Quatro meses se passaram desde que Marcelo surpreendeu Luiza com aquela pergunta, infelizmente ela não responderá nada. Ou melhor, acabou omitindo a verdade, afinal como poderia revelar tudo aquilo para seu patrão? É claro que ele acabaria desconfiando com o tempo, a medida que fosse conhecendo melhor que Marina se parecia demais com ela, entretanto não havia muito o que fazer, ou era isso, ou ele começaria a sentir pena dela, ou pior, poderia julgá-la erroneamente.

Já passavam das 16:00Hrs, Luiza estava com Lavinha no jardim da casa dos pais de Marcelo terminando de organizar os últimos detalhes para a festa de 1 ano e 6 meses do pequeno Joaquim. Não haviam escolhido um tema especifico, apenas encheram o jardim de cores e muitos balões coloridos. Um pouco distante, Marcelo estacionara o carro na garagem dos pais, saindo do carro com um belo bolo nas mãos, o bolo tinha bolinhas coloridas de um material comestível bonito com a caricatura do rostinho de Joaquim desenhada em cima. Ele sorria largo ao passar pelo jardim, quando foi abordado por Lavinha.

—Nossa, ficou tão bonito, meu bem! Valeu a pena ir buscá-lo quase do outro lado da cidade! –falou a avó coruja.

—Valeu sim, e tudo isso graças a indicação da Lu! –falou sorrindo ao desviar o olhar da mãe para Luiza que colocava alguns adereços de decoração nas mesas que ali estavam.

—Ela é um anjo em nossas vidas, meu filho, e ama tanto o meu neto! Todos os dias agradeço a Deus por termos uma pessoa tão boa para cuidar dele! –falou sinceramente.

—Ela é sim, mãe! Eu vou mostrar como ficou pra ela, a senhora poderia ir arrumando o Joaquim, daqui a pouco os convidados estarão chegando. –pediu sorridente.

—Tudo bem, mas creio que a Vânia já está cuidando disso! Mas, vou verificar e aproveitar para me arrumar! –disse dando um beijo no rosto do filho e caminhando para dentro da imensa e bela casa.

Marcelo caminhou até Luiza com um sorriso bobo no rosto, ela estava um pouco despenteada com o coque frouxo e alguns fios soltos, sua bermuda jeans já bem velha e uma camiseta de alças azul marinho compunham o look simples que ela usava. Luiza era simples, mas sua beleza era extremamente contagiante, ela já havia feito Pedro e Rodrigo suspirarem ao passar rapidamente pela sala enquanto eles ajudavam Marcelo a carregar uma mesa para o lado de fora. Ele notara a reação dos amigos de infância, assim que a moça passou, e algo ficou estranho dentro dele, porém convenceu-se que era apenas cuidado, uma vez que os rapazes eram seus amigos, mas não passavam de dois grandes mulherengos. Esquecendo isso, ele se aproximou da loira e disse:

—Olha só como ficou bonito! –sua voz soou feliz e Luiza olhou para o bolo sorridente.

—Nossa, ficou mesmo, Marcelo! Está perfeito! –disse observando cada detalhe.

—Obrigada, tudo graças a você e seus conhecimentos. –falou sinceramente.

—Que nada! Eu só indiquei uma boleira de mão cheia! A Cristina é brilhante! –falou olhando para Marcelo, que já fazia uma careta por causa do peso. _Vem, pode colocar aqui! – disse chamando Marcelo para posicionar o Bolo em cima da mesa principal.

—Está tudo muito bom! Vocês fizeram um ótimo trabalho, verônica costumava organizar tudo, e agora, se não fosse você nem sei como poderia cuidar de tanta coisa ao mesmo tempo... –falou olhando ao redor com um ar um pouco triste ao mencionar a esposa falecida.

—Não foi nada, eu amo festas infantis, e já tenho uma grande afeição pelo Joaquim, foi um verdadeiro prazer! –falou também observando o local.

—Obrigada, você é uma pessoa maravilhosa! Acho que seria bom entrar para se arrumar, daqui a pouco o pessoal chega por aqui! –falou rapidamente olhando para moça.

—Certo, você vem? Já está tudo pronto! –perguntou olhando-o sem medo, ela ainda lutava contra o sentimento que só aumentava em seu peito, Marcelo dia após dia a maravilhava com seu jeito.

—Sim. Já estou indo! –disse desviando o olhar, notando que Luiza passou a encara-lo por mais tempo ultimamente.

Luiza acenou positivamente com a cabeça e entrou na casa sumindo do campo de visão de Marcelo.

O jovem pai já estava pronto com Joaquim lindamente arrumado em seus braços. Ele estava cumprimentando alguns convidados que chegavam quando Pedro se aproximou beijando os cabelos do pequeno.

—Ta vendo só como deu tudo certo, cara? Eu nem sabia que tinha tanto talento para ornamentação de festas infantis! –falou brincalhão.

—Talento para festas infantis, Pedro? Tem certeza? –Marcelo deu uma pequena gargalhada ao olhar para o amigo.

—Bom, pra falar a verdade, acho que devemos parabenizar mesmo, aquela loira ali! Ela é maravilhosa, Marcelo. Você acha que tenho chances com ela? –perguntou sem desviar o olhar de Luiza que se aproximava sorrindo largamente.

Não deu tempo nem de responder a pergunta do Pedro, pois Luiza já estava a cinco passos de distância dos três. Ela estava completamente linda, seu vestido vermelho de tecido era simples, mas caíra perfeitamente em seu corpo, ele era rodado num tom de vermelho fechado com alças largas e como iria passar a festa para lá e para cá, resolveu colocar uma sapatilha nude, seus cabelos caiam em cachos grossos em suas costas e uma maquiagem leve destacava seus olhos claros.

—Oi, rapazes! Oi meu amorzinho, como você está lindo! –disse alisando o cabelo do pequeno Joaquim que a olhou sorrindo, logo ele já estava em seus braços.

—Oi, Lu, você está muito bonita! –falou Pedro chamando a atenção de Marcelo que o olhou um pouco incomodado.

—Obrigada, Pedro, mas são os seus olhos! –falou sorridente olhando para o homem a sua frente.

—Que nada, você já é linda e com esse vestido ficou maravilhosa! –falou se empolgando nos elogios.

—Obrigada, Pedro. Marcelo, a sua mãe estava lhe chamando lá dentro. Pediu para você ir sozinho. –Falou um pouco corada com o comentário de Pedro.

—Aconteceu alguma coisa? –perguntou rapidamente olhando para a moça, constatando tudo o que Pedro falara.

—Não sei, ela só me pediu para te avisar! –disse e notou quando um leve sorriso brotou no canto dos lábios de Marcelo.

—Ok. Obrigada! Já volto! –falou e saiu a passos largos sorrindo para alguns convidados.

Lavinha estava no escritório do seu marido, o que fez Marcelo lhe procurar um pouco. Quando a encontrou, pegou-lhe observando um porta retrato em pé por trás da mesa do seu pai.

—Mãe, aconteceu alguma coisa? A Luiza disse que a senhora queria falar comigo... –falou aproximando-se da mãe.

—Sim, eu quero. Sente-se, por favor, querido. –Lavinha colocou o porta retrato no seu devido lugar e sentou-se à frente do seu filho. Marcelo soltou um longo suspiro quando viu quem estava no porta retrato. _ Meu bem, hoje o Joaquim completa um ano e seis meses, e eu estou extremamente orgulhosa do seu empenho com ele. Sei que não está sendo fácil viver de cabeça erguida depois do que aconteceu, mas ele é tudo o que você tem, e ver você se dedicando ao máximo dessa forma me deixa muito feliz. Porém, já se passaram quatro meses, e vejo que você anda muito solitário, querido...

—Mãe, exatamente! Só se passaram quatro meses, eu não penso em mais ninguém além dela e do Joaquim! –falou interrompendo a mãe um pouco impaciente com o rumo daquela conversa.

—Meu bem, deixe-me continuar! Sei que faz pouco tempo, mas você precisa ampliar os horizontes. A verônica sempre terá um lugar em seu coração, mas ela não vai voltar, meu filho, e tenho certeza que ela não iria querer ver você sozinho para o resto da vida sendo infeliz. –disse gentilmente olhando para os olhos marejados de Marcelo.

—Mãe, eu não sou infeliz. –falou com a voz rouca e embargada.

—Mas também não é feliz, Marcelo. Meu anjo, eu só preciso que você pense um pouco no assunto, tudo bem!? –perguntou se aproximando beijando e abraçando seu filho.

—Não sei, mãe, ainda não estou pronto para isso. –falou sinceramente.

—Tudo bem, mas me prometa que ao menos irá tentar? –pediu sorrindo docemente.

—Tudo bem, mas agora vamos lá para fora! Já tem muita gente no jardim. –disse segurando a mão da mãe, caminhando para fora do escritório.

A festa correu muito bem, haviam crianças por todos os lados e o pequeno Joquim se esbaldou na piscina de bolas. Ele estava energético, correndo de um lado para o outro e quando tocava a música do “Pitinho amarelinho” ele começava a dançar, deixando todos alegres e maravilhados com sua esperteza.

Por volta das 21:00Hrs a maioria dos convidados já haviam ido embora. Era uma noite de sábado e Luiza estava em dúvida se voltaria para casa ou para a casa do seu patrão.

—Oi, e então, vocês vão agora? –perguntou Pedro se aproximando de Luiza e Marcelo que estavam sentados numa mesa exaustos. Marcelo segurando Joaquim nos braços enquanto o mesmo lutava contra o sono.

—Marcelo, tem algum problema se eu for? Preciso descansar e daqui a pouco vai ficar tarde para pegar o ônibus. –a voz de Luiza soou um pouco cansada e seus olhos estavam um pouco irritados.

—Tudo bem, mas não se preocupe, eu posso lhe deixar em casa. –falou rapidamente olhando para a moça.

—Obrigada, mas acho melhor vocês dormirem aqui hoje, o Joaquim já está pedindo cama e você não fica atrás. –falou sorrindo levemente.

—É, irmão! Podem ficar, eu levo a Luiza sem problemas! –falou Pedro sorrindo para a moça.

—Ta vendo só? Não se preocupe! Qualquer coisa é só me ligar! –disse levantando-se para pegar suas coisas dentro da casa. _Só um instante, Pedro, vou pegar minha bolsa. – falou tocando o ombro de Pedro que acenou concordando com um sorriso nos lábios.

—O que foi isso Pedro? –perguntou Marcelo assim que a moça entrou na casa.

—Isso o que, Marcelo? Só estou sendo gentil. –falou encarando o amigo com um sorriso malicioso.

—Cara, apenas a deixe em casa. Não quero que tente conquistá-la. Ela não é como as garotas que você costuma usar e largar fora. –falou ficando de pé com Joaquim.

—Calma aí, Marcelo, eu não as “uso”, nós apenas nos divertimos. E pelo o que sei, a Luiza está solteira. –falou sem entender ao certo o que estava acontecendo ali.

—Ela não é esse tipo de garota que você está pensando, Pedro. Ela é especial! –falou olhando diretamente nos olhos do amigo, percebendo que havia falado demais.

—Tudo bem, Marcelo, não se preocupe, valeu!? Eu vou me comportar! –disse ainda sorrindo tocando no ombro esquerdo do amigo.

—Vamos? –perguntou a moça com uma grande mochila nas costas.

—Vamos sim, boa noite, cara! Ah, que tal assistirmos um filme lá na sua casa amanhã? –perguntou Pedro sorrindo.

—Pode ser, me liga amanhã pela manhã que marcamos o horário. –falou um pouco secamanete. _Se você quiser ir, Luiza, sinta-se à vontade! –seus olhos foram em busca dos da moça que o olhou sorridente, seria a primeira vez que ela estaria com ele sem ser a trabalho e isso a animou muito, mesmo sabendo que não havia fundamentos para aquela animação toda.

—Tudo bem, depois que você falar com o Pedro pode me ligar dizendo qual será o horário. –falou sorrindo levemente.

—Relaxa, eu passo para pegar você e iremos juntos. –disse Pedro pegando a bolsa dela para lhe aliviar um pouco.

—Obrigada, então. –falou olhando para Pedro.

Marcelo ficou repentinamente furioso e impaciente com aquela situação, ele sabia que Pedro não estava se esforçando muito para se comportar e aquilo estava lhe irritando. Mas o que ele poderia fazer? Luiza era linda e livre, já era uma mulher feita.

—Até amanhã! –disse Marcelo, beijando a testa da moça em sinal de respeito. Ela fechou os olhos rapidamente ao sentir seus lábios.

—Até! – falou aproximando-se para dar um beijo em Joaquim que nem se mexeu ao sentir sua presença.

Marcelo ficou ali meio bobo, meio irritado ao observar o possível casal ir embora. Mas uma coisa era certa, Luiza estava mexendo com ele.

Continua...