Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 46
Capítulo 39


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, passando aqui para deixar a nossa primeira atualização do ano.
Nossa história está acabando, estamos na reta final =o
Estou ansiosa para vocês lerem tudo S2

Espero que estejam todos bem, hidratados e empolgados para um 2024 incrível!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/641819/chapter/46

"Meu coração amou até agora? Não, juram meus olhos. Até esta noite eu não conhecia a verdadeira beleza”.  ('Romeu e Julieta' - William Shakespeare)

— Por que você não me contou, Vincent? — Oliver disse. O chefe de pesquisas estava sentado ao seu lado, com as mãos apoiadas no joelhos e olhando para baixo.

— Eu não conseguia, poucas pessoas sabem. — Vincent respondeu, estava sentado na sala da casa de sua mãe e na mesma posição do amigo. 

Havia ligado imediatamente para Oliver assim que recebeu a informação de que Elaine queria vê-lo. Não poderia dirigir com todo aquele álcool no seu corpo, e apesar da doença da mãe ser um assunto que Vincent pretendia evitar de compartilhar, precisou ser honesto com o chefe de pesquisas e pedir ajuda. Precisava de uma pessoa amiga, afinal. 

Precisava de qualquer rosto conhecido ao seu lado.

— Queria poder dizer alguma coisa útil. — Oliver lamentou, olhando finalmente para o líder. — O que eu puder fazer, apenas me diga, Vincent. Eu estou aqui.

— Eu preciso que ligue para a Amelia, a minha mãe pediu para vê-la — Vincent respirou devagar, também encarando o colega. — E para a Gilan, ela ainda não me atende.

— Claro, deixe isso comigo. — não passou despercebido por Oliver o desânimo na última frase de Vincent. — Ei, vocês vão resolver as suas diferenças, fique tranquilo, casamentos são difíceis. 

Vincent sorriu sem humor. O que poderia dizer? Havia sido vago com Oliver sobre o desentendimento que teve com a sua mulher, não poderia expor a farsa daquele casamento e como tudo desmoronou em questão de poucas horas após estarem tão felizes, juntos, fazendo planos. 

Fazendo amor.

Depois de escutar Oliver falar com Amelia, e de presenciar mais tentativas frustradas de contatar Gilan, Vincent deixou o colega na sala e caminhou até a área externa da casa. Havia um assunto pendente. Uma ligação que só ele poderia fazer. 

Precisava falar com o seu pai.

Não achava que o velho era merecedor de estar ali, ao lado de Elaine, já que não estivera durante a sua vida. Não era justo que o ex-marido da mãe compartilhasse daquele momento que era nitidamente uma despedida. Mas não cabia a ele decidir e Elaine o havia pedido, e Vincent não tinha a menor intenção de contrariá-la. 

— Filho? — o velho atendeu, a voz sonolenta.

— Ela não está bem, e quer ver você. — Vincent foi direto, não tinha o hábito de trocar muitas palavras com o pai. Para ser honesto, nos últimos anos, poderia contar nos dedos as vezes que se falaram.

— Agora? — o velho pareceu acordar.

— Se quiser posso reservar uma visita, quando a sua agenda estiver disponível. — Vincent ironizou. 

— Você sabe que as coisas por aqui são complicadas, Vincent.

— Eu dei o recado, o que você vai fazer com isso já não é problema meu. — e desligou. 

Tomou uma lufada de ar. Era revoltante se dar conta o quão pouco Elaine significava para o velho, e o quão oposto tudo isso era para a sua mãe. Vincent nunca teria a confirmação, mas de alguma forma ele sabia que Elaine morreria amando aquele homem. Mesmo que o velho jamais merecesse qualquer resquício daquele sentimento.

Uma luz forte apontou no portão da residência, Vincent viu um carro se aproximar e sentiu uma ansiedade dentro do peito, alguém desceu do carro mas ele não conseguiu enxergar com clareza e andou na direção da entrada. Se aproximou um pouco mais do portão e enfim reconheceu a silhueta de quem chegara. 

Não era Gilan.

— Eu vim o mais rápido que pude. — Amelia disse assim que entrou no jardim.

— Obrigado por isso. — ele a acompanhou até chegarem ao interior da casa. — Ela vai gostar de te ver.

Conduziu a líder de equipe até o quarto de Elaine, deixando-as sozinhas para terem privacidade, e em seguida, desceu as escadas para falar com Oliver. Saíra de casa tão desorientado que não havia sequer separado uma troca de roupa, e o amigo gentilmente se ofereceu para ir até o seu apartamento e buscar alguns pertences.

Andou até a cozinha e começou a preparar um chá, a noite estava fria e seria longa. Encarou a velha chaleira por alguns momentos até o objeto começar a apitar. Alto. Estridente. Com a fumaça saindo em seu bico lateral. O barulho nunca pareceu tão perturbador e Vincent nunca sentiu tanta vontade de gritar. Estava exatamente assim, com uma ebulição imensa dentro dos seus pensamentos, não era capaz de organizar nada. Estava se sentindo a pessoa mais miserável do mundo. Se Gilan não conseguisse se despedir de Elaine por sua culpa, Vincent jamais se perdoaria. 

Jamais.

Colocou duas xícaras de chá em uma bandeja e seguiu até o quarto de Elaine. Quando estava prestes a entrar, não pôde deixar de prestar atenção na conversa, e o assunto o fez travar o seu passo.

— Meu filho está feliz, Amelia, e eu quero que você também seja.

A voz da mãe soava doce, com o tom maternal que sempre usava com as pessoas das quais ela gostava.

— Mas eu o amo, —  escutou Amelia dizer. — e ele também sente algo por mim.

Sabe, minha querida, antes de Julieta, existiu Rosalina. — a mãe fez uma pausa, respirando devagar. — Você foi importante, e muito amada. E isso ninguém poderá mudar, mas os sentimentos ao redor de vocês, esses sim se modificaram. Nem a água resiste no mesmo estado. Às vezes, as geleiras derretem, os mares evaporam, o que antes conhecíamos não reconhecemos mais. Tudo tem um ciclo, Amelia, e o de vocês precisa ser fechado.

Ele é o meu amor, Elaine, e eu não consigo deixar ir. — a voz dela soou machucada. Ferida.

— Mas você precisa tentar, minha querida. — Vincent viu pela fresta da porta Elaine segurando as mãos de Amelia. — Eu sei o que é desejar algo que não é mais seu. Eu sempre vou amar o pai do Vincent, mas ele não é o meu amor, porque se ele fosse, eu seria o mesmo para ele. — sua mãe respirou fundo. — Ele não virá me ver, Amelia. Ele não segurará a minha mão, porque não somos mais nada, mesmo que um dia tenhamos sido tudo.  — Amelia quis falar mas Elaine ergueu a mão, a interrompendo. — Vincent ama Gilan, e você é uma mulher inteligente o suficiente para enxergar isso. E valiosa o suficiente para entender que merece ser correspondida. Minha querida, não desperdice a sua vida, como eu fiz com a minha, esperando por um amor que não existe mais. 

Vincent se afastou devagar, apoiando a bandeja em um aparador que havia no corredor e se encostando na parede. Encarou a porta do quarto da mãe. Não saberia dizer por quanto tempo ficou ali, mas foi o suficiente para assimilar aquele fragmento de conversa que, indelicadamente, ele havia invadido. 

Amelia não estava errada ao acreditar que ele ainda sentia alguma coisa. Ela tinha razão. Vincent resolvera as suas questões de forma retraída. Sem incluí-la. Sem deixar o ressentimento ir.

E nem mesmo Gilan tinha conhecimento dos seus sentimentos reais. Porque mesmo se esforçando para começar uma nova história, mesmo estando apaixonado pela sua mulher, Vincent não soube fechar o ciclo. Cultivando uma casca que nunca parecia cicatrizar.

Há quanto tempo convivia com essa ferida mal curada, mal resolvida? Parecia tão permanente que acabou se acostumando com isso. Como se a dor fosse… Familiar. E toda vez que ele ocultava o que sentia uma ponte o unia a Amelia, impedindo que seguissem por outros caminhos. Como uma bússola quebrada, que te dá uma falsa sensação de orientação, mas no final, você só está perdido. 

Há quanto tempo Vincent e Amelia estavam perdidos?

xXx

Vince! Você me assustou. —a líder de equipe disse assim que o viu estático no corredor. — Elaine quer falar com a… a sua esposa. 

— Gilan ainda não chegou. — ele respondeu apático. 

— Você trouxe chá. — Amelia observou a bandeja ao lado. — Por que não entrou? — e então, encarou os olhos de Vincent, parecendo se dar conta de algo. — Você nos ouviu. — e aquilo não era uma pergunta. — Olha… Eu realmente-

— Eu realmente sinto muito, Amelia. — ele a interrompeu. — Por não acreditar em você quando deveria. Por alimentar essa mágoa por tanto tempo… Por te machucar.

— Por que você está falando comigo como se estivesse se despedindo? — ela o encarou com o mesmo olhar ferido que ele havia visto antes.

— Porque isso é uma despedida, Amelia. Eu estou me despedindo do que eu sentia por você. — ele respondeu, se aproximando da líder de equipe. — Eu costumava achar que era amor, mas como poderia ser se estávamos tão sozinhos? — ele tocou no rosto dela, com uma suavidade que não fazia há anos. — Não soubemos lidar com a companhia um do outro, não soubemos construir confiança entre nós, não soubemos entender os nossos sentimentos. Não soubemos nos amar. — ele limpou uma lágrima que escapou dos olhos âmbar dela. — Nós erramos, Amelia, e precisamos nos perdoar por isso. 

Amelia desviou o seu olhar para baixo e Vincent sabia que ela apenas estava se recompondo, sabia o quanto a ex-namorada odiava parecer menos do que forte. E ele respeitava isso.

— Eu nunca te trai, Vincent. — e Amelia finalmente verbalizou aquilo que ele um dia quis tanto ouvir.

— Eu sei, hoje eu sei. — e estava sendo sincero, já fazia tempo que não precisava mais de uma confirmação dela.

— Eu sempre gostei da atenção. — ela continuou. — De provocar situações. De me chamarem de megera, de incomodar, de ser vista, de ser… Lembrada. Eu sempre gostei muito mais de mim do que eu gostava de você, Vincent.

— Isso não tem mais importância, Amelia. Está tudo bem agora.

— Não está. — ela retrucou, dessa vez sem desviar o olhar. — Eu não tenho feito coisas de que me orgulhe. Eu não tenho jogado limpo.

— Eu também retruquei em muitas coisas. — ele admitiu. — Não sou exatamente isento de tudo o que aconteceu. 

— Não me refiro à B&B. Eu… Eu vi o contrato que você fez com a Gilan. Do falso casamento. 

O corpo de Vincent se agitou, mas ele continuou estático, ainda  encarando Amelia. 

— E eu a fiz acreditar que você havia me confidenciado tudo, porque éramos… — ela fez uma pausa. — Porque éramos amantes.

Vincent suspirou forte, sentindo algo em seu corpo relaxar. E por mais que aquela revelação não fosse agradável de ouvir, se sentia aliviado por conseguir entender finalmente o que havia causado o seu desentendimento com a sua mulher. O motivo dela ter ido embora de casa. 

O motivo de Gilan o ter deixado para trás.

— Eu vou consertar isso. — Amelia afirmou. —  Posso falar com ela se você quiser.

— Eu agradeço por me contar o que aconteceu, mas isso é entre mim e a minha mulher. — Vincent falou, sem o menor tom de grosseria em sua voz, apenas honestidade. — A única coisa que eu quero de você é que siga a sua vida, Amelia.

— Eu farei isso. Eu quero ser uma pessoa melhor. Assim como você. — Amelia o olhou, permanecendo em silêncio por alguns segundos. — Você parece tão melhor, Vincent.

— Por causa dela… — ele respondeu simplesmente. — Pela Gilan.

— Você merece ser feliz, Vince. E eu sei que será.

— Eu e você seremos, Amelia. E agora posso finalmente acreditar nisso.

 xXx

Vincent sentiu o cheiro de cereja antes mesmo de encarar a porta da sala da casa de sua mãe. 

Estava na cozinha, guardando a louça da janta que fizera para Elaine, e mesmo a alguns passos de distância do outro cômodo, reconheceu imediatamente aquele perfume. Um aroma que já fazia parte de si mesmo. Pensou que pudesse estar delirando, mas algo queimou em sua nuca e ele se virou.

Gil entrou na casa e os seus olhos se encontram. 

O aspecto dela era tão ou mais destruído do que o dele, com evidentes olheiras escuras e o nariz vermelho. Ela havia chorado, e Vincent pôde facilmente perceber o quanto. 

Nenhum dos dois se movia. Nenhum dos dois dizia nada.

Reparou vagamente em uma agitação. Oliver, Kerya e Matthew estavam logo atrás, mas a sua cognição só era capaz de captar a presença de Gil. Parecia um inseto atraído pela luz, não conseguia assimilar mais nada. Era um daqueles momentos em que tudo ao redor parecia pausado. 

E dois segundos depois, estava com a sua boca grudada na dela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até a próxima! o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amor à venda." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.