Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 45
Capítulo 38


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, não me segurei e quis vir aqui no último dia do ano deixar mais um capítulo para vocês. Eu já comentei que tenho cachorros e nunca viajo no ano novo, fico em casa cuidando deles, então por que não postar?

Quero agradecer de coração aos comentários que recebi e dizer que tivemos quase 300 acessos só no último capítulo que postei. Ok, aparentemente tem pessoas realmente ainda lendo aqui!

Eu nunca vou deixar de me impressionar, mesmo que fossem 10 pessoas acessando, acho incrível que vocês leiam algo que eu escrevo tão sozinha e quietinha no meu quarto, acho incrível que os personagens que criei ganhem telespectadores de suas histórias =o

Por isso, estou tão animada para finalizar e contar mais histórias.

Que ano que vem seja um ano incrível para todos nós!! Obrigada por tudo!!! E um FELIZ 2024 o/



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"Eu quis tanto ser a tua paz, 

quis tanto que você fosse o meu encontro.”.   

                                (Caio Fernando Abreu)

Chegou em frente ao prédio da irmã, o taxista a ajudou a descarregar as três malas grandes que trazia com ela e o seu antigo violão. Gil não havia deixado nenhum de seus pertences no apartamento de Vincent. Nenhuma roupa, nenhuma pantufa. Nada que pudesse indicar que ela um dia já estivera por ali. 

Pagou o homem e interfonou para que Kerya pudesse ajudá-la a subir.

— Gil, eu fiquei tão preocupada com a sua ligação– - 

Kerya apareceu na portaria com o rosto mais pálido que o normal mas não teve tempo de falar, uma vez que Gil largou todas as coisas no chão e abraçou a irmã. Tão forte. Como se estivesse caindo, como se estivesse flutuando sem o chão abaixo dos seus pés. E chorou. Com tanta potência que precisou se ajoelhar.

—  Gilan! Meu Deus, o que aconteceu com você?

A mais velha a segurou e ergueu o seu corpo com dificuldade, a apertando contra si, em seguida, se abaixou e carregou a caçula no colo. Gil relaxou, sabendo que ficaria ainda mais pesada. Mas precisava tanto ser cuidada que não conseguia fingir ter uma força que não tinha. Já estava tão esgotada de fingir.

Escutou a mais velha pedir para o porteiro tomar conta daquelas malas e subiram para o apartamento. Gil encolhida nos braços da irmã, o choro escorrendo e molhando a blusa de Kerya, mas não conseguia parar. Não parecia ser capaz de parar. Era a primeira vez em muito tempo que se permitia chorar na frente da irmã.

— O que fizeram com você, Gilan? — Kerya perguntou assim que acomodou Gil no sofá. 

— Ninguém fez nada. — Gil ainda chorava, as palavras saindo em meio aos soluços. — Fui eu mesma quem fez isso comigo.

— Eu preciso que você me explique o que está acontecendo, por favor. — Kerya implorou, sua voz carregada de aflição. — Eu estou aqui para te ajudar.

— Eu precisei tanto de você. — Gil abraçou Kerya, se afogando nos cabelos da mais velha. — Eu te escondi tantas coisas, Kery, tantas coisas.

— Mas não precisa mais ser assim, eu estou aqui, Gil. — Kerya se esforçou em acalmar a caçula. — É alguma coisa com o seu casamento? Você e o Vincent brigaram de novo?

— Não existe casamento. Nunca existiu. — Gil despejou, se afastando um pouco do toque da irmã.

Não havia nenhum sinal de assimilação no rosto de Kerya, a mais velha simplesmente não compreendeu o que Gil queria dizer com aquelas afirmações.

— Quando sofremos o golpe, —  Gil começou a explicar. — o meu chefe me fez uma proposta. Vincent me pagou para que eu me casasse com ele. Elaine estava doente, ele queria que ela presenciasse o seu casamento. E me pagou para mentir. Para fingir.

A mais velha a olhou como se nove caudas tivessem nascido no corpo de Gil. 

— Isso não faz o menor sentido. Vincent te ama, todo mundo vê o quanto ele te ama.

— Fazia parte do plano. Enganar, dissimular. Ele nunca me amou, Kery. Nunca.

— Eu não entendo. — o olhar perplexo de Kerya confirmava a sua confusão. — Você parecia tão… Você mentiu que o amava?

— Não. — e a revelação doeu em Gil. — Eu não menti. E é por isso que estou aqui. Eu me apaixonei, Kerya. Eu fui tão burra.

— Como pode permitir que fizessem isso com você, Gilan? — a voz de Kerya se alterou. — Como foi capaz de ficar calada por tanto tempo? Meu Deus, como deixou que te tratassem assim?

— Eu precisava do dinheiro. — Gil murmurou.

— Não! — Kerya apontou o dedo na direção da caçula, sua expressão horrorizada, como Gil nunca havia visto antes. — Não existe explicação para isso, para essa mentira absurda! 

— Estávamos tão desesperadas, eu não encontrei nenhuma saída. — Gil tentou justificar o injustificável. A essa altura, não tinha mais certeza do porque havia aceitado toda essa trama.

 — Por que não confiou em mim? — a decepção nos olhos de Kerya transbordava. — Eu não cuidei de você o suficiente? Eu não te protegi? — e a mais velha não segurou as lágrimas. — Porque não me deixou te ajudar? Porque me excluiu de tudo isso, Gilan?

Presenciar a agonia no choro de Kerya a machucou inteiramente. Em camadas profundas de seus sentimentos. 

De tudo o que aquela farsa havia causado, ver a sua irmã sofrer era o mais dolorido. Não suportava que a mais velha se culpasse, que colocasse em dúvida tudo aquilo que lhe dedicou. Se existia algo real na sua vida, era o amor de Kerya. E doía vê-la destruída por algo que Gil havia causado sozinha. 

— Me perdoe. — foi só o que Gil conseguiu dizer, se agarrando ao corpo da irmã novamente. Juntando as suas lágrimas com as dela e implorando, mesmo que sem palavras, que Kerya não a afastasse daquele abraço.

Mas a mais velha se afastou. 

— Eu preciso de um tempo para entender tudo isso. — Kerya admitiu. — Eu poderia perdoá-la em um segundo se você tivesse me causado dor. Mas não sei se sou capaz de perdoar que tenha feito isso com você mesma. Preferia estar machucada do que vê-la como estou te vendo hoje. Em pedaços. — e mais lágrimas caíram dos olhos de Kerya. — Eu poderia perdoar qualquer coisa que você fizesse contra mim, porque eu te amo Gilan, mais do que a mim mesma. Mas não sei se consigo aceitar que tenha se sujeitado a ser usada dessa maneira. — ela fez uma pausa e respirou profundamente. — Desde que a mamãe morreu, eu nunca duvidei que tivesse feito o meu melhor na sua criação… Até hoje.

— Não, Kery, por favor, não foi sua culpa, eu-

— Eu sinto que eu falhei. — a mais velha a interrompeu bruscamente. — Que eu não te protegi como deveria.

— Foi tudo culpa minha. Por favor, não diga isso, Kery. — Gil implorou. — Fui eu quem mentiu, quem enganou. Fui eu quem escolhi agir assim.

— Eu deveria ter observado melhor, deveria ter desconfiado e te confrontado quando percebia os seus silêncios. — Kerya disse, sua expressão apática. — Eu deveria ter sido mais firme com você. Te ensinado a ter mais autoestima, porque eu duvido que se você amasse a si mesma teria se colocado numa situação tão humilhante quanto essa.

As críticas daquelas palavras atingiram Gil de uma maneira inesperada. Ficou ofendida, se sentiu chamuscada. Mesmo sabendo que eram observações verdadeiras, o seu ego doeu. 

— Tudo o que eu falar agora, Gilan, será para te ferir. E não é isso que eu quero. — Kerya desviou o seu olhar da caçula. — Vá tomar um banho e tentar descansar. Amanhã, mais calmas, podemos continuar com essa conversa. 

— Eu preciso de você, Kery. — a voz de Gil suplicou, tudo o que não queria era ficar sozinha em seu antigo quarto. Não queria estar sozinha com os seus pensamentos. Não hoje.

— E eu estou aqui, mas não me peça para fingir que aceito o que aconteceu. — Kerya foi franca. — Se quiser, posso fazer uma boa comida, assistimos bobagens na TV, nos distraímos. Mas eu ainda preciso refletir sobre tudo isso… E sugiro que você também reflita. 

Gil apenas concordou com a irmã, aquilo parecia razoável. Sabia que precisava explicar muitas coisas, mas era necessário se equilibrar antes. Se sentia na borda, muito ferida e sem a menor condição de mergulhar em todos os sentimentos que aqueles meses de mentira causaram no seu coração.

xXx

Vincent poderia explodir de tanta felicidade… E ansiedade. 

Olhou para o seu relógio de pulso e encarou o elevador do terraço. Aguardava a sua esposa para que pudessem ir embora o mais cedo possível do coquetel. Por mais orgulhoso e satisfeito que estivesse com os resultados daquela noite, precisava desesperadamente ficar a sós com a sua mulher. 

Meu amor.

Sentiu o seu coração disparar quando escutou essas palavras saírem da boca de Gilan, da sua Gil. Teve vontade de retribuir naquele instante, de dizer o quanto ela era inteiramente correspondida por ele. Mas se conteve. Queria proporcionar um momento inesquecível,  e dentro de alguns dias, estariam a caminho de Monterey justamente para isso.

— Você parece tenso. — a voz de Amelia o puxou de seus devaneios. — Hoje é um dia de comemoração. — ela ergueu a sua taça. — Apenas relaxe.

— Você viu a Gilan? — ele não teve a intenção de ser rude, mas estava começando a ficar preocupado com a demora da esposa.

— Eu acho que a vi indo embora. — Amelia disse, bebericando a sua bebida e olhando excessivamente para os lados.

Vincent a olhou intrigado. Aquilo parecia conversa fiada, porque Gil iria embora? Tinham combinado de se encontrarem no terraço. 

Não fazia sentido. Pegou o seu celular e discou o número dela. 

Desligado. Isso era estranho.

Olhou para Matthew e Oliver, ambos bebendo e rindo com um grupo de pessoas. O mesmo observou de Sara e as outras secretárias. E Gil não estava perto de nenhuma daquelas pessoas.

Onde diabos a sua mulher havia se metido?

xXx

— Gilan? — Vincent saiu do elevador do seu apartamento chamando pela esposa.

Luzes apagadas. 

Subiu as escadas com rapidez e chegou ao quarto que agora dividiam, e então, paralisou.

O closet estava remexido, se aproximou e todo o lugar em que deveriam estar as coisas de Gilan,  estava vazio. Correu até o antigo quarto da jovem e viu o mesmo cenário, sem nada. 

Não havia nada de Gilan ali.

Olhou para a cama desarrumada, a cama que fizeram amor no dia anterior, e um aperto em seu estômago o fez sentar. Pegou o celular e tentou ligar novamente para Gilan. Ainda desligado.

Então, ligou para a cunhada. Kerya atendeu no segundo toque.

— Nunca mais se aproxime da minha irmã! — escutou a cunhada despejar, e em seguida, desligar a ligação.

Vincent encarou a tela apagada do seu celular. Estático.

O que estava acontecendo? 

Dirigiu desesperado, e nada prudente, até chegar ao prédio de Kerya, precisava entender o que aquilo tudo significava. Gilan havia ido embora, levando tudo o que lhe pertencia, precisava falar com ela. Precisava esclarecer, seja lá o que tivesse acontecido.

Interfonou para o apartamento da cunhada, mas diferente do que imaginou não foi autorizado a subir e logo viu a figura de Kerya surgir na portaria. A cunhada saiu até a calçada e antes que Vincent pudesse perguntar qualquer coisa, sentiu o peso firme da mão dela em seu rosto. Aquele era, sem dúvida, o tapa mais ardido que já recebera na vida. Doeu como o inferno.

— Por que você fez isso com ela? — a cunhada o encarava com tanta dor no olhar que Vincent não foi capaz de esboçar qualquer reação decente. — Por que a deixou passar por tudo sozinha?

Entendimento atravessou Vincent como uma facada. Kerya sabia do contrato. Como isso era possível?

— Eu nunca quis magoar a Gilan. — ele se explicou. — Eu fiz o que pude para que toda essa situação se tornasse a mais confortável possível. 

— Fica muito difícil acreditar nisso quando você chama essa mentira absurda de situação. Não é uma situação, Vincent. Foi uma traição, uma manipulação. Foi brincar com os sentimentos de todos ao redor, de todos que amam vocês.

Vincent não sabia como retrucar aquilo. Não havia palavras, não havia nada que justificasse tudo o que ele tinha causado com aquele maldito contrato. Kerya estava certa, ele sempre soube que essa história afetaria a todos que foram envolvidos nessa mentira.

— Eu me apaixonei pela Gilan. — ele suspirou, despejando aquilo com tanta sinceridade que a confissão tirou toneladas das suas costas. — Eu a amo, Kerya, eu realmente me apaixonei por ela.

— A condição em que a minha irmã voltou para cá não demonstra isso, Vincent. — Kerya disse, sua expressão apática, sem o menor reconhecimento de que ele estava sendo sincero. —  Você não a protegeu como me prometeu que faria, você levou uma garota alegre desse lar, que com tanta dificuldade construímos juntas, e me devolveu uma pessoa destruída. — a cunhada suspirou. — E eu nem consigo entender o motivo de tudo isso. A troco de que? Que benefícios essa farsa poderia trazer à sua pobre mãe? Que benefícios essa farsa poderia trazer a vocês dois?

Saber que Gil estava ferida fez com que Vincent se agitasse além do que deveria, queria apenas tirar Kerya do caminho e invadir aquele prédio. Precisava entender o que havia acontecido para a sua Gil sair de casa daquela maneira. Precisava desesperadamente dela.

— Eu preciso vê-la. — ele disse, com menos calma do que planejou. — Eu prometo esclarecer tudo, mas antes eu preciso resolver as coisas com a minha mulher.

— Gilan não é a sua mulher, Vincent. Chega de fingir. — a voz de Kerya se alterou.

— Ela é a minha mulher! — ele respondeu no mesmo tom. — E eu a amo tanto… Tanto. — e fez uma pausa antes de continuar. 

Como era bom poder falar o que sentia e como tinha sido tolo de segurar isso, se tivesse apenas confiado em suas emoções, não estaria parado ali, sendo impedido de ver Gil. 

— Entendo que não acredite, mas não muda o fato de que tudo o que vivemos deixou de ser uma mentira. Não é mais fingimento, Kerya. É real.

— O que eu acredito, Vincent, é que você não faz ideia do que seja amar alguém. — a cunhada o olhou com um pouco mais de condescendência, mas sem perder a dureza em sua expressão. — Eu cuidei dessa menina a minha vida inteira. Por anos. E dediquei um amor tão forte, um amor que nem eu consigo externalizar. E não existe nesse sentimento espaço para que você maltrate tanto alguém, Vincent. Amor é uma construção baseada na verdade e não em seus próprios interesses.

Ele sabia. E sabia mais ainda que não havia argumentos para convencer Kerya da honestidade de seus sentimentos. Como ela poderia? Depois de tantos enganos, e de quebrar a promessa que um dia lhe fizera, ele sabia que a confiança da cunhada estava perdida, e que tudo o que ela dissesse era guiado pela verdade da sua própria perspectiva e de fatos que ela ainda desconhecia, de momentos que ela não imaginava que ele e Gil haviam vivido. 

— Eu só preciso vê-la. — ele praticamente implorou.

— Isso não é mais sobre o que você precisa. — ela despejou. — E se esse amor tão grande, como você diz, existe mesmo, você vai aprender a respeitar as decisões da Gil, como eu estou tendo que fazer agora. — a cunhada se aproximou dele e tocou os seus ombros com suavidade. — Porque o amor precisa ser paciente, porque ele espera e suporta, e é isso que você vai fazer hoje, Vincent… Vai esperar.

xXx

Vincent estava no seu quinto copo de whisky, ou pelo menos era o que acreditava. Naquela altura, já tinha perdido as contas do quanto havia bebido. Era para ser uma noite de felicidade e comemoração, mas em vez disso, estava sozinho em seu apartamento, jogado no chão de sua sala sem energia sequer para acender as luzes do cômodo.

Precisava entender o que estava acontecendo.

E por que Gil havia revelado sobre o contrato para Kerya?

Aquilo não fazia sentido, estavam mais próximos do que nunca estiveram antes. Com promessas e uma viagem marcada para daqui a poucos dias. Gilan estava apaixonada por ele, ela havia mostrado com todas as provas que uma confissão daquela poderia merecer.

E Vincent… A amava. E a sua mulher precisava saber disso.

Gil precisava ouvir dele o quanto estava apaixonado por ela.

Um som de telefone apitou no fundo da sua mente e desejou não ter tanto álcool em seu organismo. Levantando de maneira desengonçada, conseguiu atender a ligação.

— Sr. Parker? — Vincent reconheceu imediatamente a voz da enfermeira de sua mãe.

— Está tudo bem, Sra. Hernandez? — ele sentiu a sua respiração acelerar.

 — A Sra. Parker deseja vê-lo, ela não está se sentindo muito bem… — a velha mulher fez uma pausa. — Eu acho melhor o senhor vir imediatamente. 

 


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo difícil, mas Kerya disse coisas que Gil e Vincent precisavam muito ouvir. Amar nem sempre é passar a mão na cabeça >.



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