Transmutado escrita por Rebeca McLean


Capítulo 3
A Fuga da Masmorra


Notas iniciais do capítulo

Se eu estou feliz de estar postando capítulo novo? FELIZ DEMAIS!
Mas gente, sério mesmo, eu travei em uma cena desse capítulo e não conseguia sair mais. Depois de várias edições eu consegui hahaha E agora to aqui feliz da vida postando ♥
Espero que shippem ainda mais esse casal. E só por curiosidade: o Alec é interpretado por Cris Evans.
Boa leitura!
Musica sugerida (A beautiful lie - 30 seconds to mars): https://www.youtube.com/watch?v=4Kvd-uquuhI



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CAPÍTULO 3

O local onde estava não a ajudava a relaxar. Suas mãos corriam pelo cabelo e rosto, pensando sempre na mesma coisa. Ela precisava cumprir aquela missão, caso contrário o Sr. Drexler cancelaria seu progresso na Cyborg e a deixaria á mercê da procura de outro trabalho. Eles não tinham uma relação de tolerância tão grande, destruir esse projeto seria como esfaquear o duro coração do velho. Ele poderia ganhar a simpatia das pessoas com seu cabelo levemente branco, suas palavras bem medidas e sua aparente compreensão para com o próximo, mas isso era tudo uma cortesia inexistente que aprendera com seus anos de carreira. Fazer negócios exigia mais dele do que uma conversa honesta com seus empregados. E Iz conhecia o limite que ele carregava, pois estava bem no meio dele. E por isso não falharia em nenhum aspecto.

Limpou a garganta e começou a andar de um lado para o outro, calmamente. As paredes levemente amareladas irritavam sua visão, e o piso translúcido já a enjoava. Iz estava ali já fazia quase duas voltas inteiras de um ponteiro no relógio. Alec demorava mais de duas horas para assinar um maldito contrato e entregar o pacote? Não deveria tê-lo deixado ir sozinho enquanto esperava.

Minutos depois ela levantou seus olhos para a entrada da entediante sala, e viu Alec chegando. Analisou o homem que veio o acompanhando, mas logo voltou seu olhar para o corpo do companheiro. Percebeu que ele não carregava mais o pacote, o que sugeria que a parceria com a Milano deu certo. Olhando mais de perto a agente notou um leve cansaço embutido no olhar de Alec, mas resolveu somente se virar na direção do estranho homem que parou na entrada.

— Estamos liberados?

— Claro, nossas negociações estão finalizadas. Sigam por esse corredor e acharão a saída para o local da decolagem.

Iz assentiu para o homem e viu Alec colocar as mãos no bolso antes de segui-la. Depois de saírem da vista do segurança, a morena não deixou de perceber no estilo cansado que os pés dele andavam. Suas mãos enfiadas no bolso da calça agora pareciam para ela uma tentativa de amenizar o peso que teriam se andasse com elas livres. Cada pequeno gesto dele a fazia entortar o nariz em desconfiança. Ela cessou o ritmo dos passos, fazendo ele também parar e a olhar com curiosidade. Porém, Alec nada disse, mantendo o silêncio que pairava em cada centímetro daquela estranha empresa. Iz tomou três passos na direção dele, que andava mais perto da parede. Como reflexo recuou os passos tomados por ela, logo sentindo a resistência da parede fria em suas costas. Mais meio metro á frente estava uma porta cinza, a única vista naquele corredor até agora. Mas Iz não se importou que os vissem.

— O que houve com você?

Alec tombou a cabeça para o lado, pensando numa resposta para aquela pergunta. Teve que se esforçar um pouco, pois estava com medo daquela situação.

— Nada, Iz. Algo de errado?

A agente manteve sua expressão inabalada, e rompeu alguns centímetros de distância que ainda o separavam. Agora só restava um passo – não muito grande – para que estivessem colados um no outro.

— Não me faça de boba. O que fez pra ficar tão cansado assim? Te injetaram alguma coisa? — ela falou rápido de mais e logo já estava apertando um dos braços do rapaz, procurando por alguma coisa.

De repente a porta ao lado se abriu, e Alec deu um puxão em Iz trazendo-a em direção ao seu corpo. Os dois se assustaram, principalmente Iz que agora tinha Alec bem na sua frente, mas decidiram ficar quietos. Embora a porta tivesse sido aberta, ninguém saiu de lá, e isso gerou um olhar desconfiado entre os dois. Algumas vozes se acentuaram lá dentro, e em instinto Iz arfou e espremeu com mais força Alec na parede, que sorriu. Ela pensou em agarra-lo e sair correndo dali para que não fossem acusados de espionagem, mas já era tarde demais depois de ouvirem algumas frases. Se já tinham começado a ouvir, que terminassem então.

— Não devemos apresentar esse plano para todos os comissários, muitos deles admiram a Cyborg e principalmente as armas fabricadas por eles.

Com a simples menção do nome de sua empresa o ar pareceu mais pesados nos pulmões de Alec. Sua feição cansada deu lugar a apreensão e curiosidade. Aguçando mais a audição, ele ouviu as frases seguintes.

— Concordo. Esses tolos acham que o velho Drexler é o grande gênio da tecnologia moderna — disse outro com óbvio escárnio na voz.

— Não se preocupe tudo já está caminhando ao nosso favor. Até mesmo a mínima partícula daquela empresa mal construída irá virar pó.

Uma risada fraca precedeu a próxima fala.

— Sim, chefe. Nunca vão descobrir nossa intromissão na falência da Cyborg. Afinal, explosões ocorrem facilmente em lugares que material bélico é utilizado, certo?

Iz trincou os dentes ao mesmo tempo em que Alec fechava os punhos. O olhar que os dois compartilhavam vinha de um mesmo sentimento. Exalavam medo e surpresa, raiva e traição.

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Iz estava acordada há uma hora, mas só agora Alec dava sinais de que acordaria. Ela torceu os lábios e cerrou os punhos presos por algemas luminosas enquanto pensava em alguma coisa para resmungar na cara do companheiro. Ela com certeza não estava contente em ser feita de refém.

Alec respirou fundo e esperou a cabeça parar de latejar para fazer qualquer movimento. Levantou os ombros o suficiente para que seu cabelo bagunçado desse espaço para que seus olhos focassem Iz.

— Desculpe.

A jovem franziu o cenho ao ouvir o sussurro de Alec e desistiu de gritar algum insulto para ele. Ela agora sentia remorso por ter pensado em se aproveitar do momento e descontar em Alec toda a frustação por ter sido pega enquanto bisbilhotavam. Na verdade, não havia motivo para que ele a pedisse desculpas. Ela foi mandada para a missão a fim de proteger Alec e o pacote, e no final a culpa era dela se haviam falhado.

Ela ignorou o que ele disse e se levantou do chão, o fitando de cima.

— Só... só me ajude a arrumar um jeito de sairmos daqui, Alec. — contrariando tudo o que ela acreditava sua voz saiu branda, e inconscientemente fazia isso tentando consolar o rapaz cabisbaixo em sua frente.

Ela saiu andando para evitar olhar para ele enquanto ele também se erguia e analisava o local. Utilizando toda a experiência que Iz tinha ela poderia afirmar que aquela era uma cela bem estruturada e feita para prisioneiros de alta periculosidade. Alec também ficou desanimado, pois não visualizou nada que pudesse ajudá-los a sair. A sala não era tão pequena, na verdade podia ser facilmente transformada em um quarto bem confortável e amplo. O espaço era iluminado e climatizado – embora ele não tenha visto nenhuma entrada de ar por ali – a única forma de sair daquela sala era pela porta. Ela ficava no canto direito da parede principal, e não apresentava nenhum meio de ser destrancada pelo lado de dentro. Estavam ferrados. Presos em uma sala impenetrável, muito iluminada e absurdamente branca – para o desespero dos olhos de Alec.

Iz percebeu a irritação dele e suspirou. Ela também estava desconfortável, especialmente por estar usando aquelas algemas de ar comprimido que machucavam. As únicas coisas que não eram brancas ali dentro eram suas algemas e suas próprias roupas.

— Eu posso perder meu emprego por isso. Droga! — deu um soco forte na porta, porém ela não se moveu.

Alec mirou um olhar furioso para Iz ao ouvir aquelas palavras.

— Como é? É só nisso que pensa? Existem pessoas que não são robôs como você, pessoas que se preocupam em não levar um tiro porque sabem que irão morrer se isso acontecer. Eu não dou a mínima para aquela empresa, e é por isso que não quero morrer por causa dela!

Iz arregalou um pouco os olhos, mas se recompôs antes de se virar na direção do jovem irritado do outro lado da sala.

— Eu cuidaria de você caso levasse um tiro, e também não pretendo morrer se ainda não notou. Estou tentando achar um jeito de sair daqui, mas tudo o que sabe fazer é ser um filhinho de papai.

Alec adicionou uma feição séria, e aos poucos arqueou uma sobrancelha. Ele com certeza já tinha se acostumado com esse tipo de tratamento, mas ele também aprendeu a focar em outra coisa durante uma conversa.

— Isso tudo é culpa sua, não é? — ele perguntou, fazendo Iz serrar os olhos em desconfiança — Até você mesma acha isso, caso contrário estaria me socando e gritando comigo até se sentir satisfeita. Mas não, você está ai, pensando em uma solução para o problema e até mesmo confessou que me daria cobertura e cuidaria de mim caso eu fosse alvejado. Isso tudo mostra que você está sendo consumida pela culpa. — concluiu.

Iz deixou sua boca entreabrir enquanto se perguntava se aquele era o Alec de verdade. O remorso que sentiu assim que acordou e viu Alec jogado no chão e desacordado se acentuou mais ainda naquele momento apesar de também se sentir irritada pelas – verdadeiras – insinuações dele. Alec não era um cara mimado que se escorava nas conquistas do pai, agora ela podia ver isso mais claramente. E a forma com que ele estava lidando com a situação era totalmente contrária do esperado por ela.

A agente limpou a garganta e finalmente encarou os olhos verdes muito azulados que a focavam procurando por uma resposta.

— Não precisa usar de seus jogos psicológicos para conseguir uma resposta minha.

Ela entrou na defensiva e se desviou dos olhos confiantes.

— Eu preciso sim, Iz. Você não confia em mim de maneira nenhuma, não importa o quanto eu demonstre que confio em você ou em suas escolhas, você continua a mesma vadia ignorante que se recusa a ouvir os outros e se fecha nesse quarto solitário que você chama de coração.

Ela ouvia tudo calada, surpresa demais para retrucar tudo o que ele dizia. E pela primeira vez Alec sentia a coragem que precisava para perguntar e falar tudo o que o incomodava desde o início da missão.

— Aliás — ostentou um sorriso curioso —, seu coração ainda é de carne ou já foi substituído por uma peça metalizada também?

Ela recuou com as palavras cortantes de Alec. Se lembrou de como ele havia confiado nela quando disse que haviam assassinos no avião. O rapaz seguiu todas as instruções dela sem questionar ou sair da linha, e agora ele se sentia como se ela devesse respostas á ele. Olhando no fundo dos olhos dele, ela finalmente reconheceu que Alec tinha o direito de saber.

As mãos dele tremiam um pouco pela adrenalina que sentia depois de ter dito aquelas coisas. Será que havia falado o que não devia? Começou a suspeitar disso quando viu Iz fechar os olhos e respirar fundo. Esperava que ela abrisse os olhos e atirasse nele para que calasse a boca, mas o que recebeu foi um aceno de cabeça e um olhar rendido por parte da agente.

— Eu já sabia do quão perigoso seria vir para cá, é por isso que sinto como se tivesse que nos tirar daqui. Eu sabia que seria arriscado e mesmo assim baixei a guarda quando ouvi os planos dos diretores da Milano.

Alec se acalmou e sentiu seus ombros relaxarem. Acenou para Iz pedindo que ela continuasse. Ela parou de falar e o encarou.

— O que tem no pacote? Eu sei que você sabe.

Ela torceu a boca e respondeu.

— Um pequeno robô. Ele contém uma bateria capaz de manter uma cidade como Gavicit abastecida por anos, sem necessidade de outra fonte de energia.

Por anos? Alec não esperava por aquilo. Então talvez essa situação fosse uma consequência da ambição dos diretores da Milano.

— Então é por isso que estamos presos aqui certo?

A agente acenou concordando.

— A Milano planeja manter o projeto da bateria em segredo até que a Cyborg seja destruída e eles anunciem que criaram tudo. Com isso poderiam ter o lucro só para eles.

Alec finalmente entendeu o que seu pai dizia. Ele sempre fora um homem apaixonado por descobertas e inovações, porém ele pôde observar que ao longo do tempo Dooman se tornou uma pessoa asquerosa e não confiável. Isso tudo porque em seu ramo de trabalho não existem pessoas confiáveis, esse é o único luxo que seu pai não possui. E agora Alec também aprendia a lição. Ele agradeceu mentalmente por Iz ter contado tudo para ele.

— Alec.

Ele se manteve distraído por tantos segundos que não viu a aproximação dela. Voltou sua atenção para o mundo real e olhou para Iz. Agora toda sua fúria contra a agente tinha acabado, e no fim ele compreendeu um pouco mais de quem ela é. Afinal, um robô pode ser bem melhor do que um ser humano corrupto.

— Alec nós precisamos bolar um plano, se eles não souberem ainda da minha força nós temos chances de escapar.

Ele deu um pequeno sorriso e concordou, fazendo a chama de esperança de Iz se acender ainda mais.

— Certo, vamos fugir dessa masmorra.

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Anoitecia pela terceira vez. O sol já havia se escondido há algumas horas, e o vento frio invadia o local fazendo Alec se arrepiar. Horas depois de ter aquela conversa com Iz alguns guardas apareceram e os trocaram de cela, e até mesmo de algemas. Agora elas pareciam mais simples e ele pode até apostar o porquê. Aparentemente eles confiavam muito na porta em que ele estava escorando suas costas. E realmente ela parecia muito resistente, não cedeu a nenhuma investida de Iz. O diferente daquela cela era que não havia uma parede no fundo da sala, e sim uma grande área aberta que se dava á um precipício mortal. Ás vezes ele tinha medo de rolar enquanto estivesse adormecido, e depois só acordar no céu. Riu de si mesmo com esse pensamento bobo.

Olhou para o outro lado da sala escura e viu Iz, que pela primeira vez em três dias havia cedido ao sono. Ele já tinha percebido que pelo fato de ser mais robô do que humana ela não necessitava tanto dormir, mas ela realmente parecia exausta. Não havia parado nenhuma vez de especular planos e tentar alguma fuga.

Ele se aproximou dela e cutucou com seu dedo a chamando. Observou-a durante alguns segundos e não obteve resposta. Lentamente dirigiu sua mão até uma mecha de cabelo caída nos olhos fechados dela, e logo depois de tirá-la dali com um carinho visível, ela resmungou umas palavras e acordou.

— Aconteceu alguma coisa? — ela perguntou enquanto se escorava na parede.

De certa forma ele se sentiu aliviado por ouvir a voz dela, e surpreendentemente Iz também se sentiu melhor depois de ouvir a resposta dele.

— Não. — ele se sentou ao lado dela e continuou — Eu só estava observando você dormir quando pensei em uma coisa. Eles provavelmente não sabem das suas habilidades, então acho que seria bom colocarmos algum plano em ação.

Ela ignorou a parte em que ele confessou estar observando seu sono e se levantou, sendo seguida por ele.

— E porque acha que fui dormir? Preciso de energia para pular desse precipício — apontou o polegar para trás, bem de onde o vento frio vinha, e deu um largo sorriso.

Alec estremeceu, tanto pela informação de que Iz pensava em pular dali, quanto pelo sorriso grande e raro no rosto da agente. Ela só podia estar louca.

— V-você está falando sério? Iz, essa foi a primeira possibilidade que descartei quando chegamos aqui.

Ela não se intimidou e foi chegando perto dele com movimentos confiantes.

— Sem chances de pular disso ai! — ele se exaltou quando Iz o colocou na beirada, junto á ela.

Alec controlou a respiração e se acalmou por um momento, pensando no quão constrangedor devia ser para um homem daquele tamanho estar relutando tanto em pular.

Iz encostou sua boca no ouvido dele e sentiu que o corpo de Alec estava rígido.

— Alec, como você mesmo disse eu sou um robô. Posso te proteger da queda, não se preocupe, tenho tudo planejado. Você só precisa me prometer uma coisa.

Ele, agora já calmo, sentia seu corpo se arrepiar pela forma em que Iz estava perto dele e sussurrando em seu ouvido. Olhou para ela incapacitado de falar e esperando que continuasse.

A agente riu internamente com a reação dele.

— Quando estivermos lá embaixo você precisa arrumar um jeito de nos levar até a cidade, não vamos sobreviver muito nessa montanha. Não importa se for um carro, um jato ou um míssil, nós precisamos chegar até a cidade, ok?

Ele assentiu e viu ela se afastar. Limpou a garganta e ia olhar para baixo quando Iz agarrou sua mão, tendo seu olhar para ela novamente.

— Não olhe para baixo — ela aconselhou.

Ele deu um sorriso frouxo para ela e apertou mais sua mão. Sem nenhum aviso prévio a agente o puxou, Alec perdeu o equilíbrio e a força da gravidade fez o resto por ele.

A única coisa que se lembrava antes de pular foi do grito cheio de adrenalina de Iz.


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Notas finais do capítulo

Fiquei muito feliz respondendo os comentários dos capítulos passados :3 vocês são uns amores.
E então, como acham que eles vão sair dessa enrascada? Mandem comentários dizendo o que estão achando e o que esperam da história :3
O próximo capítulo já está sendo escrito e creio que demorará no máximo dez dias para atualizar.
Beijos



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