Blood And Fire escrita por Sawatari


Capítulo 1
É, eu sempre saio de uma escola com estilo




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            Tudo começou a dar errado no jogo de baseball. Até então, meu dia tinha sido o mesmo saco de sempre. Eu sabia que se tivesse matado aula pra dormir, talvez nada daquilo tivesse acontecido. Fazer o que, pelo menos agora eu sei que, realmente, alguém lá em cima não gosta de mim.

            Eu sou Michael Crownler, e tenho quatorze anos. Até pouco tempo eu era aluno de um internato no Brooklyn, mas devido a minha dislexia, não vou conseguir escrever isso aqui. Sim, você leu certo, tenho dislexia. E transtorno déficit de atenção. E hiperatividade. E possivelmente bipolaridade. Enfim, vamos voltar ao internato.

            Era um colégio de freiras. Sabe aqueles de filmes com irmãs malignas e mandonas? Era pior. Mas fazer o quê, meu padrasto só me falou da escola quando já tinha me matriculado. Pois é, meus pais adotivos eram daqueles veteranos da Fé, dá pra acreditar? O pior era que os caras achavam seriamente que eu era satanista. Comprar livros de latim suspeitos e escutar Slipknot não prova nada!

            Enfim, estávamos nas férias de inverno, quando o colégio ficava quase suportável já que quase todos os alunos iam para casa, e as freiras estavam ocupadas com a chegada de um monsenhor famoso, que chegaria naquela tarde. Como elas iriam arrancar nosso couro se tentássemos fazer outra festa nos dormitórios, os alunos resolveram fazer um jogo de baseball.

            Lá estávamos eu, Jack Savage, Dan Mason e Jake Melnick, os quatro maiores problemas da escola com bastões e bolas no meio da neve. É claro que coisa boa não iria dar, ou pelo menos era isso que a gente esperava. Tínhamos roubado alguns quadros da sala do diretor, o padre Spera, para usar de base, mas nunca consegui ver a cara dele quando descobriu.

            Nós estávamos jogando fazia umas duas horas quando a irmã Esterine nos viu. Era a vice-diretora, uma freira gorda e metida a sargentona, que achava que mandava na gente. Só achava mesmo. Ela estava andando com uma menina, que devia ter a nossa idade, segurando ela pelo ombro como se nós fôssemos, sei lá, atacar elas.

            Até que ela era bonita, sabe. A menina, não a irmã Esterine! Tipo, ela não era lá muito alta, tinha pele branca, rostinho fino e olhos castanhos. Seu cabelo era da mesma cor, só que as pontas eram pintadas de um rosa forte. Ela olhava para mim de um jeito estranho, como se estivesse me reprimindo por alguma coisa. E olha que só quebrei tudo quando ela foi embora!

            É, no momento em que ela entrou com a irmã de volta na escola, eu me virei, pronto para mais uma rebatida. O problema era que Jack já tinha jogado a bola, que estava indo bem rápido na direção da minha cara. Então, instintivamente bati com o taco, e a bola voou com tanta força que despedaçou a janela da sala do diretor. Saco!

 

            - Valeu, Mike! – disse Dan, erguendo as mãos e deixando caírem de novo. – Era nossa única bola!

            - Tá, eu vou pegar. – resmunguei. Com sorte o padre nem estaria na sala dele.

 

            Eu fui correndo pelas escadas, até o quinto andar, que era onde ficava a sala. É, também não sei como rebati tão longe assim. Ainda bem que nenhuma freia apareceu, tava, como eu disse antes, todo mundo ocupado com o tal monsenhor chegando, de modo que foi fácil chegar na sala.

            Quando eu abri a porta, quase quis sair correndo de volta. Eu tinha destruído muito mais do que a janela. Tinha cacos de vidro espalhados por tudo, e uma pinha de papéis atirada no chão, com a bola no meio. Peguei ela, e já estava indo embora, quando o trinco virou. O diretor tinha voltado.

            Esquadrinhei a sala e em menos de um segundo corri para o imenso armário na sala. Minha sorte era que aquela também era a sala de reuniões, e as freias e padres guardavam os casacos lá sempre. Bem na hora em que eu fechei as portas, deixando só uma frestinha para enxergar alguma coisa, a porta abriu e o padre Spera entrou, junto com outro cara.

            Não conseguia ver direito quem era o outro cara, já que a barrigona gigante do diretor tapou quase tudo antes que ele se sentasse atrás da mesa, mas aí o outro já tinha sentado na outra cadeira a frente. Tudo o que eu consegui vislumbrar foi um sobretudo e uma pele morena.

 

            - Então, - disse o diretor. Pelo seu tom, diria que ele estava discutindo com o homem a sua frente antes de entrar. – você tem certeza?

            - Não vou ter certeza até ver o garoto. – retrucou o outro. Tinha um sotaque estranho, provavelmente era estrangeiro. – Mas parece que sim.

            - Então mandarei Esterine buscar Crownler quando tiver despistado a outra garota.

 

            Eles estavam falando de mim?! Sim, porque eu era o único Crownler na escola toda. O que raios o diretor e aquele homem queriam comigo? Talvez tivessem descoberto que eu tinha contrabandeado cerveja importada e tinha escondido no dormitório para a próxima festa.

            Então eu cometi o erro de dar alguns passos para trás. Ali estava tão cheio de casacos que eu não conseguia ver nada, e foi um choque quando ouvi o som de algo metálico caindo no chão de madeira. Um crucifixo de alguém tinha caído de um dos bolsos. O som foi alto o suficiente para chamar a atenção dos dois.

            Eu ouvi um som baixo, como se fosse um rosnado, antes da porta ser escancarada. Agora eu via perfeitamente o outro cara. Ele era bem mais alto do que o diretor, pele azeitonada, cabelos pretos cortados ao estilo militar, e um olho de cada cor – um azul, outro castanho. Antes que eu pudesse fazer alguma coisa, ele estendeu a enorme mão e me puxou pelo pescoço para fora.

 

            - É ele? – perguntou o homem, fungando o ar. Parecia bem satisfeito. – Sim, posso sentir o cheiro.

            - Então nosso acordo ainda está de pé. – disse o diretor, sério. – Nós entregamos o meio-sangue a você e agora...

            - Eu já sei! – rosnou o outro, irritado.

 

            Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo. O diretor estava tramando alguma coisa com aquele cara bizarro, e que pelo visto isso me incluía. E o que era um meio-sangue? E porque... porque esse cara tinha presas?!

 

            - Ah, o maior erro de Héstia... – disse ele, erguendo a mão. Mão não, a pata coberta de pêlo laranja com garras.

 

            Tudo bem, eu podia não saber o que estava acontecendo, mas sabia que tinha que fugir daquele cara. Ou do que quer que ele fosse. Segurei seu braço peludo, tentando fazer ele me soltar, o que era totalmente inútil. Eu vi alguma coisa atrás dele balançar. Alguma coisa com espinhos, como uma cauda.

            Ok, admito: estava entrando em pânico. O que?! Tinha um homem/monstro me estrangulando enquanto o diretor ficava olhando numa boa. Mas então aconteceu a coisa mais estranha. O cara deu um berro que quase me deixou surdo, enquanto seu pêlo ficava num tom preto e soltava um cheiro de coisa queimada. Exatamente de onde eu estava encostando nele. Não, não era eu que tinha queimado ele, era?

            O que houve depois me fez entender como a bola de baseball se sente. O cara me jogou contra a estante dos prêmios da escola. É, aquela envidraçada. Dei sorte porque eu caí na mesa do diretor, que ficava do lado da estante. Eu disse sorte? Quis dizer azar, porque a estante caiu em cima de mim, rachando a mesa no meio. Foi de admirar que eu não tivesse quebrado nada naquela hora.

            Enfim, eu ainda estava tentando (sem conseguir) sair debaixo da estante, quando o cara tirou o sobretudo. De humano, ele só tinha a cara, porque o corpo era de um leão, daquele pêlo laranja, e com uma cauda cheia de espinhos. O padre Spera nem pareceu se importar com aquilo, ele já devia saber o que ele era. Seja o que ele fosse.

            Ainda bem que quando ele pulou, eu consegui empurra a estante o suficiente para sair antes que ele caísse. O homem leão enfiou as patas na madeira quebrada, espumando pela boca de raiva. O diretor se aproximou dele, sem saber o que fazer, então aproveitei a chance e sai dali.

            Juro que a única vez que corri assim foi quando descobriram que eu tinha pichado FUCK GOD no auditório, ou seja, como se fosse morrer. O que era a mais pura verdade. Ia fazendo todas as curvas possíveis, tentando achar as escadas, mas aquele lugar parecia um labirinto confuso. E o pior era que eu podia escutar as patadas do monstro atrás de mim. E eu achando que ele ia demorar a se soltar.

            E foi então que eu vi ela. A garota que estava com a irmã Esterine apareceu no corredor, correndo também. Tinha uma expressão bem raivosa e estava carregando uma... espada? Eu abri a boca para visar para ela correr, só que uma coisa grande caiu sobre os meus pulmões. Eu sabia que o homem leão estava bem perto, mas eu não que estava tanto assim.

            Ignorei o fato daquelas garras estarem abrindo minhas costas no meio e que estava com uns três ou quatro (na verdade, depois confirmaram que foram cinco) costelas esmagadas. Eu ignorei e olhei para ela, que estava correndo na minha direção. Ela era demente? O homem rosnou, e consegui ver protegeis negros voando na direção dela. Deviam ser aqueles espinhos que ele tinha na cauda.

            Ela caiu, mas acho que nenhum dos espinhos acertou alguma parte importante. Sua espada caiu também, girando para longe dela... até mim. O monstro estava ocupado observando-a, que não parecia ter percebido a lâmina de bronze perto dele. Estendi a mão e a peguei, sentindo o peso quase nulo da espada. Então fiz a coisa mais idiota possível.

            Eu o ataquei.

            A lâmina de bronze se enterrou em seu peito, mas em vez de sangue, o saiu foi uma areia clara estranha. Ele tentou me fazer soltar a espada cravando as garras no meu braço, mas também ignorei isso e continuei segurando. E, mais uma vez, o fogo veio. Língua de fogo simplesmente fluíam das minhas mãos e subiam pela lâmina, até o interior do monstro. Mas eu não estava queimado, apesar sentia as chamas como uma leve camada quente sobre a pele.

            O homem leão soltou um último lamento grave, antes de se desfazer totalmente naquela areia amarela. Eu deixei a espada cair no chão, e as chamas se extinguiram dos meus braços. Depois de todo o choque e adrenalina de atacar aquela coisa, eu comecei a sentir os estragos.

            Simplesmente teria ficado ali no chão cheio de areia, arquejando enquanto o piso ficava machado de sangue, talvez até desmaiar ou morrer, quando senti o toque de uma mão. A garota agora estava na minha frente, tentando me puxar para cima e olhando frenética para os lados

 

            - Vamos, temos que sair daqui. – ela disse irritada. – Podem haver mais monstros aqui.

 

            Ah, cara, onde eu tinha me metido dessa vez?

 


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