais faria isso!

– Eu também pensava isso, Hina, mas não foi o que eu vi! O que eu estou vendo é o Ja’far perder a razão! Está descontrolado! Tudo o que quero é que ele não se machuque mais! Droga!

Esbravejando, Sinbad parecia perder suas forças. Praticamente se jogou de volta à cadeira, apoiando o rosto aos punhos. Pisti rapidamente encheu um copo d’água para seu rei, agora um tanto quanto compreensivos com ele.

– Por que o Ja’far-san faria algo assim?! - Sharrkan não se conformava. - Digo…

– Talvez porque não fazemos nosso trabalho… - Pisti voltou a se sentar, cabisbaixa.

Sharrkan se calou. A loira estava certa. Ja’far vivia sobrecarregado de trabalho. Fazia o seu, o de Sinbad e de todos os outros, como sempre. Havia se tornado um hábito.

– Devíamos ser mais responsáveis… - a maga mordia o lábio inferior, pensativa.

– Não é o momento para encontrarmos um culpado. - Sinbad os interrompeu. - Porém eu realmente vou pedir a colaboração de todos vocês com o trabalho administrativo. A partir de hoje o Ja’far não será mais responsável pelos oficiais e nem meu conselheiro.

– O QUÊ?! - todos exclamaram em uníssono.

– Minha prioridade é a saúde do Ja’far. Ele está muito sensível e… tenho certeza de que fez isso porque se sente talvez só, sobrecarregado. O que importa é que não podemos deixar isso continuar e temos que nos esforçar para que Ja’far se sinta bem, ok? Sei que é dificil porque ele está sempre fugindo das diversões e querendo trabalhar, mas creio que reduzir o volume de trabalho dele é fundamental para que ele volte aos eixos.

Os generais se entreolharam, todos sentindo um pouco o peso daquela culpa. Afinal, Ja’far vivia para o trabalho. Dia e noite era possível encontrá-lo em seu escritório. O pouco que dormia era sentado, em sua mesa, entre um pergaminho e outro no qual trabalhava. Porém, trabalhar era um hobby para ele e todos sabiam da satisfação que ele sentia naquilo.

– Você acha que o Ja’far vai concordar com isso, Sinbad? - Drakon questionou.

– Ele não terá o que questionar, Drakon. - o moreno suspirou. - É uma ordem! Vamos trabalhar mais para que Ja’far possa descansar. Em especial agora, enquanto se recupera, quero ele afastado de qualquer trabalho.

– Mais uma vez vai exigir algo a ele? - Hinahoho o interrompeu. - Não acha que isso também está fazendo mal ao Ja’far?

O rei odiava admitir, mas seu amigo tinha razão. Aquela sucessão de discussões se dera após tantas imposições que havia feito. Trazendo Arba para Sindria, defendendo-a…

– Me desculpe, majestade, mas eu só estou vendo o Ja’far-san ter esses problemas depois que aquela mulher chegou aqui.

As palavras de Sharrkan complementaram seu pensamento.

Sinbad estalou a língua. Ah, se soubesse que teria tantos problemas trazendo Hakuei, melhor, Arba para debaixo de seu teto…

– Eu sei e Ja’far não está lidando bem com isso. Mas eu preciso que ele entenda e colabore. Eu vou mantê-lo no meu quarto para cuidar dele, para termos certeza de que ele vá descansar… - ele pausou, vendo-se alvo dos olhares desconfiados daqueles que eram mais que seus servos, eram sua família. - e vou soltá-lo, ok? Eu só… tive medo que ele pudesse se ferir novamente.

– Não adianta não deixar o Ja’far se ferir e machucá-lo desse jeito! Imagine o que ele deve estar pensando agora, e depois de tê-lo deixado o dia inteiro preso! - Hinahoho não tinha papas na língua para protestar a favor do albino.

– T-tem razão… - Sinbad abaixou a cabeça. - Vou falar com ele assim que sair daqui. Bem… - ele empurrou a cadeira para trás e se levantou. - era só isso. Por favor, conto com a colaboração de todos vocês.

O rei deixou a sala ouvindo Yamuraiha e Pisti combinando de irem buscar todo o trabalho que estava acumulado na mesa de Ja’far. Ficou aliviado, sabia que podia contar com eles.

Seguiu então pelo jardim externo do palácio para chegar a ala de convivência. Fazia bastante sol, não havia uma nuvem sequer no céu. Foi quando avistou, sentada na mureta da fonte central do jardim, uma cabisbaixa Hakuei.

Tinha vontade de fingir que não havia a visto. Mas após os absurdos que Ja’far dissera e fizera naquela manhã, ele não tinha escolha. De qualquer forma, provavelmente o albino devia estar descansando ainda.

Caminhou até a fonte, dando a volta na mesma, chegando por trás daquela que esboçou um sorriso malicioso ao ouvir aqueles passos, mas logo refez a expressão melancólica.

– Com licença, Hakuei-sama.

– Ah, Sinbad-sama!

Ela ergueu o rosto e fingiu surpresa ao ver aquele que surgia à sua frente. Sinbad sentiu o peito apertar ao ver os olhos azuis que estavam inchados e avermelhados. Dizer que Ja’far havia exagerado era muito pouco - até mesmo para aquela vadia, pensou.

– Posso me sentar ao seu lado?

Esbanjando simpatia, Sinbad sabia como cortejar uma dama de verdade. Sorridente, aproximou-se.

– C-claro. - ela gaguejou, corando.

Sentou-se ao lado da moça e inspirou profundamente com um sorriso de quem estava completamente despreocupado. Afinal, precisava demonstrar a ela que estava tudo bem entre eles, não?

– Me… me perdoe por ter ido aos seus aposentos essa ma…

– Eu que peço desculpas pela forma como Ja’far lhe tratou. - ele a interrompeu, encarando-a fixamente. - Farei com que ele mesmo a peça perdão depois. Mas eu mesmo peço perdão por ele. Eu sinto muito, mas o Ja’far não anda muito bem…

– Não? Algum problema de saúde? - ela arqueou uma sobrancelha. - Coitado, o que ele tem?

– Infelizmente… a culpa é minha.

O que estava fazendo? Ia se abrir para aquela bruxa?

De qualquer forma, sentira-se tão julgado por seus próprios amigos e generais. Conversar com alguém ‘desconhecido’ que poderia não fazer algo parecido talvez pudesse confortar melhor seu coração.

– Como a culpa pode ser sua? - Hakuei abriu um fraco sorriso, o olhar distante. - É um ótimo rei, amigo de seus servos e de seu povo…

– Talvez eu não seja tudo isso o que você pensa. - o moreno suspirou. - Ja’far é meu melhor amigo desde a infância. Vivemos juntos desde lá e… ele é a pessoa que mais confio. E estou sempre jogando minhas responsabilidades em cima dele! Ele não sabe o que é diversão, só pensa em trabalhar, no bem-estar do nosso país, no MEU bem-estar… - Sinbad balançava a cabeça, um pouco comovido pela nostalgia. - e agora estou vendo ele tão frágil, tão sensível… Parece que passei anos tacando pedras nele enquanto ele resistia e finalmente parece que agora eu finalmente o quebrei! - ele desabafava como se esquecesse completamente com quem estava falando. - E não fiz nada em troca por ele! Tudo o que fiz foi lhe desgastar e agora…

– Não é culpa sua.

A voz melodiosa veio acompanhada da mão suave que cobriu a dele, apoiada na mureta a qual se sentavam. Piscou, encarando os olhos azuis daquela que sorria com ternura, levando a mão livre ao rosto masculino. Afagou-o com carinho, dourados e azuis numa sintonia única.

Arba não havia aprendido a conquistar um homem ontem. E até mesmo esse homem sendo Sinbad, ela sabia que aquele momento delicado era o ideal para que pudesse pôr em prática seu plano. Ele estava completamente desarmado. Talvez, com tamanha distração e entrega, pudesse matá-lo ali naquele momento, mas não era isso o que ela planejava.

– É claro que fez muito em troca por ele! Quem não gostaria de viver ao seu lado, um homem tão encantador? Tenho certeza que ele é imensamente grato por permitir tê-lo com você, Sinbad-sama

Dentro de si ele tinha a certeza de que devia se afastar, que aquilo estava começando a ir longe demais, porém, não era esse seu plano? Seduzir aquela mulher e trazê-la para seu lado? Não estava dando certo, já que era ela que estava o seduzindo e fazia isso muito bem…. Ele sentia os dedos macios dela deslizarem por seu rosto e há tanto tempo não sentia o toque de uma mulher? Uma sensação nostálgica e agradável o fez se aproximar mais dela.

– Eu mesma… - ela continuou. - adoraria viver aqui para sempre![1] Sentindo essa brisa do mar, esse sol, estando ao lado de pessoas tão maravilhosas… de um homem tão encantador…

A proximidade era mínima e os olhos se fecharam quando preferiram apenas se sentir e não mais se encarar. Mesmo sendo ela a dona da iniciativa, foi Sinbad que abocanhou os lábios da princesa. Não houve arrependimento nem dor na consciência. Sua mente estava completamente vazia e tudo o que precisava naquele momento era saciar o desejo de beija-la, de tê-la…

O braço do moreno deu a volta na cintura de Hakuei para que ele pudesse aproximá-la mais ainda. As mãos dela espalmadas no peitoral dele, como se quisesse evitar aquele contato, fugir. Afinal, era a recatada primeira princesa de Kou, não? Devia agir como tal. Mas o fingimento se perdia no intenso beijo daquele homem. Como queria levá-lo para a cama. Suas línguas se entrelaçavam e ele parecia faminto, aspirando aquele forte perfume feminino que ela exalava. O aroma que lhe lembrava tanto ela....

Apartaram-se apenas quando o ar lhes fez falta. Ofegante, Sinbad abriu os olhos para enxergar a mulher que havia beijado e a realidade fora impiedosa com ele. Talvez sua nostalgia e desejo haviam se confundido de uma forma terrível. O arrependimento quase instantâneo.

– M-me perdoe! - ele se levantou de supetão. - Eu não queria desrespeitá-la e...

A princesa estava extremamente corada, mas exibia um belo sorriso.

– Não me desrespeitou, não diga isso. Eu… eu… também quis beijá-lo...

Se estivesse tudo fazendo parte de seu plano de seduzi-la, Sinbad provavelmente estaria feliz com aquilo. Porém, fora vítima de sua própria artimanha. Havia caído como um patinho, seduzido completamente por aquela mulher. Sentiu-se traindo não só a si mesmo, mas seus amigos e… Ja’far.

Olhou para o alto de uma das torres do palácio em direção à janela de seus próprios aposentos. Seu coração disparou. Ela estava aberta e uma sombra os observava, afastando-se dela assim que percebera que haviam lhe descoberto.

– Droga!

Não houve tempo para se despedir, para pedir perdão.

Tudo o que Sinbad agora pensava era se Ja’far havia os visto. Sentia-se um monstro da pior espécie. Como pudera trair os sentimentos de Ja’far? Por que havia se lembrado daquela pessoa? Amaldiçoava a si mesmo enquanto correu de forma desesperada pelos corredores do palácio.

Os servos lhe questionavam o que havia acontecido, se podiam ajudar vossa majestade, mas nem ao menos eram respondidos. Sinbad prosseguiu seu caminho, afoito, arrependido e disposto a implorar perdão a Ja’far.

Chegou até a porta de seus aposentos e simplesmente travou. Respirou fundo, sabendo que, ao abri-la, poderia perder aquele que mais amava. Aquele que havia sido seu suporte todo esse tempo, seu melhor amigo, seu confidente, seu amante.

Não havia volta. Respirou fundo e abriu aquela porta.


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Notas finais do capítulo

[1] - Menção a O Iluminado (??)

Eu sei. Vocês querem me estrangular com a forma que terminei esse capítulo, não é? Hahaha! Eu confesso que queria escrever mais, mas meus capítulos acabam ficando enormes então... até o próximo capítulo! Espero que estejam gostando! Eu queria muito chegar a esse ponto da fic! Estava esperando mencionar uma personagem que adoro e que, ultimamente, sempre dou um jeitinho de dar uma menção nas minhas fics sinja, vcs já sabem quem é (ainda mais se leram Placebo! hahaha!). Pessoal, críticas, sugestões, comentários são sempre bem-vindos! Assim vocês me ajudam a prosseguir a fic e a melhorá-la! Beijos!



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