Friendzone escrita por moonrian


Capítulo 11
Talentoso de Cabelos Ruivos


Notas iniciais do capítulo

Yoo, pessoas o/
Demorei um pouco, mas cheguei com um capítulo novinho de Friendzone pra vocês!
O motivo da minha demora é muito simples, chama-se Shakespeare! Dignei um tempo da minha vida para tomar vergonha na cara e finalmente ler algumas peças de Shakespeare que mofavam no meu pc (sim, eu só tenho em PDF). Não, queridos, eu não li por mero prazer, mesmo que eu tenha gostado, mas porque eu precisava para esse capítulo mega teatral!
Como vocês sabem, Camus foi intimado por Milo para fazer um teste de teatro com ele, e para isso serão necessários alguns monólogos. Fiz bastante pesquisa sobre as peças e também vi diversos videos de pessoas representando os monólogos que selecionei para que eu conseguisse descrever de maneira correta cada representação e torço que o resultado agrade vocês!
Quero agradecer as lindas que comentaram o capítulo anterior: Automne, Suh, Haleth, Mayu e Tonb :3
*Boa Leitura*



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Camus de Lenfent segue Milo em silêncio pelos corredores, enquanto o rapaz tagarela sobre sua relação com Kanon e sobre os motivos que fizeram o tal “inútil e mimado” o estopim da discórdia, um rapaz chamado Julian Solo. Reclama com o aquariano desinteressado sobre como o Julian é apaixonado pelo geminiano, que Milo não tem certeza se é de fato um tonto ou apenas se faz de um – já Camus acredita que o tal Kanon sabe sim da paixão do amigo e gosta, por isso insiste tanto nessa amizade que desagrada o escorpiano, porque é um afago no ego; mas claro que o francês não compartilha suas ideias.

Então Milo volta a perturba-lo com o assunto do Afrodite quando o mesmo passa por eles em uma pose esnobe, claramente irritado com Camus por causa das palavras nada delicadas depois do sexo; e o aquariano, já cansado da falação interminável do loiro, começa a enumerar mentalmente as mil maneiras de calar a boca do tagarela.

1º - Fingir um enfarto;

2º - Simular um ataque epilético;

3º - Sorrir abertamente (funciona com todos);

4º - Beija-lo profundamente (o deixará em silêncio mais alguns minutos bônus após Camus ter terminado);

5º - Convence-lo a lhe fazer um boquete...

Camus se horroriza internamente com o rumo de seus pensamentos, mas logo depois se questiona o motivo, já que o loiro ao seu lado é extremamente belo e um compromisso nunca o impediu de ter uma boa noite com alguém. É estranho que seus pensamentos só tenham seguido esse caminho agora.

Por que ele consegue ser tão tolerante com Milo? Como esse encrenqueiro consegue o induzir a fazer brincadeiras? Por que acata as imposições dele, como a de ser seu amigo e agora atuar? Como pôde não cogitar até então usa-lo da maneira que fez com Afrodite? O que está acontecendo consigo?

Olha para Milo em busca de respostas e nota que este o observa em silêncio, como se esperasse uma resposta para o que disse, algo do longo falatório que Camus não ouviu. Se perguntar o que ele disse, o grego certamente repetirá o longo discurso tedioso, então opta por sacudir a cabeça em concordância na esperança de que seja resposta o bastante. E aparentemente é, pois Milo logo está sorrindo, radiante.

— Nossa, sério? – Pergunta Milo, surpreso, enquanto descem o último lance de escada. – Que bom que você concordou com minha opinião sem discussão, afinal, estou mesmo certo. Kanon devia ser mais como você, Camyu. Você é compreensivo e um bom ouvinte, ao contrário daquele babaca, que é imaturo demais para entender aonde quero chegar sem levar minha opinião como uma ofensa pessoal!

“Ele deve pensar obscenidades ao seu respeito e fingir que ouve o que diz?”, pensa Camus, mas ao invés disso, responde:

— Não me chame de Camyu, é ridículo.

Milo apenas ri e sacode a cabeça.

Chegam ao mural de atividades extracurriculares, posicionado ao lado da porta da secretaria, e escrevem seus nomes com Milo contando que logo, logo o diretor Shion estará ali para ver se ele se compromissou por escrito a fazer parte da peça. Informam-se no papel que o teste será daqui a algumas horas, na última aula.

Vão para suas respectivas aulas, o escorpiano combinando de se encontrarem na ida ao auditório.

A notícia de que Camus de Lenfent fará um teste para a peça da escola se espalha mais rápido do que um incêndio, os alunos ficando animados em assistir o primeiro projeto em que o aquariano se prontifica a participar – ele não faz nada que não seja necessário para sua pontuação, pois esse tipo de coisa significa “dar duro de graça”.

Na última aula, Camus se dirige calmamente para o auditório, encontrando Milo no caminho, que avisa outra vez que o plano é se sair mal naquele teste para que apenas ajudem no cenário, o que o aquariano não se opõe.

Quando chegam ao local, ambos se surpreendem ao vê-lo lotado, a maioria dos alunos matando suas aulas para verem o desempenho de Camus, mas somente Milo deixa transparecer. Até o diretor Shion está ali para ver com os seus próprios olhos se o introspectivo Camus irá mesmo tentar um papel na peça do colégio, pois quando leu o nome do rapaz abaixo do de Milo, não acreditou.

O grego escorpiano olha embasbacado a multidão que apareceu apenas para ver o francês, que mostra não se importar com os olhares admirados e cheios de expectativa direcionados a si – aquele ruivo, mesmo sendo reservado e um antissocial de marca maior, é realmente muito popular no Colégio Santuário.

“E como não haveria de ser?”, pensa Milo com certa indignação, “Com aquela beleza exótica e o sotaque charmoso, é impossível não nota-lo”.

Mas o único detalhe que atrai a atenção do ruivo é o belo homem de lisos cabelos azuis cerúleos parado em cima do palco, olhando de maneira pensativa a superlotação. O homem, que o ruivo desconfia ser o professor de teatro, se destaca com sua beleza e suavidade, elegantemente vestido com um blazer preto sobre uma camisa social e uma calça jeans, os sapatos italianos perfeitamente engraxados – e Camus está o olhando de cima a baixo mais uma vez.

— Uau, mas o professor de teatro é muito bonito! – Comenta Milo, admirando o homem sobre o palco.

— É Albáfica, o irmão de Afrodite – informa Camus.

O escorpiano olha para o francês com uma careta de desgosto.

— Não posso culpa-lo por isso.

Quando estão se aproximando do palco, Albáfica os nota, e Camus aproveita a atenção sobre si para lançar uma piscadela para seu professor. O pisciano cora levemente e revira os olhos para as tentativas de flerte do ruivo, que se empolga ainda mais com o jogo de sedução quando Albáfica está resistindo.

— Vieram fazer o teste, certo? – Pergunta o professor quando os rapazes param ao pé do palco.

— Sim, senhor – responde Milo – E não sairemos daqui até receber um Oscar!

Um pequeno sorriso se forma nos lábios de Albáfica.

— Ganhará no máximo um papel em nossa peça, mas já é um começo. – Albáfica volta sua atenção para o ruivo um pouco mais atrás. – Toda essa gente está aqui para ver você? Vejo que é bem popular.

Camus apenas dá de ombros.

— Não faço nada para ganhar toda essa admiração.

— O diretor diz que não tem problema, então tudo bem. Se vocês não treinaram alguma peça para apresentar antes de vir, tem uma caixa de papelão sobre aquela mesa – aponta com o queixo para um ponto as costas dos meninos – com diversos monólogos. Peguem um e estudem por enquanto, certo? Quando o teste começar, representem o que escolheram da melhor forma possível. Alguma dúvida?

Eles sacodem a cabeça, negando.

— Certo, podem ir.

Os rapazes se viram e caminham até a caixa sobre uma mesa de madeira a frente das cadeiras para o público, onde há uma pilha de papéis grampeados. Ambos os rapazes reviram as folhas em busca de alguma peça que os interesse; Milo optando por um monólogo trágico de Romeu pela peça ser muito conhecida e por isso considera-la “muito fácil” e quase impossível de errar; Camus escolhe aleatoriamente e acaba pegando um monólogo trágico de Otelo, que também pertence a Shakespeare, do qual nunca leu na vida.

Sentam-se no chão a frente da mesa junto com os outros trinta alunos que tentarão fazer parte da peça, pois todos os lugares estão ocupados pelos curiosos que vieram ali para ver Camus atuar.

Os fãs do francês o observam sua expressão concentrada na folha que lê, a franja rubra que esconde seus olhos sendo empurrada para trás de maneira distraída arranca alguns suspiros e comentários sobre como ele consegue ser sexy mesmo sem qualquer pretensão para tal.

Uma das garotas presentes comenta com seu grupo de amigos que o magnetismo pessoal de Camus não só afeta as mulheres, homens e crianças, mas também se estende aos armários, cadeiras e até a um peixinho dourado em um aquário.

O som de palmas faz os alunos se silenciarem e voltarem sua atenção para o belo homem no palco, que arranca alguns suspiros de admiração.

— Olá, alunos do Colégio Santuário – começa Albáfica em um tom cortês. – A maioria de vocês não me conhece e sabe que o verdadeiro professor responsável é o Sr. Misty, mas como ele ficou indisposto essa manhã, eu estou aqui para substituí-lo. Chamo-me Albáfica Erikson, tenho 25 anos e faço faculdade de Artes Cênicas e Museologia em Atena. A maioria de vocês está aqui para ver um rapaz fazer sua estreia em atividades extracurriculares, pelo que soube, e o diretor Shion permitiu dessa vez que fiquem desde que não atrapalhem. Peço apenas que respeitem as pessoas que subirem neste palco por motivos de educação. Vamos começar as apresentações.

Albáfica sai do palco e caminha em direção aos jovens sentados ao chão, pedindo aleatoriamente para que alguns subissem, dissessem seus nomes e apresentassem seus monólogos. Senta-se sobre a mesa e assiste algumas tentativas que eram simplesmente lastimáveis e que o pisciano até tenta para-los logo no começo para dar dicas, mas não ajuda muito; e outras apresentações foram boas o bastante para arrancar um sorriso do rosto sério de Albáfica, e naquele instante Camus decidiu rechaçar o plano de Milo e fazer a melhor apresentação possível.

Quando o aquariano finalmente foi escolhido para apresentar seu monólogo, houve uma série de palmas e assobios extasiados que não pareceram abala-lo nem um pouco, quase como se ignorasse o fato de todos estarem ali por ele.

Camus para na frente do palco e dirige seu olhar para Albáfica, as feições tão saturadas de estoicismo quanto sempre.

— Sou Camus de Lenfent, último ano e irei representar um monólogo da peça “Otelo” de William Shakespeare.

Albáfica assente, dando autorização para que o rapaz começasse.

Então as feições de Camus mudam completamente, tornando-se mais expressiva, seus olhos cobertos de certo orgulho próprio e uma tristeza resignada. Aquele não é mais o aquariano belíssimo que as jovens costumam perseguir, mas sim o próprio Otelo, um homem mais velho que acabou de cometer o maior erro de sua vida ao matar a própria amada.

— Docemente! Uma palavra ou duas antes de irdes. – Pede com tristeza, embora a voz ainda dotasse de certa imponência. – Prestei alguns serviços à República, o que é sabido. Mas sobre isso, basta. Peço-vos, por favor, que em vossas cartas, ao relatardes estes tristes fatos – a mão gesticula brevemente para o espaço a sua frente –, faleis de mim tal como sou, realmente, sem exagero algum, mas sem malícia. Então a alguém que tereis de referir-vos que amou bastante, embora sem prudência; – engole em seco com a última afirmação, os olhos estreitados e a face um pouco distorcida com certa dor e impaciência – a alguém que não sabia ser ciumento, mas, provocado, cometeu excessos, e cuja mão, tal como o vil judeu, jogou fora uma pérola mais rica – sua voz embargada falha, seus olhos umedecem e voltam-se brevemente para o chão como se tivesse vergonha de sua confissão – do que toda sua tribo; a alguém com olhos vencidos e que embora pouco usados aos sentimentos moles, maior número de gotas derramaram do que as árvores da Arábia com sua goma medicinal. – Faz uma pausa brusca, fechando os olhos brevemente e engolindo em seco – Contai-lhes isso tudo. E também que em Alepo, certo dia, – as palavras saem de seus lábios como correntes que não pode conter – quando um turco de turbante e malicioso bateu num veneziano e em termos baixos falou do Estado, que eu, – mostra uma das mãos em punhos, dizendo entredentes – agarrei pela garganta detendo aquele cão circuncidado, o feri deste modo – puxa uma adaga imaginária do cinto –, assim... assim... – Apunhala-se na barriga.

Camus cai de joelhos no chão, o rosto desfigurado em uma dor profunda da facada fictícia no estômago, a plateia arfando, hipnotizada em sua apresentação.

O ruivo arranca a tal lâmina de sua barriga com certa brutalidade e a joga para trás, o corpo oscilando um pouco, então seus olhos miram um alguém no chão a sua frente e o rosto retorce de maneira profundamente despedaçada, como se seu coração fosse lacerado. Estica uma mão trêmula e desliza os dedos longos sob a forma de um corpo imaginário que todos sabiam ser Desdêmona, o grande amor de Otelo; os olhos castanhos avermelhados cobertos de tanta tristeza e arrependimento que fazem as pessoas na plateia prenderem a respiração, e alguns se emocionarem – inclusive o professor Albáfica.

— Desdêmona – os olhos dele escurecem e se estreitam, o nome saindo de seus lábios como uma prece, demonstrando o quão profundamente ama aquela mulher. – Dei-te um beijo… antes de te matar – uma lágrima escapa de seus olhos, a voz débil e o corpo oscilando na tarefa de se manter erguido. – Só… me restava… morrer beijando… a quem eu tanto amava – cai sobre o local onde se encontrava o corpo dela.

Os alunos põem-se de pé para aplaudir fervorosamente Camus, conjunto de gritos extasiados e assobios, mesmo que alguns limpassem as lágrimas compulsivamente.

Todos estão surpresos com o nível de talento do aquariano em atuar, certos de que ele conseguiria o papel principal naquela peça com louvor, e questionam-se porque ele nunca tentou fazer teatro antes.

Milo apenas fica boquiaberto, em parte pela surpresa de Camus ser tão bom ator e em parte porque aquele filho da mãe não seguira o plano; enquanto observa o ruivo se erguer do chão com sua inexpressividade costumeira e se curvar em agradecimento – mesmo que sua gratidão não pareça muito sincera – e sair do palco com aquele andar autossuficiente e despreocupado de sempre.

O escorpiano mal ouve quando Albáfica o indica para subir ao palco e fazer sua apresentação, e quando se põe de pé nota que o público está partindo, satisfeita após ter visto a performance do ruivo, o que não deixa Milo muito feliz – ele já não estava com um humor excelente, de qualquer maneira.

— Hey! Hey! – Grita Milo enfurecido para os espectadores que partem, atraindo a atenção de alguns, embora outros o ignorem e continuam o caminho para a saída. – Eu ainda não me apresentei.

Poucos se dignam a permanecer por educação, a maioria apenas revira os olhos e volta a caminhar em direção à saída, o que não deixa Milo nada feliz.

Não que haja muito que ver, já que a apresentação do escorpiano, mesmo sendo muito mais longa do que a de Camus (e talvez Milo a tenha selecionado por isso, pelo grande número de palavras), fica em um nível razoavelmente bom. A maior parte dos alunos que permaneceram aproveitam o momento para escapar, o que deixa Milo ainda mais irritado com toda a situação quando ele devia ficar embevecido por ter um espectador atento: Camus.

O aquariano naturalmente ignoraria completamente aquela performance como fez com todos os outros que subiram até aquele palco, mas por algum motivo assistiu atentamente enquanto Milo representava um Romeu que acaba de encontrar sua Julieta supostamente morta.

Mesmo que a atuação do escorpiano não seja grande coisa, Milo parecia brilhar como um anjo naquele palco com as luzes fluorescentes, aqueles olhos azuis ardentes chamando muita atenção – e Camus acaba por se lembrar de ter aprendido na aula de física que a parte azul da chama é a mais quente.

Milo é vivaz, caloroso, brilhante.

E Camus sabe que está sendo atraído para ele como Ícaro indo para o Sol e que será queimado em algum momento.

Onde está sua autopreservação quando o alarme está soando intensamente em sua mente? Se sabe que Milo é o tipo exato de pessoa que entra com facilidade demais em seu coração, por que permite essa amizade sem cabimento?

Quando o “Romeu” finalmente morre, arrancando algumas palmas dos poucos espectadores, Camus procura uma resposta que sabe que provavelmente não conseguirá.


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Notas finais do capítulo

É meninos, parece que o nosso ruivinho tem MUITO talento para atuação hehe
E nem vamos comentar sobre o quanto ele é popular, né? u.u Só mencionar que a escola em peso compareceu a apresentação - incluindo o diretor Shion, minha gente, o diretor Shion!
Próximo capítulo, estou cogitando ser do Dégel, se não, será uma continuação do dia desses dois moços e a promessa de Milo de se embebedar com Camus ;)
Oh, não, ele não vai se esquecer disso hehehe
Até o próximo o/