Um peso, duas medidas escrita por Miaka


Capítulo 4
Tempestade


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! *__* Primeiramente, muito obrigada a todos que estão lendo e comentando! Além de me deixar muito feliz, me motiva a prosseguir a história!



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Os olhos dourados permaneciam arregalados ao ver o corpo ensanguentado de seu conselheiro ali, naquele chão frio. Balançou a cabeça tentando sair do choque, afinal, não podia se dar ao luxo de ficar ali parado. Precisava ajudar Ja’far. Ele estava vivo, não estava?

Perguntando a si mesmo aquilo e conseguindo ouvir, sem a menor dificuldade, as batidas de seu próprio coração que estava tão acelerado, Sinbad tentou abrir a porta daquela cela, mas esta se encontrava trancada. Bufando furioso, não pensou em recolher a chave que permanecia ao chão. Não tinha tempo. Forçou o máximo que pôde até que a conseguiu arrombar, algo que fez sem muita dificuldade devido ao nervosismo e a fúria que o consumiam.

Correu até o albino, agachando-se próximo a ele para recolhê-lo tendo cuidado para não machucá-lo mais. Apoiou o corpo imóvel em seu peito e, ofegante, ele ficou nauseado ao analisar o ferimento no abdome do rapaz. Perguntava-se como havia acontecido aquilo. Foi quando encontrou o household vessel de Ja’far ao chão, banhado com o mesmo sangue de seu dono. A porta estava trancada. Não, era impossível! - pensou consigo mesmo.

– Oe, Ja’far! - ele tentou reanimá-lo estapeando de leve o rosto pálido.

O desespero consumiu o rei de Sindria ao ver que ele não reagia.

Levou dois dedos na altura do pescoço de seu general e suspirou aliviado ao encontrar ali a pulsação acelerada dele devido à intensa hemorragia. Afagou os fios que eram tingidos pelo escarlate em alívio.

– Você vai ficar bem, Ja’far! Está me ouvindo?

Não havia resposta. Mas Sinbad tentava passar aquela segurança não ao rapaz inconsciente, e sim a si mesmo enquanto tomava em seus braços o albino, tão menor que ele e que, naquele estado, parecia tão mais frágil.

Os servos se assustaram ao ver o aflito rei seguir às pressas pelos corredores com Ja’far em seu colo. Naquela corrida eles deixavam um longo rastro de sangue que pingava do corpo do conselheiro daquele país, tão querido por todos que ficavam estarrecidos ao vê-lo naquele estado.

– Quero todos os médicos da corte nos meus aposentos agora! - ordenava Sinbad enquanto prosseguia em seu trajeto.

Não demorou muito para que todos os generais e os outros aparecessem ao ouvir a comoção que se formava. Aqueles que estavam ainda na sala de jantar se alarmaram ao ver Ja’far tão ferido e foram seguindo seu rei até os andares superiores.

– O que aconteceu?! - Yamuraiha cobriu os lábios assustada ao ver a situação de seu amigo.

Um robusto homem ultrapassou a jovem e segurou firmemente o ombro de Sinbad, interrompendo sua corrida.

– Oe, Sinbad! Quem fez isso com o Ja’far?! - os olhos azuis de Hinahoho faiscavam ao ver o rapaz que praticamente ajudara a criar desde pequeno naquele estado.

– Não é hora para isso, Hina. - Sinbad estava transtornado. - Salvar o Ja’far é a prioridade agora!

Sinbad se afastou e continuou seguindo seu caminho. Parecia que nada, além da preocupação com o bem-estar de Ja’far, poderia ser processado mais por sua mente.

Chegou em seus aposentos e correu até à enorme cama que ficava no centro daquele amplo quarto, onde depositou cuidadosamente o corpo daquele que não esboçara a menor reação durante todo aquele tempo.

– Ja’far! - ele se ajoelhou ao lado da cama e segurou a mão saudável do rapaz. - Ei, Ja’far, não… - Sinbad engoliu a seco. - não ouse me deixar! É uma ordem, ouviu? Ouviu, Ja’far? - insistiu.

Os aposentos do rei foram abruptamente invadidos pelos médicos da corte que atendiam o chamado de seu rei. Ele nem ao menos se mexeu ao ver a aproximação de todos que começavam já a examinar a gravidade do estado daquele que era a segunda maior autoridade daquele país.

– Majestade, vamos cuidar do Ja’far-san! - Yamuraiha, que estava junto de Masrur, anunciou. - Espere lá fora, por favor.

– Tsc, o que foi que eu fiz?! - o moreno apoiava a fronte na mão alva que segurava. Ignorava completamente a maga ao seu lado. - Ja’far, por favor…

– Fique lá fora, majestade, por favor. - ela insistia piedosa com a frustração de seu rei. - O Ja’far-san vai ficar bem mais rápido se pudermos tratar dele logo. - explicou.

– Não quero deixar o Ja’far! - Sinbad parecia desesperado. - Se eu não tivesse deixado ele lá…

– Sin-sama?

Aquela voz masculina chamou a atenção do rei. Ele olhou para cima e viu o fanalis que meneou a cabeça. Sinbad sabia o que tinha que fazer - ou Masrur o forçaria a fazer. Soltou os dedos nos quais os seus estavam entrelaçados e foi conduzido até a porta pelo ruivo.

– Sinbad-sama!!!!

Não era possível. De todos que poderiam aparecer agora, ela estava ali, junto dos demais generais. Hakuei se aproximava com uma expressão melancólica e Sinbad não sabia como agir agora. Não tinha como forjar um sorriso. Estava tomado pela angústia. As mãos trêmulas foram tomadas pela moça sem a menor cerimônia.

– Sinbad-sama, eu soube o que aconteceu com o Ja’far-san! Que fatalidade terrível!

Ele não sabia o que dizer. Apenas a encarou, nitidamente atordoado.

– Trouxemos a Hakuei-sama para cá porque não sabemos quem atacou o Ja’far-san. - Sharrkan tomou a frente. - É mais seguro mantermos ela conosco, não é, majestade?

– S-sim…

Sinbad tentava organizar as ideias quando sentiu suas vestes, essas completamente manchadas do sangue de seu conselheiro, serem puxadas por Hinahoho, forçando-o a soltar as mãos da princesa de Kou.

– Quem fez isso com o Ja’far, Sinbad?! - aquele que tinha o dobro da altura de seu rei o sacudia. - Vamos atrás dele agora!

Uma gota gélida de suor escorreu pelo rosto de Hakuei ao ver Sinbad ser inquirido daquela forma, enquanto que os outros seguravam seu amigo. Ah, se ele soubesse que quem havia feito aquilo estava bem diante de seus olhos.

– Oe, Hinahoho-san, pare com isso! - Drakon pedia ao contê-lo.

– OU... FOI VOCÊ QUEM FEZ ISSO COM ESSA PALHAÇADA QUE ESTÁ TENDO ENTRE VOCÊ E O JA’FAR?! - Hinahoho o puxou para mais perto. - SERIA CAPAZ?!

– Ei, parem! - Sharrkan interviu, ajudando a afastar o rei que não reagia ao questionamento agressivo de seu servo.

– Eu… eu não sei… - a voz de Sinbad falhou. - Eu só cheguei na cela dele e o encontrei assim… - ele levou as mãos até os cabelos. - É culpa minha! Não devia tê-lo deixado lá! DROGA!

Esmurrando a parede mais próxima, Sinbad rangeu os dentes, furioso consigo mesmo.

Ele sabia a verdade. Ele tinha visto a verdade. Ou ao menos o que acreditava ser ela.

Respirou fundo sendo alvo dos olhares que esperavam alguma decisão de seu rei. Ele precisava retomar o foco. Precisava por as ideias no lugar, mas não tendo ideia da gravidade do estado de Ja’far, ele parecia estar correndo em círculos. Tinha de ser sensato e agir como o rei que era, afinal, se Ja’far estivesse ali, com certeza o estapearia e o faria retomar a postura que sua posição exigia.

– Spartos, por favor, conduza a Hakuei-sama à ala dos quartos de hóspedes. Está tudo seguro já.

– N-não, Sinbad-sama, eu ficarei aqui aguardando notícias do Ja’far-san ao seu lado! - ela queria se manter por perto, afinal, certamente, se Ja’far sobrevivesse, contaria tudo e precisava estar pronta para encenar como contornaria aquilo tudo.

– Por favor, não. Eu agradeço, mas preciso ficar só e na companhia dos meus generais agora. - Sinbad tentava se manter impassível.

– Por favor, alteza. - o príncipe de Sasan dava passagem a ela, sem questionar um segundo as ordens de seu rei.

Aquilo só deixava Hakuei, melhor, Arba com mais raiva. Via como Sinbad ficava simplesmente fora de si por causa daquele mero subordinado. Mas precisava se comportar, afinal, tinha de preparar seu plano B. Tinha certeza de que Ja’far morreria. Como Sinbad havia descoberto o que acontecera?

– Bem… então, com licença. Eu estarei rezando pela recuperação do Ja’far-san.

Com um sorriso melancólico, a primeira princesa de Kou se curvou, despedindo-se do rei que mal a encarou. Estava angustiado demais para ter que lidar com ela.

E assim que ela se retirou na companhia de Spartos, Sinbad suspirou e limpou a garganta.

– Podem ficar tranquilos quanto a quem atacou o Ja’far… Assim que tudo se acalmar, quero uma reunião e… vamos discutir muitas coisas.

Todos se entreolharam sem ter muito o que dizer. O melhor a fazer era confiar nas palavras de Sinbad, que nitidamente não estava em condições de ser questionado sobre mais nada.

–--------xxxxxx----------

A madrugada já caía após uma hora desde que deixara Ja’far em seus aposentos.

O rei permanecia andando de um lado para o outro naquele corredor sob vigilância dos olhares de seus generais, tão angustiados quanto ele à espera de notícias. Foi quando a porta se abriu e Sinbad praticamente se lançou na frente do primeiro dos médicos da corte que saíram.

– COMO ELE ESTÁ?! - o rei, desesperado, segurou pelos ombros o homem assustado com seu clamor.

– Ja’far-san está se recuperando, majestade! - ele tentou reportar o melhor possível a sua majestade, nitidamente exausto como os demais. - O estado dele é estável, mas felizmente não teve nenhum órgão ferido, mas tivemos que fazer algumas suturas extensas. Como perdeu muito sangue, a recuperação vai ser demorada. Precisa de muito repouso. - explicou. - Agora só depende mesmo do Ja’far-san...

– Entendo… - Sinbad estava aliviado. - Ele está acordado?

– Não, vai demorar um pouco para ele voltar a si não só pela hemorragia, mas ele está medicado também. Creio que...

Foi quando o servo percebeu estar falando sozinho.

Sinbad já havia adentrado aos próprios aposentos. Precisava ver Ja’far com seus próprios olhos, ter a certeza de que ele estava bem.

Encontrou o albino inconsciente recostado nos travesseiros. A roupa de cama que havia ficado completamente manchada de sangue, como as vestes de Ja’far, haviam sido completamente trocadas por limpas.

Ele vestia uma blusa de linho branco, aberta próximo à gola para deixá-lo confortável. O braço direito estava enfaixado e pousado sobre seu colo. Sinbad estava aliviado. Chegou a pensar na possibilidade de seu conselheiro perder aquele braço ao ver a gravidade daquele ferimento.

Ja’far parecia dormir tranquilamente. Os fios esbranquiçados que caiam sobre a fronte escondiam as ataduras acima do olho esquerdo. Como ele havia se machucado daquele jeito? - Sinbad se questionava.

Sentou-se na poltrona ao lado da cama e tomou a mão que repousava lateralmente ao seu corpo. Observava o subir e descer suave de seu peito, os lábios rosados entreabertos. Parecia um anjo adormecido.

Estava aliviado em vê-lo fora de perigo, mas Sinbad ainda não estava conformado.

– Eu não acredito que foi capaz de fazer isso, Ja’far… Depois de tudo o que passamos… Nunca imaginei que poderia chegar a esse ponto.
Majestade! - Yamuraiha bateu na porta e anunciou sua entrada.
Hm?

– Pode ir descansar, vamos revezar para cuidar do Ja’far-san. - ela sorriu.
Não se preocupem. Eu vou ficar aqui até o Ja’far acordar. Obrigado, mas podem ir dormir.

– Tem certeza, majestade? - a maga indagou.

– Sim, por favor. Qualquer coisa eu chamo vocês… Caso o Ja’far desperte logo, por favor, avise os outros que quero uma reunião bem cedo amanhã. Só sairei daqui quando ele acordar.

– Faremos uma reunião sem o Ja’far-san? - Yamuraiha piscou estranhando, já que Ja’far praticamente conduzia todas as reuniões daquele país.

– O assunto é ele… - Sinbad suspirou.

– Entendido. Com licença.

Durante toda a conversa, Yamuraiha pôde notar que os olhos de Sinbad não saíram de cima de Ja’far. O remorso parecia corroer a alma de seu rei. Ela apenas se curvou e fechou a porta, atendendo o pedido de seu rei. Havia sido um dia extremamente cansativo para todos, em especial, para ele.

Abriu os olhos vagarosamente. Sentia o corpo pesado. Parecia ter dormido dias.

Pôs os pês para fora da cama após descobrir-se e estalou o pescoço antes de se levantar.

Apesar de saber que tinha tanto trabalho a ser feito, sentia-se animado, afinal, trabalhar era o que mais gostava de fazer. Trabalhar pelo bem daquele país que tanto amava.

Não demorou em se vestir, abotoando a blusa de gola alta e colocando por cima as vestes de tons pastéis, ajeitando a parte superior por dentro da faixa na cintura.

Encarou-se no espelho e ajeitou os fios alvos antes de colocar o keffiyeh. Abriu um pequeno sorriso sabendo qual a primeira atividade que devia ser feita.

Diariamente era o responsável por acordar seu rei, sempre atrasado para os primeiros compromissos da manhã. Apesar de ser estressante acordá-lo, era uma satisfação. Em especial, claro, por Sinbad possuir aquele hábito de dormir completamente nu. Mordiscava o lábio inferior ao pensar naquilo, mas logo em seguida bateu no próprio rosto corado, sentindo a culpa de nutrir aquele sentimento. Ora, não era novidade alguma que o amava intensamente…

Caminhou pelo corredor da ala dos dormitórios dos nobres por um curto período, afinal, seus aposentos ficavam extremamente próximos aos de seu rei.

Se ele aceitasse, como Sinbad pedia, permanecer dormindo ao seu lado após fazerem amor, todas as noites, aquele trajeto seria desnecessário e poderia acordá-lo de um jeito mais especial.

Ja’far, então, chegou defronte à enorme porta de mogno e tentou adentrar, porém, estranhou ao encontrar a porta trancada. Não era do feitio de seu rei fazer aquilo e, se lembrava bem, na noite anterior havia saído dali e a deixado aberta. Bem, não importava. O albino tirou de dentro da manga a chave daquele quarto que, além de Sinbad, ele era o único possuía.

Rapidamente ele abriu a porta e adentrou o lugar, fechando-a em seguida, pois sabia que seu rei não devia estar em trajes apropriados. Melhor, ele não estaria usando traje algum.

Caminhou até a grandiosa cama e, sem prestar muita atenção, a primeira coisa que fez foi puxar os lençois de seda que cobriam Sinbad. Mas a bela imagem que Ja’far viu foi um pouco além, aliás, muito além do que ele imaginava encontrar.

Lá estava Sinbad, completamente nu como de costume, mas com seu corpo entrelaçado no belíssimo corpo daquela mulher também exposta. Os fartos seios se atritavam no peitoral do moreno e ondas de fios púrpura e negros se misturavam. As pernas da moça estavam encaixadas entre as dele, aquela que imediatamente abriu os olhos ao ser descoberta.

– Ah, o que é isso?

Ja’far nada respondeu. Nada fez. Estava em choque ao se deparar com aquela cena.

Não conseguia nem forjar uma desculpa e se retirar dali, porque também seu orgulho não se contentaria em esconder a indignação de ver aquela cena imunda. Aquela cama fedia à sexo. Seu rei havia se entregado àquela bruxa na cama que inúmeras vezes compartilharam. Os punhos se apertaram nos lençois que ele ainda segurava.

– O que significa isso? - Sinbad despertava um tanto quanto desorientado. Esfregou os olhos tentando retomar o foco. - Anh? Ja’far?

O rei se assustou. Não esperava a presença de Ja'far ali, ainda mais tendo a princesa de Kou em seus braços. Essa que se encolhia no corpo escultural daquele homem. Seu homem.

– S-Sin… - Ja’far balbuciou, procurando fôlego para pronunciar o costumeiro apelido.

– Tsc, onde está com a cabeça?! Está constrangendo a vossa rainha! - ralhou o rei.

– Anh? - aquelas palavras pareciam tê-lo despertado daquele torpor que o choque lhe induzira. - Rainha? - perguntou. - Você está louco? - Ja’far reagiu. - Essa piranha é Arba! A bruxa que você pôs aqui dentro e está destruindo tudo entre nós, está destruindo esse país! Você se deitou com ela! Eu não acredito! E na nossa cama!

– Não ouse falar assim da minha esposa! - Sinbad ergueu a voz.

– Sinbad-samaaaaa! - Hakuei se agarrou ao homem. - Nunca fui tão humilhada…

– Fique tranquila. - Sinbad tomou a mão da moça e beijou delicadamente. - Ja’far, - ele se voltou ao albino. - Ja’far, você esperava o quê? Você é um homem. - o rei explicava com naturalidade. - Esperava que o transformasse em rainha deste país? Eu finalmente tenho chance de refazer minha vida, construir uma família com uma mulher digna! Conversamos sobre e você disse que me apoiaria, afinal, você me disse que me acompanharia até o fim, certo?

Aquelas palavras eram extremamente dolorosas e deveras humilhantes.

Se havia algo que Ja’far sempre sentiria culpa era do fato que jamais seria capaz de dar a Sinbad uma família, tampouco ser assumido como nada mais que um caso escondido. E agora via seu rei usar as palavras de devoção que Ja’far mesmo declarava contra ele.

– S-Sin… Do que está…

Eu pensei que tudo já tinha ficado bem claro, mas se insiste nisso, eu dispenso seus serviços, ok?

– Está me dispensando? - os olhos verdes arregalaram. - Sin, você tem ideia do que está falando? - ele se voltou a Hakuei, furioso. - VAGABUNDA, COLOCOU ALGUM FEITIÇO NELE?! - Ja’far perdera o controle.

– RESPEITE VOSSA RAINHA OU EU DECRETO SUA SENTENÇA AQUI MESMO, JA’FAR! - Sinbad foi categórico.

– POIS FAÇA! - Ja’far o desafiou. - Essa vadia nunca vai ser minha rainha! E se você sempre me usou como disse, Sin, eu mesmo não quero nunca mais servi-lo!

Primeiro será punido pelo desacato à vossa rainha, Ja’far. Depois vá para onde quiser! - o rei imperou.

– Sinbad-sama. - a voz melodiosa interrompia. - Acho que sei como podemos acertar tudo e Ja’far-san pode ser perdoado!

O albino arqueou uma sobrancelha. Qual era a trama daquela bruxa?

– Qual sua ideia, meu amor? - Sinbad indagou. Aquele adjetivo que dera a Hakuei fez Ja’far sentir náuseas.

– Eu quero o Ja’far-san como meu escravo, já que ele me humilhou tanto… - ela forjava o choro.

– Que ridícula! Não há escravos em Sindria! - Ja’far cruzou os braços de certa forma vitorioso.

– Não tinha. - Sinbad o corrigiu. - Hakuei e eu estamos reestruturando toda a política de Sindria e acho uma ideia maravilhosa, já que irá satisfazer minha esposa, Ja’far. Permanecerá em Sindria como nosso escravo!

Não era possível. Era uma brincadeira de mau-gosto. Só podia ser.

Via aquela mulher gargalhar agarrada àquele que costumava ser só seu.

Tinha de ser um sonho. Um pesadelo. Se fosse real… não suportaria.

Acordou num sobressalto. Os olhos verdes se arregalaram como se sua alma tivesse simplesmente despencado de volta em seu corpo. Estava tão atordoado por aquele sonho que mal percebeu onde estava, ainda sem foco.

Só sentiu as mãos masculinas apararem seus ombros para que não se levantasse naquela euforia. Foi então que o foco se ajustou e aos poucos identificou o moreno que o continha.

– Oe, Ja’far… - Sinbad chamou baixo para não assustá-lo. - Tudo bem, tudo bem. - ele tentou acalmá-lo, sorrindo ao vê-lo despertar.

– S-Sin…

Foi caindo em si que Ja’far sentiu a dor daquela ferida se espalhar por todo seu corpo. Gemeu um tanto quanto assustado. O que havia acontecido?

– Fique calmo, Ja’far. Não pode se mexer ainda! - Sinbad se preocupou. - Vai abrir seus ferimentos desse jeito! - advertiu.

Ja’far tentou reorganizar os pensamentos e se tocou que estava no quarto de Sinbad. Melhor, estava em sua cama. A luz dos candelabros se tornava inútil devido ao amanhecer que já era exposto pelos primeiros raios de sol que adentravam aquele quarto.

Seu braço direito, o único para fora dos lençóis que o cobriam, estava imobilizado. Lembrava-se então de seu próprio household vessel dilacerando sua carne e o atravessando. Então… havia sobrevivido? - questionou a si mesmo. Sentiu o alívio lhe dominar, apesar do latejar de suas feridas. Sinbad estava ali ao seu lado. Alguém devia ter testemunhado tudo e havia sido salvo. Ren Hakuei já não estava mais naquele país.

– Sin… - a voz enfraquecida do albino chamou. - pensei que… nunca mais o veria...

– Eu também, Ja’far...

Sinbad afagou os fios brancos, afastando-os e se inclinou para beijar com doçura a fronte de Ja’far. O conselheiro de Sindria cerrou os olhos e sorriu em alivio. Tudo havia sido um pesadelo, sim…

– Como se sente? - Sinbad perguntou.

– Péssimo… - Ja’far sorriu de canto um risinho. - Mas creio que posso trabalhar normalmente.

– Nem em sonho! - o rei foi categórico. - Não vai sair dessa cama tão cedo! Muito menos para trabalhar. É uma ordem. Está proibido de fazer qualquer coisa que não seja se concentrar em se recuperar! - ele dizia seriamente.

– Tudo bem, traga toda a papelada que trabalho aqui então. - Ja’far sorria, estava tão feliz em saber que todo aquele pesadelo havia terminado.
Sabia que há poucas horas estava agonizando? - o moreno cruzou os braços. - E vai escrever como com esse braço? - Sinbad apontou.

– Esqueceu que sou ambidestro? - Ja’far retrucou divertido.

Sinbad mordiscou o lábio com aquela informação. Não lembrava ao certo, mas Ja’far fazia a confirmação que ele realmente considerava importante naquele momento. Suspirou pesado de uma maneira melancólica e aquilo chamou a atenção do albino.

– O que f...

Duas batidas foram dadas à porta, interrompendo o dizer de Ja’far.

– Pode entrar!

Assim que o rei concedeu permissão, o servo abriu a porta e pôs apenas a cabeça para dentro.

– Majestade, Hakuei-sama está pedindo uma audiência.

Hakuei?

Os olhos verdes cresceram. Como ela podia estar ainda no palácio? Se estivesse, se Sinbad fosse piedoso como era, ela poderia estar em cárcere, mas estava pedindo uma audiência?

– Tsc, diga a ela que tenho uma reunião com os generais daqui a pouco e talvez a tarde posso atendê-la. - Sinbad parecia cansado daquela mulher.

– S-Sin… - Ja’far estava trêmulo. - Como assim essa louca está aqui ainda?

Um tanto quanto agitado e receoso, Ja’far tentou se levantar, apoiando-se nos travesseiros e usando da mão que tinha sob o lençol para ao menos se sentar, ignorando a dor de seus ferimentos. Mas… por que não conseguia tirar a mão dali?

Foi quando se deparou com o lençol que estava amarrado ao seu pulso. Surpreso e temeroso, ele encarou Sinbad que ainda despachava o servo que já se retirava.

– Essa mulher ainda me deixa louco… - Sinbad voltava a se dirigir à cama.
Sin…

A expressão outrora feliz de Ja’far foi substituida por um misto de confusão e decepção. O que significava aquilo? Estava amarrado à uma das barras laterais daquela cama. E notando que seu general havia se dado conta de sua situação, Sinbad suspirou. Era hora de terem aquela conversa que havia planejado durante toda aquela noite em que ficara vigiando o sono de Ja’far.

– O que significa isso, Sin? - ele perguntava num sussurro, a voz trêmula, mal o encarava.

– Ja’far… - o rei de Sindria coçou a nuca, não sabia como começar.
O QUE SIGNIFICA ISSO, SINBAD?! - Ja’far exclamou furioso, encarando-o.
Por favor, Ja’far, acalme-se! - Sinbad tentou argumentar, sabia que não seria fácil.

– VOCÊ ME AMARROU NUMA CAMA E DEPOIS DE EU SER ENJAULADO! E VOCÊ QUER QUE FIQUE, ARGH! - ele se contorceu sentindo os ferimentos latejarem.

– Tsc, fique calmo! Não pode fazer esforço! - Sinbad se alarmou.

– Você… - Ja’far ofegava. - você deixou aquela miserável que fez isso comigo solta e me amarra aqui… É pra ela me matar de uma vez? Por que não me deixou sangrar até morrer, Sinbad? Era menos doloroso!

Sinbad voltou a se sentar naquela poltrona ao lado da cama. A dor não permitiria que Ja’far fizesse mais movimentos bruscos. O máximo que podia fazer era continuar tentando puxar seu braço preso firmemente com aquele lençol.

– Ja’far, eu já entendi tudo! - ele tentava se manter centrado. - Eu preciso que se acalme e vamos conversar! Eu sei tudo o que aconteceu! Não precisa mais mentir para mim! Eu errei e… e fiz você chegar a esse extremo!
Do que está falando?

Sinbad respirou fundo. Precisava ser direto. Aquilo havia passado dos limites e precisava ser franco. Não só a saúde física de Ja’far lhe preocupava agora.

– Eu sei que você se feriu desse jeito, Ja’far! Eu estou… muito triste porque nunca imaginaria que seria capaz disso! Você quase morreu, Ja’far! Preocupou a todos nós!

Ja’far balançou a cabeça descrente nas palavras que ouvia. Então Sinbad estava imaginando que havia se ferido propositalmente?

– Quê? Eu me feri?! Aquela louca foi até minha cela dizer que te mataria, eu a ataquei e ela quase me matou como você vê! - Ja’far explicava o óbvio.

– Ja’far, você está fazendo tudo isso para acusar a Arba! Para chamar a minha atenção! Todos nós sabemos que ela é perigosa, mas seu ciúme lhe levou ao extremo! O que seria de nós se não o encontrasse daquele jeito?

– SIN, EU IMPLORO, ACREDITE EM MIM! - Ja’far exclamou. - EU NÃO FIZ ISSO!

– Você mesmo disse agora que é ambidestro, Ja’far. Seria facil para você ferir seu braço direito.

– Eu nunca conseguiria ferir a mim mesmo de uma forma tão profunda!

– A cela estava fechada, Ja’far!

– Eu estou jurando a vo… Ah! - ele interrompeu a si mesmo sentindo o ferimento latejar.

– JÁ CHEGA! - Sinbad falou mais alto tentando encerrar aquela discussão. - Olhe para você, seu estado!

Ja’far sentiu o sangue quente manchar seu curativo. Tinha vontade de chorar de desespero. De tudo o que imaginava, sendo salvo ele acreditava ter a prova das maldades que aquela bruxa estava disposta a fazer, aquilo era o pior.

– Me solta, Sin… - ele ofegava. - É tudo o que estou pedindo.

– É para sua própria segurança, Ja’far. Eu entendo que você pode não compreender agora, mas tudo o que estou fazendo é pelo seu próprio bem! Não quero que se machuque mais!

Sinbad foi interrompido pelo riso de Ja’far. Apesar de sentir as lágrimas nos cantos dos olhos, o albino ria.

– O único que está me machucando aqui é você, Sin…

– Não queria ter essa conversa de uma forma tão agressiva com você, Ja’far...

O rei tentou tocar o rosto alvo, mas tudo que o conselheiro fez foi virá-lo para o lado oposto. Estava indignado, revoltado.

– Você tem trabalhado demais, está confuso. Creio que foi um delírio seu sobre a Arba. Ela não faria nada assim que pudesse condená-la, você sabe…
Agora além de suicida, sou louco…

– Eu só quero te ajudar, Ja’far… - Sinbad estalava a língua, estava angustiado. - Por favor, não pense que estou fazendo uma maldade com você!

– Pois você está! E você vai pagar muito caro por isso, Sin… Você só vai se tocar do que aquela bruxa é capaz quando ela lhe matar...

Novas batidas na porta chamaram a atenção de Sinbad. Ja’far ignorou completamente aquilo sentindo-se novamente um prisioneiro. Parecia não ter saída. Como Sinbad acreditaria nele?

– Sinbad-sama? - a voz feminina chamou.

Ja’far se virou para trás, em direção à porta e seu coração disparou ao ver aquele doce sorriso nos lábios da bela mulher.

Era ninguém menos que sua algoz, aquela que estava disposta a tudo para tomar o que era seu, Ren Hakuei.


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Notas finais do capítulo

Por essa o Ja'far não esperava, coitado. Estou começando a ficar com raiva do Sin! HAHAHA! Espero que tenham gostado! *__* Lembrem-se que sugestões, elogios e críticas são sempre bem-vindas! ^^



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