Capítulo Quatro

Raven não tem nenhuma infecção devido ao aborto e vinte e quatro horas depois nós estamos de volta em casa. A morena passa grande parte do tempo dormindo ou chorando e eu fico ali por ela. Não é fácil para nenhum de nós dois superar esse trauma, não que nós dois estivéssemos loucos para ser pais, porém ninguém nos perguntou o que queríamos, não foi uma decisão nossa. Tudo mudou muito rapidamente.

Raven se sente culpada por ter aceitado minha proposta de casamento, na cabeça dela, agora que não existe mais um filho eu automaticamente quero me divorciar dela. O que não é verdade, nem um pouco, depois de tudo isso nosso relacionamento tem um quê de verdade que não tinha antes.

Beijo seu ombro delicadamente e ela se contrai.

– Você não precisa fazer isso.

– Eu quero, Raven.

– Não precisamos continuar com essa mentira. Não tem mais nada que nos prenda.

– Não vou te deixar. Eu fiz uma promessa, vou cuidar de você, queira você ou não – beijo seu pescoço com delicadeza. Descendo minhas mãos até sua cintura.

– Bellamy…

– O quê?

– Você não precisa fazer isso. Não sou sua responsabilidade – sua voz é firme. Beijo seu pescoço novamente e ela suspira.

– Eu sei. Me dê uma chance… Estou tão sozinho quanto você, Raven. Sofrendo tanto quanto você. Vamos nos recuperar mais rápido juntos – não deixo de tocá-la em nenhum instante, com meus lábios gentilmente encostados em sua nuca. Espero que ela responda.

– Não deveríamos fazer isso.

– Talvez esteja certa… – troco de posição e beijo seus lábios. Ela logo me corresponde, e não é preciso muita observação para notar que há algo de diferente. É como se finalmente estivéssemos em sincronia, cada toque meu é seguido por um dela. Minhas mãos vão de seu rosto, para pescoço, abdômen e etc. Nunca senti tanta necessidade de tê-la na minha vida. Meus lábios brincam em contato com a sua pele e Raven se contraí com calafrios.

– Sem Finn ou Clarke hoje. Só nós dois, ok? – sussurro com calma em seu ouvido.

Não fecho meus olhos por nenhum segundo, minha mente pode querer me fazer acreditar que aquela é Clarke, porém eu me nego. Sem mais ilusões com a loira, todo esse tempo que eu perdi imaginando como seria fazer sexo com ela, não é justo com a Raven, não é justo comigo, Clarke nunca se importou, não de verdade. Me abandonou quando eu mais precisei dela, Raven não, em nenhum momento. Até quando todos os outros, inclusive minha irmã já tinham desistido de mim. Ela merece mais meu carinho do que qualquer uma outra já mereceu, inclusive Clarke.

Me surpreendendo, Raven também mantém seus olhos abertos. Minha proposta deve ser tão tentadora a ela quanto pra mim, nós dois precisamos urgentemente nos livrar dos fantasmas do passado se queremos de alguma maneira ser felizes no processo.

Não devíamos fazer sexo, pelo menos foi o que Abby nos disse, mas fizemos mesmo assim. Não me arrependo, era o que nós dois precisávamos para fazer esse casamento dar certo.

...

Dois anos depois...

Dois anos foi o tempo que precisamos para aprendermos a nos amarmos. Com a ajuda de Lincoln, que nos administrou uma espécie de planta que as Grounders usam para não engravidar, nós não tivemos filhos e pudemos gastar todo nosso tempo um com o outro.

Não vou dizer que temos um casamento perfeito, ainda tem dias que tudo que eu quero é ir atrás de Clarke, ter uma notícia dela, ainda a amo e Raven sabe disso. Não é algo que nos atrapalha, pelo contrário, Raven não é uma esposa comum, passa noites fora com seus experimentos e consertos e eu com meu exército. A morena tem ajudado Abby a criar equipamentos para exames, a falta de guerras e disputas de terra, tem nos permitido desenvolver nossa sociedade.

De alguma forma nos entendemos e completamos. Somos melhores amigos, companheiros um do outro, muito mais do que marido e mulher. Fazemos sexo, o tempo todo, mas é diferente. Não sei explicar, a conheço bem o suficiente para saber como fazê-la sentir prazer e ela a mesma coisa, porém na grande parte das vezes é um sexo automático, feito para ceder nossas necessidades fisiológicas. Não é que eu não a deseje, Raven é linda e sabe como me levar a loucura. Ela é só muito mais minha amiga que qualquer outra coisa.

Octavia vem nos visitar de tempos em tempos, a morena está feliz como uma guerreira e mais feliz ainda por nós dois. Por mais que ela tenha sido contra a ideia, no final das contas, ficar juntos foi algo bom para nós dois. Sou feliz apesar de tudo, apesar da sombra da Clarke que permanece. Estou distraído com meus próprios pensamentos, quando Monty invade a sala de Conselho.

– O que tem de errado? – falo quando o mesmo congela olhando para cada um de nós nervoso.

– Clarke – estremeço ao ouvir seu nome, a maioria das pessoas não ousa pronunciá-lo desde então. Sinto Raven segurar minha mão, será que encontraram seu corpo?

– O que tem ela…? – Abby pergunta tentando disfarçar sua aflição que, apesar disso, é nítida.

– Ela está… viva – paraliso. Como ele sabe disso?

– Seja mais claro, Monty – é Kane quem diz isso, talvez o menos impressionado com a notícia.

– Ela está viva, está aqui... – estremeço, Raven percebe e aperta minha mão com ainda mais força. Sonho com esse momento desde sempre, mas nunca, em nenhum momento, pensei que ele pudesse se realizar. Olho pra Raven e pela primeira vez percebo que talvez me casar com ela tenha sido realmente um erro: Clarke está viva.

Observo todos na sala correrem em direção ao portão, mas me mantenho paralisado. Não consigo acreditar, não pode ser verdade, não depois de todos esses anos…

– Não vai vê-la? – Raven pronuncia quando já não tem mais ninguém conosco. Sua voz tem um tom que conheço bem, ela quer fingir que não se importa, porém a conheço bem demais para ser enganado.

– Não pode ser verdade. Você sabe, faz… Faz tempo demais.

– Acho que na Terra tudo é possível. Vá vê-la! É o que esteve esperando todos esses anos.- O mesmo tom se repete e eu me pergunto se devo ir atrás de Clarke. Se não seria errado de acordo com a minha situação atual.

– Eu posso? – pergunto olhando em seus olhos. Amo Clarke e Raven sabe disso, mas somos casados. Fizemos um pacto, não posso simplesmente rejeitá-la por que Clarke está de volta.

– Eu vou estar bem atrás de você se precisar de mim – a morena me abraça com força, nenhum de nós dois pensou que esse momento fosse realmente acontecer.

E eu corro, como não corro a anos, Raven não consegue me acompanhar por causa da sua perna, porém eu não me importo. Mais tarde terei a chance de refletir sobre tudo isso, o que a volta da Clarke realmente vai significar para o resto da minha vida.

A vejo de longe: linda. Parece bem e saudável, enxergá-la só me faz correr ainda mais rápido. Me jogo nos seus braços, num abraço muito parecido com o que ela me deu a anos atrás, Clarke demora pra corresponder, mas o faz e tudo faz sentido quando os seus braços encostam no meu corpo.

– Você está viva… Você está viva – repito passando minhas mãos no seu cabelo e dando uma boa olhada no seu rosto. Clarke está completamente diferente, seu cabelo está emaranhado de tranças e seus olhos estão envoltos em uma maquiagem preta. Só consigo pensar que mesmo assim ela continua linda, diferente de tudo o que já vi.

– É bom te ver, Bellamy.

– Digo o mesmo, Princess – permaneço olhando pra ela por alguns segundos até me afastar. Existem muitas outras pessoas que querem falar com ela.