Beard, tea and tobacco. escrita por Enoaies


Capítulo 19
Two days


Notas iniciais do capítulo

Décimo nono capitulo! Espero que gostem, e não fiquem bravos com estes sentimentos do Charles. E antes de tudo quero agradecer aos comentários nos últimos capítulos. Charles Ocean.



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Leesburg, Virginia – 08 de Outubro.

O caminho para casa havia sido tortuoso, longo, e cheio de pensamentos sobre May Belle, Geoffrey e nossa relação conturbada. Nem mesmo todo aquele asfalto e três cigarros foram suficientes para me dar de certo uma conclusão sobre tudo aquilo. Não sabia se deveria esperar tudo se acalmar e então falar com ele, ou esquecer tudo aquilo e seguir em frente, se é que eu ainda estava em um caminho aberto e não em uma viela sem saída. Mas naquela altura do campeonato decidira que não era certo fazer aquilo da maneira como estávamos fazendo. Era injusto.

Na sexta, fui ao trabalho mais cedo. Tinha algumas coisas para arrumar, papeis a assinar e programações para checar. Tudo ainda parecia como sempre fora, só que daquela vez não tinha toda aquela alegria em “Geoffrey”. Tristan já estava na escola quando ceguei, deixara de levar Linnea, pois aquilo logo faria com que os outros perguntassem pelo que estava acontecendo com eles.

–E então Oceano. Como estão os planos para o sábado? – indagou, com os olhos por cima do copo plástico cheio de café preto.

–Não tenho nada ainda. – tirei uma pilha de papeis do meu armário. – talvez fique em casa de novo, durma um pouco e coma algumas torradas com chá. – coloquei a pilha sobre a mesa no centro da sala. – e quais são os seus?

–Eu e Linnea estávamos planejando visitar os pais dela em Washington. – deu um gole demorado no café. – depois fazermos um piquenique na sala de estar.

–Parece bom. – olhei-o de soslaio. – de verdade. – sorri. Ele retribuiu o sorriso.

–Você tem falado com Geoffrey? – indagou deixando o café sobre a mesa. – tem o visto por ai?

–Não. Por que pergunta? – não tirei os olhos da papelada.

–Por nada. Só não tenho falado nem o visto nesses dois dias. – suspirou. – nem mesmo aqui dentro. – deu de ombros. – Linnea acha que ele está fugindo, mas eu acho um pouco infantil para Geoffrey. Não acha?

–Claro. – assenti.

–Talvez ele só esteja assim devido ao casamento. – deu de ombros. – sabe, ter só mais dois dias como um homem solteiro deve ser desesperador.

–Dois dias? – indaguei.

–Sim, só mais dois dias de liberdade. – brincou.

–Tem razão. – sorri. – deve ser desesperador. – deixei meus olhos caírem ao chão.

11h15min

Após a terceira aula caminhei de volta até a sala dos professores. Sentia um peso considerável sobre meus ombros, que desciam junto aos meus olhos incrédulos, derramavam-se junto da Idea de que Geoffrey se casaria em dois dias. Em apenas 48 horas todo aquele drama seria apagado por uma simples palavra “aceito”. Senti meus olhos queimarem com o sal das lagrimas que tentavam cair por meu rosto, mas que eram impedidas antes mesmo de chegarem a minhas bochechas.

Assim que adentrei a sala, encontrei Honora sentada à mesa, lendo uma de suas revistas sobre pesca esportiva e roupas para ginástica, acredite tudo na mesma pagina. Deixei minha pasta no canto da sala, e sentei-me na cadeira estofada na qual sempre sentava para ler Hamlet, só que dessa vez não tinha cabeça para fazê-lo.

–Ocean. – Honora chamou meu nome corretamente pela primeira vez, eu acho. – me pediram para que lhe entregasse algo. – esticou-se em sua cadeira, buscando algo em cima da mesa. – toma. – entregou-me um convite cor salmão, com letras pretas e um laço dourado em seu topo. As palavras a sua frente eram escritas a mão, por uma caneta tinteiro. Tinham certo brilho dourado que combinava com o laço, e completava o ar romântico nos nomes Geoffrey Cohen Moosen e May Belle Anders.

–Você ira. – indaguei a Honora.

–Claro, não poderia faltar. – disse sem tirar os olhos da revista. – e você?

–Sim, acho que sim. – sorri com os lábios comprimidos. Menti. Por um momento aquilo pareceu responder tudo o que estava acontecendo. Por um instante o véu a grinalda e o terno próximos do altar, pareceram responder todas as minhas perguntas. Como o porquê de Geoffrey chorar como uma criança naquela noite. O porquê de May Belle quase nunca estar presente. E a mais importante, quem era a pessoa mais suja entre os noivos. EU!

Antes que pensasse em mais alguma coisa, Linnea entrou pela porta, com Tristan vindo logo atrás. Ambos estavam sorrindo, e carregavam em suas mãos seus próprios convites salmão em detalhes dourados. Pude reparar Linnea mais a vontade, assim como Tristan, que tinha em seu rosto uma expressão alegre do tipo “não precisamos esconder”.

–Olá Honora. Charles. – cumprimentou próxima da cafeteira. – como estão?

–Bem. – respondeu Honora um tanto ríspida.

–Charles? – arrastou os olhos castanhos até os meus.

–Estou bem. Ótimo na verdade. – sorri um sorriso pronto. – e você? –corcovei as sobrancelhas.

–Estou bem obrigada. – bebeu um gole de café.

–Ótimo. –sussurrei. Linnea ficou um tempo de frente a cafeteira até dar dois passos largos e estacionar-se a minha frente. Seus olhos desceram como em um elevador, parando no porão onde estavam minhas orbes escuras e úmidas, em uma tentativa estúpida de não deixar nenhuma gota descer por meus olhos.

–Charles. – sussurrou. – está mesmo tudo bem? – indagou. – desculpe-me, mas você não parece nada bem. Parece triste. – comprimiu os lábios.

–Não é nada. – desviei os olhos para o outro canto da sala. – só estou um pouco nervoso com algumas coisas. Aulas, programações e coisas do tipo. – tentei um sorriso.

–Entendo. – agora seus olhos foram ao chão. Esticou então o braço direito, fazendo um sinal para Sr.Criswell, pedindo que pegasse algo em sua bolsa. Demorou um tempo até que ele aparecesse com um comprimido amarelo em uma das mãos, e na outra um copo branco de isopor com água.

–Segure. – Linnea me entregou o comprimido. – é para ansiedade. Acho que vai deixá-lo mais aliviado. – sua voz soava como a de alguém que realmente entendia a situação. Seus olhos foram de encontro aos de Tristan, e então um sorriso contido. Compreensivo. – obrigada. –devolveu-lhe o copo d’água. – que tal irmos comer algo? – olhou o relógio em seu pulso. – já está quase na hora do almoço.

–Obrigado, mas estou sem fome. – sorri. – acho que vou para casa dormir um pouco. Isso sempre resolve as coisas. – comprimi os lábios.

–Tudo bem então. – seus olhos sorriam quietos aos meus. – estamos indo. – pegou o copo de café pousado no chão e caminhou até Tristan que gentilmente lhe entregou a bolsa. Ambos saíram seguidos por Honora que carregava um sanduíche embrulhado em papel laminado.

Sai depois de alguns minutos caminhando pelo estacionamento vazio, que tinha como único veiculo de quatro rodas o fusca verde, estacionado bem debaixo de uma arvore, que de tão pequena conseguia tocar o teto do carro com seus galhos finos e fracos. Meus passos eram ritmados, conduziam meu corpo com certa lerdeza até a porta enferrujada do veiculo.

Destranquei a porta e joguei-me sobre o banco que rangeu em uma reclamação sobre minha falta de forma. Voltei a fechar a porta e colocar-me junto do abafado resultante do calor e de todo aquele estofado empoeirado do banco. Estiquei-me até o porta luvas a fim de pegar um maço de cigarros, que já estava quase no fim. Tirei um, e coloquei-o entre os lábios, pronto para acendê-lo. Antes que o fizesse, um suspiro fundo, e então uma única lagrima e então o arrepio. Joguei o cigarro pela janela, assim como todo o maço, coloquei-me a dar fortes golpes no volante e então deitar a cabeça enfurecida nos braços, que a aconchegaram e lavaram-se com as lagrimas salgadas que desciam pelas bochechas e terminavam no assoalho.

Acima de tudo sê fiel a ti mesmo,
Disso se segue, como a noite ao dia,
Que não podes ser falso com ninguém.

–Hamlet.


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Notas finais do capítulo

Este foi o capitulo! Desculpe se ele foi muito curto, mas espero que tenham gostado e não tenham ficado triste, porque eu confesso ter ficado um pouco. Digam o que acharam de tudo isso no review e não se esqueçam. Até o próximo capitulo!



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