Instituição JGMB - Interativa escrita por AceMe


Capítulo 17
Das Grandes Traições Iniciam-se As Grandes Renovações


Notas iniciais do capítulo

Oiê! Capítulo de carnaval! Vamos comemorar! Mas vamos rápido que Eta Mundo Bom já está começando e eu não quero perder... rsrsrs.
Mas antes, gostaria de agradecer a duas leitoras maravilhosas:
Valeu mesmo Caroquinha 10, por ter favoritado e nunca ter deixado de comentar, nem que fosse só para dar um oi. E muito obrigada mesmo a UnicornioRosa, quase que minha parabatai da vida real, que favoritou mesmo estando ainda só no primeiro capítulo e vai demorar até ver esse, mas enfim... Isso não diminui minha gratidão!
Sem mais delongas, boa leitura, ;)!



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Henry repentinamente conseguiu recobrar todos os sentidos após perceber que os olhos castanhos que o observaram ao notar o movimento eram os de sua mãe. Quer dizer, por mais que ele fosse sentir a mesma surpresa se fosse seu pai, era o que já esperava desde que os guardas foram leva-lo. Mas sua mãe, Jennifer? Aquela mesma que era o estereótipo de super protetora, que não media esforços para envergonhá-lo (Sem querer, claro) e que o chamava pelo nome completo sempre que ia dar-lhe uma bronca? A mesma que quis lhe chamar de Kamadewa só porque significava amor? Aí que Henry já não sabia mais o que pensar.

—Henry! – Jennifer levantou-se da cadeira da escrivaninha sorrindo e chegou mais perto do filho, no intuito de dar-lhe um abraço apertado. – Você acordou! Que saudade!

O menino, em choque, não fez nada para se livrar dos braços maternos. Porém, também não esticou os próprios para completar o abraço, pois ainda estava muito confuso tentando raciocinar. Os dois ficaram nisso por um bom tempo, a mãe murmurando coisas no seu ouvido como: “Fiquei tão preocupada quando soube que estava aqui também!” e “Ainda bem que mandei te chamarem logo!”.

Enquanto ela o segurava, Henry repassou mentalmente todas as lembranças das vezes em que desconfiaram erroneamente de Randhir. Quando ele o pediu para que filmasse a Instituição, será que realmente estava preocupado com ataques, já que a mãe não sabia de nada? Ou será que ela mentiu e o pai havia feito isso a pedido dela? A carta com símbolo de águia, o que dizia afinal? Será que tinha algo a ver com toda a situação ou era sobre um assunto completamente diferente? Aliás, será que a carta era realmente endereçada ao Randhir ou era para Jennifer?

“Impossível. Minha mãe é vice-diretora de um banco. Nada a ver com esse tipo de política.” — Henry negou em pensamento. – “O que estou pensando!? Desconfiei de meu próprio pai por alguns instantes e agora faço o mesmo com minha mãe!? É óbvio que é tudo um engano. Ela vai ter uma explicação completamente lógica para isso tudo.”

Henry tocou nos ombros da mãe e ela afastou o abraço, mas não o largou. Se separou até que pudesse encarar o filho nos olhos. Seu olhar não passava mais felicidade em vê-lo acordado, mas mágoa.

—O que foi, filho? Não está feliz em me ver? – Questionou triste ao fato do mesmo não ter correspondido o abraço. – Esse mês que passamos separados foi o pior de toda a minha vida.

—Não, é claro que ver você me deixa feliz, mas... – Ele não sabia ao certo como perguntar. – O que está havendo? Tem caras armados por toda a parte e também essa quarta guerra.

—Ah, meu bebê. – Jennifer retirou os braços do filho de seus ombros e andou em direção ao telefone. – Não precisa se preocupar com nada. Estamos a salvo aqui.

Henry apoiou os braços na escrivaninha enquanto a inglesa tirava o telefone do gancho e digitava os números. Aquela sala não era realmente muito grande. Além dessa escrivaninha com telefone e computador, havia também um sofá, onde Henry estivera deitado, uma mesinha, um quadro na parede, uma janela grande e duas portas. O menino não tinha tempo para observar cada detalhe daquele escritório para o qual fora levado, porém esperou a mãe terminar a ligação para continuar a conversa. Ela havia simplesmente perguntado “Ele está aí? Pode manda-lo subir, por favor?” e desligou.

—Mãe... Eu não sou mais um bebê. – Se defendeu. – Você tem que me contar o quê está acontecendo.

—Eu sei que você não é mais um bebê. – Respondeu-o com pesar na voz antes de sentar-se de frente para ele. – Infelizmente.

Se isso fosse uma história em quadrinhos, com certeza um grande ponto de interrogação poderia ser visto acima da cabeça de Henry. Quer dizer, a mãe nunca deixou de trata-lo como uma criancinha, mesmo já crescido, mas falar com esse tom? Tom de desamparo, de sofrimento real.

—Aqueles dois guardas disseram que essa base foi dominada e que você é a chefe deles. – O menino mudou de assunto. – Por favor, me conte que não é você quem está comandando todo esse conflito.

Ela negou com a cabeça.

—Estou, sim, Henry. Eu e seu pai junto a mim.

Henry quase caiu da cadeira.

—O quê!? – Perguntou desesperado. – Então meu pai também estava realmente nisso!? Esse tempo todo!?

—Calma, filho! Eu liguei lá para baixo para pedirem a ele para vir aqui. – Ela se apressou em estar do lado do filho. – Ele vai me ajudar a explicar tudo. Você vai ver, não tem nada demais.

Não se passou muito tempo desde que Jennifer disse isso e Randhir entrou na sala, deixando Henry ainda mais apreensivo e se encolhendo por entre os braços da mãe. O homem se aproximou e repousou a mão sobre os cabelos emaranhados do filho, uma tentativa de carinho.

—Olá, Henry. Bom que já esteja acordado. Temos várias coisas a esclarecer.

Randhir Murray, nota por ser um Darth Vader da vida, dez. Nota por cordialidade, zero.

—Deve estar bem confuso. – Ele se sentou no sofá e Jennifer foi ao encontro dele. – Por onde quer que a gente comece?

—Do princípio...? – O garoto ainda estava com os pensamentos embolados. – O que está acontecendo aqui, afinal? – Já devia ser a milésima vez que perguntava isso e não obtinha respostas.

—Acontece que a quarta guerra começou, mas não acontecerá. – Randhir começou. – Tanto os Estados Unidos quanto a Rússia sabem que se usarem essa arma, poderão não atingir somente a área que querem, mas sim outros países pelos quais o vento possa levar o veneno, inclusive eles mesmos.

—Mas mesmo assim eles pensam que o planeta é pequeno demais para os dois atuarem juntos. – Jennifer continuou. – Então vão tomar algumas medidas extras para enganar o povo: Criar um toque de recolher dizendo que é para evitar contado com veneno, parar de imprimir jornais para que ninguém mais tenha acesso às notícias, só os governantes terão computador, televisão e telefone. Esse tipo de coisa. Até que os países sejam desfeitos e só sobrem as cidades.

—E não só na Rússia e nos Estados Unidos, mas no mundo todo. Para botar medo no povo. Ele quer dominar, mas os governantes querem deixa-lo em seu devido lugar: Abaixo deles. Sem poder ou direito a nada, obedecendo finalmente às suas ordens em silêncio e sem pestanejar. – Randhir explicou ainda mais. – Porém, países como a Dinamarca, não estão ajudando nesse processo de reforma do mundo. Eles precisam ser retirados do caminho. Por isso que estamos aqui.

—Como assim!? – Henry já estava abismado com tudo que ouvia. – O que nós temos a ver com isso?

—Eu convenci seu pai que eu patrocinaria os espiões e a tomada dessa base. – A mãe contou. – Até pedi a ele para inventar uma desculpa qualquer para filmar a Instituição e mandar para mim como ela era para saber por onde você andava (E ele nem havia me contado a desculpa que tinha dado).

Eu, o narrador, preciso falar que o mundo de Henry não havia caído, mas sim desmoronado? Ou melhor, despencado de um penhasco de quilômetros de altura em um buraco cheio de espinhos, dos quais Henry nunca sabia se eram estalactites ou estalagmites?

—M... M... Mas por quê?

Randhir e Jennifer se entreolharam, como se estivessem se decidindo por telepatia quem contaria essa parte. Por fim, foi Randhir que se virou para Henry e disse com todas as letras:

—Foi por sua causa, Henry. – Confessou. – Pelo seu futuro.

Os olhos de Henry só não poderiam estar mais surpresos porque sairiam das órbitas.

—E... E... Eu!? – Apontou para si mesmo – Por quê? O que foi que eu fiz?

—Oh, Henry, meu bebê!

A mãe se levantou do braço do sofá e se ajoelhou em frente à cadeira para acariciar as bochechas do filho. Seu olhar demonstrava sincera ternura, como se realmente acreditasse que estivesse fazendo o bem.

—A gente, seu pai e eu, nós te amamos. – Começou. – Por isso mesmo estávamos preocupados com você. Você sempre tirou notas medianas; 7 ou no máximo 8; e vivia sempre no mundo dos livros, da fantasia. Nunca fez amigos que não fossem imaginários, e quando fazia eram esquisitos. Lembra do Jack, aquele menino com síndrome de Capgras? Ou então da Lily, a garota com prosopagnosia?

—Por mais que não quiséssemos acreditar – Randhir também havia chegado mais perto dos dois. – sabíamos que pessoas sem social ou avoado como você não se dão bem na vida. E queríamos garantir que tivesse um bom futuro. Esse plano todo é inevitável, é como diz o velho ditado: Se não pode vencê-los, junte-se a eles. Tratamos logo de providenciar que ficasse aqui, futuramente você será um dos líderes dessa base. Ajudará a parar as pessoas que querem quebrar as coisas e poderá viajar para qualquer lugar do mundo, fazer o que quiser. Isso não é bom?

—Vocês... Vocês compraram um cargo para mim!? – Algumas lágrimas surgiram no rosto de Henry. – Não acham que sou capaz? Que posso me virar sozinho?

—Não, meu filho! Não é nada disso! – Jennifer secava o molhado com os dedos enquanto fixava seu olhar intenso nos acusatórios dele. – A gente só está tendo certeza de que vai conseguir usar todo o seu potencial.

Esse com certeza era um eufemismo para “Nós te amamos, mas você é um idiota.”. Mas não podia ser verdade. Ninguém chegaria tão longe com algo assim. A menos se soubesse daquela intriga planetária toda desde o princípio, que infelizmente, era o caso.

—Eu posso não ser a pessoa mais inteligente, mas não sou burro, sabem? – Ele começou. – O que vou fazer aqui vai ser impedir que as pessoas deem sua opinião sobre o que está acontecendo. Querem que eu impeça as pessoas de serem livres! E eu tenho amigos normais, sim, tá? Fiz os mais verdadeiros na Instituição.

—Ah, sim. Eu vi esses seus amigos. – Randhir comentou. – Um garoto com heterocromia, síndrome do pânico, Fanconi e Waadenburg; uma menina esfomeada que passou a vida em uma área de testes químicos; um mediano que de um jeito inexplicável entrou “sem querer” no programa científico do país com 14 anos e foi tirado de casa... Não são o que a maioria das pessoas chamaria de “normais”

—Isso não importa! Eles desconfiavam que vocês podiam estar querendo quebrar a Instituição, mas permaneceram do meu lado! Me acolheram e não me abandonaram! – Ele estava realmente bastante irritado. – Façam o que quiserem comigo, mas, por favor, deixem eles em paz!

Jennifer se levantou e se colocou ao lado de Randhir. Os dois cochicharam umas palavras uns para os outros, a mulher parecendo discordar. Porém, o homem não a escutou muito e se pronunciou:

—Filho, - Eram poucas as vezes que ele chamava Henry de “filho”, e não pelo nome. – se continuar resistindo assim, teremos que submete-lo ao apagador de memória.

Henry jogou a cadeira na parede e se virou enraivecido para as duas figuras.

—Pois então que usem! – Bradou. – Usem se forem capazes de fazerem isso com o próprio filho! Mas saibam que eu nunca aceitaria, em nenhuma realidade, com as memórias apagadas ou não, trabalhar para calar as pessoas por conta própria!

Jennifer tentou chegar perto do filho, mas Randhir pôs a mão grande na frente. Estava decidido o que fariam, ela gostando ou não. A mulher então deu um passo para trás, pois sabia que com o marido gigante não podia, mas com um vislumbre de simpatia para com Henry.

—Querido, não podemos... – Ela até tentou contrariar, mas foi impedida.

—Não, Jenny. – Refreou-a. – Ele fez a escolha dele. Temos que respeitá-la.

Randhir segurou sua esposa pelo ombro e a guiou até a porta, que foi aberta por ele. Ainda antes de ir embora, avisou a Henry:

—O apagador de memória deve demorar alguns minutos para ser estabilizado. Quando estiver pronto, viremos te buscar.

E fechou a porta por trás de Jennifer e de si próprio. E ainda por cima trancou-a, como pôde-se constatar ao ver a fechadura virando e o som de estalo se espalhando pela sala. Foi aí que Henry percebeu ter feito uma coisa muito burra. Se deixou levar por seu ponto fraco e se colocou numa enrascada. Trancado naquela saleta não poderia fazer nada para ajudar ninguém. Só poderia esperar lentamente até ser levado ao apagador de memórias, que não parecia mais tão diferente do corredor da morte, e sabe-se lá o que variam com ele depois que não se lembrasse das últimas cenas.

Praticamente arrastando os pés, se sentou na cadeira a frente do computador. Pensou que, se não teria acesso às recordações dali a pouco, o melhor a se fazer seria revivê-las naquele momento.

Com tanta alegria no coração, que tratou de esboçar involuntariamente um sorriso em seu rosto, relembrou cada detalhe do melhor mês de sua vida, o que passara na Instituição. Lembrou-se de quando encontrou Chris perdido no aeroporto, de quando Ed teve ataques de pânico ao seu lado no carro (Fato que depois de ter passado torna-se engraçado), de Hyun-Ae conversando com ele sobre Júlio Verne, da vez em que Isis sem querer lhe deu um susto tão grande que deu de cara no polvo do refeitório. De quando Jean tentou passar uma cantada nele para irritar Chris (O que realmente funcionou), de Miguel explicando a ele o que raios o resto do grupo estava falando e de Carol contando-lhe uma das várias histórias que gostava de repetir de como seu ancestral pirata encontrou uma ilha qualquer e lutou contra animais selvagens. Se lembrou também de Arícia roubando comida de seu prato, o chamando de bovino, de quando ela apertou-lhe as bochechas...

Porém, seus devaneios foram interrompidos ao soar de umas batidas quando apareceu na tela do micro computador uma cabeleira loira e míope bastante conhecida.

...

—Adianta se eu perguntar quem está me esperando aqui? – Isis perguntou quando a guarda a deixou em uma espécie de escritório.

—Você vai descobrir daqui a pouco mesmo. – A mulher respondeu impaciente enquanto fechava a porta por trás de si.

Depois de o homem ter deixado Henry desmaiado em uma sala ali perto, a mulher levou Isis até outra a apenas algumas portas de distância. Se ela tivesse visto o escritório dos Murray, poderia chegar a conclusão que aquelas duas salas eram simétricas; idênticas. A única diferença é que não tinha ninguém a esperando ali.

A maçaneta não girou e nem ouviu-se um estalo, o que significava que a porta estava destrancada. Poderia muito bem sair e fazer alguma coisa de útil, como achar seu irmão ou liberar o pessoal lá de baixo, mas sabia que isso seria imprudente demais, até mesmo para os padrões dela. Havia guardas armados nos cantos e também precisava de informações concretas sobre o que diabos estava acontecendo naquele lugar dito como “seguro”. Informações das quais pensava que quem quer que a tivesse chamado poderia lhe dar.

A sul africana sentou-se numa das cadeiras e ficou observando a paisagem através da janela. Não tinha realmente muito a se ver naquele mar albino e nas nuvens que mais pareciam fumaça de tão cinzas e carregadas jaziam no céu, apesar de não estar nevando, mas foi o que a distraiu até ouvir-se a descarga ser apertada, a torneira aberta e então fechada e a porta ser escancarada. A pessoa que a chamara havia acabado de sair do banheiro, que provavelmente era a outra porta que não dava no corredor.

—Olá, irmã. – A voz masculina disse atrás de si.

Isis virou-se de repente. Era seu irmão, Zulu. “Mas o que ele está fazendo aqui?”— A dúvida invadiu seu pensamento. – “Será que ele também foi chamado ou...”

—Me falaram que papai já está esperando o voo de Nelspruit para o Cairo. Ele ainda vai fazer outra escala na Alemanha antes de vir para cá. – Ele se sentou na outra cadeira do lado de Isis, segurou sua mão e continuou como se pudesse ler os pensamentos dela. – Eu providenciei tudo para que ficássemos a salvo. Não precisa se preocupar. Finalmente, nossa família vai ser tratada como merecemos, como reis. É uma pena mamãe não estar aqui para ver tudo isso.

Isis não entendia bulhufas do que o outro estava falando. Como assim eles seriam tratados como uma família real? Por que motivo teriam enviado passagens aéreas ao pai deles simplesmente porque ele havia pedido? Nada fazia o menor sentido.

—Zulu... Do que você está falando? – Começou. – Pelo que entendi a quarta guerra começou e essa base é para proteger a gente de uma bomba venenosa. Mas dois guardas disseram que tomaram isso daqui. Por eliminação, só resta pensar que quem tomou esse lugar não quer que as pessoas fiquem protegidas. Como você conseguiu vir para cá?

Antes que Zulu pudesse responder, Isis continuou:

—Bem, isso não importa. O que falaram para você deve ter sido para te enganar. Por que eles pegariam alguém entre nós para ajudar, afinal? Não sei o que estão ganhando com isso, mas precisamos sair daqui, antes que seja tarde.

A menina largou a mão do irmão e foi checar se a janela estava aberta. Quando ela conseguiu empurrar o vidro, o homem se levantou e se aproximou. Ela percebeu e verbalizou os pensamentos.

—Você reparou se tem algum tipo de corda ou algo parecido no banheiro? Se prendermos uma ponta na maçaneta ou em algum outro lugar duro, dá para descer até lá em baixo. Já fiz rapel na Garganta do Diabo, sei do que estou falando, mas você vai ter que prestar muita atenção no...

—Isis, pare, por favor! – Zulu a pegou pelo braço, a impedindo de se debruçar mais no peitoril da janela. – Eles estão me tratando com mordomia porque eu os ajudei a conquistar essa base!

Isis virou o rosto para trás lentamente. Tinha quase certeza de que ouvira errado, mas a expressão na cara do mais velho dizia o contrário.

—Você!? Ajudou esse pessoal armado a entrar aqui!? – Ela perguntava e exclamava ao mesmo tempo com incredulidade. – Você!? Não, não. Eu conheço você. Nunca seria capaz de fazer algo assim.

Zulu desviou o olhar para baixo encabulado.

—Eu sei que minha coragem é questionável, mas se pelo menos me deixasse explicar...

E então Zulu fechou a janela, pois o vento que entrava era de congelar as entranhas, e conduziu Isis até o confortável sofá e pediu por telefone dois copos de smoothie, um dos favoritos de sua irmã, pois previa que a conversa ia demorar. Ele a contou sobre tudo. Desde o momento em que ofereceram a tarefa de ser um contra espião em troca de um lugar como líder até o momento da invasão. Isis ouvia tudo silenciosamente entre goles da bebida, ainda sem conseguir acreditar direito.

—E foi isso que aconteceu. – Zulu repousou o copo na mesinha da frente quando terminou. – Você está bem, Isis?

—Você... Simplesmente seguiu as regras deles? – Ela perguntou avoada após um longo tempo.

—Eu não tinha outras opções. – Tentou se desculpar. – Por favor, tente enxergar pelo meu lado. Tudo que fiz foi pelo bem de você e de nosso pai, para proteger vocês.

Isis também pôs seu copo na mesa após tomar o último gole. Observando a janela, se levantou e recostou novamente a palma da mão no vidro. A paisagem continuava a mesma coisa que antes, mas repentinamente ficou mais interessante. Quando se pronunciou novamente, seu tom continuava distante.

—Você tinha outra opção. Contar ao diretor o que estava acontecendo. – Apesar de tudo, sua voz não era de acusação. – A ideia de ter poder é que te fez não contar e convenceu a si mesmo que era para nos proteger.

—Não, isso não é verdade. – Zulu se prontificou.

—Uma vez, ouvi em algum lugar que o pior mentiroso é aquele que acredita na própria mentira. – Continuou. – Mas ser egoísta está na natureza do ser humano. Não há nada de mal em ser um pouco egoísta de vez em quando.

—Não, você está enganada! – Ele insistiu. Jamais vira sua irmã tão distraída como naquele instante. – Está bem que talvez eu tenha cumprido as ordens por medo do que aconteceria a mim se falasse para outra pessoa, mas nem todo mundo é como você, que não precisa se preocupar em temer as coisas porque sempre consegue superar a todos.

Pela primeira vez desde que Zulu começara a contar a história, Isis o encarou nos olhos. O olhar dela era de confusão, como se não compreendesse o que estava se passando. Um nunca teve acesso à mente do outro, e essa parecia a primeira vez que manifestavam seus pensamentos abertamente.

—Acho que essa deve ser a milésima vez que te pergunto isso hoje, mas do que você está falando?

Zulu engoliu em seco. A verdade só a deixaria mais braba com ele, mas se não a contasse, tinha a sensação de que seria tudo pior.

—Você. Nunca deixou se abalar ou demonstrou medo quando te desafiavam a fazer aquelas coisas perigosas quando éramos crianças. Se tornou a favorita de nossos pais, sempre ganhava a atenção deles com esses seus talentos acrobáticos. Enquanto eu me ocupava em servir pessoas ricas, você viajava pelo mundo a fora, se aventurava e trazia muito mais dinheiro para ajudar nossos pais do que eu. – Desabafou. – Mas agora é a minha chance de mostrar o que posso fazer, onde posso chegar. Dessa vez pare de tentar se cuidar e me deixe desempenhar o papel de irmão mais velho que sempre ignorei e defender você!

A irmã franziu as sobrancelhas e respondeu depois de alguns segundos.

—Eu não entendo, Zulu. Você não fala coisa com coisa. O favorito dos nossos pais é você, não eu. Sabe, é meio difícil competir quando você é a pirralha que volta para casa toda cheia de lama e ferida contra o primogênito super popular que volta com o boletim lotado de nota 10. – Revelou seu ponto de vista. – Eu costumo dizer que não vejo todas as suas qualidades e que você é só mais um cara qualquer. Mas não é verdade, você é meu irmão. Tudo que faço é espelhado em você!

—Não, Isis, isso não é possível. Não é possível porque tudo que eu faço é espelhado em você. Você é meu exemplo, não o contrário. – Zulu então parou para pensar um pouco. – Espere, isso quer dizer que você não está zangada comigo? Por nunca ter te ajudado e nem por não ter contado ao diretor o que estava acontecendo e impedido tudo?

Isis suspirou longa e tristemente. Antes de responder, deu um abraço no irmão. Um abraço bem apertado. Primeiro ele não sabia ao certo o que fazer, mas não demorou muito para corresponder o abraço. Finalmente, ela se afastou e disse:

—Não estou zangada. Só decepcionada. – Aquilo lhe atingiu como se fosse uma facada no coração. – Você comentou antes que todas as pessoas daqui vão passar por um apagador de memória.

—Comentei.

A mulher então se encaminhou até a porta e abriu-a. Um guarda foi verificar o motivo disso e ela fez um pedido a ele:

—Por favor, me leve à cela mais próxima.

—O quê? – Zulu questionou por atrás. – Por quê?

—Quero passar pelo apagador de memória. Não adianta impedir, já tomei a decisão. – Adiantou-se antes mesmo do irmão protestar. – Se esse é o mundo em que vamos viver, não quero viver nele desapontada com você. Prefiro esquecer do que fez a favor do que vai fazer.

O guarda a agarrou pelos braços e a levou para a cela mais próxima. Zulu viu os dois da porta se perdendo no horizonte até descerem as escadas.

Mais uma vez, Zulu via a irmã caminhando na direção do perigo e ficara parado, a observando, sem impedir que a levassem.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando. Não coloquei nas notas iniciais, mas esse é o quarto de 10 capítulos (No máximo) para acabar a fic!
Até a próxima, ;)!