O almoço estava imensamente silencioso, e a cada segundo que passava Rosalie alterava olhares entre eu e Jasper, que parecia querer queimar o prato a sua frente do tanto que encarava o mesmo.

– Ok, já chega! Qual o problema de vocês dois?- Rose perguntou assim que acabou de comer. Apenas desviei o olhar para a janela, suspirando sem saber o que dizer. Não aguentava mais aquela situação.

– Isabella é... Estúpida. – Jasper respondeu após longos segundos, olhando diretamente para mim.

– Eu sou estúpida? Você tem algum distúrbio psicológico, Jasper, isso não é possível! – Falei irritada levantando-me e recolhendo os pratos da mesa. Comecei a lavar a louça e então senti a presença de alguém atrás de mim.

– Repita isso na minha cara, se tiver coragem. – Jasper vociferou segurando meu braço com força extrema.

– Você não é mais o Jasper que eu conhecia. Você se tornou um maluco, eu não te conheço mais. – Respondi bem próximo de seu rosto, e logo um estalo preencheu o cômodo, fazendo com que meu rosto formigasse pelo tapa que havia levado.

– Jasper, largue ela, agora. – Rosalie mandou tentando afastá-lo de mim, mas acabou levando um baita de um empurrão, se estatelando no chão. Jasper olhou para ela parecendo notar a besteira que fez, e então antes que eu pudesse falar algo ele saiu correndo para fora da casa.

– Rose, você se machucou? – Perguntei aproximando-me dela.

– Estou bem... Bella, você está sangrando, ah meu Deus... – Falou levantando-se e me arrastando para o banheiro, onde pude ver um pequeno corte em meu lábio inferior. Respirei fundo e lavei o local, enquanto Rose vinha com um algodão molhado pressionando no corte.

– Ai, isso arde. – Resmunguei afastando-me ligeiramente com o contato.

– Shiii, é álcool, pare de drama. – Falou voltando a limpar o local. – Sinto muito Bella, eu não fazia ideia de que ele havia chego a esse ponto. –

– Esqueça Rose, eu só tenho você agora. – Respondi abraçando-a. Ficamos um tempo assim, e eu desejava que Jasper não voltasse ali, não naquele momento.

Pouco depois ela se foi, e resolvi ficar em casa pelo resto do dia. Charlie iria virar a noite na delegacia, então resolvi estudar e adiantar os deveres da escola. Estava tudo indo bem, até ouvir um barulho estranho vindo das escadas. Sem saber o que fazer corri até a porta e a tranquei, correndo para a janela logo em seguida e encostando-me na mesma. Senti o suor em minha testa e meu corpo tremer sem controle algum.

– Bella, me escute, por favor. – Jasper falou batendo na porta. Olhei para trás e vi um carro encostado em frente a minha casa, mas não reconheci de quem era.

– Jasper, eu não quero te ver, por favor, já chega... – Respondi enquanto as lágrimas caiam pelo meu rosto, e tentei achar meu celular, falhando arduamente.

– Não me faça entrar aí. – Repreendeu quase em um sussurro, esmurrando a porta. Sem perceber um grito estridente escapou por meus lábios, fazendo-o esmurrar novamente a porta, que a essa altura já estava cedendo. Não tive escolha a não ser olhar somente uma vez para a janela a fim de pular dali, a distância não era tão grande, e quando me preparei para saltar um par de esmeraldas me encarava apavorado. Naquela hora não consegui mais raciocinar direito, e o medo que estava sentindo pareceu sumir junto com todo o resto.

– Bella, pule, eu vou te segurar. – Edward falou me apressando. Sem pensar duas vezes me joguei dali, caindo por cima dele, que se estatelou no chão comigo.

– Você está bem? – Perguntei levantando-me e ajudando-o. Edward ignorou minha pergunta olhando de volta para a janela. Assim que segui seu olhar engoli em seco sem poder dizer uma palavra a mais sequer, pois o olhar frio e mortal de Jasper em nós chegava a doer.

– Vamos, não vou deixar você aqui. – Edward sussurrou puxando-me pela mão até seu carro. Fiquei em silêncio apenas observando o trajeto até uma grande casa espelhada e lindíssima.

– Onde estamos? – Perguntei quando ele saiu do carro e veio ao meu lado abrir a porta para mim.

– Em minha casa. Não se preocupe, minha família ficará feliz em recebê-la. – Sorriu guiando-me para dentro da casa. Era tudo tão impecável e lindo que acabei encolhendo-me envergonhada.

– Tem certeza de que... –

– Bella, esses são meus pais, Esme e Carlisle. – Edward respondeu cortando-me. Analisei a mulher de cabelos castanhos e olhos azuis, que sorria calorosamente para mim, fazendo-me sentir um carinho materno que tanto fazia falta em minha vida. Foi impossível não sorrir de volta. Já o homem loiro ao seu lado tinha uma beleza fora dos padrões de pais comuns, e era quase mais bonito que os próprios filhos, quase...

– É um prazer conhece-los também. Sinto muito por vir assim, Edward e eu nos encontramos e... – Parei olhando-o sem saber o que mais falar, ele apenas sorriu torto, fazendo-me perder o resto da linha de raciocínio.

– Ah, querida, não se preocupe, seja muito bem vinda a nossa casa! – Esme falou abraçando-me.

– Por favor, sinta-se a vontade. Edward mostre a casa para Bella, em breve Alice estará aqui! – Carlisle falou também sorrindo e saiu com Esme em direção à sala.

– Seus pais são maravilhosos. – Falei sorrindo grandemente para Edward, que apenas me encarou e respirou fundo, deixando-me constrangida.

– Bom, irei mostrar a casa a você. Creio que goste de ler, certo? – Perguntou puxando-me pela cintura em direção à escada. Assenti enquanto reparava em um quadro na parede.

– São... Chapéus de formatura? – Perguntei assustada ao ver a quantidade que havia ali.

– Sim, hã... Esme é decoradora e tem um gosto peculiar para algumas coisas. – Respondeu constrangido.

–Eu gosto, é diferente. – Comentei enquanto ele continuava guiando-me. Estava tudo muito bom ali, mas eu sabia que havia algum motivo para ele ter me levado para sua casa, e eu temia esse motivo.

– Bella, precisamos conversar. – Falou encostando-se em uma das portas. Sem saber o que falar, apenas cruzei os braços evitando que ele visse o quanto minhas mãos tremiam. – O que estava acontecendo antes de eu chegar? – Perguntou abrindo a porta e puxando-me para dentro do cômodo, que notei ser uma biblioteca com um grande lustre e várias estantes de livros. Pensei por muito tempo antes de responder, e resolvi ir direto ao ponto que me interessava.

– Como você sabia onde eu morava?- Perguntei virando-me de frente para ele, olhando qualquer vestígio de mentiras que poderia haver em seus olhos. Edward abriu a boca uma, duas, e três vezes, mas nada saia.

– Você não respondeu minha pergunta. – Respondeu confuso desviando o olhar do meu. Sorri e andei por um dos corredores, ignorando-o por alguns segundos.

– Tem razão, eu realmente gosto muito de livros. – Falei passando as mãos por uma de minhas coleções favoritas. – Conheço Jasper e Rosalie desde sempre, mas ultimamente Jasper tem estado diferente... – Falei sem olhá-lo. – Ele simplesmente colocou na cabeça de que eu sou como a ex-namorada dele, e que ele gosta de mim. – E sem que eu percebesse um riso irônico escapou por meus lábios. Olhei para Edward e ele estava fitando o grande lustre.

– Ele chegou a te agredir por isso? – Perguntou colocando as mãos nos bolsos e finalmente olhando para mim. Quis cavar um buraco e me esconder naquela hora por conta da intensidade de seus olhos.

– Ele está fora de si, mas ainda é o meu Jasper... – Respondi sentindo as lágrimas caírem pelo meu rosto. Ele continuou apenas me olhando, o que começou a ser desconfortável.

– Bella, você precisa contar ao seu pai, isso tem que parar. – Respondeu caminhando em minha direção.

– Não é tão simples assim Edward, eu nunca entregaria Jasper, ele é meu melhor amigo. – Falei baixo enquanto me apoiava em uma das estantes.

– Ele sabe disso, e ainda sim faz o que faz, Bella, por favor, você já viu isso? – Perguntou segurando um de meus braços e mostrando-me uma marca roxa que havia ali e eu nem fazia ideia. Ao perceber meu olhar confuso Edward respirou fundo e bagunçou nervosamente os cabelos. – Rosalie sabe disso? –

– Ela soube hoje, mas não sobre tudo, por favor, não conte a ninguém, eu... – Comecei a me desesperar e o choro não podia mais ser controlado por mim.

– Bella, fique calma, eu só não quero que ele te machuque, entende? Isso é idiotice, você sabe que pode ser resolvido. – Falou segurando-me pelos ombros. Rapidamente livrei-me de suas mãos, dando um passo para longe.

– Você não entende, não o conhece. Não ME conhece. – Enfatizei ficando ainda mais nervosa.

– Não seja estúpida, não preciso conhecer você para saber que isso é errado. – Respondeu ríspido. Eu conhecia aquele olhar, o olhar que eu vi quando minha mãe faleceu e todos me tratavam como a coitadinha sem mãe por onde eu passava.

– Cale a boca, você não sabe de nada, por que me trouxe aqui, Edward? – Perguntei com raiva indo em direção a saída, sem esperar uma resposta de sua parte. Desci as escadas correndo com ele atrás de mim.

– PARE DE FUGIR. – Gritou segurando-me pelo braço, no exato momento que Esme e Carlisle adentravam na sala com Emmett, deixando-me envergonhada com a cena.

– Edward, o que está acontecendo aqui? – Carlisle perguntou olhando para sua mão em meu braço. Encarei Edward com fúria antes de ele me soltar.

– Querida, você está bem? – Esme perguntou preocupada, vindo até mim. Assenti e olhei para o chão, corando violentamente.

– Eu preciso ir, Charlie deve estar preocupado. – Menti tentando sorrir enquanto limpava o rosto com a manga do casaco. Edward me olhava de forma estranha, mas não consegui sustentar o olhar por muito tempo.

– Eu posso leva-la para casa. – Emmett se ofereceu já indo em direção à saída.

– E você, acompanhe-me até minha sala, agora. – Carlisle falou dirigindo-se a Edward.

– Bella, me perdoe, eu só ... – Começou a falar aproximando-se de mim, mas Esme colocou-se a minha frente, impedindo-o.

– Edward, vá. – Pediu a ele. Não sabia por que, mas me senti mal ao pensar em sair dali, ainda mais daquele jeito. Ele olhou-me uma última vez antes de sumir de minha visão, e Emmett começou a me apressar ignorando meus protestos contra a carona.

– Espero te ver novamente, Bella. – Esme falou na porta e sorri abraçando-a e agradecendo por tudo.

Durante o caminho Emmett cantava e dançava feito um louco ao som de Burn da Ellie Goldieng, deixando-me assustada quando algum carro desviava de nós e buzinava freneticamente.

– Emmett, não precisa correr, por favor. – Pedi segurando-me onde conseguia.

– Ah Bellota, pare de ser uma menininha. – Respondeu rindo ainda mais enquanto o velocímetro atingia 200km por hora.

– Bellota? Que merda é essa, e eu sou uma menina Emmett! – Esbravejei e ele pareceu pensar, até que por fim reduziu a velocidade para 120km por hora, deixando-me aliviada.

– Ah, é verdade... Então o cabeçudo não é viado mesmo? Poxa cara, isso é maneiro! – Falou batendo a mão no volante, fazendo o carro sair de seu controle por alguns segundos.

– Ai meu Deus, o que eu fiz pra merecer isso? – Perguntei batendo a cabeça no vidro do carro.

Ao chegar a frente de minha casa hesitei um pouco, afinal eu nem conhecia eles.

– Sei o que está pensando. – Emmett murmurou fitando a rua pelo para-brisa do carro, pela primeira vez ele estava sério naquela noite. – Acredite, conhecemos você mais do que pensa, e sabe que não somos pessoas ruins. Edward queria apenas te ajudar, mas o cabeção é muito emotivo e só em pensar que alguém estava te machucando ele ficou em aflição extrema. – Respondeu balançando a cabeça em desaprovação, mas ainda sim sorrindo.

– Qual é a do Edward? O que exatamente ele quer? – Perguntei confusa, não estava entendendo absolutamente nada daquilo.

– São só como as coisas sempre foram. – Falou dando uma batidinha em meu ombro. – Bom, está ficando tarde, é melhor entrar, e não se esqueça de me passar o telefone da totosa da Rose amanhã, é o mínimo que pode fazer depois de uma carona as... – Olhou no relógio se assustando com o horário. – Duas da manhã, puta que pariu, amanhã tem o almoço de aniversário da Alice. – Se desesperou e ligou novamente o carro. Fiquei ali com cara de taxo, quem era a tal de Alice que todos falavam? – Anda mulher, sai do carro que eu quero ir embora. – Falou tirando meu cinto e praticamente me empurrando para fora. Sai correndo para porta e dando risada enquanto Emmett partia em alta velocidade em seu Jeep Wrangler 4x4.

Abri a porta com certo receio, e fiquei aliviada ao ver tudo escuro. Subi as escadas na ponta dos pés e quando estava quase chegando ao topo, as luzes da sala se acenderam, revelando um Charlie muito zangado sentado no sofá.

– Onde é que a senhorita estava a essa hora, dona Isabella? – Perguntou de braços cruzados.

– Hã... Oi, papai. – Respondi com um sorriso amarelo descendo novamente em direção a sala.

– Oi papai? São duas da manhã, mocinha, quero uma explicação agora. – Exigiu elevando a voz. Respirei fundo sentando ao seu lado. – Seu amigo Jasper sofreu um acidente e você some assim? – Perguntou chocado. Espera... O que?

– O que aconteceu com ele? Ah meu Deus... – Me desesperei. – Eu estava na casa de Edward, um colega da escola. – Respondi e me arrependi ao ver Charlie ficando vermelho. – Calma pai, não é o que está pensando, ele me ajudou quando Jasper veio aqui, eu estava com medo e achei que ficar aqui não seria o certo. – Resolvi contar toda a verdade e Charlie ficou mais calmo, sua expressão passou de nervosa para confusa.

– Estava com medo de que, Bella? –

– Jasper. Tem algo estranho com ele papai, eu não sei o que é, ele não parece a mesma pessoa. – Respondi colocando as mãos na cabeça. – Céus, não sei mais o que fazer... –

– Vamos esperar os exames, o acidente foi grave e ele precisa se recuperar, está inconsciente. – Falou avaliando-me. – Por que não me contou nada? –

– Eu... Não sei, não queria que nada acontecesse a ele. – Falei sentindo as lágrimas caírem. Charlie levantou-se e puxou um dos meus braços, levantando a manga do casaco.

– Isabella, o que é isso? – Perguntou chocado ao ver os hematomas.

– Pai, por favor, não faça nada, você o conhece, ele não é assim. – Pedi levantando-me e segurando suas mãos. Charlie ficou calado por longos segundos enquanto eu chorava com medo do que estava por vir. – Eu preciso vê-lo, é tudo minha culpa, por favor. –

– Amanhã conversaremos. – Respondeu virando as costas e subindo para seu quarto.

Eu sabia que ele estava magoado comigo. Nossa promessa era nunca mentir um para o outro, sobre absolutamente nada, e não foi isso o que eu fiz. Eu tinha o talento de machucar as pessoas a minha volta, e isso estava me matando por dentro.

Sem saber o que fazer, resolvi ir para a cama e dormir sem a mínima vontade de acordar. Como Jasper ficaria? A ansiedade me consumia cada vez mais, e só restava esperar para ver se um dia as coisas voltariam ao normal.