Não fique brigando com o relógio coelhinha

—Rebecca Corona

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Com apenas duas horas do baile, Chris estava parado em frente a um espelho no quarto que dividia com Will, dando uma olhada em suas roupas.

Havia cortado os cabelos, e vestia um terno azul marinho, sobre uma camisa azul clara. Sua mãe provavelmente lhe diria que estava bonito, ela odiava ternos pretos, dizia que azul e cinza davam muito mais brilho aos olhos que herdará do pai.

Mas sua mãe não estava mais ali há muito tempo, e, ele esperava ficar bem longe de Alice e de suas opiniões sobre “como ele estava mal vestido àquela noite”. Com sorte, talvez, o convite dela e de seu pai tivessem se perdido...

—Olha só, como ele está – sorriu Will, saindo do banheiro que soltava mais vapor do que Chris pensava ser possível, vestindo uma calça Jeans.

—Você não via de Jeans, vai? – perguntou Chris, incrédulo.

—É claro que eu vou – ele sorriu – Agora, você viu minha polo azul?

—Inacreditável... Hannah vai matar você – riu Chris, jogando a camisa para ele.

—Você diz isso por que não ouviu ela dizendo que ia de camisola... Não que eu tenha algo contra – ele falou, passando a camisa pela cabeça e sorrindo ao ver o resultado no espelho – Não estou engomado, mas não pode-se dizer que estou mal vestido, certo?

—Acho que não – concordou Chris, rindo.

—Agora, já que tocamos nesse assunto, sabe o que ficaria muito bem com esse seu terno? – perguntou Will, penteando o cabelo que nunca ficava no lugar.

—Que assunto, roupas? – Perguntou Chris, rindo.

—Não, garotas – Will continuou – Uma linda ruiva de vermelho ao seu lado, isso ficaria bem seu terno!

—Chega, já entendo aonde você quer chegar – falou Chris, se levantando e pegando sua cartola no suporte perto da porta – Mas eu não falo com a Carmim há semanas, e... Nem sei se quero.

O outro deu os ombros, procurando seus sapatos sociais. Chris se sentou em uma poltrona, com a cartola no colo, acariciando-a. Mentirá, queria era muito falar com Carmim. Mas o momento parecia nunca aparecer. Sempre que a via ela estava com os amigos, e quando não estava ela parecia sempre meio perdida.

—Vou ver se as meninas estão prontas – suspirou ele por fim, se levantando, enquanto Will procurava, agora, o segundo sapato – O que você tinha na cabeça quando se ofereceu para levar Ally e Rebecca com a gente?

—Ei, ei... Convidei Becky, Ally se convidou – o outro falou, comparando dois sapatos completamente diferentes – Dá pra notar a diferença?

—Dá! – gritou Chris, fechando a porta ao sair.

...

—Você está horrível – falou Evie, olhando Mal de cima a baixo.

—Depois de tudo que eu te contei, é isso que você fala? – Mal grunhi, encarando a melhor amiga – Quem liga para se eu estou horrível, Evie?

—Não, não é disso que eu to falando – a outra se apressou – Horrível tipo... Parece que você não dorme a dias, rouca, com olheiras do tamanho do mundo...

—Bem, se quer mesmo saber, eu não durmo há dias mesmo – ela deu os ombros – venho tendo pesadelos, ouço homens gritando, pedindo socorro, minha mãe gargalhando... E horrível.

—Eu imagino – suspirou Evie – e imagino que não queira falar nada disso para certo noivo, não é?

—É claro que não – Mal se apressou em falar – Eu não tinha contado nem para você, até agora, quanto mais para o Ben! Vou dar um jeito nisso...

—Carmim sabia! – falou Evie, de repente.

—O que? – Mal deu um pulo para trás.

—Sabia, não era? Por isso, vocês chegaram juntas quando você mudou o cabelo... Isso é a cara dela – riu Evie, incrédula – Ela está ajudando você?

—Não, bem não exatamente, ela só me disse que eu devia parecer mais uma garota de Auradon – Mal deu os ombros – Nada mais que isso! Pode esquecer suas esperanças de nós duas um dia nos darmos bem, certo?

—Certo, certo – Evie riu, revirando os olhos – Bem, falta menos de meia hora para a festa e, desculpe, mas você está realmente horrível, então a não ser que você tenha se tornado subitamente responsável e queira cancela-la...

—NEM PENSAR!

—...É melhor eu começar a trabalhar!

...

—Onde é que eles estão? – Perguntou Ally, quando eles eram o último grupo reunido na frente de Auradon Prep. – A limusine está esperando!

—Não fique brigando com o relógio coelhinha – Brincou Becky, sorrindo calmamente – Eles devem estar aqui daqui a pouco...

—Cedo? TODOS já foram! – grunhiu Ally.

—Falta meia hora pra festa – falou Will, dando os ombros – e, alguns alunos combinaram de sair pra beber algo, ou comer pizza antes da festa!

—O que eu deveria ter feito – grunhiu Ally, enquanto um som de saltos altos se aproximava.

—Acalmem seus nervos, estamos chegando – falou a voz melodiosa de Hannah, quando ela, Gary, Hugo e Queenie desceram as escadas.

—Maravilha, agora podemos... – Ally começou a sorri, e fechou a cara de novo – Ah, não...

—Onde está Carmim? – foi Queenie que perguntou.

—Achamos que desceria com vocês – falou Becky.

—Não, ela me disse que você ia arrumar o cabelo dela – Falou Hannah.

—Eu não fiquei sabendo disso – Garantiu a loira, contorcendo o rosto – Mais essa agora...

—Ora, ora, ora... Já estão todos aqui? – a voz os atingiu antes que ela começasse a desces a escadas – Que... Maravilha!

Chris não conseguia pensar em palavras para descrever a ruiva, Carmim parecia uma estrela de cinema antigo, com aquele vestido vermelho, os cabelos enrolados e a maquiagem escura. Lembrava um pouco uma mafiosa, embora sua postura perfeita e seu andar a fizessem parecer uma miss. Mas a mensagem era clara: PERIGO!

—Maravilha? – Gart ergueu uma sobrancelha, cético.

—É Gart, maravilha... Tenho certeza que conhece o significado dessa palavra – ela sorriu, descendo as escadas - Bem, está um pouco cedo, mas já que estamos todos aqui... Vamos?

Todos se entreolharam confusos, enquanto a ruiva seguia até o carro.

...

A limusine era realmente gigantesca. Atrás da cabine do motorista, tinha um gigantesco sofá em L, TV e frigobar, e, atrás desse espaço, ainda havia outra fileira comum de bancos.

—Nossa Will – falou Becky, que estava na parte de trás com Queenie e Gart, que de alguma forma convencerá a loira a ser seu par na festa. – Isso é incrível, onde arrumou dinheiro pra alugar uma limusine como essa tão em cima da hora?

—Eu? – perguntou Will, rindo, sentado ao lado de Hannah no centro principal – Foi Carmim que cuidou da Limusine!

—O que? – Gart quase pulou no primeiro compartimento – Por que não nos contou nada?

—Não seja tão melodramático – riu Carmim, que parecia muito concentrada na sua água com gás no momento.

Chris estranhou. Ele já tinha a ouvido falar que não gostava de água com gás, e, pela cara de Hannah, ela também parecia um pouco preocupada. Ela estalou os dedos e se apoiou na janela, dando a entender que todas as conversas no carro eram entediantes, no mínimo. Mesmo Gart flertando com Becky, que o ignorava enquanto falava com Queenie, o que há um mês atrás a faria gargalhar.

—Carmim... Quer outra água? – perguntou Hannah, quando a água da ruiva acabou e ela começou a morder o canudo.

—Hã? Ah, sim, pode ser – ela falou, depois de um minuto, jogando a garrafa vazia no lixo.

—Você está bem? – perguntou Will – Parece um pouco... Distraída.

Obrigada Will, pensou Chris.

—Distraída? Ah, não, eu só estou... Estou muito, muito ansiosa – falou Carmim, com o melhor sorriso de adolescente emocionada – Não temos festas na Ilha, geralmente... Muito menos dessa magnitude.

—E você sabe o que é magnitude? – perguntou Ally, que estava no outro lado do L, entre Chris e Hugo.

—Por que, você não sabe? – Carmim encarou a outra, e balançou a cabeça como se estivesse confusa – Ah, desculpe, eu esqueci... Você não sabe nem quanto é um mais um não é mesmo?

—Carmim, menos – Hugo pediu, parecendo muito interessado na televisão.

—Você não pode ficar defendendo ela – Carmim grunhiu, apontando para Ally – Foi ela quem começou!

—Eu? – grunhiu Ally – Você é que é uma tosca!

—E você tem cara de toupeira! – Carmim contra atacou, e depois sorriu – Eu queria dizer isso desde que te conheci!

—Essa foi forte – Hannah falou, olhando irritada para Carmim, e depois sorriu – Pobre das toupeiras!

Todos riram, exceto Ally e Hugo.

—Chegamos! – gritou Queenie na parte de trás.

...

—Alguém já disse que você está muito bonita nesse vestido? – perguntou Gart, enquanto ajudava Becky a descer do carro.

—Você – ela falou, rejeitando a mão dele – Umas vinte vezes desde que saímos do colégio...

—É, eu sei – ele sorriu – Mas é que, ao por do sol, agora... Você parece uma pintura.

Aquele comentário foi tão inesperado, tão fora dos padrões de Gart, que Becky não pode deixar de corar um pouco.

Queenie passou por eles fazendo sons se vômito. Ele olhou em volta, vendo que todos, com exceção de Hannah e Carmim, se dirigiam a entrada.

—Guarde a primeira dança para mim – falou Gart, enquanto se afastava de Becky até as duas meninas – Qual é o plano?

—Ainda é cedo... Se misturem, dancem um pouco e comam alguma coisa... Essa pode ser a nossa última noite aqui, aproveitemos – falou Carmim, encarando os dois – Nós vamos entrar no salão por uma porta ao norte, mas têm outras duas passagens para fora dele... Pela escada, onde entram os membros da família real, Mal, Evie, etc... E escondido atrás de uma cortina vermelha ao leste, para emergências. Encontrem-me lá às dez e meia, entenderam? Será um pouco depois da dança principal entre os noivos, então todos vão querer cumprimentar o feliz casal e tirar fotos... Vamos usar isso para sair de fininho.

—Como sabe tudo isso? – perguntou Hannah, surpresa.

—Evie me contou... Eu fingi estar muito preocupada com a segurança, e tal... Não achei que fosse ser tão fácil – Carmim falou pensativa, e depois respirou fundo – Vão, aproveitem a noite... Se tudo der certo, estaremos longe daqui amanhã de manhã!

Ela tentou soar animada, mas os olhos de Hannah e Gart pareciam distantes – isso foi estranho quer dizer, claro que Hannah pensava em Will, mas e Gart? Tudo que ele fizera fora fretar com um milhão de garotas. E ainda tinha como iam levar Queenie e Hugo para longe...

Os dois se afastaram, e Carmim sentiu uma lágrima escorrer pelo rosto... Ela estranhamente desejou que Victor estivesse ali, apesar dela não ama-lo, ele era um bom amigo para se ter. Daria-lhe um tapa na cabeça e diria para seguir em frente.

—Ai – gemeu Carmim, quando, de fato, levou um tapa na cabeça. Olhou para trás dando de cara com uma menina loira que nunca virá antes. E então ela sorriu – Cherry?

—Vamos fracota – Cherry Cat deu um sorriso pequeno dessa vez – Você tem muito que fazer!

—O que você...

—Nada!

...

Mal se sentia incrível ao se olhar no espelho, mas seu rosto ainda estava cansado. Cansado e triste, na verdade, embora ela estivesse determinada a garantir que Evie não perceberia isso. Havia se tornado muito boa em esconder as coisas de quem gostava dela ultimamente...

—Está linda – falou Evie, sorrindo com o resultado – Sabe, essa é a parte boa do seu novo cabelo, dá pra combinar com muito mais coisas... Ficou bem mais fácil para mim ajudar você a se vestir!

—Que alívio – falou Mal, sarcasticamente, e repreendeu a si mesma no espelho – Nada de praguejar. Nada de murmurar. Elogiar e sorrir. Acenar e sorrir. Sorrir e sorrir mais ainda!

—Foi Carmim que colocou isso na sua cabeça, não foi? – Evie ergueu uma sobrancelha perfeita – Isso sim é que é uma boa lavagem cerebral, se quer saber...

—Não me fale de lavagem cerebral – pediu Mal, se sentando, sem medo de amassar o vestido (do tamanho que ele era, uma amassadinha seria invisível) - estou com um mal pressentimento...

—Eu também – falou Evie, e depois se abaixou no chão até ficar da altura de Mal na cadeira – Sabe, eu estava pensando... Carmim me perguntou umas coisas mais cedo, sobre a segurança, e, na hora não desconfiei, mas...

—Acha que eles estão tramando alguma? – perguntou Mal, surpresa – Achei que confiasse na Carmim e nos outros!

—E eu confio, é só que... Nós armamos a maior confusão em um mês – falou Evie – eles estão aqui a seis, e tiram uma fofoca ou outra, não tem nada de muito emocionante acontecendo... Carmim sempre foi uma boa estrategista, você sabe disso... Lembra-se do que ela fazia com você na escola?

—Vocês duas, se bem me lembro – grunhiu Mal – Mas isso é verdade... E nós os colocamos aqui dentro do castelo, pela Varinha da Fada Madrinha!

—Mas não sei o que podiam querer aqui – falou Evie por fim – Quer dizer, tem muito ouro, mas as coisas mágicas estão quase todas no museu, não é? E as que não estão não são de fato muito úteis...

—Evie, acha que eles podiam...

—Ter libertado sua mãe? Ah não, isso não – riu Evie – Você ouviu Carmim no depoimento, ela odeia sua mãe!

—É, tem razão – falou Carmim – Eu só queria ouvir você falar isso, eu acho.

—Bem, é melhor nós pararmos de falar e irmos logo, antes que o Ben ache que você fugiu do altar – riu Evie.

—É só a festa de noivado! – Mal contrapôs.

—Ah, sabe como são os garotos – a outra falou, e as duas caíram na gargalhada saindo do quarto.