Vigilantes do Anoitecer escrita por Lady Angellique


Capítulo 29
Extra


Notas iniciais do capítulo

Oie!!

Como vocês puderam ver, o livro terminou no cap anterior, mas antes de por esse livro como concluído eu vim trazer mais um cap pra vocês, extra, narrado pelo Anthony/Tony, que se passa no mesmo momento do cap XXI. Espero que gostem ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/638259/chapter/29

EXTRA - Tony

Ás vezes os dias como Guardião são um saco, porque tirando o fato de ter incansáveis patrulhas para tentar impedir os constantes ataques que a Capital está recebendo, não faço mais nada, absolutamente nada, e se nada acontece, eu fico entediado e para piorar a minha situação, me arrumaram uma parceira, que não cala a boca um minuto se quer, e eu juro por tudo que é sagrado se ela não parar de falar sobre bailes, vestidos, garotos e toda essa baboseira de garotas patricinhas, a faca escondida na minha bota vai encontrar um caminho através da sua garganta.

—Ae, Tony, o que a gente vai fazer hoje? - ela indagou com a voz melosa, saltitando atrás de mim, enquanto eu andava pelos corredores da Sede da Ordem indo para o meu quarto ou qualquer outro lugar que me ajudasse a me livrar dela.

—Eu não sei por que você pergunta todo dia, Zoe, se sabe que nós vamos sair em patrulha mais tarde, como temos feito todo dia a dois meses - respondo com a voz calma, tentando não alterar meu tom de voz para não chamar muita atenção.

Zoe entrou na minha frente me forçando a parar, com os braços cruzados atrás das costas, balançando sobre os seus pés e olhando fixamente pro chão, uma clara atitude nervosa. Ai meus deuses!O que será que essa grota quer agora?

—É que... Bom, eu queria saber se a gente podia fazer alguma coisa diferente antes de irmos patrulhar - ela falou com a voz melosa e meio suplicante, não que eu estivesse surpreso com isso.

Zoe é uma garota bastante bonita e atraente, pra quem gosta do tipo loira dos olhos verdes, alta e siliconada. Não que eu esteja reparando demais, é só que depois de um tempo tendo ela como companheira de trabalho e com a mesma sempre usando roupas justas e decotadas dá pra qualquer um perceber que o que ela tem na comissão de frente não é nada natural. Talvez ela devesse processar o cirurgião que fez isso nela, por não ter feito um bom trabalho, ela ganharia mais com isso do que ficar tentando conquistar homens esfregando eles na cara deles.

—Estou ocupado - respondo simplesmente, driblando ela e seguindo o meu caminho.

—Mas Tony, você sempre está ocupado - ela se queixa, correndo pra me alcançar e tentar acertar o passo junto comigo.

—Exatamente, porque eu quero melhorar e ficar mais forte, para que talvez u dia eu consiga me tornar um Sentinela. E talvez, se você se preocupasse em treinar e melhorar as suas habilidades em vez de ficar me enchendo, você com certeza já teria se tornado uma Protetora, ou será que nem isso você consegue fazer?

Tá. Acho que eu fui um pouco grosso com ela, um pouco. Mas não me culpe, você também ficaria estressado se tivesse um ser desses, te enchendo o tempo todo.

Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa que eu com certeza iria me arrepender depois, eu murmurei umas desculpas para uma Zoe em choque, dei meia volta e fui em direção à sala de treino, pra esfriar a minha cabeça um pouco. Eu não costumo perder a paciência tão fácil assim, mas eu acho que depois de tanto tempo aturando uma filhinha de papai mimada no meu pé todo santo dia, uma hora alguma coisa assim iria acontecer, e ela deu sorte que eu não falei outras coisas e que não tinha ninguém por perto para ver o que nós estávamos falando.

Eu fiquei meio indeciso sobre o que eu iria treinar agora, mas depois de um tempo debatendo internamente eu decidi por treinar pontaria com armas de fogo em alguma sala de simulação, não são minhas preferidas, mas...

Peguei duas Desert Eagle usadas para treinos e fui para uma das "caixas de treinamento" ou simplesmente salas de simulação, essas caixas formavam diversas simulações para treinamento, na minha opinião, um dos lugares mais divertidos para se treinar enquanto não acontece nada de estimulante por aqui. Era quase que uma Arena, mas em um tamanho menor, visto que a Arena tem como objetivo treinar em grandes grupos e para testes de Guardiões ou competições que costuma ter de vez em quando, mas essas salas são para o treino individual ou duplas, nada mais que isso, porque a sala não suportava mais que duas pessoas de uma vez, e nem o computador aceitaria e a simulação simplesmente não aconteceria, até que tivesse somente duas pessoas na sala, mas nesse momento, eu não preciso me preocupar com isso, porque estou treinando sozinho, como sempre.

Eu configurei o computador para criar uma simulação em uma floresta e o resto era com ele. Tudo podia acontecer dentro dessa caixa e era isso que eu gostava, da sensação do perigo, da adrenalina nas veias e que tudo parece tão real quando se está ali dentro.

Fechei os olhos e respirei fundo, me concentrando, achando aquela paz que sempre está comigo nas horas que eu mais preciso, pois eu acredito que somente com calma que conseguimos fazer as coisas perfeitamente, pelo menos, essa é a minha filosofia.

A sala que antes era vazia se transformou em uma imensa floresta, vários sons diferentes iam ganhando forma, alguns pássaros sobrevoavam o local, outros animais pequenos como simples coelho também andavam tranquilamente pela floresta. Não me importei muito com eles, eles não iriam fazer nada mesmo.

Continue andando pela floresta, esperando que algo acontecesse, sem nunca parar de prestar a devida atenção a minha volta, quando de repente uma criatura enorme pula na minha frente. Era um Berserker. Cara, como eu odeio essas criaturas.

Berserker são antigos guerreiros da Terra, seres mitológicos que não existe nenhum relato que eles existiram realmente, mas vez ou outra um deles aparece na simulação por serem guerreiros brutais que costumam lutar somente com um machado ou com os punhos, são seres ótimos para se praticar meus reflexos e minha capacidade de luta, e acho que nesse caso eu não escolhi muito bem as minha armas, porque eu tenho quase certeza de que eles vão ser inúteis contra esse guerreiro.

Por usarem quase sempre um machado, que é uma arma que praticamente impossibilita o seu oponente de se defender, eles atacam com ferocidade e uma fúria nunca vista antes. Dizem, que na época que esses guerreiros habitavam a Terra (se é que é verdade), eles eram admirados, respeitados e é claro que não poderia faltar a parte de temidos por quase todos, e ninguém era burro de cruzar o caminho de um ser desse quando ele está no alto da sua fúria.

O Berserker na minha frente era enorme, talvez mais de dois metros de altura, seu cabelo era preto e grosso, embolados um fio ao outro na altura dos seus ombros, o deixando com uma aparência ainda mais selvagem, com seus olhos pretos como a noite me mirando de cima a baixo, me avaliando. A única coisa que ele trajava era uma calça de pele de urso (praticamente o único tipo de roupa que eles vestem) deixando seu peitoral musculoso e cheio de cicatrizes e tatuagens a mostra, a maior parte eram símbolos nórdicos, provavelmente nomes de deuses que ele deve cultuar e símbolos referentes à sua cultura e é claro, um enorme machado na sua mão direita.

Nós nos encaramos durante ínfimos segundos, parecendo nunca ter fim, quando de repente ele rugiu - quase como um urso de verdade - e partiu pra cima de mim, golpeando com o machado tentando me acertar, eu pulei para o lado, me esquivando e sendo forçado a dar uma cambalhota no chão, para diminuir um pouco a força de impacto que foi causada quando eu me joguei no chão. Eu rolei e me levantei, pegando as minhas armas automáticas - já disse que foi uma péssima escolha pra essa simulação? - e comecei a disparar nele, enquanto tentava manter minha cabeça no lugar dela, em cima do meu pescoço.

Vou admitir, da primeira vez que eu lutei com um berserker em uma simulação, eu morri de medo, não acredita? Então, experimenta encarar uma criatura assim, como um olhar assassino, e com um enorme machado na mão querendo arrancar a sua cabeça igual à Rainha de Copas daquele livro infantil, e eu digo: não vai ser nada legal, principalmente se for uma das primeiras vezes que você está treinando em uma sala de simulação e tem apenas 13 anos... Pois é, isso aconteceu comigo, e aposto que deve acontecer com qualquer um que enfrentar isso pela primeira vez, afinal ninguém é de ferro.

Eu continuei atirando, e consegui acertar algumas vezes, mas em nenhum ponto vital e nem esses tiros fizeram com que ele diminuísse a sua fúria, pra falar a verdade, parece que eu só estou o irritando mais.

Ótimo. Bela estratégia, Anthony, irritar um cara enorme, com quase o dobro do seu tamanho e que quer te matar. Parabéns! Ganhou o prêmio de idiota do ano, e pra melhorar mais ainda a minha situação, as minhas balas acabaram e o cara ainda está com toda a energia do mundo. Porque Odin tinha que favorecer os berserkers e dar-lhes uma força e resistência absurda?

Eu guardei as armas no coldre e fiz a coisa mais inteligente do mundo: corri.

Não é covardia, mas a coisa mais lógica a se fazer em uma situação dessas é correr, e melhor ainda é se tiver um lago por perto, afinal, eles não são o tipo de pessoa que sabem nadar e se eu puder atraí-lo para a água, vou ter uma considerável vantagem e se eu conseguir achar algo par amarra-lo, vai ser melhor ainda.

Consegui manter o ritmo constante da minha corrida, tomando o cuidado de manter os meus braços rente ao corpo, e iguais as minhas pernas enquanto corria, uma antiga técnica de artes marciais para o corpo não cansar muito rápido. O normal quando está correndo ou até mesmo andando, é que os braços e as pernas estejam alternados, mas o objetivo dessa técnica é manter ambos juntos para evitar o desgaste físico e assim conseguir correr durante mais tempo e uma distância maior. Essa e algumas outras técnicas sempre me ajudaram a salvar a minha pele em determinadas ocasiões e aprende-las foi uma das melhores coisas que já fiz na minha vida.

Eu preciso subir em alguma arvore o mais alto que eu puder pra conseguir ter uma visão melhor da região e ver se consigo formular algum plano para acabar com esse berserker que continua me perseguindo e rugindo igual um louco.

Ainda correndo, consegui avistar um galho um pouco mais baixo que das outras arvores que poderia me ajudar a chegar aos galhos mais altos e aproveitando o embalo da corrida, eu peguei um pouco mais de impulso e saltei agarrando o galho e fazendo meu corpo girar 360 ºC antes de conseguir me firmar tempo suficiente para me lançar para outro galho. E eu fui fazendo assim, subindo de galho em galho daquela arvore até conseguir chegar ao topo, deixando um berserker furioso pra trás, rugindo e batendo na arvore com raiva, acho que ele não deve conseguir subir tão rápido quanto eu, então eu posso ficar alguns minutos tranquilo, e tentar formular algum plano.

Chegando ao topo, consegui ter um vislumbre fascinante de toda a área, que, se eu não estava enganado, era uma floresta tropical, repleta de arvores enormes e não me surpreende que eu não tenha conseguido achar antes um galho mais baixo para conseguir subir ate o topo das arvores, porque as arvores das florestas tropicais costumam ser muito alto com mais de 30 metros de altura e nas partes mais baixas não costuma ter tantos galhos assim, somente troncos enormes e grossos, o que dificultou um pouco a minha subida.

As florestas tropicais eram típicas da Terra, próximas a linha do Equador, e como o próprio nome diz: típica perto dos trópicos, mas aqui em Andrômeda, temos algumas florestas parecidas com essas da terra, e juntando os conhecimentos sobre a antiga Terra e com o que sabemos das nossas florestas, podemos criar simulações como essa que estou agora, criando lugares semblantes ao que conhecemos, mas ao mesmo tempo totalmente diferentes e inusitados.

Observei todo o lugar atentamente, girando meu corpo várias vezes, para conseguir ter total visão do lugar em que eu estava. Ótimo, meu plano de atraí-lo até a água não irá dar certo, porque simplesmente não existe nenhum rio, lago ou sequer uma pequena porção de água, tudo o que eu vejo são arvores e mais arvores, e por mais que elas tenham me dado uma pequena vantagem contra o berserker e me dado um tempo para pensar, eu não consigo pensar em outra maneira para acabar com ele, e pra melhorar mais ainda a minha situação, eu estou começando a sentir a arvore balançar e a ter pequenos tremores embaixo de mim, e só tem um explicação lógica pra isso: ele esta tentando derrubar a arvore, comigo em cima dela.

De repente, eu escutei um estalo, e logo depois um barulho muito alto de algo se partindo, não tive tempo pra pensar muito no assunto, pois logo a arvore estava tombando, cortando o ar rapidamente comigo em cima dela, logo no topo e se eu continuasse segurando na mesma eu iria me machucar e feio quando a mesma atingisse o chão, então eu logo tratei de ficar em uma posição meio agachado meio levantado, e quando a arvore estava quase chegando ao chão, eu saltei e tentei me agarrar em alguma outra arvore.

Não deu muito certo.

Eu fiquei balançando minhas pernas e braços enquanto caia direto pro chão, e por um momento minha vida passou diante dos meus olhos, até que de repente, alguma coisa entrou no caminho do meu corpo e o fez parar com um solavanco. Rapidamente eu agarrei o que quer que fosse que havia desenfreado a minha queda, numa tentativa de não me estatelar no chão, minhas mãos queimaram com o esforço, enquanto eu conseguia desacelerar aos poucos. Eu soltei o cipó que estava segurando firmemente, perto o suficiente do chão para não me machucar, e consegui pousar no chão flexionando os joelhos, eu tive que dar alguns passos até conseguir me firmar novamente, e depois me endireitar.

A arvore caiu um pouco atrás de mim, fazendo um enorme barulho e levantando uma poeira imensa me forçando a tampar os meus olhos com o braço para protegê-los da poeira, quando a mesma abaixou eu destampei os meus olhos e soltei o ar dos meus pulmões - que eu nem tinha percebido que estava prendendo -, aliviado por não ter sido esmagado por aquela arvore imensa, eu não me machucaria de verdade se fosse uma simulação, mas eu iria sentir uma dor dos infernos quando ela acabasse.

Alguns cipós começaram a cair a minha volta, provavelmente haviam sido arrancados ao tentarem segurar o meu peso durante a queda, e por um momento eu fiquei ali olhando pra eles pensando na possibilidade do berserker ter sido esmagado pela arvore, mas infelizmente eu não tenho tanta sorte assim, e logo eu pude ouvir o rugido de urso que eles tanto gostam de fazer.

Ele devia estar comemorando ou qualquer coisa do tipo por que os seus rugidos se tornaram mais altos, e a qualquer momento ele poderia descobrir que eu ainda estou vivo e viria atrás de mim, provavelmente com as energias renovadas junto com o seu ego que deve ter crescido mais ainda depois de ter conseguido derrubar uma arvore de mais de 30 metros de altura e com certeza centenas de anos.

Sabe aqueles desenhos animados antigos que toda criança gosta de assistir, e que são totalmente exagerados, mas mesmo assim todo mundo gosta? Então... você com certeza deve-se lembrar da lâmpada que acendia em cima da cabeça de algum desses personagens quando eles tinham uma ideia maluca, não é mesmo? Pois é, se você se lembra disso, então agora você já pode me imaginar com essa lâmpada em cima da minha cabeça, porque eu acabei de ter uma enorme e idiota ideia que talvez dê certo, 50% de chances de dar certo. Mas a vida é feita de erros e acertos, e quanto mais praticamos melhores ficamos.

Pelos rugidos animalescos do berserker eu posso supor que ele está exatamente do lado oposto ao que eu me encontro agora, do outro lado da arvore tombada, talvez um pouco mais pra direita, mas tenho certeza que deve ser fácil acha-lo uma vez que eu esteja andando em cima da arvore para armar a minha emboscada.

Devagar como um tigre na espreita da sua refeição, eu subi na arvore carregando um pedaço do cipó que havia caído aos meus pés firmemente nas minhas duas mãos, ainda tinha um pouco de poeira e por isso o berserker não me viu, o que facilitou pro meu lado e assim eu pude avançar um pouco mais tranquilo até me posicionar atrás do berserker. Fiquei ali, o observando por um momento, percebendo que toda vez que ia rugir como um animal ele jogava sua cabeça pra trás e abria os braços, embora eles possuam a aparência de um homem, na maioria das vezes eles agem como animais, e é ate fácil de se esquecer que eles são humanos e antigos guerreiros da Terra.

Esperei até que ele repetisse o ato mais uma vez, e quando ele o fez, eu pulei sobre as suas costas, passando o cipó que eu segurava firmemente em minhas mãos pelo seu pescoço e firmando as minhas pernas no seu tronco e prendendo os seus braços o mais firme que eu conseguia, para conseguir me segurar ali, enquanto tentava fazer ele perder o ar e desmaiar ou até mesmo ficar um pouco tonto já me seria suficiente.

Eu havia dobrado o cipó em duas partes pra ele ficar um pouco mais resistente e não se partir enquanto eu asfixiava o grandalhão. Ele se debateu diversas vezes, e tentou me tirar de cima dele, mas eu havia firmado minhas pernas em seus braços com o intuito e não deixa-lo se mover livremente, mas confesso que estava sendo um pouco difícil de manter assim, porque ele estava se chacoalhando com muita brutalidade, se mexendo de um lado pro outro e por um momento eu pensei que ele iria bater as suas costas comigo em uma arvore pra me forçar a soltá-lo, mas ele começou a ficar mais mole e mais lento e foi quando eu percebi que meu plano estava dando certo, mas é claro que eu não o soltei em momento algum, vai que era tudo um truque pra me fazer soltá-lo? Não, eu só o soltei quando ele caiu com tudo no chão, comigo ainda segurando o cipó em volta do seu pescoço.

Esperei mais alguns segundos para ter certeza que ele estava realmente desacordado antes de soltar o cipó e me levantar calmamente e antes que mais alguma coisa pudesse acontecer, eu retirei uma faca que estava guardada na minha bota e a enfiei no crânio do berserker, ele deu uma estremecida e um pouco de sangue espirrou em mim, rápido e mais eficaz do que eu imaginei.

Eu soube que a simulação havia terminado quando tudo a minha volta começou a se desfazer. Respirei fundo algumas vezes, olhando pra sala a minha volta, notando o quanto ela parecia fria e sem viva agora que não tinha mais nada aqui dentro.

Missão concluída, pensei.

Me dirigi para a saída, a portas se abrindo automaticamente quando cheguei perto delas, e eu teria continuado o meu caminho até o meu quarto pra tomar um banho e descansar um pouco antes de sair em missão se não fosse por uma outra criatura parada praticamente em frente a porta com um sorriso no rosto e os braços cruzados em frente ao peito.

—O que você quer, Elric? - indaguei parando na sua frente, ele me estendeu uma toalha ao qual eu aceitei prontamente passando-a no rosto tirando um pouco do suor que estava escorrendo na minha pele, devido ao "exercício" de agora. Não era com ele nessas salas de simulação, visto que ele é o tipo de cara que gosta mais do velho "mano-a-mano".

—Nada. Eu só estava passando aqui e vi na telona ali que você estava treinando e parei pra observar e achei que fosse precisar de uma toalha, então... - ele respondeu tranquilamente andando ao meu lado, colocando os dois braços atrás da sua cabeça.

Tinha me esquecido desse pequeno detalhe: toda vez que entramos em uma das salas de simulação o que esta acontecendo conosco lá dentro é transmitido para uma televisão que fica do lado de fora da sala, normalmente essa tela é usada para instrutores ou qualquer coisa semelhante que estão avaliando o indivíduo que esta dentro da sala, para avaliar como ele se sairia em campo, e como eu disse antes é quase que uma Arena, mas em uma escala menor, mas que serve pros mesmos princípios. Na maioria das vezes, eu desativo essa tela pra ninguém ficar me observando, mas hoje eu estava tão distraído que acabei me esquecendo disso.

—Aposto que não foi só por causa do meu lindo rosto que você está aqui - brinquei, tentando fazer com que ele me diga o que ele realmente veio fazer aqui.

Ele bufou em diversão.

—Claro que não, porque eu não vejo nenhum rosto bonito aqui, e se fosse por esse motivo eu teria parado em outra sala e não na sua.

Dei uma pequena risada.

—Mas já que você perguntou...

—Lá vem - murmurei comigo mesmo.

—Eu soube que você fez outra garota chorar - ele comentou, dando espaço para que eu confirmasse ou negasse o fato.

—E estamos falando de quem agora?

—Da sua parceira gata.

—Eu não vejo nada de especial nela, mas se você diz... - comentei, começando a ir em direção do meu quarto.

—Descobri porque a fez chorar - ele disse rindo um pouco.

—Não tenho culpa se falo o que eu penso.

—Sei... Só acho que deveria tomar cuidado com o que fala, da próxima vez que destratar alguém assim pode acabar levando o troco duas vezes mais forte - Ell aconselhou começando a seguir o caminho oposto ao que eu ia.

—Ei! - gritei, chamando a sua atenção, ele parou de andar e olhou pra mim com uma sobrancelha levantada, indagando - O que você quis dizer com isso?

Ele deu de ombros.

—Uma hora você vai descobrir, meu amigo. Uma hora você vai descobrir - ele disse simplesmente, voltando a andar.

Eu hein. Cara maluco.

***

Essa noite estava mais fria do que as outras. O vento estava praticamente uivando, tamanha era a força que ele exercia sobre as poucas arvores que tem nessa cidade, deixando aquela rua fria e deserta com um ar sinistro, e até mesmo macabro, digna de verdadeiros filmes de terror. Isso é, se você tiver medo dessas coisas, e ao que parece, a minha parceira é uma dessas pessoas.

Zoe se manteve quieta durante quase todo o nosso percurso até ali, trocando somente algumas palavras necessárias comigo. Ela parecia estar chateada com algo, mas se eu não perguntasse, ela não iria dizer, e como eu não estou nem um pouco curioso em saber o porquê de ela estar emburrada, eu não vou perguntar, e talvez assim ela se mantenha calada o resto da noite e talvez hoje seja mais tranquilo que os outros dias que ela nunca parava de falar.

Hoje a noite estava mais silenciosa do que o normal. As ruas estavam totalmente desertas, o que é até normal se eu for olhar a hora porque está muito tarde para civis comuns transitarem pelas ruas, mas novamente eu estou entediado, sentado em cima do telhado de uma casa qualquer, observando toda a área que eu e a minha parceira estávamos encarregados de proteger hoje, rezando silenciosamente que algo acontecesse de diferente.

Suspirei antes de me virar pra uma emburrada Zoe e dizer:

—Err, Zoe?

—Sim? - ela respondeu sem se virar pra mim e continuando a olhar pra baixo.

—Eu queria...me desculpar, pelo o que eu disse mais cedo. Não foi nada gentil de minha parte - eu disse com sinceridade, mas mesmo assim as palavras se embolaram um pouco, é claro, isso é porque eu não tenho o costume de pedir desculpas pra ninguém, mas o idiota do Elric me fez pensar e digamos que eu não fiquei nada feliz com o rumo que os meus pensamentos me levaram.

Ela pareceu surpresa por eu ter pedido desculpas pra ela, afinal, como eu disse antes eu não costumo pedir desculpas pra quase ninguém, e ela iria falar algo s então fosse o fato de termos escutado de repente o barulho de uma explosão a poucos metros de onde estávamos.

Não sabia que orações podiam ser tão poderosas assim, se eu soubesse já teria rezado antes e pedido que algo acontecesse nas primeiras noites que essas patrulhas incansáveis começaram.

Rapidamente me levantei junto com Zoe, pronto para correr na direção da explosão, quando de repente cinco figuras estranhas e encapuzadas passaram correndo na rua que eu estava vigiando, exatamente embaixo do prédio que antes eu estava sentado.

Que sorte a minha.

Sem perder tempo, eu iniciei uma corrida frenética atrás desses cinco seres encapuzados que corriam em uma velocidade impressionante, pois eu tenho 99,9% de certeza de que eles forma os culpados da explosão de agora pouco. Pulei prédio, desci, escalei, isso tudo só para conseguir ficar um pouco mais a frente deles para intercepta-los, e depois de muito esforço eu consegui uma certa vantagem, parei e retirei meu arco e uma das minhas flechas da aljava e preparei para atirar no primeiro que corria mais a frente, e eu o tinha na mira perfeita se não fosse um dos últimos seres encapuzados retirar uma arma de sabe se lá da onde e atirar nas pernas desse mesmo ser que eu iria atingir com a minha flecha.

Que coisa estranha. Será que eles não são do mesmo grupo e em vez de estarem fugindo juntos, e o que na verdade está acontecendo aqui é uma perseguição?

O ser encapuzado que estava por ultimo ultrapassou o que havia atirado e começou a correr mais rápido, aproveitando que os outros três haviam parado de correr para ajudar o que estava ferido na perna, e aproveitando o embalo da corrida ele se impulsionou e pulou sob um dos outros três o derrubando no chão facilmente e o prendendo contra o chão com uma chave de braço. O ser encapuzado que havia ficado pra trás chegou logo depois e derrubou o outro quase da mesma forma que o primeiro havia feito, se não pelo fato de que em vez de estar com uma chave de braço, ele estava apontando a arma pra cabeça do seu alvo, a mesma arma que havia usado para atirar no outro segundos antes, sobrando assim, somente o que estava com a perna machucado devido o tiro, que tentava se arrastar pra longe da confusão.

Quando tudo havia se resolvido praticamente, com os dois seres encapuzados em cima de outros dois que eu pude perceber - agora que meus olhos estavam se acostumando com a pouca luz - que eram algum tipo de monstro humanoide esquisito, Zoe chegou ao meu lado, ofegante e descabelada, acho que eu acabei me esquecendo dela quando a adrenalina começou a correr nas minhas veias, quando eu vi a possibilidade de algo diferente e fora do normal acontecesse.

—O que aconteceu? - ela perguntou ofegante, lutando para normalizar a respiração.

—Não sei. Mas eu vou descobrir agora.

Ainda com a flecha no arco, pronta pra atirar, eu comecei a descer pela escada de incêndio que Havaí no prédio em que eu me encontrava, rapidamente e silenciosamente eu cheguei ao chão e fui andando até onde eles ainda estavam e comecei a ouvir uma discussão.

O primeiro ser encapuzado estava quase de frente pra onde eu me encontrava, já o segundo estava de costas, e pelo fato de ambos estarem centrados em sua discussão duvido que algum deles vá notar a minha presença tão cedo.

—A culpa daquele lugar ter explodido é sua! - o primeiro disse, e eu logo percebi que era uma mulher, a mesma que havia usado a arma para abater o primeiro que ainda tentava se arrastar para longe dela.

—Minha culpa? Porque minha culpa? - o outro ser encapuzado que estava sentado em cima do outro monstro humanoide de costas pra mim indagou exaltado, e eu logo percebi que se tratava de outra mulher.

—Porque eu lhe disse que era pra ir até o porão e desarmar aquela bomba - respondeu à primeira.

—Mentira! Pura calunia! Você só murmurou alguma coisa ilegível e saiu em disparada porta a fora - defendeu a segunda - E como eu não entendi o que você disse, a primeira coisa que eu fiz foi vir atrás de você. Vai que você deu à louca e queria se jogar de uma ponte?

—Que ponte?!

Os monstros humanoides estavam quietos, talvez com medo daquelas duas, até eu ficaria com medo se tivesse uma mulher exaltada e provavelmente cm raiva em cima de mim. As duas ainda não haviam percebido a minha presença e nem a de Zoe, que havia parado silenciosamente ao meu lado e observava a discussão em silencio assim como eu, esperando pra ver por quanto tempo as duas iriam discutir e notar a nossa presença.

—Vai saber, do jeito que você anda meio doida esses dias - a segunda disse, dando de ombros e eu tenho quase a impressão de que conheço-a de algum lugar.

—Ei! Doida é a sua mãe!

—Epa! Não coloca minha mãe no meio não - a segunda avisou apontando o dedo pra primeira - Se tem algum problema comigo, vem aqui resolver.

A primeira se levantou, pronta para atender ao desafio da outra quando de repente ela parou e pareceu focar seu olhar em mim - vai saber se era isso mesmo, eu não consigo ver o seu rosto completamente por conta do capuz, que cobria quase ele todo.

—É você! - ela disse do nada apontando um dedo pra mim.

—O que? Eu o que? - perguntei, totalmente surpreso. Eu por acaso conheço ela de algum lugar.

A garota encapuzada deu um passo pra frente e veio na minha direção, retirando o capuz, livrando o seu rosto e os seus cabelos que antes estavam escondidos, mostrando que eles eram loiros escuros. A estranha, ao qual eu ainda não sei o nome, estendeu a mão.

—É um prazer conhecer você, Anthony Makalister.

Eu aceitei a sua mão e a olhei meio desconfiado.

—Prazer...Mas eu creio que não a conheço.

Ela riu e a garota que ainda estava sentada de costas pra nós também deu uma risadinha.

—E não conhece mesmo, mas vai conhecer, teremos tempo pra isso. Sou Skye Simon.

Simon. Simon. Da onde e já ouvi esse nome? Será que...?

—Você por acaso é alguma parente de Serenity Simon? - indaguei quando soltamos as nossas mãos, ela bufou em descrença e revirou os olhos pretos como a noite.

—Eu vou parar de dizer meu sobrenome - ela murmurou pra si mesma.

A outra garota que ainda estava de costas riu, ela se levantou calmamente, mas não sem antes tirar outra arma da cintura e apontar para a cabeça da criatura que Skye havia derrubado, um pequeno aviso que se ele se mexesse, ela atiraria.

—Não sei se isso vai adiantar muita coisa. Vocês duas são quase uma a copia da outra - ela comentou se virando e também retirando o seu capuz, balançando os seus cabelos que agora se viam livres, e eu nunca, nem em um milhão de anos esperaria que aquela pessoa estivesse na minha frente agora, depois de ter derrubado duas criaturas praticamente sozinha, com um sorriso nos lábios e os olhos travessos - Olá, Tony.

—Você! - Zoe confirmou o obvio, falando pela primeira vez desde que havíamos abordado elas.

—É claro que sou eu, quem mais seria? O papai Noel? - ela perguntou retoricamente, soprando pra fora do seu rosto uma mexa do seu cabelo que havia caído em seu rosto. Como Zoe não respondeu nada, ela se virou pra mim e deu outro sorriso, ela parecia estar se divertindo com a situação - O que foi gente? Parece que vocês viram um fantasma.

E eu estava vendo um fantasma...ou quase, pois depois que ela foi embora a três anos atrás sem se despedir de ninguém, eu duvidei que ela voltaria, e também, eu não a culparia se o fizesse realmente. Mas aqui está ela, parecendo ter dado a volta por cima e agora voltou com tudo. Ela. Nada mais nada menos do que a irmãzinha caçula de Elric: Victoria Moore.

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vigilantes do Anoitecer" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.