Instituição JGMB - Interativa escrita por AceMe


Capítulo 10
Um Dilema de Amizade


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente! Esse capítulo está um pouco menor do que os que eu normalmente posto porque eu vou viajar e para não ficar sem capítulo, dividi o que seria um único e vou programar postagem para quando eu não estiver. Assim não fica muito tempo sem nada.
Boa leitura, :)



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–E então é isso. – Henry concluiu sentando-se na cama de Ed. – Meu pai inventou uma desculpa para que eu filmasse a JGMB.

–E ele com certeza deve estar planejando alguma coisa com isso. – Ed se apoiou na lateral do beliche enquanto completava o raciocínio.

Jean e Chris fizeram sinal de que entenderam. Henry e Ed haviam acabado se contar toda a história: Desde a noite em que Randhir pediu ao filho que mostrasse a JGMB com uma desculpa esfarrapada até o fato de o mesmo ter tentado impedir que Henry perguntasse sobre isso para a mãe por todo esse tempo.

–Isso é realmente muito estranho. – Chris confirmou. – Você tem alguma ideia do por que dele ter feito isso?

Henry fez que não com a cabeça.

–Não, nenhuma. Estive pensando em alguma coisa que ele disse ou tenha feito que possa entrega-lo, mas não me vem nada na cabeça.

–O que seu pai é, afinal? – Jean perguntou. – Talvez analisando a profissão a gente possa encontrar o motivo.

–Ele é o ministro da defesa do Reino Unido.

Jean lançou um olhar com as pálpebras entreabertas para o garoto como se dissesse “Sério?”. Que aliás, foi exatamente o que ele disse:

–Sério, Henry? No que você estava pensando? Se ele está planejando realmente algo de ruim, agora ele já tem o mapa todo com ele. A qualquer momento ele pode jogar uma bomba atômica em nós!

Henry franziu o cenho e encarou o francês. Ficara realmente muito incomodado com o que ele disse, de verdade. Não era óbvio o motivo dele ter feito isso? Como alguém pode ser tão desprovido de sentimentos?

–Jean, pare com isso. – Ed pediu ao ver o desconforto do amigo. – Dê um tempo a ele.

–Mas como é que nunca passou pela cabeça dele que o pai tem interesses? – Continuou questionando, apesar de não parecer estar estressado. – Como?

–Porque ele é meu pai, ora essa! – Henry protestou. Seu tom de voz surpreendeu Jean e Chris, apesar de não ter tido mais efeito em Ed do que uma das sobrancelhas se levantar. – Ele pode não ter sido o mais amoroso do mundo, pode ter deixado de ficar comigo de vez em quando para trabalhar ou então ter deixado de conversar comigo para atender o celular, mas ele ainda é meu pai! Sempre me tratou muito bem, por isso nunca pensei que ele pudesse me usar para conseguir o que quer. Como uma pessoa poderia ser tão fria a ponto de nunca ter confiado sequer uma vez em sua própria família?

Henry respirou bem fundo enquanto limpava o suor ralo que escorria pela sua testa, fruto do estresse. Essa era a primeira vez que ele ficava brabo dessa forma na Instituição, sempre se mostrando tão calmo e compreensível. Alguns assuntos não eram para serem tocados perto dele. Depois de um tempo refletindo, Jean deu de ombros.

–Algumas pessoas têm famílias realmente terríveis.

–Jean, olhe pelo lado dele. – Chris soou um pouco incomodado com o fato do colega não olhar o outro lado da situação. – Não foi uma atitude muito inteligente, mas acho que nenhum filho acredita de primeira que o pai está o usando. Se eu descobrisse que o meu pai faz isso, com certeza teria um choque imenso.

–Eu não sentiria o mesmo. – Jean discordou do ponto de vista dele. – Seria bem a cara do meu fazer isso.

Ed concordava silenciosamente com cada palavra dita na conversa. Principalmente agora que ele tinha o ser no mesmo grupo para lembra-lo do passado toda hora, entendia o que o amigo da cama de cima estava passando mais do que ninguém. Sentia que tinha que falar alguma coisa.

–“Das grandes traições iniciam-se as grandes renovações”.

–Vassili Rozanov. – Henry reconheceu a citação, agora um pouco mais calmo. – Uma vez me obrigaram a ler um livro político dele.

–Bem, isso é o que menos importa agora. Nós temos é que decidir o que faremos sabendo que o pai de Henry tem segundas intenções ficando na Inglaterra e enviando o filho para cá. – Chris concluiu. – Henry, você já deve ter ido várias vezes ao escritório dele. Não se lembra de nada que possa nos dar alguma pista?

–Não, eu não faço a mínima ideia do que possa ser o que ele está planejando. Me desculpem, mas eu ainda não acredito que isso seja algo muito sério.

–Talvez você não se lembre porque acabou de levar um choque, como o Chris disse. – Jean falou. – Se for isso, amanhã já deve ter absorvido melhor a novidade e poderia descobrir alguma coisa.

Era incrível como Jean podia mudar o estilo de encrenqueiro para inteligente quando quisesse. Nem pareciam ser a mesma pessoa, se não fosse o ar travesso que exalava a qualquer momento. Henry apoiou a mão no queixo e terminou o raciocínio.

–Amanhã eu converso com meu pai e tento tirar alguma coisa dele, discretamente. – Henry cedeu. – Não que eu ache que isso vai dar em algo.

Depois disso, o grupo se dispersou e cada um foi para um canto. Em uma situação normal eles continuariam lá, conversando, mas o clima não permitia isso.

“Senti falta disso quando o assunto acabou, mas talvez tenha sido melhor assim.” – Chris pensou. – “Esse trabalho como informante para os diretores está me matando por dentro. Agora estou em outro dilema de amizade: Devo ou não contar ao Laudrup sobre Randhir Murray?”.

...

–Diretor Laudrup. – Chris chamou encostado na parede ao lado da biblioteca, enquanto o seu grupo entrava sem ele.

Laudrup estava ao lado da porta, vendo as pessoas entrarem, apenas esperando a passagem de seu informante. Se aproximou dele e estendeu a mão, sabendo o motivo pelo qual foi chamado por ele.

–Aqui está o outro projeto que o senhor pediu. – Chris tirou do bolso um disco contendo um dos desenhos de Hyun-Ae e entregou ao diretor.

–Muito obrigado, Christian. – Laudrup pegou o disco da mão do menino e o pôs no bolso do próprio casaco. – Está fazendo um ótimo trabalho.

–Sim, senhor. – Chris ponderou um pouco no ar. – E, falando em trabalho... – O garoto começou a frase, mas não terminou. Laudrup já ia perguntar o que ele queria falar quando ele finalmente completou a frase. – Tem mais algum trabalho para mim?

Por algum motivo, parecia que ele estava escondendo alguma coisa, porém Laudrup estava um pouco ocupado e podia tratar disso mais tarde. Por hora, se contentou em ignorar a hesitação e deixar o informante trabalhar.

–Por enquanto nenhum. Apenas continue com as pesquisas normais.

O mais jovem acenou com a cabeça e apertou o passo para alcançar seu grupo. Harold não o ficou observando por muito tempo, tendo dado só uma desviada no olhar e continuado seu caminho. Queria voltar logo ao seu escritório, pois Rainha Margareth estava lá, esperando por ele.

Ela deveria ter partido de volta à Copenhague mais cedo, porém houve uma nevada inesperada, então ela teve que ficar na Instituição e imprimir o que faria na Dinamarca para fazer ali. Enquanto ele foi pegar mais um projeto para dar ao engenheiro responsável, ela ficou sozinha na sala vendo alguns documentos que passaram por votação.

Laudrup passou rapidamente pela sala de reunião e deixou lá o disco com a equipe que estava lá reunida, sob o pretexto de estarem preparando uma reforma na biblioteca, e então voltou a apertar o passo para chegar ao escritório depressa. Ele ainda ajeitou o casaco e posicionou melhor o chapéu e arrumou a barba antes de finalmente entrar.

A sala estava do jeito exato como ele havia deixado. Tudo na mais perfeita paz. A única coisa que mudou foi a pilha de papéis dos quais a Rainha estava trabalhando. Agora o lado maior era o de documentos já terminados, sendo o único não acabado aquele que ela estava pegando a caneta para finalizar. Margareth levantou um pouco os olhos da mesa, sorriu ao ver o companheiro na porta e o saudou.

–Voltou rápido, Harold!

Harold fechou a porta atrás de si e com o olhar fixo na rainha puxou a outra cadeira para perto dela.

–Está trabalhando no que agora, Margareth? Precisa que eu leia alguma coisa? Todo trabalho que acontece na JGMB é meu trabalho também, afinal eu sou o diretor.

–Não preciso de ajuda. Só tenho que escrever...

–Eu escrevo por você. – Harold pegou a caneta que estava em cima da mesa. – É só ditar.

Margareth se posicionou para mais próximo de Harold e estendeu a mão para que ele a entregasse a caneta.

–Bem, eu acho que minha assinatura só eu posso escrever. É a única coisa que falta fazer agora.

–Ah, só falta a assinatura... É, você tem razão. Se eu escrevesse teria que ser preso.

Harold endireitou a postura e pôs a caneta na palma da mão dela, que riu e assinou o nome no final da folha, a passando então para o topo da pequena torre de papéis que se formara.

–Pronto. Terminei todo o trabalho. Agora é só esperar a neve passar e voltar para casa.

Nesse momento o celular de Laudrup vibrou. Ele pegou-o de cima da mesa e leu: “Nova mensagem de Kim.”. Desbloqueou então o bloqueio de tela e a leu: “Oi. Sei que fiquei sem falar com você por um tempo, mas fiquei com saudade. Briguei com você sem motivo nenhum. Você tem o direito de não gostar de mim. Podemos conversar de novo?”.

Harold ficou um pouco constrangido por aquela mensagem, principalmente porque podia sentir a rainha desviando o olhar entre a mensagem e ele mesmo. E ele não era nada amigável.

–Quem é “Lim”? – Ela perguntou num tom meio entojado. – Não, “Kim”.

–A Kim... Ela era a professora de educação física no colégio em que eu trabalhava. – Harold procurava a palavra certa. – Mais ou menos uma amiga.

–“Mais ou menos uma amiga”. – Margareth repetiu. – O que aconteceu para ela ser “mais ou menos uma amiga”?

–É que... Ela me disse... Um pouco antes de vir para a Instituição ela contou que gostava de mim. Mais do que como amigos; e eu dei um fora nela.

–Oh. – A mulher soou um pouco entre decepcionada e aliviada. – E é por isso então que ela estava braba com você?

–Por aí. – Harold estava se sentindo meio desconfortável contando isso para ela. – Além de uma outra coisa que você não iria querer saber. É um problema que não dá para resolver.

–Por que não? Eu sou sua amiga, não sou? Por que não posso te ajudar nos seus problemas se você sempre me ajuda nos meus?

Harold respirou fundo. Só havia criado coragem de vez para aconselhar a Margareth normalmente por influência de Christian, então meio que tinha segundas intenções nessa aproximação. E, além disso, se contasse poderia estragar tudo. Mas sentia que o mais certo naquele momento era seguir as ordens da rainha e contar.

–Foi... Por sua causa.

A rainha piscou.

–Minha? O que eu fiz?

–Não foi exatamente sua. Parecia mais frescura dela. Ela me acusou de estar a rejeitando e vindo para cá porque tinha uma queda platônica por você. Sabe, porque eu ficava comentando as notícias em que você aparecia o tempo todo e outros fatos do gênero... – Notando a expressão surpresa no rosto da amiga, ele rapidamente consertou. – Mas como eu disse antes, isso é tudo invenção da cabeça dela. É tudo irreal.

Margareth confirmou então o que foi dito com a cabeça e retornou o olhar fixo de Harold.

–É, realmente, o único jeito de resolver esse problema seria eu falando para ela que está tudo bem, mas parece que essa Lim já se conformou.

–O nome dela é Kim. – Corrigiu – De Kimberly.

–Dá no mesmo. –A rainha encerrou a questão. – Mas então quer dizer que você tem lembranças ruins de ter rejeitado pessoas.

–Na verdade, a Kim foi a única que eu rejeitei.

Margareth deu um pequeno sorriso torto.

–Não precisa ter vergonha de conversar sobre isso comigo. Eu mesma tenho doze.

–Doze o quê? – Perguntou confuso.

–Doze propostas de namoro que eu recusei. Ganhei de você.

–Doze!? – Ele se surpreendeu. – Tudo isso!?

Ela fez que sim com a cabeça.

–Quando era mais jovem, antes de ser rainha, a Dinamarca estava em sua melhor fase. Muitas pessoas queriam ter alguma influência sobre o povo e a política e eu era um dos meios de se conseguir isso. E também dizem que eu era muito bonita quando tinha vinte anos.

Isso era verdade. As duas afirmações, Harold pensou.

–Se me permite, o reino ainda é muito bem controlado e você continua muito bonita hoje em dia também. – Disse ele um pouco nervoso.

A rainha abriu um enorme sorriso, do qual dessa vez Harold acompanhou com um menor. As duas cadeiras já os deixavam bem próximos, mas Margareth diminuiu lentamente o espaço que se dava entre eles. Harold ficou petrificado, sem saber ao certo o que fazer. Se a esperava se aproximar ou se seguia os movimentos dela. “Aliás, o que ela está fazendo?” – Ele pensou.

Ela então tocou a própria mão na dele e chegou o rosto ainda mais perto do parceiro. Ele acabou então acompanhando os movimentos dela e se inclinou um pouco mais para o lado. Os dois fecharam os olhos e finalmente tocaram os lábios um no outro. Permaneceram assim por alguns segundos, até o comunicador da rainha tocar.

Com o som do aparelho, os dois se desvencilharam automaticamente. Ambos estavam vermelhos, e provavelmente não era só por causa do frio. Margareth, sem opções, rapidamente atendeu à chamada. A imagem de Jorgesen apareceu na frente deles.

–Majestade! Laudrup! Alerta! Encontrei algo nas câmeras de segurança! Estou indo até aí para mostrar a vocês. Me encontrem na entrada.

E então o próprio Klaus desligou a chamada. Margareth e Harold se entreolharam por um bom tempo, um sem saber o que dizer ao outro, até que ele se levantou da cadeira e estendeu a mão para ajuda-la a fazer o mesmo.

–Bem, eu acho que é melhor deixarmos para conversar sobre o que acabou de acontecer outra hora.

Ela aceitou a ajuda e os dois ficaram mais vermelhos ainda.

–Sim. Agora é bom irmos. Jorgesen pode chegar a qualquer momento.


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Notas finais do capítulo

Espero realmente ter feito a coisa certa separando os capítulos.
Até a próxima, :)!