Hoje tenho que levar o Mac na bolsa, vou almoçar com o pessoal do grupo na casa do Uriah e não quero ter que voltar aqui só pra pega-lo. Coloco um jeans clarinho de cós um pouco alto, uma regata preta coladinha e meu querido all star branco; Hoje está fazendo calor então decido deixar o cabelo secar naturalmente; passo o rímel que fica bem boneca destacando meus olhos verdes e estou pronta.
Pego minha mochila e passo na cozinha antes de sair de casa, pego uma maçã e vou andando até a estação do metrô, hoje eu entro mais tarde na escola e minha mãe já foi trabalhar.
Cheguei um pouco mais cedo e como não tenho o que fazer, me esparramo no canto do pátio e pego meu livro, vou ler.
– Não queria ter que atrapalhar você, está tão bonitinha lendo seu livro- abaixo o livro um pouco cobrindo dos meus olhos pra baixo e vejo Matthew sorrindo pra mim. Tenho que admitir, ele é um verdadeiro Príncipe, essa carinha de anjo dele...
– Senta aí Matthew - me levanto do chão e sento encostada na parede e Matthew senta ao meu lado.
– Acho que cheguei cedo de mais- ele sorri
– Há. Estou aqui a mais ou menos 10 minutos.
– Nossa. Isso é que é gostar da escola. Mas e aí, tá gostando da Woslem?
– É... tirando certos gatos pingados eu estou sim.
– Ah- ele ri- Sei de quem está falando... Não liga não, eles se acham superiores e acham que podem tudo... Se ficar discutindo com eles, vai só piorar. É melhor ignorar.
– Não sei ignorar. Não sei levar desaforo pra casa.
– Não?
– Não!
– Então me ensina... - ele sorri- minha mãe vive falando que eu sou muito lerdo, que eu deveria abrir mais a boca.
– Não acho. Acho que você deve continuar a ser quem é, gosto de você assim e se esse é seu jeito não tem porque mudar.
– Sério? - ele me olha e eu olho pra ele; concordo com a cabeça
– Então se esse é seu jeito acho que também não precisa mudar. Aliás, adoro suas tiradas e desaforos! - ele começa a rir e a me lembrar delas até o sinal tocar e aula começar.
☆☆☆
A aula terminou e fui pra frente da escola esperar o Uriah e o Will junto com Lynn
– Tris você é uma das única sgarotas que eu conheço que não tem receio de ficar perto de mim por conta da minha opção sexual
– Porque eu teria?
– Medo.
– Medo? Medo porque?
– Eu sei que você é heterossexual e como eu sou homo, achei que ficaria com medo de mim dar em cima de você. Mas não, eu não faria isso porque sei que você não gosta, eu respeito.
– Exatamente por isso não tem receio, relaxa Lynn
– Agora me beija- me aproximo dela- to brincando sua louca!
– Eu sei Lynn- digo sorrindo- Era só pra ver sua reação
– Come on girls! - Uriah buzina da hilux Preta dele e nós vamos até lá. Will já está dentro do carro no banco da frente então eu e Lynn ficamos no de trás.
Uriah ligou o som e colocou summer pra tocar bem alto no carro, fomos cantando até a casa dele.
– Chegamos! - ele estaciona o carro e nós descemos, a casa dele é bem grande e bonita- Vamos entrando... vem lora! - vou até ele que passa o braço pelo meu ombro
– Virei encosto?
– Isso que dá ser baixinha Tris.
– Cala boca Will, seu arranha céu!
– Otário! - Lynn debocha
O almoço era lasanha, arroz e tinha uma salada lá mas ninguém comeu, só eu. Coloquei lasanha e manga com alface
– Estranha
– Me deixa Will!
– Estranha dois
– Estranha três
– Me deixa gente! - Lynn joga uns grãos de arroz em mim
– Ei! -Pego o sal e jogo um pouco nela mas cai no cabelo Preto e perfeito do Will
– Não... você não mexeu no meu cabelo... - ele levanta e começa a corre e atrás de mim com o prato dele na mão e Uriah se levanta com a jarra de suco
– Querem mesmo guerra de comida? - ele diz sorrindo
– Não, para. Não to mais brincando
– Vai amarelar Will!? - pergunto sorrindo
– Queremos! - Lynn joga água em Uriah
– Filha da Égua! - ele se vira e tenta jogar o suco nela mas ela é rápida e se esquiva
Meu celular toca
– Tenho que atender é minha mãe.
– Salva a pelo gongo Tris! Tu vai ver loirinha!
Dou língua pra ele e atendo o celular
– oi mãe... sim eu estou na casa dele... não precisa eu vou de metrô... tá.... Aham... tá mãe... tá... ta bom... tá, beijo, te amo, tchau. Tá bom. Xau.
– Nossa.
– O que foi Lynn?
– Sua mãe é bem preocupada com você em?
– É, nós só temos uma a outra, é normal esse tipo de preocupação.
– Dá um abraço lora! - Uriah me abraça todo molhado
– Ai seu preto! Fiquei toda molhada agora!
– Vai secar rapidinho, olha o sol
– Nossa Will - Lynn revira os olhos
Terminamos de comer, fomos pro escritório fazer o trabalho e ficamos discutindo sobre a vida.
Will é filho único e os pais dele são super grudados nele; Will é um verdadeiro filhinho de papai mas não é desses mauricinhos que esfregam dinheiro na cara dos outros, ele é humilde apesar de sua condição financeira.
Lynn tem dois irmãos, ela é filha do meio e seus pais são bem rígidos, vivem comparando ela com sua irmã mais velha, uma tal de Shauna que é toda certinha. O irmão mais novo dela também é um certinho da vida e ela se classifica a ovelha negra, dá pra perceber que ela adora isso e não faz questão de mudar.
Uriah também é riquinho, tem pais ausentes que vivem trabalhando e viajando e quase nunca ligam pra ele e pra Zeke que é um verdadeiro sem futuro, só quer saber de futebol, de garotas e de gastar.
– Agora é sua vez! - Lynn aponta pra mim
– Verdade, conta aí sobre você. Nunca me falou de ti lora.
– Tudo bem. Se preparem pra ouvir uma história bem longa e chata
– Imagino - Will diz sorrindo.
Contei minha história pra eles a partir do ponto que meu pai abriu a clinica dele e depois de uns anos abandonou a gente, até a parte que consegui a bolsa no Woslem. Não contei sobre minhas mutilações por que creio que isso não diz respeito à ninguém além de mim mesma.
– E é isso- suspiro. Eles me olham boquiabertos e confusos.
– Meu Deus... Você deveria escrever um livro Tris, retiro o que pensei sobre a história ser longa e chata... - a enorme porta do escritório se abre e todos ficamos surpresos
– Então você é bolsista!? -Nita cai na gargalhada assim que entra- Entra gente! - ela cruza os braços e então entra com ela Zeke, Peter, Quatro, Christina e Marlene, todos me olham com pena e preocupação
– O que vocês estão fazendo aqui!? - Uriah pergunta furioso
– A gente ouviu tudo. Que peninha Beatrice, mas vamos concordar né, sorte é para poucos! - ingulo o gosto de bile que vem na minha boca.
– Cala boca Nita! - Christina grita com ela e ela cai na gargalhada
– Até entendo o seu pai ter te deixado sabe... chatinha do jeito que você é... qualquer um né queridinha - Eu não consigo me defender, nada sai na minha garganta, de repente meu mundo desmorona e eu quero chorar.
– Juanita chega... - Quatro fala todo calminho com ela
– Porque trouxe eles aqui? Não tinham que estar na quele treino de merda? - Uriah pergunta estourado
– A casa também é minha, trago quem eu quiser aqui.
– Como você achou que poderia cuidar de uma criança se não sabe cuidar nem de você mesma garota? No mínimo morreu por conta de sua irresponsabilidade - Nita volta a me provocar mas eu não consigo dizer nada. Lynn se levanta e vai até ela tentando ataca-la mas Peter a impede
– Cala sua boca sua nojenta! Sai daqui! Piranha folgada! - ela grita
– Só falo a verdade! - Nita diz olhando as unhas - Pobrinha bolsista... Quem diria em... - ela sorri
– Nita chega! Para cara! - Marlene entra na frente dela
– Chega nada... nem comecei! Aliás, como é ser bolsista e pagar de riquinha para os outros? Dividiu o iPhone em quantas vezes? 24!? Meu Deus preciso trocar de celular, uma pobrinha ter o mesmo celular que eu pra mim é uma ofensa - Me levanto e encaro ela com os olhos um pouco marejados e todos me encaram.
– Vai chorar!? - ela pergunta toda feliz - Aliás, o que você está fazendo aqui? Não tinha que estar andando com gente da sua classe não? Interesseira!
– Eu tenho tanta pena de você.... Quer saber de uma coisa? Me orgulho da minha história, me orgulho de ser bolsista! Me diz se você já fez alguam coisa boa pra alguém além de você mesma? Acho que nem precisa responder! Além de ser uma garota fútil, você é uma ignorante que só da valor à coisas materias, não é atoa que ninguém te suporta! Se eu estou na escola Hoje, é porque eu mereço, é por que eu não dependo de ninguém pra conseguir as coisas. Não tenho um papaizinho aplaudindo meus caprichos, eu tenho uma mãe que me ama e que me dá a coisa mais valiosa do mundo, o amor. Já ouviu falar? Acho que não né? Mal amada! Você pode até ter dinheiro, mas é só isso o que você tem- Nita não disse mais nada, apenas me olhava calada e furiosa e como dizem por aí : "quem cala consente".
Todos ficaram me olhando calados enquanto eu cuspia na cara dela tudo o que queria falar, estavam provavelmente esperando que eu batesse nela, mas não, não me rebaixaria a tanto. Falando aquilo deixei bem claro pra todo mundo que não precisavam ter pena de mim e que eu era mais forte do que pensavam. Juntei as forças que ainda me restavam, fechei meu Mac coloquei na bolsa e fui embora sem me despedir de ninguém, não tive cabeça pra isso e acho que entenderam pois ninguém veio atrás de mim.
São todos de mundinhos pequenos, tenho certeza que nunca ouvira histórias assim com alguém próximo deles.
Ouvir tudo aquilo me deixou mal, me fez lembrar de tudo, me fez sentir culpa...
Assim que entrei no metrô que estava um pouco vazio, coloquei a música "I Told you so" no fone e desabei no chão encostada na parede, eu estou me sentindo tão mal. Nunca achei que encontraria uma pessoa tão sem coração que tivesse coragem de dizer coisas tão duras e pesadas assim pra mim; eu não achei que me odiasse tanto assim, o que eu fiz pra ela?
Minha vida é uma droga! Sempre que eu acho que vai melhorar, só piora.
Aperto meu pulso várias vezes. Não eu não posso fazer isso de novo. Eu sou forte. Eu sou forte.
Abro o bolso interno da minha mochila e pego a pequena lâmina enrolada no papel e fico olhando pra ela
– Eu sou forte, eu sou forte - repito pra mim mesma - Pessoas fortes também tem seus momentos de fraqueza- desenrolo a lâmina do papel- Mas você não vai ser minha fraqueza de novo - jogo ela longe e abaixo a cabeça, continuo meu choro.
☆☆☆
Cheguei em casa e fui direto pro banho descarregar minhas mágoas e depois deitei e dormir, precisava me desvencilhar desse mundo cruel, cheio de pessoas cruéis.