Tão vermelho vibrante escarlate. Assim era o sangue que manchava suas mãos. Os respingos em seu vestido lilás a deixavam ainda mais perplexa. Moira olhava para suas mãos com lágrimas nos olhos, pois aquele era o fim, mas não de si. Ela ergueu sua visão e pode ver Daniel a sua frente também manchado de sangue. Um nó surgiu em sua garganta, o ar lhe chegava como alfinetes e a canção do mundo dos mortos ecoavam em sua cabeça. Aquela imagem perturbadora transformou-se no mínimo asquerosa quando Daniel virou para o lado dando passagem para a visão da garota. Jack, o pirata mais incrível que já conhecera estava morto com uma espada cravada em seu estômago. Ela estava confusa, quem poderia ter calado eternamente o esperto pirata? Uma dor quase que mortal chegou a seu coração assim que reconheceu a espada fincada no pirata. Por fim obteve sua resposta.

— Jack! – Gritou. Moira no espanto acabou indo de encontro ao chão do navio. Notou o silêncio na embarcação e assim pode respirar com um certo alívio. Tudo não passava de um sonho ruim ou melhor, um pesadelo.

Estremeceu a se recordar do sonho anterior, onde se afogava em alto mar. Pensar em ter aquele maldito pesadelo em forma real a deixava angustiada. Ela então levantou, pegou sua espada e saiu da cela para procurar algum barril com água potável para lavar o rosto.

Minutos depois ela seguiu para o convés e ficou surpresa com a névoa densa que cobria a nau. Não conseguia enxergar absolutamente nada, até mesmo o som das águas estava ameno.

— Olá? Tem alguém aqui ? – Chamou mas não obteve resposta.

Ela então segurou a bainha de sua espada e seguiu para o leme. Não acreditava que o navio estaria navegando sem comando. Cautelosamente Moira subiu os degraus até a popa e avistou o leme abandonado. Antes que pudesse fazer qualquer movimento foi rendida por trás com uma espada posta em seu pescoço. A respiração quente próximo a seu ouvido fez seus pelos arrepiarem.

— Caiu da cama?...do banco? – O aroma de rum e a voz sedutora fez Moira sorrir discretamente.

— Bom dia Jack... – Ela passou os dedos finos e delicados pela lâmina da espada do pirata, afastando a arma de si e logo virou-se para ele. – Estou angustiada a respeito do nosso destino, acabei perdendo o sono.

Jack guardou sua espada e se aproximou lentamente de Moira. Ela ficou entre Sparrow e a amurada.

— Eu tenho um jeito, uma manobra infalível para ajudar a senhorita a relaxar – O timbre de Jack era suave. Ele lentamente acariciava o rosto da jovem. Seu rosto estava bem próximo ao de Moira. A garota engoliu em seco aquela sensação estranha que lhe percorria.

— Como? Manchando a minha honra?

— Ou apenas lhe mostrando o gosto que tem – Jack entreabriu os lábios para tocar os de Moira. Quando ela o empurrou de leve, olhando fixo para sua frente.

— Oque é aquilo?

— Este não seria o momento onde você finalmente cedia aos meus encantos? – Jack mostrava-se decepcionado por sua tentativa frustrada.

— Tem algo ali capitão Sparrow, eu vi – Moira disse sem mudar sua visão e ignorando completamente as palavras do pirata.

— Saiba que não estarei disposto a uma segunda vez amor. E como pode dizer que está vendo algo com essa nebli-

Nesse instante o capitão se calou ao ver uma criatura gigantesca emergir do mar. O corpo como de uma serpente, e a cabeça de dragão. Sua pele era escura e escamosa. Ela novamente mergulhou no mar criando ondas fortes que balançaram o navio com mais intensidade. Moira e Jack se entreolharam e ela então correu para acordar todos os marujos pois uma batalha se daria início.

Ela soou o alarme e os homens apareciam atordoados já empunhando suas espadas e pistolas. Jack a frente do leme começou a dar ordens.

— Soltem as amarras, ajustar a verga do navio, preparar os canhões, rápido ratos de convés!

— Meu navio, minhas ordens! – Gritou Barbossa enquanto subia até Jack.

— Jack! Estamos nós armando contra oque?! – Gritou Gibbs.

Antes de Jack ousar a pensar em uma resposta, a grande criatura se chocou contra a lateral do navio fazendo com que a tripulação viesse ao chão. Moira desceu até o arsenal e junto com Ragette pegou uma caixa com várias lanças. Os dois voltaram ao convés e se depararam com mais gritaria e um novo ataque da fera. Ragette segurou a jovem pelo braço a impedindo de cair e ela agradeceu.

— A senhorita deveria tentar se proteger – Sugeriu o pirata caolho.

— Eu não posso. Acho que sei que criatura é essa. – Ela respondeu e logo pegou uma das lanças e seguiu até onde os capitães estavam.

O monstro balançou suas pequenas asas e com uma espécie de rugido liberou de sua boca várias serpentes negras. Os répteis caíram sobre a embarcação e os homem prontamente atacaram com suas espadas perfurando as serpentes e com tiros para aniquilar de vez os bichos.

— Não! Esperem não façam isso! – Moira Gritou mas foi ignorada pelos piratas – Capitão Barbossa, senhor Sparrow! Ordenem aos marujos que não matem as serpentes. É isso que ela espera! – Os capitães se entreolharam e novamente fitaram a garota – Por favor acreditem em mim!

Sem mais opções os rivais deram suas ordens aos seus subordinados que obedeceram com receio. Barbossa olhou com desconfiança para Moira mas preferiu guardar para si seus pensamentos.

— E então menina? Qual é o seu plano? – Hector perguntou.

— Órion vai soltar mais serpentes porque espera nosso ataque, e cada ser humano que mata uma de suas crias tem aquele destino – Ela apontou o dedo para alguns marujos que caiam no chão se contorcendo e se transformando em uma das criaturas soltas por Órion. Jack arregalou os olhos incrédulo com oque estava presenciando.

— Desde quando você se tornou perita em criaturas do mar? – Perguntou.

— Literatura Jack. Acredite ou não, meu livro predileto conta sobre Órion; a mulher amaldiçoada... Confiem em mim.

Como já esperado, Sparrow se preparava para contestar as palavras da moça. Mas Barbossa os surpreendeu gritando para a tripulação para que obedecessem as ordem de Moira. Ela sorriu de maneira tímida para Hector e foi retribuída com um sorriso largo.

A bela garota subiu na amurada segurando-se em algumas cordas presas a um dos mastros do navio.

— Me escutem! Órion vai atacar com mais serpentes e como viram quem as matarem será amaldiçoado tornando- se também uma serpente!

— Vamos jogar esses demônios no mar! – Gritou um pirata impaciente.

— Não! Essas pequenas criaturas são inofensivas e como todos viram, são apenas pessoas infelizes que tiveram a má sorte de se depararem com Órion. Portanto senhores... Preparem os canhões, pistolas, lanças, espadas, pólvora, tudo! Vamos matar Órion.

A agitação aumentou por toda a extensão do Pérola Negra. Barbossa olhou para Jack como se finalmente tivesse desvendado o mistério do pirata rival.

— Então é ela Jack – afirmou Hector

Nesse instante Órion ressurgiu para mais um ataque. Bateu sua barbatana contra o navio destruindo boa parte da lateral esquerda e novamente soltou suas serpentes. Os piratas a atacaram com lanças e tiros que não pareciam surtir qualquer efeito. Então quando a criatura submergiu no mar novamente. Jack desceu até a área onde os canhões estavam sendo preparados. Ficou profundamente irritado ao ver o estrago que Órion causou em seu precioso Pérola.

— Todos a postos, não quero ver aquela cobra arrancar mais uma única madeira do meu navio!

     O capitão mais velho estava sobre o controle do leme. Tudo ficou calmo e alguns homens chegaram a pensar que a criatura havia recuado.

— Acabou? – Disse Gibbs observando o mar.

— Não... – Respondeu Moira. Ela se virou para olhar o outro lado da embarcação quando avistou um pirata prestes a aniquilar algumas cobras. Sem pensar duas vezes cruzou sua espada com a do homem – Não! Oque pensa que está fazendo ?

— O que pensa que está fazendo você vadia! Não recebo ordens de uma mulher! – Gritou o homem investindo golpes contra a garota que de forma desordenada se defendia.

Jack retornou ao convés com uma espingarda em mãos. Apenas observou a peleja até outros marujos ajudarem a jovem a se livrar daquele patife.

Órion apareceu e Jack ordenou abrir fogo contra a fera. A criatura soltou um berro estridente mas ainda estava viva.

— Vamos lá cobra dos infernos, morre – Jack dizia entre dentes enquanto o réptil ainda resistia. Ela desceu novamente.

" O olho, fure o olho esquerdo e tudo chegará ao fim"

Moira ouviu a voz suave delicadamente adentrar em seus ouvidos. Por algum motivo que desconhecia, ela já não se surpreendeu com o timbre misterioso.

— Sparrow! O olho, temos que atingir o olho esquerdo!

Jack olhou para a espingarda e para o mastro principal. Rapidamente começou a subir pelas cordas até o topo do mastro. Logo todos entenderam os planos do capitão.

— Isso é loucura... – Disse Moira

— Isso é Jack Sparrow – Retrucou Gibbs sorridente.

Com dificuldades se equilibrou sobre a madeira que prendia as velas e mirou para baixo. Quando Órion emergiu com toda fúria Sparrow atirou em seu alvo, ouvindo mais uma vez o rugi da grande serpente. A criatura lentamente começava a descer para as profundezas do oceano. Mas antes de desaparecer olhou para o Pérola e Moira por um instante estremeceu. Pois era como se a criatura a fitasse.

O vento se intensificou fazendo com que Sparrow perdesse o equilíbrio e caísse do alto do mastro. Moira e os outros correram para socorrer seu capitão quando a voz animada dele chamou a atenção de todos.

— Excelente não? – Jack sorriu. O malandro conseguiu se safar de maneira quase imperceptível. – Então você estava certa...

Quando Moira olhou para onde Jack mantinha sua visão viu as serpentes voltarem a sua forma original; Humanos.

— Já pode me ceder o posto de capitão se quiser – Brincou a garota que logo ficou séria ao perceber um rosto familiar em meio aos outros. – Elizabeth...