Sad Songs for Dirty Lovers escrita por JeanJeanie


Capítulo 2
Little Lion Man OR Whose fault was it anyway?


Notas iniciais do capítulo

O capítulo está grande, sry.

Oi gente.

Avisos de vida:
Eu gosto do Dick Grayson? Sim.
Eu tieto o Nightwing? Todos os dias.
Ele é um idiota na minha cabeça e nas histórias que eu escrevo? Sempre.
É o papel social dele, gente. Aceitem que dói menos.

Enjoy~



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– Them -

2. Little Lion Man (OR Whose fault was it anyway?)

Um homem se esgueira nas sombras, apressado. Seu coração está quebrado e seu corpo cansado. Uma máscara cobre seu rosto, e o suor encharca a malha negra que lhe cobre o tórax e as pernas.

Droga!

A dor está aumentando, sua respiração está acelerada.

Ele pressiona o lado esquerdo do abdômen com firmeza, avaliando o estrago, e prende um gemido entre os lábios crispados quando seus dedos passeiam pela fenda aberta.

Droga, droga, droga!

Ele quebra a fechadura de uma janela qualquer com o bastão de metal que carrega e adentra o apartamento na penumbra. Cambaleante, ele ensaia alguns passos pelo cômodo que já lhe é familiar, enquanto promete a si mesmo não perder os sentidos – pelo menos, não ainda.

Mil vezes droga!

Raven abre os olhos em seu quarto, e encara o teto branco na escuridão. Ela tem certeza de que conseguiria senti-lo se aproximar mesmo a quilômetros de distância e isso a inquieta. Ao seu lado, Garfield ressona tranquilamente: remexe-se e sussurra algo inteligível ao encontrar uma posição mais confortável no colchão que compartilham.

Garfield descansa o sono dos justos, Raven pensa. O sono que ela nunca pôde dormir.

Um suspiro cansado deixa seus lábios, a presença que sente a impele para fora da cama sem pedir licença. Ela logo veste seu suéter (antes abandonado em qualquer canto do assoalho), prende seus cabelos em um coque desajeitado e caminha em direção a sala de seu apartamento.

Ele lhe roubaria outra noite…

“Dick?” Chama, incerta. A janela está aberta, deixando a luz plácida da lua cheia banhar o cômodo. Raven admira a cena, sem deixar de achar patético que tenha tempo de apreciá-la quando alguém invadiu seu apartamento (mesmo que conheça este alguém).

Dick que está recostado na parede, recobrando o fôlego, e aparenta manter o equilíbrio com certa dificuldade. Raven percebe manchas no uniforme dele. O cheiro enauseante impregna-lhe o olfato. E ela conhece aquele cheiro bem demais.

Sangue. Sangue fresco.

“O que aconteceu…?”

“Rae…” ele sente a garganta arranhar, os olhos arderem.

“Você está ferido?”

Mas Dick não quer falar nada, não quer ter de explicar como chegara até ali. Ele se recusa a desperdiçar suas energias em algo que não seja sentir a pele dela, imaculada e fria, sob seus dedos.

Sem que haja espaço para hesitações, ele a abraça, afundando seu rosto na curva do pescoço dela. Ele é brusco e urgente, quer descansar seu pesar e deixar tudo para trás. Porém, longos segundos se passam antes que ela consiga corresponder, enrolando seus braços ao redor dele – e, quando finalmente o faz, ele precisa repreender um grunhido de dor.

A estranheza dela. O impulso dele.

E o temor de ambos.

Todo aquele desespero que emana dele a assusta. Algo está muito errado, e Raven sente-se desamparada ao apalpar o outro de forma afoita, tentando encontrar a causa daquela face contorcida a sua frente. Ele insiste em impedi-la, silenciosamente.

“Você está ferido, não está?” Ela intenciona demandar, mas falha, miseravelmente, ao deixar escapar uma súplica: “Nightwing, me responda! Por favor…”

Só então Dick percebe que ainda está usando sua máscara. A náusea lhe sobe pela garganta quando a dor parece cortar suas entranhas, e ele sente a mão dela deslizar a máscara por seu rosto para revelar seus olhos úmidos.

“Eu não sei o que você fez, Dick. Mas me deixe curá-lo.”

Ele acena negativamente. As mãos dela agora estão manchadas com o sangue dele, e Dick odeia aquela cena. As mãos frias de Raven em seu corpo querem curá-lo, os dedos dela deslizam habilidosamente sobre sua pele buscando desnudar seu tórax – e ele pensa que isso poderia lhe trazer prazer, se não estivesse sentindo seu corpo inteiro doer a cada respiração.

“Não, Rae.”

Que diabos era aquilo? Então ele quer morrer em frente aos olhos dela?

E desde quando morrer conserta alguma coisa? Dick…!

Ele está pálido, cada vez mais pálido. E ela está a beira de ceder àquele desespero que se derrama de dentro dele.

“Você não pode salvar a todos, Dick” ela quer fazê-lo entender algo que todos eles já haviam entendido há anos. Mas Dick é certamente teimoso quanto a sua mortalidade. “Você é humano. Agora me deixe curá-lo!”

Ele ri, amargo.

“E você pode?” Ele a enfrenta, inquisidor. “A garota-demônio com seus superpoderes pode salvar a todos sem se esforçar!” Na verdade, ele a conhece o suficiente para saber que Raven não quer salvar ninguém, quer apenas não ser o monstro vai eliminá-los da face da Terra.

“Você é uma piada, Raven. Os Titãs são uma piada! Você não tem idéia de como é…”

A Dor. Outra vez. E um gosto metálico em sua boca. Tsc…!

Ela faz menção de estancar o sangue com suas mãos. Mas ele a joga contra a parede, sem nenhuma delicadeza, estrangulando-a. Raven engasga ao sentir o ar escapar de seus pulmões e segura o antebraço de Dick com força, enquanto faíscas surgem nas pontas de seus dedos.

Ele é um homem grande, mas está fraco, e ela sabe se defender muito bem, obrigada. A mão em seu pescoço afrouxa e o toque se torna terno, ainda que possessivo. Raven sente seus músculos relaxarem.

Por que encontrar aqueles olhos violáceos é enxergar sua própria alma? Isso é tudo o que menos precisa no momento, ele tem certeza.

“Você está me lendo como a seu livro.”

“Não.”

Ela está, mas não é como se fosse uma opção de escolha.

Dick cede: a dor lhe pressiona as têmporas, as costelas, os pulmões. Ele deixa seus olhos se fecharem e encosta sua testa na dela, cansado. Raven roça seu nariz contra o dele de modo carinhoso, e a mão de Dick escorrega até sua cintura. Ele a quer perto, e cada vez mais perto, como se pudesse fundir seus corpos em um único ser, pra sempre.

“Bruxa” ele sussurra, com intenção de ofender. Dick quer que Raven o machuque, que use seus poderes contra ele, que o destrua de uma vez – qualquer coisa que acabe com aquela agonia.

Raven sente, seus poderes sentem: as emoções chegam a ela como ondas à areia da praia. Seus olhos brilham, vazios, enquanto uma esfera de energia forma-se em suas palmas. Ela posiciona ambas mãos na ferida aberta, recitando seu mantra - “Azarath. Metrion. Zinthos.”

Instantaneamente, ambos sentem a dor fluir por seus corpos, e é como se suas veias e artérias bombeassem o mesmo sangue que corre para refazer as camadas de tecidos danificados. A ferida é profunda e ele afunda os dedos na cintura dela, nada gentil, quando ela deixa escapar um suspiro – compartilhar sua dor é o que ele menos deseja fazer, mas é o que sempre acaba fazendo. No final das contas, Raven era quem invariavelmente absorvia o impacto de suas imprudências. Dick estremece frente a consciência de que sempre acaba fazendo-a sofrer.

Passos ecoam no corredor, e um Garfield sonolento tateia a parede a procura do interruptor da sala. Quando acende a luz, seus olhos demoram a se acostumar com o clarão que se espalha pelo cômodo.

Raven e Dick afastam-se, em um sobressalto. Dick sente cada fibra do seu corpo gemer em insatisfação.

“Rae, você está aqui?” Ele esfrega os olhos mais uma vez. Beast Boy não era exatamente alguém de sono leve, e ela deixa-se levar por um momento de ternura, admirando-o em seu lento processo de acordar.

Garfield finalmente assimila a cena a sua volta. Vê sangue em Raven e sangue em Dick.

“Mas que merda está acontecendo aqui?” Seus olhos se revezam entre os envergonhados de Raven e os desafiadores do homem ao lado dela. “Raven, você está machucada?”

“Não Gar, está tu---”

“Fica fora disso, Logan!” Dick vocifera entredentes, segurando o lado esquerdo de seu abdômen.

“Essa é a minha casa, Grayson!” Retruca, seus punhos estão cerrados: se Dick planeja continuar a controlá-lo como se ainda tivessem 16 anos e estivessem na Torre, ele está muito enganado. Beast Boy pode respeitar Nightwing, mas Garfield Logan não é obrigado a tolerar Dick Grayson.

Raven os assiste discutir, lívida. Os lábios dela se movem involuntariamente:

“Azarath.”

Não.

“Metrion.”

Não, não, não.

“Zinthos!”

Merda.

A parede ao lado de Garfield agora ostenta um belo buraco. E o silêncio impera outra vez.

“Droga” Raven estala a mão na testa, desapontada. Seus poderes se voltaram contra Garfield, e todos ali sabem que se ela não houvesse desviado a tempo, ele não teria mais cabeça.

Só… Merda.

“Rae?”

“Gar… por favor” os olhos dela são suplicantes. Dick está a ponto de desmaiar, ela não pode perder mais tempo, Garfield precisa entender. Por favor…!

Ele a olha, incrédulo. Há a mágoa, também. Mas ela quer ignorar esta parte por enquanto.

“Você só pode estar brincando. Você não pode amá-lo tanto assim, isso é…!”

“Gar, por favor… Eu---”

“Sim.” ele lança mão em uma jaqueta no cabideiro ao lado da porta, e sai. Ele sabe que ela está tentando recobrar seu equilíbrio interior antes que acabe machucando a todos, e nunca será capaz de fazê-lo com dois idiotas brincando demacho-alfa-que-quer-demarcar-território a sua volta. Dick já era idiota o suficiente, Garfield não precisava somar ao coro.

Dick sente suas pernas falharem, e deixa-se escorregar até o chão. Raven se junta a ele, retomando seu trabalho sem ousar encará-lo. Apenas o mantra da empata ecoa pelas paredes da sala.

“Eu realmente fodi tudo dessa vez, não foi?”

“Você não tem esse direito, Dick. Simplesmente não tem!” Ela soca o braço dele uma, duas, três, quatro vezes…

Oh, ele realmente ultrapassara todos os limites desta vez!

Dick a abraça afetuosamente, e sente as lágrimas dela molharem seu peito.

“Ele te ama.”

“Eu sei.”

“E você o ama também.”

“Eu sei.”

“Não o deixe ir.”

“Eu não posso evitar.”

“Você vai dar um jeito.” Ele planta um beijo terno entre os cabelos dela antes de separá-los para encontrar os olhos violáceos uma última vez.

“Rae, o que ele vê em você é verdadeiro… E eu nunca seria capaz de fazer o mesmo por você.” Ele sorri, sem graça, enxugando as lágrimas que ainda teimam em escorrer pelas bochechas dela.

“Quieto, Bird Boy – me deixe terminar isso logo.” Ela sai em busca de esparadrapos e gaze para finalizar o curativo. Há conforto nos longos silêncios e há mágoa também – um pesar fino e calmo parece envolvê-los na medida em que a madrugada se esvai.

“Desculpe.”

Desculpas... Ah, sim. Desculpas eram necessárias. Muito bem, Menino Prodígio!

Ela deveria achar graça naquela feição de criança que acaba de quebrar o vaso preferido da mãe que ele exibe. Mas Raven não tem jeito para ser mãe de ninguém, muito menos de Dick.

“Sabe Dick, desculpar não é o problema. Nunca foi. Nem para mim, nem para Kori.” Raven, pacientemente, posiciona os curativos na ferida quase cicatrizada. “Você sabe disso.”

Ele sabe. Também sabe que ela ficará bem, que Garfield estará lá para ela, que aquele sangue será lavado e descerá pelo ralo, que a dor será logo esquecida com analgésicos.

Que amanhã será um novo dia para todos eles.

Mas naquele exato momento, sentado ao chão do apartamento de Raven, ele sente que não pode viver com ele mesmo.

“Weep for yourself, my man
You'll never be what is in your heart
Weep little lion man
You're not as brave as you were at the start

Rate yourself and rake yourself
Take all the courage you have left
Wasted on fixing all the problems
That you made in your own head

But it was not your fault but mine
And it was your heart on the line
I really fucked it up this time
Didn't I, my dear?

Tremble for yourself, my man
You know that you have seen this all before
Tremble little lion man
You'll never settle any of your score

Your grace is wasted in your face
Your boldness stands alone among the wreck
Now learn from your mother
Or else spend your days biting your own neck

But it was not your fault but mine
And it was your heart on the line
I really fucked it up this time
Didn't I, my dear?”

(Little Lion Man - Mumford & Sons)


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Notas finais do capítulo

Comentários são legais, fikdik

Música do capítulo: Little Lion Man, Mumford & Sons



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